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sábado, 9 de maio de 2020

SHADOW OF THE COLOSSUS REMAKE






















Esta época de pandemia não tem sido nada fácil. No momento em que publico este post, já faz quase dois meses que eu não saio de casa pra nada além de trabalho, trabalho e mais trabalho. Mês passado minha antiga T.V. LCD (que já entrava em seu décimo aninho de vida) resolveu pifar do nada.

Dessa forma, uma reles ida a uma unidade do Bompreço pra comprar uma nova foi saboreada por mim quase como um conto de viagem ao redor do mundo do meu escrito favorito, Jules Verne. Fora isso, uma semana seguida da outra de trabalho, casa, trabalho, casa...

Eu sei que, por enquanto, não tenho nada do que reclamar: mesmo executando um trabalho de risco (entrego papel na casa das pessoas), eu e ninguém próximo a mim adoeceu ou perdeu a vida. E espero que continue assim. Mas, e quanto aos games, visto que este ainda é um blog criado pra falar deles?

"Quando eu contar até três e estalar os dedos, você
vai acordar pensando que Resident Evil 3 Remake é um bom jogo..."

Com relação a games, praticamente todos os jogos que se encaixam no contexto de “muitas horas livres sem sair de casa pra quase nada” já foram devorados por este que vos escreve. Eu adoraria poder pressionar um botão de “esqueça tudo que sabia sobre o jogo X” e me aventurar de novo em mundos vastos com os de Stardew Valley, Infamous Second Son, Fallout 4 ou Dying Light.

Felizmente ou não, a vida teima em não imitar a arte e tudo que me restou nesses dias (além de um GTA 5 ainda não finalizado que estou reservando pras férias de junho) foi um final de semana sem qualquer acesso à internet (a velha história do caminhão do mal que passa cantando pneu e arranca o fio da sua conexão sem dó nem piedade).

Privado da minha liberdade de locomoção e de conexão virtual com o restante do mundo, só me restou continuar a minha jornada em um dos jogos com mais cara de “isolamento social” que você vai encontrar na indústria dos games: Shadow of the Colossus Remaster para PS4, dado “de graça” nos jogos da plus do mês de fevereiro.


HISTÓRIA (???)


Antes de começar, preciso dar um aviso: se você nutre algum desafeto pela minha pessoa enquanto blogueiro e palpiteiro de games, este post vai ser a oportunidade perfeita pra você consolidar seus sentimentos negativos com relação a mim.

Isso porque eu pretendo falar algumas coisas que, quando o assunto é SOTC, raramente se ouve alguém falando em outros veículos especializados em games (acho que depois de nove anos de blog eu posso me dar ao luxo dessa pretensão dissimulada). Uma delas é a que SOTC não possui história.

É isso mesmo que você leu: um dos maiores clássicos da geração dos 128-bits (aposto que muitos dos leitores nem sequer sabem o que essa expressão significa) é mais raso que um pires quando estamos falando de enredo.

Da série: jogos que não fariam o menor
sentido se já existisse o Tinder naquela época...

Mas Shadow, SOTC tem história sim! E aquela introdução que mostra o Vando carregando a mulher dele nos braços? E a cena com os cavalos? E o final do jogo?

Veja bem, meu querido troll da internet. Existe uma diferença muito básica entre enredo e premissa quando se fala de uma obra literária. Peço ajuda ao Google nestes momentos difíceis de confusão léxica:

Enredo: “Sucessão de fatos ou de incidentes que constituem o fio condutor de uma obra literária ou de um filme; entrecho, trama, urdidura.” Dicionário Michaelis

Premissa: Direito dos párocos de receberem uma certa parte das primeiras produções das terras. Dicionário Michaelis.

Algumas das cenas que avançam minimamente
o enredo só acontecem aos 45 minutos do segundo tempo.

Ok, já que o Michaelis é um filho da puta que não me ajudou em nada nesse caso, eu vou tentar explicar meu ponto de vista: um enredo é uma sucessão de acontecimentos, por meio de diálogos ou não, com a função de elaborar uma trama (geralmente passando por fases como construção de personagens, conflitos e clímax da história).

