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sábado, 5 de março de 2022

ANÁLISE: MASTER DUEL (PS5)















Desde que percebeu que pedacinhos de papel coloridos e máquinas de pachinko são um investimento mais barato e imediato que jogos triple A a Konami, antes uma gigante do ramo dos games, vinha dando uma bola fora atrás da outra, nunca decepcionando em sua competência em decepcionar os fãs. Mas antes o problema principal da empresa fosse apenas a qualidade questionável de seus produtos. 

De detentora de franquias que chegavam a representar um sinônimo para alguns gêneros (Castlevania, Winning Eleven, Metal Gear Solid, Silent Hill), a Konami simplesmente chutou o balde com suas propriedades intelectuais mais que bem estabelecidas na indústria para se tornar um exemplo do que não se fazer no tocante a relacionamento com funcionários e suporte aos consumidores de forma geral. 

Mas, como este é um texto sobre Yu-Gi-Oh!, um jogo mais que amado por este que vos tecla, é preciso afunilar um pouco as coisas para facilitar a digestão daqueles que seguem o blog. Acho que deu pra entender que quando eu falei em “pedacinhos de papel colorido”, estava me referindo ao jogo de cartas criado por Takahashi em meados dos anos 90. 

Ray de biquini como Colega de Duelo: eu quero acreditar!

E não, caro leitor fã do card game que caiu de paraquedas no meu blog ao digitar “elfas peitudas de sunga asa delta” no Google, eu não sou um crítico daquelas pessoas que dedicam seus recur$o$ à fina arte de torrar centenas de reais em pedacinhos de papel coloridos super valorizados. Seria uma baita hipocrisia da minha parte, já que eu também faço isso (meu dinheiro, minhas regras). 

Enfim, me perdi no meio das ironias. Sabe como é, depois de meses sem escrever você acaba caindo nessas armadilhas. Então, pra contextualizar, a Konami vinha basicamente terceirizando os games dessa franquia a empresas que provavelmente não conseguem discernir a diferença entre ativar uma carta e ativar um efeito de uma carta. 

O resultado ao longo desses anos, depois da excelente série GX para o PSP, foram jogos estéreis, sem alma alguma ou criatividade. Alguns deles nem sequer possuíam um personagem controlável, tratando-se apenas de uma espécie de simulação virtual para reviver os duelos clássicos vistos nos animes (desculpe se isso soou como uma indireta a você, Duel Links. Juro que não foi proposital). 

"É o queeeeê? Maxx C no GX?"


Aqui no blog, pelo que minha parca memória me permite arrolar, existe análise do primeiro GX (clique AQUI para ler); do Legado do Duelista Link Evolution (clica AQUI para entrar em depressão); do Forbidden Memories (amado até por quem não liga muito pra cor dos olhos de dragões de papelão colorido, clique AQUI); e do Duel Links (um jogo “free to play” com uma economia tão justa que o dinheiro que você ganha no game serve pra tudo, menos pra comprar cartas na loja de cartas; clique AQUI para ter seu cartão de crédito reduzido a cinzas). 

Eu sei, eu sei, ainda falta a análise do Duelista das Rosas e das máquinas de Pachinko que mostram o Bakura de calcinha quando você alinha uma fileira com três limões ao mesmo tempo. Mas sabe como é: o Duelista das Rosas é tão difícil quanto um Dark Souls jogado de uma mão só, e as máquinas de Pachinko dependem da Devir pra chegarem ao Brasil, então ainda vai demorar alguns anos pra essas análises acontecerem. 

Sobre o que era o post mesmo? Ah sim, sobre o Master Duel, o novo jogo free to play que a Konami virou pra cima em modo de ataque sobre o tempo livre de nós, pobres duelistas que precisam gastar horas com coisas triviais como trabalhar pra quando quiser comer ter, ou estudar pra deixar de ser burro e parar de dar Maxx C em chain a um Pote da Dualidade. 

Depois do Master Duel, todos os outros games ficaram irrelevantes graficamente.


