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sábado, 25 de julho de 2020

ANÁLISE: XCOM 2 (PS4)






















Quando eu joguei o revival de XCOM em 2014 eu saí com duas certezas sobre aquele jogo. Uma era de que ele estava à altura, sendo até melhor em alguns aspectos, que me meu favorito desse gênero (combate tático por turnos), o Final Fantasy Tactics. A outra era que o título mais que merecia alcançar o status de Review Supremo no blog.

Complexo sem enfadar o jogador com pormenores desnecessários; bonito e bem trabalhado no quesito som (muito embora que possuísse lá suas falhas); extenso e profundo, com um enredo capaz de causar arrepios na nuca dos mais aficionados por ficção científica (como este que vos escreve); e tantas qualidades mais que podem ser conferidas AQUI.

Pelo título já deu pra perceber que sua continuação direta, XCOM 2, não caiu no meu gosto na mesma proporção arrebatadora que seu título de resgate da franquia clássica (a UFO: Enemy Unknown, um clássico dos PCs). O que será que aconteceu? Será que os defeitos, dessa vez, pesaram mais que as qualidades?

Olha o Mais Um Blog de Games daqui a 15 anos,
sendo apreciado por todo o mundo em telões de hiper definição.

Será que XCOM 2 é um jogo tão diferente assim do primeiro? Ou foi meu ponto de vista que mudou por causa do sentimento de revisitação que esse aqui carrega? Bem, a resposta a essas perguntas você já sabe como encontrar (dica: tem a ver com rolagem de mouse).

Em tempo, este texto será consideravelmente menor que o Review Supremo do primeiro XCOM (da geração atual, que fique bem claro, visto que eu não joguei os clássicos). Isso se dá, e já spoilando um pouco minha própria análise, pelo fato de que praticamente TUDO que eu falei sobre gráficos, som, sistema e história do outro jogo se aplica aqui, pro bem ou pro mal.

"Mais um gole de germes? O quê? Que porra é isso?"

Não, isso não quer dizer que eu vou escrever um texto apressado e preguiçoso que só vai indicar a leitura do outro post. Longe disso. Essa congruência de aspectos técnicos só significa que eu vou poder tirar do caminho toda aquela verborragia (regada a elemento surpresa) do primeiro texto em prol de uma análise mais focada apenas no que difere de um jogo pro outro.

Sem mais enrolação, vista seu chapeuzinho de alumínio, desbloqueie a Alien Blaster nos Fallouts modernos (pra entrar no clima de combate à ameaça alienígena) e embarque nessa nave da Xuxa chamada Mais Um Blog de Games para mais um texto deliciosamente cumprido de se saborear (olha os comentários com contexto sexual de volta. É, essa quarentena tá me afetando de jeito...).


HISTÓRIA (9,1)


O enredo dessa continuação não oficial de Guerra dos Mundos versão videogame é mais do que direto: lembra o objetivo do primeiro game, o de enfrentar a ameaça alienígena e salvar a humanidade de ter seus orifícios corporais fustigados por toda a eternidade? Então, aqui os escritores cagaram pro que aconteceu no final bom do game e simplesmente partiram do pressuposto de que você é um Comandante de bosta e os aliens ganharam a guerra. Meigo, não acha?

Aqui, surpreendentemente (visto que odeio quando uma empresa ignora os esforços do jogador), eu preciso dar um ponto pra Firaxis. XCOM 2 é um dos poucos jogos que eu conheço onde o final alternativo, ou final “ruim” para os íntimos, é o que conta. Por que isso, você se pergunta? Porque é mais divertido e abre mais brechas pra elementos interessantes de gameplay, a Firaxis responde.

"Vote em mim, bicho. Eu prometo que tudo que nós precisamos é de amor!"

Além desse panorama necessariamente derrotista, a guerra agora é travada num contexto mais político, acima de tudo. Isso quer dizer que seu exército vai vencer os ETs na base das fake News, ou sujando o nome deles no horário eleitoral “gratuito”? claro que não. Ainda existem os combates que tornaram a série famosa (além dos elementos de estratégia, claro).

