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segunda-feira, 24 de setembro de 2018

ANÁLISE: YU-GI-OH! LEGACY OF THE DUELIST (PS4)






















Yu-Gi-Oh! É aquele tipo de franquia que todo mundo já ouviu falar. Até pela quantidade de títulos lançados, fica impossível não saber, mesmo que levemente, do que se tratam os jogos. Lançado em 1996 por um japa chamado Kazuki Takahashi, o card game que com certeza se inspirou em obras como Magic The Gathering foi lançado para praticamente todos os consoles da década de 90 até agora (acho que só não saiu Yu-Gi-Oh! pra Sega Dreamcast porque não deu tempo...).

Não é novidade pra ninguém que os jogos eletrônicos dessa franquia são feitos mais pra servir de propaganda para o chamado TCG (trading card game), um jogo de cartas reais que arrebata cada vez mais jogadores ao redor do mundo. E o pior é que a estratégia vem dando certo: em conjunto com as séries animadas, os games são responsáveis por ingressar ao mundo de papel e sleeves jogadores que só estavam acostumados a ver as cartas na telinha de uma TV ou computador.

Jogadores de Yu-Gi-Oh!: gastando dinheiro em "pedaços de papel" desde 1996...

Em quase tudo que está à disposição pra jogar na franquia eu passei ao menos os olhos: o clássico Forbidden Memories, de Psone; quase toda a franquia GX, para PSP; as versões de PS2; e algumas tentativas desajeitadas de inserir a franquia nas gerações mais atuais, com versões para PS3, PS4 e mais recentemente, PC (por meio da Steam).

Apesar de todo esse know-how que eu tenho com a série, aqui no blog o único jogo analisado até agora tinha sido o primeiro GX de PSP, post esse que pode ser lido AQUI. Entretanto, nem só de passado vive o espírito de um faraó, e ao jogador assíduo dos certames de cartas sempre bate aquela vontade de conferir os jogos mais recentes disponíveis pra jogar.

Mesmo com o suporte ferrenho da Konami com o TCG (ou joguinho de cartas “de verdade” para os íntimos) e sua avalanche de coleções especiais e listas de banimento quase trimestrais, é impossível não ficar com aquela sensação de que o jogador (dos games eletrônicos) vem sendo deixado de lado pela Konami, uma empresa que resolveu jogar a toalha e abandonar suas eternas franquias (Castlevania e Metal Gear, por exemplo) pra se dedicar a outras formas de lucro mais fácil.

Um Yu-Gi-Oh! de graça? Sinto cheiro de carta-armadilha virada pra baixo...

Diante desse panorama nada animador, quais as opções ao jogador que não liga muito pras cartas de papel e quer apenas continuar acompanhando a série por meio de fótons e cartas digitais? As opções são várias: mesmo que você não leve em conta as “não oficiais” (emuladores e sites clandestinos que oferecem uma interface de jogo muitas vezes superior aos produtos oficiais da Konami), sempre há um jeitinho de continuar disparando rajadas de trovão branco na cara de seus oponentes ou obliterar completamente suas existências com a força do poderoso Exodia.

Yu-Gi-Oh! Legacy of the Duelist é uma dessas alternativas aos fãs mais cativos (muito embora que atualmente deixados de lado) da franquia milionária da Konami. Apesar de ser um jogo sem muitas novidades no quesito sistema ou interface, é sobre ele que eu pretendo tecer algumas poucas (muitas) linhas de considerações agora, no Mais Um Blog de Games.


HISTÓRIA (NULA)


Eu costumo dizer que existem alguns jogos que não precisam, necessariamente, de uma história pra acontecer. Algumas franquias, a exemplo de God of War, Castlevania ou Megaman, são impulsionadas mais pelo simples prazer de jogar em si do que por motivações narrativas ou avanço de lore como um todo.

Quem liga pra falta de lógica nos robôs do Dr. Wily enlouquecerem pela milésima vez? Quem quer saber da falta de desconfiômetro de Kratos em ter seu tapete puxado pelos deuses trinta vezes seguidas? O que importa é poder decepar cabeças de medusa e ganhar as habilidades dos chefes derrotados e seguir jogando sem pensar no amanhã.