Então, desculpe desapontar aqueles que achavam que a introdução do post havia acabado, mas pra falar do Master Duel é preciso contextualizar um pouco mais. Vai ser mais rápido dessa vez, eu prometo. O caso é que sempre foi possível jogar Yu-Gi-Oh! de formas não convencionais, na internet, por meio de simuladores como o Dueling Book, YGO PRO, Dueling Nexus e afins. 

Mas da Konami, Konaaaami mesmo, nunca tinha vindo um game que servisse de simulador pra quem quiser aprender a jogar e se preparar pro TCG no card físico. Não, não vou explicar o que é TCG ou OCG. Procure por conta própria. Só sinto avisar que, no tocante à simulação, ainda não foi dessa vez que a lacuna foi preenchida. Ao menos por enquanto. 

Eu sei, cara. Benten a 3 não tem cu que aguente...


O Master Duel foi anunciado há uns seis ou sete meses, levantando uma série de dúvidas e questionamentos por aqueles já calejados pelo “jeitinho Konami” de fazer as coisas. Será que o Master Duel preencheria a falta de um simulador decente do card físico (você já sabe que não, porra!)? O game teria o mínimo da qualidade que se espera de uma empresa com a grana que a Komoney possui? E o sistema de aquisição de cartas, seria justo ou apenas um magneto que te puxaria na direção de abrir a carteira e gastar dinheiro de verdade em cartas de mentirinha? 

A essa altura do campeonato você já conhece o procedimento: puxe uma cadeira confortável, faz um balde de pipoca e alonga os glúteos que o titio Shadow pretende responder a essas e tantas outras questões mais nas laudas que se seguem. 

 

HISTÓRIA (8,5)

 


"História? Como assim, Yu-Gi-Oh! com história? Tá comendo cocô estragado, Shadow?" Calma aí que eu explico. De fato, os jogos estéreis e sem alma lançados pelas terceirizadas nos últimos anos são a prova cabal de que Yu-Gi-Oh! não precisa de história. Quem precisa saber o que aconteceu com o Kaiba depois que a Kaiba Corp. foi comprada pela Google pra chutar o traseiro do amiguinho com um deck super legal de DPE turbo? 

É fato, um card game não precisa de história pra funcionar, mas isso não quer dizer que não haja material de qualidade pra se explorar nesse caso. Pra ser sincero, eu acho que Yu-Gi-Oh! é um dos maiores exemplos de potencial desperdiçado quando se fala em materiais periféricos que podiam explorar a lore das cartas. 

Caralha, EU SEI que existem os mangás e coisas como Duel Terminal. Eu falo da lore ser explorada num jogo bem feito, de mundo aberto, com começo meio e fim onde controlaríamos um personagem não genérico, onde o pano de fundo do jogo não fosse apenas um pretexto pra ficar jogando cartas como um viciado em crack. 

Impossível jogar o modo história e
não ansiar por mais lore.


Digressões à parte, ainda não foi dessa vez que eu vi realizado meu sonho de ver um jogo que explorasse o Mundo das Trevas, as diversas dimensões de invocação ou a conexão que o enredo possui com o Egito Antigo. Mas não quer dizer que o Master Duel seja decepcionante ou inexpressivo nesse aspecto (não teria levado nota 8,5 se fosse, não é mesmo? 

A forma que temos contato com a lore do enredo embutido nas cartas é pelo Solo Mode, uma parte do game onde jogamos pequenos desafios com decks de empréstimo. Lembra aqueles desafios de combo do Duel Links, só que menos específicos. Dá pra acompanhar o enredo numa espécie de Digital Comic com animações belíssimas das cartas e dos monstros clássicos da franquia. 

Minha parte favorita do Solo Mode é a do Cálice Mundial. Não tem como completar aquele capítulo sem ansiar por um anime sério, bem feito, que desse um tratamento nível Lost Canvas ao rico legado de enredo que Yu-Gi-Oh! possui. O legal é que também dá pra completar os capítulos com seu deck personalizado. 

Mekk é gostosinho de jogar, gostosinho no enredo, gostosinho nas mecânicas...