O que eu quero dizer é que é mais apropriado, a essa continuação em especial, que o viés da ameaça dos aliens seja mais político que bélico. Pense comigo: os ETs conseguiram se instalar no nosso planeta; depois fizeram a cabeça de uma parcela da população com suas promessas enganosas; pra finalmente deixar a sociedade num ciclo vicioso no qual ela é ludibriada por “benfeitores” que dizem estar ajudando o povo, quando na verdade estão fazendo o exato oposto disso.

"Acorda, Comandante! A fake news tá comendo solta no Twitter!"

Se fosse pra enquadrar os ETS desse enredo em uma classe da sociedade na vida real, com quem os aliens de XCOM 2 se pareceriam? Se sua resposta foi “políticos em época de eleição”, parabéns, você está pronto para liderar o exército de libertação da humanidade que nos conduzirá à vitória contra esses canalhas oportunistas que querem viver bem às nossas custas (dessa vez eu me refiro aos alienígenas).

Eu prometi que daria mais atenção a outros aspectos, aqueles que distanciam este do primeiro jogo, então lá vai. No contexto do game, há um grupo significativo da humanidade que vive em estado de ignorância e negação da ameaça alienígena, como se nada tivesse acontecido. Alguns deles duvidam da presença dos ETs mesmo diante de fatos.

Imagina quantas fake news por segundo não
dá pra enviar com um tablet desses...

O jogo se passa no fictício ano de 2035. Parece absurdo pra você que, apenas a 15 anos no futuro, existam pessoas com tal perfil comportamental? Ok, vamos repassar a frase do bloco de texto acima novamente, agora com caixa alta nos pontos mais importantes:

No contexto do game, há um grupo significativo da humanidade que vive em estado de ignorância e negação da ameaça alienígena, como se nada tivesse acontecido. Alguns deles duvidam da presença dos e.ts mesmo diante de fatos.”

E agora? Essa conjuntura narrativa te parece familiar? Pois é, foi o que eu pensei também.

Sectoid: "eu acho que você vai errar esse tiro."
Soldado: "eu discordo de você!"

É assustadora e quase profética a forma como o enredo de XCOM 2, de 2016, alerta para o estrago que insistir em opiniões sem embasamento e ideias errôneas pode causar à humanidade como um todo. Relativização, falácias e desfaçatez podem muito bem representar a forma como nós, seres humanos, estamos lidando com a informação que nos é fornecida nessa era digital que vivemos atualmente, em 2020.

Sobre o enredo, não tem muito mais o que falar. Ele é tão bom, instigador e elaborado como o dos jogos anteriores. Ele abre uma brecha (quem jogou até a cena final vai entender o trocadilho) para uma ameaça ainda pior que a já conhecida da invasão alienígena e deixa o mistério no ar do que teria acontecido com o Professor Xavier depois que o Advent encontra seu esconderijo. XCOM 3, here we go!

É um trabalho de um minimalismo sem igual.

Sobre os detalhes de textos, autópsias, descrições de itens e diálogos em geral, eles seguem o mesmo nível de qualidade absurdo. Há conversas impagáveis caso você preste atenção à janelinha no canto direito superior, a do coroa bonitão (pros padrões desse jogo, claro) que te auxilia na administração do Avenger.

Talvez, quando isso tudo acabar, nós devêssemos pegar nossa nave e colonizar um dos planetas deles, pra dar o troco.”

Alguns elementos de gameplay são assustadores,
mesmo quando não era a intenção.

Como sempre, o enredo de XCOM é muito bem-utilizado pra gerar os mais diversos sentimentos de terror no jogador (invasão de corpos, controle de mente, aniquilação total pelas mãos de um inimigo infinitamente superior...). No topo da tela fica o contador de Advent, um total de 12 quadradinhos que medem o tempo que falta pros ETs chutarem a bunda da humanidade once for all.