Yu-Gi-Oh! segue a mesma lógica: não espere nada muito profundo em qualquer um dos jogos, muito menos em títulos praticamente sem interface como é o caso do Duel Links ou deste aqui, o Legado do Duelista. Apesar de haver tentativas de engrossar um pouco o caldo narrativo da série, como no caso do Duelist of the Roses, nada interessante no tocante a enredo jamais vai brotar de um dos games dessa franquia.

INF-N8: um robô de tanguinha que pesquisa a história dos duelos. Foi pra isso que a ciência evoluiu?

No caso do Legacy of the Duelist (PS4, Steam e Xone) temos apenas uma desculpa para justificar os elementos de jogabilidade (caso não tenha ficado muito claro, JOGAR CARTAS): uma espécie de robô bibliotecário está compilando dados sobre os maiores duelos de todas as franquias clássicas da série e cabe a você reviver esses grandes momentos do mundo dos duelos.

Pra quem jogou praticamente todos os jogos, como é o meu caso, e assistiu boa parte das séries animadas, o jogo cumpre bem seu papel saudosista de te fazer relembrar alguns momentos marcantes da saga. Lembra daquele duelo onde Mai passa perfume nas cartas pra saber o que iria puxar em seguida? Ou aquela parte do GX onde Jaden massacra Bastion com o combo de Kuriboh alado? Então, quase todas essas partidas poderão ser revividas no modo campanha do jogo.

A razão da palavra “quase” que eu escrevi na linha acima reside no fato de que nem todos os duelos clássicos estão representados no jogo. De fato, alguns duelos presentes na campanha deixam aquela interrogação na nossa cabeça de “por que eu estou travando aquele duelo onde Jaden batalha contra um macaco quando eu poderia estar encenando algo de mais relevância pro legado da série? ”

A Other Ocean odeia a fase Arc-V. Só pode ser isso.

Eu sei que provavelmente essa lacuna é pra “impulsionar” a compra de conteúdos de DLC, aspecto esse que eu vou criticar apropriadamente na parte do Sistema. Mas acho que nada justifica o fato de algumas campanhas (como a do Duel Monsters e GX) estarem quase completas, com vários duelos, e outras (como a do Arc-V) só contarem com UM DUELO DE TUTORIAL QUE NEM MODO REVERSO NÃO POSSUI. 

Sobre as campanhas que de fato estão completas, há uma quantidade quase cavalar de duelos pra serem desbloqueados. Se você não for um fã saudosista da série, é mais fácil enjoar e parar de jogar do que sentir falta de alguma coisa. Mas fica a queixa registrada sobre a falta de congruência na escolha dos duelos.

De resto, não espere nada de original nos eventos retratados aqui (daí a nota inédita no blog): até pelo título, Legado do Duelista, a ideia é fazer um tour pelas principais séries animadas lançadas até então acerca do universo de Yu-Gi-Oh! (são cinco campanhas: Duel Monsters, GX, 5D’s, Zaxal e Arc-V). E, mesmo que aos tropeços, nessa parte o jogo até que não deixa muito a desejar em questão de conteúdo disponível.


GRÁFICOS (5,0) E SOM (3,5)


Sempre que eu tento analisar os gráficos de um Yu-Gi-Oh! eu me deparo com um problema. Esse problema existe por causa de uma peculiaridade com esse tipo de jogo: não importa se o título não tem uma interface muito boa ou um personagem controlável pra te guiar pelos cenários, se a interface e os gráficos dos duelos estiver a contento, está tudo bem. É como se os gráficos fossem representados sob dois pontos de vista: o que realmente interessa (o dos duelos) e todo o restante.

Num jogo de cartas, o que importa são as cartas, não é mesmo? No caso do Legacy, a interface está toda ok: a forma como você navega pelas opções durante os duelos, coloca cartas em campo e ativa efeitos está de acordo com os padrões GX de qualidade exigidos aqui no blog. Em tempo, a ferramenta de busca de cartas, na edição de decks, não chega a ser tão completa como no GX, mas não decepciona em facilitar a sua vida diante da enxurrada de cartas que você vai encontrar pela frente.