Sobre isso, vale ressaltar que alguns desafios do Solo Mode beiram o impossível. Jogue contra Gladiator Beast e volte aqui pra concordar comigo depois. A Konami já adicionou dois capítulos novos desde o lançamento do jogo, em fevereiro. O primeiro foi o dos Light Sworn, completinho com animações, lore e recompensas. O segundo foi há alguns dias, consistindo numa série de desafios com decks clássicos enfrentando decks clássicos. 

Bem legal, não fosse o já citado nível de dificuldade absurdo e desbalanceado de alguns desafios (Blue-Eyes full contra um deck de Maga Negra...) e as recompensas risíveis se levado em conta o nível de estresse que você vai ter pra aprender a jogar com um deck do zero contra um baralho visivelmente melhor montado que o seu. 

O melhor do Modo História do jogo é o fato de que ele vai te dar muitas recompensas boas (colegas de duelo, gemas e mais gemas, ícones e outras coisas mais), além de te incentivar a conhecer decks e estratégias que você nem fazia ideia de que existiam. Isso é bem estimulante pra quem está começando no universo do pequeno Yugi agora. Pena que, nesse sentido de fisgar novos jogadores, o mesmo não pode ser dito do competitivo do game. Mas isso fica pro tópico Sistema. 

 

GRÁFICOS (9,0)

 


Quem leu minha análise do Duel Links provavelmente não vai lembrar quando eu falei que aquele jogo era o Yu-Gi-Oh! mais bonito que a Konami tinha feito até o momento. Então, fico feliz em anunciar que essa marca foi batida pelo Master Duel: o jogo não é apenas o Yu-Gi-Oh! mais bonito, mas também é um dos card games mais bem feitos que eu já joguei. 

Quantos card games eu já joguei, você pergunta? Runeterra, Magic Alguma Coisa, Hearthstone e Mana Rocks, eu respondo. Claro, nem tudo é perfeito com o Master Duel. Ele possui uma carinha meio genérica que com certeza vai te fazer lembrar de pelo menos um exemplo entre os games que eu citei acima. 

Mas, antes de falar dos (poucos) problemas gráficos que o jogo possui, vamos falar das qualidades, pois é mais divertido. O Master Duel é bonito pra caralho. Simples assim. Tudo no game é muito bem animado. Há campos diferenciados e super estilosos que vão se destruindo conforme um dos duelistas vai perdendo pontos de vida. E também tem algumas periquitagens customizáveis, como as zonas de cemitério/banimento e os colegas de duelo. 

Zeus é tão legal que até o nome em português é fodástico!


O jogo também conta com animações super legais de alguns monstros principais de vários arquétipos. São fotos meio estáticas, mas que simulam movimento como num livro de histórias infantil. Umas dão gosto de ver, enquanto outras te fazem questionar o porquê do monstro X não ter ganhado uma apresentação de entrada em detrimento de outros. 

De forma geral, as outras animações são bem empolgantes também, como o aviso de Final Blow ou o impacto do golpe da vitória que seu bicho desfere no oponente. Algumas cartas em especial, como a Moster Reborn, até possuem uma animação da hora que nunca vimos em outros Yu-Gi-Oh! antes (apesar do áudio dela ser meio estourado). 

A única queixa que tenho com relação aos gráficos é que as animações, até o momento, são muito poucas. Talvez a empresa tenha feito isso de propósito, pois se cada carta que o jogador ativa fizesse uma firula, os duelos seriam muito demorados. Mas a reclamação mesmo fica por conta das cartas de campo. 

Não canso da animação da corrente resolvendo.


Simplesmente não há nada parecido com os outros jogos (no GX haviam campos em 3D e no Legado ficava uma foto no chão). Claro, os cenários do game são muito detalhados. Colocar uma animação que alterasse completamente o visual seria inviável, principalmente levando em conta a quantidade de spells de campo existentes no jogo. Mas acredito que, com um pouco de boa vontade e criatividade, dava pra chegar a um meio-termo. Nada que atrapalhe a experiência, mas confesso que esse aspecto me decepcionou um bocadinho. 