Nesse aspecto, o game acaba te forçando a fazer escolhas que, num futuro muito próximo de gameplay, se mostrarão completamente erradas, sem que você tenha a menor ideia da bola de neve que estava escavando pra cima de si próprio. E o teor de tensão delas permeia toda a experiência de jogo sem dar descanso à mente do jogador.


GRÁFICOS (8,9) SOM (9,5)


Como eu falei no começo, tudo que eu escrevi no primeiro post se aplica a esse aqui, sejam as falhas ou os acertos. Antes de começar a escrever este eu reli o post do primeiro XCOM. E qual não foi a minha surpresa, olhando as fotos, ao perceber que o 2 é bastante parecido graficamente com os jogos anteriores?

Isso quer dizer que XCOM 2 é um jogo feio, que não parece com um game da atual geração? Não, sinceramente (como tudo que eu escrevo) eu não acho isso. Mas é indiscutível que os jogos passados (de PS3, PCs e Xbox 360) serviram de base pra confecção deste mais novo. De posse dessa informação você já sabe o que esperar: personagens robóticos e sem expressão que parecem prontos pra saltar da TV e te esganar com as próprias mãos.

Na boa: algumas cenas são muito desengonçadas.

Parece que a Firaxis só se deu ao trabalho de colocar texturas melhores por cima dos modelos do jogo anterior e mandou prensar os discos. Ok, eu exagerei um pouco agora. Se reutilizar motor gráfico velho fosse demérito, os games da Bethesda seriam as piores porcarias do mundo (comentário que só faz sentido pré-lançamento do Fallout 76).

Meu conselho? Evite pesadelos e não jogue XCOM 2 perto da hora de dormir. Os ETs não são a única coisa medonha que vão assombrar a sua noite, caso você insista. Falando assim, parece que a Firaxis deu a maior mancada nesse aspecto. Mas não é o caso.

O design de XCOM 2 continua soberbo. É futurista sem soar fantasioso e detalhado a um nível quase molecular de sandice perfeccionista. Pena que o mesmo não possa ser dito das animações engasgadas e da queda vertiginosa de frames que desaba sobre alguns momentos (a batalha final traz TRINTA E UM inimigos no total. Imagina o fuzuê que fica o HD do seu PC/Console numa hora dessas...).

As telas iniciais são de tirar o fôlego.

É verdade que XCOM 2 não é o jogo mais bisonho dessa geração. As fotos não me deixam mentir. Mas, já que falei de PCs, enquanto jogador de consoles eu fico imaginando a tristeza de um PC master racer que montou uma máquina com tudo no talo pra receber esse desempenho sofrível em troca...

NOTA: é óbvio que o comentário acima é do ponto de vista de quem jogou no PS4. Se os mesmos problemas não acometem a versão do PC, favor deixar nos comentários.

Sobre o som, maravilhoso como sempre. Nada mais a acrescentar, fora o fato de que alguns barulhos e diálogos acabam meio que sendo prejudicados pela queda de frames citada no parágrafo acima. Mas nada de muito preocupante, que atrapalhe a experiência.


SISTEMA (6,0)


A regra que eu usei pra gráficos e som vale pra essa parte do sistema também. Sendo assim, tudo de bom e ruim no sistema do jogo, fora as novidades de gameplay, acabam se repetindo no XCOM 2. Primeiro eu vou falar de algumas novidades de maior impacto na experiência de jogo.

A mais gritante é o mapa-múndi. Se nos jogos anteriores o mapa era apenas uma periquitagem visual enquanto você esperava o tempo passar, aqui ele funciona como um jogo de tabuleiro clássico, a exemplo de War.

É preciso indicar as rotas de voo da sua nave, o Avenger, pra que ele parta em busca de missões e objetivos. Diferente dos outros jogos, onde todos os eventos ativos (pesquisa, construção de instalações e fabricação de itens) progrediam simultaneamente, cada objetivo vai evoluir individualmente, dependendo de onde você estiver estacionado.

O mapa-múndi ficou show de bola.
Espero ansioso pra ver o que o próximo jogo nos reserva.