Já a premissa, que adianto logo não ter nada a ver com homens de vestido jogando água na cara dos outros, seria uma espécie de “desculpa”, de pretexto (no sentido mais literal da estrutura da palavra) para que um enredo seja desenvolvido.

Shadow of the Colossus não tem um enredo, visto que PORRA NENHUMA é desenvolvida nesse jogo no tocante a construção de personagens, suas motivações ou mudanças na direção dos eventos. Ao contrário, as informações que você recebe no início só servem pra justificar a jogabilidade do jogo: um rabo-de-saia morreu e você precisa do favor de uma entidade visivelmente malégna para trazê-la de volta dos mortos.

Seria ótimo se Dormin só falasse fora dos combates...

É por isso que eu acho que SOTC tem uma PREMISSA no lugar de um ENREDO propriamente dito. Mesmo com os ganchos pra obra anterior do Team Ico (acho que esse nome já dá uma pista a qual jogo me refiro), nada parece sair do lugar narrativamente falando enquanto você joga.

Mas Shadow, você está sendo injusto e superficial com o game.” Não, não estou não. Estou apenas tentando analisar esse aspecto do game pela ótica de uma pessoa que está jogando pela primeira vez (não que eu seja o maior especialista em SOTC do mundo, já que só terminei o jogo três vezes ao longo de mais de 10 anos).

De fato, a “história” de SOTC é tão simples que nem é preciso falar mais sobre ela do que eu já fiz nas linhas acima: sua mulher morreu e você precisa derrotar 16 colossi pra ela reviver. Ponto. E é por essas e outras que eu bato o martelo, sob pena de sofrer hate de internet, e afirmo que SOTC não possui história (não que um game precise disso pra ser bom). E narrativa embutida de * é R$ol@. Tenho dito.


GRÁFICOS E SOM



Nota 10 pros dois. Próximo tópico.


SISTEMA...


Ok, é lógico que se você já leu algum texto aqui do blog sabe que um tópico com menos de 1500 palavras é algo que nunca vai acontecer enquanto eu me chamar Shadow Geisel da terra das estrelas. Claro que esse não é meu nome verdadeiro. Mas dê um desconto, pois minha mente está afetada pelo isolamento social do coronga vairus.

Gráficos, o que dizer dos gráficos de um remake que é mais fiel ao jogo original que ele mesmo? Nada foi mudado pra pior, apenas melhorado de um jeito correto, familiar e reconhecível a quem jogou o jogo em 2005.

Sobre a beleza crua desse remake, as fotos falam por si mesmas. O aspecto visual do trabalho da Bluepoint é tão significativo neste projeto que eles mesmos, na galeria de arte, inseriram fotos comparativas entre este e o jogo original de PS2. Sério, se sua primeira impressão foi a de que o remake não mudou quase nada com relação a gráficos, você precisa conferir essas fotos comparativas da galeria.

Sabe aquele tipo de jogo que
fica impossível escolher uma foto que represente
toda sua beleza gráfica? Então...

Em sua proposta de apresentar ao jogador um mundo de solidão e imensidão através de vários biomas da natureza (deserto, planícies, regiões montanhosas, pântanos, lagos e rios), Shadow se configura como um dos mundos digitais mais belos já feitos num game, principalmente no tocante a retratação de natureza.

Alterações leves (como a barra de estamina) foram feitas, mas o altíssimo teor artístico do game (todos os indicadores desaparecem quando não há nenhuma ação acontecendo) foi preservado em sua melhor forma.

O som do jogo. Esse era um dos meus maiores medos quando o remake foi anunciado. Eu sempre conto uma história aqui nos posts do blog, a de que eu comecei a me interessar por games por causa da música (o empolgante tema de Blanka no Street Fighter 2) e não apenas por causa do apelo visual e interação.

O quinto colosso, um dos meus favoritos.

Dessa forma, fica fácil imaginar meus temores com relação a esse projeto. Shadow of the Colossus possui uma das trilhas sonoras mais fantásticas e inspiradas já compostas pra uma obra de entretenimento, sendo esse mérito uma de suas características positivas mais marcantes quando se fala de clássicos instantâneos na geração dos 128-bits.