Um elogio em especial vai pra interface do jogo no geral. Eu comecei a jogar no PC e migrei pros consoles depois da compra do PS5, mas posso atestar que ambas são deliciosas de se usar. Eu prefiro no console, mas é uma questão meramente de gosto. A jogabilidade no PC é perfeita. 

As animações são bonitas sem se prolongarem mais que o necessário.


Há várias opções de customização de ativação de efeitos, resolução, velocidade do duelo nos replays, bem como detalhes que podem parecer bobos, mas que fazem toda a diferença pra quem joga. Por exemplo, se você apontar pra um monstro XYZ, o jogo vai te mostrar os materiais associados a ele. 

A interface também mostra a influência que uma carta está sofrendo durante as jogadas, um recurso fundamental a desmemoriados como eu. E, diferente de outros jogos, é bem claro e fácil saber onde cada carta se encontra (cemitério, mão, banida, cemitério do oponente...).

Só pra finalizar, fica meu elogio especial às animações de invocação conhecidas no game. Na invocação link, por exemplo, tem até o efeitinho do monstro se transformando nas setas links do bicho em questão. É um detalhe super empolgante que vem dos animes, e que tornam o ato de invocar aquele Accesscode Talker finalizador de duelos mil vezes mais prazeroso e extasiante. 

 

SOM (10,0)

 


Quem me conhece de longa data (ou conhece meus posts) sabe como eu sou louco por game music. No primeiro post do blog, o do Street Fighter 4, eu conto como comecei a jogar videogames mais pela música que eu ouvia (a do Street Fighter 2) do que pelas imagens em si. 

No aspecto sonoro/musical, Yu-Gi-Oh! sempre foi uma franquia privilegiada. São poucos os games da série que não trazem uma trilha sonora que seja no mínimo boa de ouvir enquanto joga. Outros, como o delicioso Forbidden Memories, figuram como algumas das melhores trilhas pra ouvir enquanto joga ou grava vídeos sobre o assunto. 

Mesmo os games mais recentes não fazem muito feio nesse ponto, muito embora que tenham carecido de faixas mais memoráveis (a exemplo da lojinha de cartas do primeiro GX ou do tema de batalha da rosa branca, no Duelista das Rosas). Sendo assim, é seguro afirmar que eu nunca joguei um Yu-Gi-Oh! com uma OST ruim. 

Acabamento sonoro impecável nos mínimos detalhes.


Quando eu comecei o Master Duel, já no dia de lançamento, eu percebi que estava diante de algo no mínimo pitoresco. Os temas de duelos chamavam atenção enquanto eu pensava nas jogadas, e as músicas do Modo Solo me faziam assentar o mouse para poder curtir “só mais um pouquinho.” 

Há uns dois dias eu resolvi ouvir uma playlist no Youtube com todas as faixas. Ouvir sem as distrações do gameplay poderiam me fazer aferir a qualidade da OST de forma mais acurada. E qual não foi a minha surpresa quanto me flagrei COMPLETAMENTE APAIXONADO pelas músicas do Master Duel daquele ponto em diante? 

Por causa do legado de boas OSTs que os games da franquia carregam, eu já esperava que a Konami desse um tratamento minimamente digno ao Master Duel (mesmo porque toda a comunidade do jogo estava de olho neste produto). Eu só não esperava que a empresa nos presenteasse com uma trilha que não pode ser classificada como nada menos que divina. 

O modo solo é uma ótima porta de entrada
ao trabalho musical do game.


As faixas vão te causar as mais variadas sensações: empolgação pela vitória iminente; aflição por não fazer ideia do que está enfrentando; angústia por achar que o oponente online está com problemas de conexão, quando na verdade ele está enrolando pra curtir uma ópera da hora; e etc... 

É sério, mesmo as faixas que não servem pra ouvir fora do jogo conseguem cumprir seu papel in-game mais que satisfatoriamente. E as músicas que são boas, cara, são boas num nível voadora com os dois pés na caixa torácica do jogador. 