Pra quem jogou com o tique-taque do relógio assombrando cada minuto da campanha, nos outros jogos, esse detalhe parece claustrofóbico e impeditivo. Mas confie em mim quando eu digo que não é.

Só por essa descrição do mapa já deu pra perceber que esse jogo possui um fator estratégico absurdo, não deu? De fato, suas decisões são tudo em XCOM 2. Sim, meu camarada, não é à toa que tem chamam Comandante. Você provavelmente vai arruinar sua primeira jogada sem ao menos se dar conta do que vinha fazendo de errado até que seja tarde demais.

Dessa forma, esteja avisado que XCOM 2 possui uma dificuldade predatória, tanto nos combates quanto em seus fatores estratégicos. Nos primeiros momentos com o jogo você vai ter a mais plena certeza de que o alcance de suas armas (bem como sua potência), suas habilidades e a quantidade de inimigos não batem com os recursos que te são disponibilizados.

Dê upgrade nas suas armas o quanto antes.
Acredite, faz toda a diferença.

Mas vai por mim: chega uma hora que, se você aprendeu com seus erros e fez a lição de casa direitinho, XCOM 2 (pasme) vai parecer tolerável aos seus olhos! Entretanto, eu ainda preciso dar o conselho de que é bom você não se apegar muito à sua primeira jogada. Muito provavelmente, assim como eu, você terá que apagar seu save e começar de novo.

Aí vem a pergunta que não quer calar: a culpa é sua pelas decisões “erradas” que tomou? Sim e não. Explico. O sistema de jogo vai te empurrando numa cascata de eventos que, mesmo tendo experiência com a franquia, não são tão intuitivos assim de assimilar. Caso você não aprenda o sistema (e suas consequências) a tempo, se vê numa bola de neve desgovernada culminando na vitória dos ETs.

Muitas vezes você investe num ponto (como instalação de antenas de comunicação) só pra perceber, tardiamente, que precisava focar em outro (como aumento de unidades por esquadrão ou melhorias nas armas).

O sargento Jarle Boladão da primeira jogada: o país
jamais vai esquecer seus feitos heróicos.

Eu sei, por experiência própria, que dói demais ter que abandonar os personagens nos quais você investiu (literalmente) horas de gameplay e customização. Mas, quanto mais cedo você se der conta dos erros que cometeu, melhor para seu progresso no jogo e psicológico enquanto ser humano combatente de aliens (eu fiquei em estado shaken quando tive que começar tudo do zero...).

XCOM, de forma geral, é tão duro com o jogador quanto uma situação de invasão alienígena seria com o ser humano na vida real. Cabe a você pesar quanto dessa dureza recai sobre as suas decisões erradas e quanto dela recai sobre os problemas de sistema que a 2K poderia corrigir facilmente, via arquivo de atualização, mas não o faz (sim, eu falo das taxas de acerto nesse caso).

Queima teu time inteiro com ácido, possui várias camadas de armadura,
um canhão de plasma com criticals de até 15 de dano e recupera TODA a vida quando morre:
um inimigo de nível "fácil" no XCOM...

É bem verdade que, às vezes, eu choro um pouco além da conta com uma coisa que me desagrada num jogo. Quem me segue nas redes sociais já sabe disso. Dados os upgrades na ordem certa e ignorando algumas missões “desnecessárias” em momentos cruciais, é até possível afirmar que XCOM 2 se torna (eu não acredito que vou dizer isso...) um jogo fá... facl... um jogo fasc... FÁCIL!!! Pronto, falei!

Depois de colocar os ETs no cabresto e dominar o sistema, o nível das batalhas do game meio que não condiz com a descrição que você encontra sobre o nível de dificuldade, antes de aceitar os combates. O problema é a via crucis desnecessária pela qual o jogo te faz passar até chegar a esse estado de iluminação espiritual.

Gostou das artes das telas de load? Que bom. Você vai ter
tempo de sobra pra gravar elas na sua retina.