E o meu temor era de que a OST do game original fosse alterada. Só isso. Não falo de ser remixada, retrabalhada com outra pegada, ter faixas adicionais ou qualquer coisa do tipo. Falo em QUAISQUER alterações, em qualquer nível, na música original composta para o game.

Só quem jogou e é fã da versão do PS2 vai ter segurança emocional suficiente pra captar o que eu estou querendo dizer. Quanto a isso, ainda existe esperança pra humanidade, visto que nada foi mudado na OST desse remake. Os sons, músicas e efeitos sonoros de toda espécie são exatamente os mesmos. E é esse tipo de coisa que renova minha fé no ser humano de forma geral.


SISTEMA (8,0) E JOGABILIDADE (5,0)


Lembra quando eu falei que proferiria opiniões que despertariam o rage de muitos fanboys internet afora? Claro que não, né? Isso foi há umas 500 rolagens de mouse acima. Então, se você é um dos meus desafetos virtuais, aqui vai mais uma: SHADOW OF THE COLOSSUS POSSUI UMA DAS PIORES JOGABILIDADES E CÂMERA QUE EU JOGUEI NO PLAYSTATION 2.

Era a esse tipo de frase que eu me referia quando avisei que falaria coisas que não se costuma ler em sites especializados por aí quando o assunto é o clássico imaculado SOTC. Quem me conhece sabe que eu amo com a mesma intensidade que odeio. Alguns dos meus jogos favoritos (como Kingdom Hearts ou Final Fantasy 10) possuem falhas grotescas que afastariam jogadores menos inclinados a gostarem desses jogos.

Um sistema tão simples quanto
cavalgar um cavalo que não te obedece...

Com SOTC não poderia ser diferente. Mas vamos por partes. O sistema do jogo é bem simples: você começa o game com todos os elementos que precisará pra finalizá-lo (espada, arco, cavalo filho da puta que não te obedece) e terminará praticamente da mesma forma que começou (a ressalva fica por conta do aumento de HP e estamina ao derrotar os colossi).

De fato, muitos jogadores (que não aceitaram os desafios de tempo) nem devem saber que existem itens como uma capa de aliviar quedas, uma espada que causa mais dano e... cores diferentes pro pelo do Agro. Ai, ai...

Mas Shadow, o que tem de tão ruim na jogabilidade de SOTC? Eu fechei o jogo sem muitos problemas e não vi nenhum motivo pra reclamar.”

Boa sorte quando a espada te indicar uma direção que 
não tem nada a ver com seu objetivo...

Meu querido troll da internet: se você conseguiu derrotar 16 colossi sem o protagonista boneca de pano bater a cabeça em polígonos invisíveis durante saltos, errar pulos sem motivo aparente, PULAR PRA DIREÇÃO CONTRÁRIA da qual você está mirando, ou a retícula do seu arco correr feito uma louca ao menor toque no analógico, parabéns, você é um COMPLETO MENTIROSO DA PORRA.

Some tudo isso que eu descrevi acima a uma câmera que desafia as leis da ótica, te deixando na mão quando você mais precisa, e você terá um gostinho do inferno que é controlar o Vando em sua cruzada com intenções claramente de necrofilia na Terra Amaldiçoada de Nimrod (desculpem o spoiler no nome da entidade que nos guia).



O mais incrível sobre esse aspecto técnico do jogo é como a maior qualidade deste remake (não mexer em nada que não devia) acaba se tornando seu maior defeito. Bluepoint, eu agradeço imensamente por fazer um remake que preserva todas as características do game original. Mas você podia ter aberto uma exceção com as FALHAS que o game de 2005 possuía. Nem o fanboy mais intransigente do mundo ia te condenar por isso.

Tá vendo onde eu quero chegar quando digo que todo jogador de videogame, independente de escrever sobre games ou não, devia tentar jogar com senso crítico e prestar atenção a certos padrões nos games e indústria?

Se todo mundo não ficasse aclamando SOTC, em seu lançamento, como a cria divina e sem falhas que ele claramente não era, os problemas de jogabilidade e câmera que eu citei poderiam ter se tornando senso comum e chegado aos ouvidos da Bluepoint na ocasião da feitura deste remake.