Apesar de estar completamente hipnotizado pela qualidade das faixas desse jogo, eu tenho sim uma reclamação a fazer. Você teria clicado no blog errado se eu não tivesse. Mas, antes de dizer qual é, preciso avisar que é loucura particular da minha cabeça e do meu ponto de vista único sobre o assunto. 

O tema dos Monarcas é assustador.


Então lá vai: apesar de soberba, algumas faixas do Master Duel soam meio genéricas. 

O QUÊÊÊÊÊÊÊÊÊ, Shadow? Cê tá louco? Como você dá nota dez pra um aspecto do jogo e depois vem dizer que esse mesmo aspecto é genérico? Aproveitou esse hiato de posts dos últimos meses pra viajar na maionese, foi?” 

Ok, dessa vez vou ter que concordar com o nerd hater de internet. “Genérica” é um adjetivo muito forte. Deixe-me tentar explicar melhor. No canal do link abaixo dá pra ouvir as faixas na mesma ordem que eu ouvi. Não vou colocar a janela pro vídeo porque o blogger vai retirar cedo ou tarde. 

https://www.youtube.com/watch?v=YlhNX2XJ5Jk&list=PL00nN9ot3iD8DbeEIvGNml5A9aAOkXaIt&ab_channel=ChuongTran

Mas, acompanhando da mesma forma que eu, você vai perceber que, logo nas primeiras músicas, dá pra sentir um certo gosto de... familiaridade enquanto ouve as faixas. Sabe aquele tipo de música que é característica de obras como Naruto, ou animações da Disney com temas orientais? Aqui tem. Sabe aquelas músicas meio forçadas para soarem como grandiosas, dos trailers de Hollywood? Aqui também tem. 

O som de cinco pacotes dourados e um pacote prismático abrindo: ADORO.


Outras músicas me lembraram a série Final Fantasy, e tem até uma faixa que eu juro que é a cara de obras como Terminator ou O Enigma do Outro Mundo. Mas enfim, se essa questão do lugar-comum não te incomodou em nenhum nível, só ignore a minha rabugice costumeira, lembre da nota que eu dei ao tópico e seja feliz curtindo uma das melhores OSTs lançadas no ano de 2022 nos games. 

A OST do Master Duel, além de ser muito bela e inspirada (tem cantora de ópera torcendo pra você ganhar um duelo, porra! Tem como ficar melhor que isso?), ela consegue um feito que eu acho raríssimo quando se fala em composição de músicas: os remixes das faixas de batalha conseguem ser melhores que suas versões originais. Quem acompanha música sabe como é difícil fazer um remix que seja sequer tão bom quanto a versão original, quanto mais melhor que ela. 

Sobre esse tópico, só espero que a Konami vá adicionando mais faixas conforme o jogo for recebendo novos conteúdos, e que elas sejam tão boas quanto as que recebemos no lançamento do game. 

 

SISTEMA (7,5)

 


Certo, chegamos ao tópico onde alguns avisos precisam ser dados. Primeiro, aqui não vou falar como funciona um jogo de cartas. Se você parou pra ler este post, subentende-se que você conhece minimamente como funciona a estrutura do Yu-Gi-Oh!. Essa função de explicar o básico fica a cargo do tutorial do game, disponível no modo solo. 

Segundo, muito do que eu disser aqui já não vai valer de nada, dependendo das modificações que a Konami fizer via atualizações, nos próximos meses. Então, fique ciente de que os pontos que eu abordar são diretamente ligados ao dia 05 de março do ano de 2022, ou seja, pouco mais de um mês do lançamento oficial do Master Duel. 

Como jogo free to play que é, a dúvida maior sobre o Master Duel era como nós conseguiríamos as cartas. Sobre isso, a Konami (surpreendentemente) chegou a um meio-termo onde ninguém saiu prejudicado. Assim como no Duel Links, você vai ganhar gemas para comprar pacotinhos de cartas aleatórias. 

Primeira coisa que você deve gastar gemas: o passe de duelo.


As gemas você pode comprar com dinheiro de verdade (a preços surreais); ou pode participar de duelos online ou cumprir desafios típicos de jogos com esse tipo de economia. Nenhuma novidade na raridade das cartas: elas podem ser de vários tipos, mas o que importa mesmo são as Super Raras e as Ultra Raras. As UR são as mais cobiçadas, visto que as principais handtraps e Staples do jogo são dessa categoria. 