Agora que já coloquei alguns pingos nos is no tocante a decisões, posso me voltar aos dois maiores problemas do sistema desse jogo: o load e as taxas de acerto. Sobre os loads, não tem como dizer isso de uma forma muito enfeitada: XCOM 2 POSSUI LOADS QUE VÃO TE FAZER DUVIDAR DO ESTADO DE CONSERVAÇÃO DO HD DO SEU CONSOLE.

Mesmo jogando em mídia digital (meu caso, pois “ganhei” essa cópia num dos meses da PS Plus de 2018), XCOM 2 traz tempos de carregamento ainda maiores que os do jogo anterior (eu considero Enemy Unknown e Enemy Within o mesmo jogo, por razões autoexplicativas).

Uma tela de load que leva pra o menu que leva pra outra tela de load que leva pra...

Esse jogo foi o primeiro em toda a minha vida que me despertou a curiosidade de CRONOMETRAR seu tempo de carga. Sim, eu sei que tem uma diferença entre o load dentro dos combates pro load da base. Mas, acredite, ela é pequena, levando em conta que os maiores loads do game batem na casa dos 1m e 42s! Juro! Quero ser arrastado pro inferno se estiver mentindo!

E aqui vai um recado à Firaxis, desenvolvedora do game: o tempo de viagem que nossos soldados precisam esperar NÃO PRECISAVA SER O MESMO DE UMA VIAGEM NA VIDA REAL, CARALHA!!! Pronto. Desabafei. Continuando.

Tempo estimado de chegada: um minuto e quarenta e dois segundos de load...

Você já ouviu aquela expressão “esse jogo tem load pra tela de load”? Então, é exatamente o caso aqui. E não, isso não é maneira de dizer. XCOM 2 REALMENTE tem uma tela de load (que não é rápida, diga-se de passagem) antes de mostrar as opções do menu principal. Depois você carrega o save e... tome mais load!

Ai você sai da base, aceita uma batalha e... mais load ainda. Caso precise (e você vai precisar) carregar um save de um turno anterior, adivinha o que acontece? Alguns loads desse jogo eu aproveitava para: ir ao banheiro; colocar água pra fazer um café; brincar com minhas gatas; ou cortar as unhas! Sério. O pior é que, depois dessa espera toda, a performance do jogo é sofrível, como eu já adiantei.

Só faltava ter load pras animações em câmera lenta.

Se acontecesse um load escroto mas, depois dele, o game rodasse lisinho, tudo bem. E sabe por que ninguém se lembra dos loads cavalares que os games da série GTA trazem quando você os inicia? Porque, depois desse único load, você tem um jogo ENORME e maravilhindo rodando SEM LOAD QUASE NENHUM por HORAS. PORRA!

O mesmo não pode ser dito da franquia XCOM, que te obriga a aturar telas de carregamento (lindas, pra ser justo) de quase dois minutos pra depois entregar um jogo que engasga com tudo, crasha por nada e empaca com uma qualidade gráfica que destoa de jogos mais velhos da atual geração (alô, The Witcher 3? Fallout 4? Infamous Second Son? Alguém em casa?).

"Se eu acertar ele daqui será que conta como um crash?"

Aliás, falando em crashes, eles são frequentes apenas ao ponto de você lembrar deles. No total, acho que o game congelou menos de dez vezes, é verdade. Mas é bem frustrante quando você está passando por um confronto final que já contabiliza DUAS HORAS quando, na hora de ver o zeramento, o game trava. Firaxis, melhoras.

Certo, já tratei do problema dos loads. Aceita que dói menos. Pior se o jogo tivesse loads grandes e fosse ruim, o que não é nem de longe o caso. Agora é hora de abordar o problema responsável pela nota final que o XCOM 2 vai levar aqui no Mais Um Blog de Games: as taxas de acerto.

O recurso de captura de fotos acaba virando
um criador de memes instantâneo.


O que dizer de um problema tão escroto que acabou virando um meme, sendo alvo inclusive de posts no Twitter e queixas de jogadores diversos internet afora? Se acha que eu estou exagerando, confira este post AQUI do blog. Ele relata a experiência do usuário de Twitter Darren Weeks e sua relação no mínimo... irônica com as percentagens de acerto no XCOM 2.