As estratégias pra derrotar os colossi
são bem variadas.

Shadow é uma experiência intransponível por causa de suas indiscutíveis falhas? Claro que não. Mas fica a certeza de que a jornada do Vando e sua missão de matar os 16 colossi poderia ser muito mais suave (e deixar lembranças bem mais ternas na mente do jogador) se não fossem essas manchas de jogabilidade que a obra possui.

Só pra finalizar essa parte do sistema, além de matar colossi (é preciso escalar os bichões e cravar a espada em seus pontos fracos), o que mais tem pra fazer nesse jogo? Andar a cavalo, procurar frutas que aumentam seu HP e lagartos de cauda prateada com reticulafobia (o consumo deles aumenta sua estamina).

Fora os já citados desafios de tempo (é hilário um jogo com um jogabilidade como essa cobrar precisão e rapidez nos comandos), não tem muita coisa que se possa fazer ao explorar o mundo aberto do game. Tem os templos (que nesta versão servem de checkpoint), mas nem sei se isso conta como um extra de coisas a se fazer.



Falando em andar a cavalo, Agro, eu te odeio do fundo do meu coração. Não, não vou detalhar aqui as razões, caso o vídeo acima não tenha sido o suficiente. Jogue e passe a odiar esse cavalo filho da puta e desobediente pelos seus próprios motivos de gamer.

Só posso acrescentar que, assim como a Navi do Ocarina of Time, Agro é um dos “ajudantes” mais irritantes já criados pra um jogo de videogame. Se quiser saber mais, procure por vídeos com esse tema no Youtube.


A SOMBRA DE UM CLÁSSICO COLOSSAL


Shadow of the Colossus é aquele tipo de jogo que, de tão clássico, fica até difícil atribuir uma nota a ele. A regra pra amarelar na hora de atribuir nota diz que eu só posso me abster da responsabilidade caso o texto seja um Review Supremo, se assim eu desejar. 

Sendo assim, contrariando a mim mesmo, precisei atribuir uma nota ao jogo. E por que razão eu não o enquadro nessa categoria de importância aqui no blog? Vai saber.

Talvez seja porque ele é um jogo tão simples que não tenha tanta coisa assim pra detalhar a seu respeito (tanto que o texto foi escrito sem fazer nenhuma anotação em papel pra rascunho, algo raro de eu fazer nos dias de hoje).

NOTA FINAL: 8,3

Palavras não dão conta de
descrever a emoção de alguns combates...
Mas simplicidade de premissa, gameplay e execução de ideias não significa um jogo aquém do esperado quando se fala de clássicos que redefiniram a forma como os games passaram a ser encarados pela sociedade e pelos próprios jogadores que tanto os amam.

Shadow of the Colossus é o tipo de jogo eletrônico que flerta com as maiores obras artísticas que costumamos encontrar nos meios tradicionais de entretenimento como cinema, música e pinturas.

Apesar de seu teor de violência (perfurar com uma espada criaturas que estavam quietas no canto delas), Shadow é carregado de um valor artístico e reflexivo que poucas vezes se vê nos jogos de videogame (nas primeiras duas vezes que joguei, eu era abatido por uma inexplicável tristeza ao ver os colossi tombando em combate, mesmo sabendo do nobre motivo do protagonista).

Os colossi têm nomes oficiais, mas eu gosto de dar apelidos carinhosos a eles.
O desse aqui é Barbatos e não tem nada no mundo que me faça mudar de ideia.

Shadow of the Colossus é um jogo que não tem a menor pretensão de acompanhar os shows estroboscópicos que são os games de hoje (e já daquela época também). 

E esse remake deixa isso ainda mais claro: mesmo mantendo as falhas, ele consegue resgatar todo o deslumbramento e sensação de grandiosidade que o título original conseguiu em sua primeira tentativa.

E acho que não preciso dizer que já é mais do que muitos REmakes vêm conseguindo fazer de uns tempos pra cá, não é mesmo?

Au Revoir!

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