Mesmo o deck mais chinfrim, competitivamente falando (como um Fluffal), vai ter monstros que cobrarão de você um certo estoque de URs e SRs pra você completar o deck. A boa notícia é que a Konami estreou um sistema de craftagem de cartas onde você pode montar QUALQUER CARTA DO JOGO, desde que tenha a moeda correspondente pra pagar pela carta. Finalizando o modo solo você terá uma quantidade de gemas suficiente pra montar ao menos um dos principais decks que governam o meta do jogo (Drytron, Eldlich, Virtual World ou Tri-Brigade Lyrilusc). 

Um jogo da Konami com economia justa? Vai chover!


Funciona assim: cada carta que você desmonta te dá 10 unidades da raridade correspondente. Assim, desmontando 3 cartas Ultra Raras você consegue 30 URs, podendo montar qualquer carta Ultra Rara do game (é só pesquisar na barra de pesquisa da edição de decks). 

Isso é muito bom, pois elimina um problema que tinha nos outros jogos, o de você ganhar uma carta que não serve nem pra limpar a bunda, e não poder fazer nada de aproveitável com ela. É bem empolgante saber que você pode ter qualquer carta que imaginar a apenas 30 URs de distância do seu deck. 

Na verdade, esse sistema é tão bom que até deu medo, nos primeiros dias de experiência com o game. Depois que a ficha cai, você percebe que as coisas não são esse mar de Black Roses todo que você pensava. 

Círculo a 3: Sala best deck, let's go!


No momento, o jogo conta com três grandes problemas. O primeiro é com relação aos decks que estão rodando no meta. Alguns deles estão poderosos de um jeito que nunca estiveram nem mesmo durante sua estreia no card game físico. É o caso do detestável Drytron, com suas 3 Bentens, 3 Evas e o Mu Beta Fafnir acompanhado de Union Carrier. 

O segundo grande problema é com o sistema de melhor-de-um do jogo atual: os duelos não são por matches, e sim duelos de um round só. Se o Drytron ganha no dado e escolhe jogar primeiro, prepare-se pra assistir a um combo de 10 minutos que vai zerar as suas chances de sequer começar a jogar. 

Esse sistema ainda traz o problema de matar a razão de ser de algumas cartas. Como não existe side, cartas que só fazem sentido caso você saiba que vai primeiro ou segundo (como Evenly Match ou Summon Limit) simplesmente perdem a função que deveriam ter no game. 

Ter Maxx C no jogo é como ter que
escolher entre ser estuprado por um elefante ou por um rinoceronte.


Não há razão nenhuma pra escolher jogar por segundo. Se você joga de combo (Drytron), indo primeiro consegue montar um campo que vai fazer o oponente perder as esperanças na humanidade. Se joga de trap ou controle (como Eldlich), indo primeiro você consegue montar suas defesas e flood gates que vão, adivinha só, fazer o oponente perder... acho que deu pra entender. 

O terceiro grande problema está na lista de cartas do game. De quem foi a ideia de colocar cartas como Maxx C, Calamities ou Vanity’s Emptyness num jogo que supostamente deveria servir pra atrair jogadores novos pra brincadeira? 

Eu, por exemplo, na conta do PC tinha montado um Salamangreat pra jogar online. Juro pelas bolas de Rá que, no primeiro duelo competitivo que peguei, fui agraciado com um Drytron começando. No meu turno, quando fui buscar a Gazela com a Salamangreat Circle, o cara deu um Maxx C em chain. Parabéns à Konami e boas-vindas aos estreantes! 

Eldlich com Skill Drain: mais uma
sugestão do capeta colocada no jogo pela Konami.


Um quarto grande problema seria o detalhe de que não há motivos ou boas recompensas pra insistir no competitivo online. Você sobe de rank mas não ganha nada além de umas migalhas. CINCO GEMAS PRA ASSISTIR A UM REPLAY, KONAMI? Enfia as cinco gemas no seu Dark Hole! 