Primeiramente, parece que a maldição de todos os personagens, em um turno, errarem seus tiros permanece. Dessa vez eu tive a impressão de que carregar o arquivo de save novamente altera os acontecimentos, o que pode ser considerada alguma diminuição na mesquinhez dos criadores do jogo.

Pelo menos a regra de errar tiros, e errar tiros muitas vezes com a arma COLADA NA CARA DO ALVO, também vale pros inimigos. Nesse aspecto XCOM consegue ser bastante democrático. Pelo visto, errar não só é humano como é alienígena também, já que os ETs conseguem errar tiros (com uma certa frequência até) que nem um Esquilo Cego conseguiria errar (jogadores de console entenderão...).

17% a essa distância? TÁ COM O OLHO NO CU, PORRA???

Esse roubo nos cálculos de acerto acaba meio que sabotando o próprio sistema de habilidades e árvore de evolução do game (que é excelente, já adiantando). É comum você deixar de comprar um upgrade de promoção que se baseia em chance pra escolher um que, embora não tão bom, tenha acerto garantido.

Isso acaba tornando todas as suas unidades (salvas as devidas diferenças de classe) meio que umas iguais às outras, prejudicando um aspecto que devia ser influenciado por escolhas (pego a habilidade de Demolição ou a de descarregar o cartucho inteiro de uma vez?), não pelo medo de ser roubado na hora de calcular as probabilidades de acerto.

Deviam pedir um exame de vista mais
rigoroso pra entrar nesse batalhão.

Pra terminar o tópico e encerrar o texto, cabem algumas novidades esparsas que eu achei bem legais no sistema. Não lembro se já tinha isso nos anteriores ou nas expansões, mas agora dá pra carregar nas costas um aliado incapacitado. Esse recurso até é utilizado como um objetivo de missão, mas nada muito incrível.

Também dá pra curar aliados com um Drone, uma das melhores coisas que a Firaxis implementou no game, sem sombra de dúvidas. É possível atirar em barris de combustível e tonéis para causar dano a inimigos desavisados. Ainda sobre o drone, ele é capaz de hackear à distância painéis que garantem bônus temporários (como aumento de mobilidade) e unidades robóticas inimigas.

Algo que ajuda bastante o jogador foi a novidade de que não é mais necessário comprar armas individualmente. Quando você aplica um upgrade a uma arma, ela vale pro seu esquadrão todo. Do lado dos ETs, temos alguns inimigos novos e bem legais (como os Archon e a forma verdadeira dos Thinman).

Prepare os nervos: o contador do Advent
vai te assombrar do começo ao fim.

Outro ponto de novidade bem-vindo é o já citado medidor de Advent. É uma adição bem legal ao sistema que se integra com o enredo, bem como com suas ações estratégicas in-game. Dependendo do que você faz, os aliens respondem com uma ação que vai desde aumento de patrulha até custo maior para obter informação sobre as atividades inimigas numa área.

Só achei que ele poderia se encher um pouco mais devagar (é injusto eu fazer uma coisa que elimina dois quadradinhos quando os ETs, do nada, enchem até QUATRO sem você saber por quê) e que deveria ser um pouco mais claro o que é preciso fazer para esvaziar esse contador (no começo é bastante confuso).

Nesse ponto das novidades eu preciso dar os meus mais sinceros parabéns à equipe do XCOM 2. Aqui não teve nada disso de usar o resto da carne do almoço pra fazer a sopa do jantar. XCOM 2 traz tantas diferenças de gameplay e design que nem parece que é uma continuação, podendo ser considerado um jogo em separado.


MISSÃO CUMPRIDA, COMANDANTE


Então, chegou a hora dos mais pacientes na rolagem de mouse descobrirem não só a nota que eu, pessoalmente, atribuí a esse aqui, como o motivo pelo qual eu não o enquadrei na categoria de Review Supremo, como fiz com o primeiro.