Mas se o game é gratuito, alguma forma de capitalizar a empresa precisa ter, concorda? Se tudo fosse dado de graça, qual a razão de pagar pelas coisas da loja? De fato, existe um certo fundo de verdade nesse questionamento. O Master Duel é um jogo fabuloso, como não víamos há anos, e que você não precisa abrir um centímetro da sua carteira pra entrar na brincadeira. 

Por outro lado, se as recompensas não forem satisfatórias, as pessoas perderão o interesse de acompanhar o jogo. De que adianta o Master Duel ter batido a marca de 10 milhões de downloads se, um mês depois, o online do game estiver entregue às moscas? 

Alguém precisa ensinar pra Konami a
diferença entre recompensa e esmola.


O suporte da Konami vem sendo muito bom. Teve um campeonato onde só poderíamos jogar com monstros XYZ no Extra Deck. Gente boa que é o jogador de Yu-Gi-Oh!, não demorou nem uma hora pra algumas pessoas perceberem que valia mais a pena ficar se suicidando nas partidas do que perder vários turnos tentando vencer. 

O resultado foi o deck de “Suicide Burn”, um baralho que consistia de cartas para causar danos aos seus pontos de vida e perder em apenas um turno, visto que a quantidade de pontos que você ganhava quando perdia era a mesma de quando ganhava. Felizmente, a Konami detectou o problema e corrigiu com uma atualização um dia após o início do torneio. 

Engraçado é o ser conhecido como “fã” do Yu-Gi-Oh!: adora colocar apelidinhos pra chamar a Konami de mercenária, apontar as falhas que ela comete e criticar seus erros na administração do jogo. Mas, quando a empresa lança um jogo bonito, com uma música fabulosa e acessível a todos, a primeira coisa que fazem é querer sabotar tudo... 

 

AINDA CONECTANDO...

 


Não me leve a mal. Eu adorei o Master Duel em quase todos os seus aspectos, inclusive no tratamento que a Konami vem dando ao game de forma geral (conteúdo novo com frequência, rapidez para identificar mal comportamento dos jogadores, mais coisas pra fazer no jogo). Tanto é que, no tocante às músicas, eu tive meio que “inventar” uma falha daquele aspecto só pra não passar um bloco do post inteiro apenas tecendo elogios rasgados ao Master Duel.

 

NOTA FINAL:

 

ASPECTOS TÉCNICOS: 9,0 

EXPERIÊNCIA DE JOGO GERAL: 6,0

 

Foi isso mesmo que você leu: pela primeira vez no blog um jogo acabou tendo que levar duas notas ao mesmo tempo. Não tem pra onde correr. Não dá pra separar as coisas quando estamos lidando com um produto que é extremamente competente por um lado, mas que é governado por fatores que podem minar completamente a experiência do jogador. 

Yu-Gi-Oh! Master Duel é um excelente jogo... nas duas primeiras semanas de sua descoberta. Depois o jogo se torna uma busca por recompensas que nem pagam tanto o esforço que você fez para consegui-las. Sério, qual a motivação que eu vou ter para chegar ao rank Platina no online, se no próximo mês eu vou ser rebaixado pro rank anterior? 

O simples fato desse jogo não ser uma
porcaria feita nas coxas pra secar a sua carteira
já é uma grande vitória.


E pra quê eu vou me empenhar pra voltar ao Platina no próximo mês, se a melhor recompensa que me espera é um par de patins, ou uma bola de futebol, como colega de duelo? Caso a Konami não planeje algo relevante com certa rapidez, o Master Duel corre o risco de se tornar mais um fogo de palha no celeiro de jogos free-to-play que já existe por aí. 

E por agora é só, folks. Desculpem pelas teias de aranha no blog nos últimos meses. Com a aquisição do PS5, a ideia é botar o trem pra andar mais rápido e tentar escrever com um pouco mais de regularidade. Nos vemos no canal do Youtube e nos próximos posts aqui no Mais Um Blog de Games. 

Au Revoir, mes amis!