Antes de tudo, não deixe minha rabugice costumeira passar a impressão errada sobre XCOM 2. Eu gostei bastante desse jogo. Gostei de verdade, a ponto de considerá-lo, em muitos aspectos, uma verdadeira evolução com relação aos anteriores.

Dessa forma, caso você cometa o erro de estrear na franquia lendo o livro pela metade, fica a dica: não julgue XCOM 2 pelos seus vinte minutos iniciais. No começo, ainda nos tutoriais, ele pode até não parecer, mas é um exemplo genuíno de continuação feita do jeito certo.

Na boa, esse drone é tão útil que eu podia dar
um beijo na boca dele. Se eu soubesse onde ela fica.

Ele expande e renova ideias e conceitos dos games anteriores de uma forma que poucas vezes eu vi em uma continuação de um jogo (talvez Kingdom Hearts 2?). Apesar dessa declaração de amor, não posso encerrar o texto sem avisar ao leitor antes. XCOM é uma série que provavelmente é odiada por essa geração mal-acostumada com jogos fáceis demais.

É um game que não se joga levianamente, pra desestressar depois de um dia de trabalho. Ele demanda toda a sua atenção e planejamento, seja nas fases de batalhe ou nas fases de gerenciamento e administração de recursos. É um jogo que te força a fazer escolhas realmente difíceis e te pune severamente caso você não entenda rápido o bastante a mensagem que ele quer te passar.

NOTA FINAL: 5,0

Apesar de tudo, é um jogo muito bem pensado e original.

Sim, eu sei que pra quem leu o texto do Enemy Unknown é bem chocante ver um jogo do nível de XCOM 2 levar uma nota tão baixa. Mas permitam-me explicar os quês e porquês dessa dolorosa decisão.

Mesmo quando você pega o jeito do sistema do jogo e passa a derrubar QUATRO Archons em um único turno (acredite, é possível!), o que sobra de XCOM 2 é um jogo irritante, mesquinho e desagradável de se jogar. E tudo isso por causa da teimosia da Firaxis em não corrigir as taxas de acerto sem lógica do jogo.

Ao final do dia você encerra o jogo pensando: “será que valeu a pena todos aqueles tiros errados (com mais de 90% de acerto), performance problemática e loads abusivos? O que sobrou de diversão no meio de toda essa trabalheira toda?"

Não ouse me julgar, seu careca telepata filho de uma égua.

É um jogo que você finaliza mais pela obrigação do que pelo divertimento que sua experiência traz consigo. A Firaxis bate o pé, lança um DLC atrás do outro e simplesmente ignora as queixas (justificadas) dos jogadores aos problemas que o game, indiscutivelmente, possui. 

Falo isso por experiência própria: eu mandei um tuíte questionando as taxas de acerto do game e ela simplesmente fingiu que eu não existo. É por essa postura, e todos os defeitos listados acima, que eu NÃO recomendo XCOM a outros jogadores.

Eu juro que queria dar uma nota mais alta a esse jogo. Mas a teimosia da Firaxis em tornar XCOM uma experiência desnecessariamente desagradável e exaustiva ao jogador não deixa. Se não fosse por isso, talvez XCOM 2 fosse um forte candidato a melhor jogo que eu joguei em 2020.

"EU RECLAMO MAS EU GOSTO, PORRAAAAAAAAAAAAA"


Se você é um fã doente da franquia e não se incomoda com todas as falhas que eu citei ao longo desse texto, adicione três ou quatro pontos a essa nota e seja feliz na sua demência. XCOM 2 é um ótimo game, mas ele cobra uma dedicação e tempo do jogador que muitos talvez não possuam, ou não estejam dispostos a reservar, a um título com tantos problemas.

E é isso, pessoal. Espero que tenham gostado da leitura e nos vemos daqui a mais dez anos, quando eu recuperar meu fôlego dessa experiência de autoflagelação que é defender o planeta Terra das garras dos alienígenas malvadões invasores de bundas.

Au Revoir!