Alguns efeitos são até "legaizinhos", mas você sabe que o PS4 consegue entregar muito mais.

Os visuais das cartas em si estão a contento: a resolução é boa, o texto é grande (você vai precisar ler MUITO se quiser aprender a jogar Yu-Gi-Oh! de forma geral) e tudo é muito claro e sem muitas complicações (o modo de editar decks vai dar um pouco de trabalho aos menos habituados, mas nada que o tempo não cure).

Já o visual das animações, dos cenários e os efeitos como um todo são um show de horrores. Sabe aquela expressão batida que eu sempre uso pra desmerecer os gráficos de um jogo (visuais dignos da era 32-bits)? Então, esse é exatamente o caso do Legado do Duelista, não importa em qual aparelho você o execute. As texturas dos cenários são tenebrosas, fazendo vergonha a jogos de Playstation 2 no começo de geração.

A opção de zoom com o botão triângulo seria um recurso mais que bem-vindo aos portáteis.

Os cenários possuem poucos detalhes e lembram muito porcamente alguns palcos clássicos (como o Reino dos Duelistas ou a Batalha da Cidade) vistos nos animes. As animações de invocação de monstros clássicos (Mago Negro, Blue-Eyes, Neos...) são tão pobres e desajeitadas que vão te fazer ligar o PS2 com Final Fantasy 10 dentro só pra relembrar do que um trabalho dedicado e artistas 3D competentes são capazes de entregar quando se comunicam entre si. 

Já o prazer de abrir pacotinhos de cartas, a exemplo do modelo-a-seguir GX, foi completamente estragado pela falta da animação que havia nas lojas de cartas dos games anteriores. E só pra constar: a crise se abateu sobre Domino City e o vendedor do Card Shop perdeu seu emprego...

Sobre o som, aqui temos outro tropeço da Konami: fica evidente que, apesar da demanda saudosista que este game exige, a empresa delegou para o desenvolvimento um estúdio que visivelmente não fez sua lição de casa em detalhes básicos que são conhecidos até pelo fã mais desatento da série.

Alguns backgrounds não são muito indicados aos mais fracos de estômago.
Imagina passar vinte minutos olhando pra essa parada gay fora de época?

A trilha sonora do game é totalmente sem vida, com faixas originais que dão sono ao invés de entreter durante os duelos (quem joga sabe que alguns combates nessa franquia podem passar de meia hora de duração). Nem a ideia óbvia de reutilizar as músicas próprias de cada fase dos jogos (Forbidden Memories, GX, etc.) os criadores tiveram (ideia essa que qualquer Youtuber iniciante na edição de vídeos conseguiria ter).

Eu sei, reciclar criativamente pode não ser uma coisa muito boa a se fazer. Mas, se for pra colocar uma trilha que nem fede nem cheira, que não acrescenta nada à experiência de jogo, eu preferia que eles reutilizassem as músicas clássicas, visto que Yu-Gi-Oh! no geral sempre contou com OSTs de alta qualidade (ouça à faixa Sebek & Neku, do Forbidden Memories, e volte aqui pra concordar comigo).

No mais, a despeito de experiências como a do Duel Links, abandone quaisquer esperanças de diálogos dublados, temas que tocam em momentos específicos do duelo ou qualquer outra periquitagem desse nível.


SISTEMA (7,1)


Nada muito diferente do que o jogador está acostumado será entregue aqui: um jogo de cartas 1 contra 1 onde vence aquele que reduzir os pontos de vida do oponente a zero. Há uma caralhância de cartas para todos os gostos, desgostos, opções sexuais e idades que vai te fazer urrar de desespero em meio a tantos arquétipos e estratégias possíveis que o jogo possibilita. E acredite, isso é algo muito bom.

Antes de começar a revelar as minhas cartas-armadilha de descontentamento viradas pra baixo, eu preciso desabafar que o Legado do Duelista, infelizmente, ainda é o mais completo e atual modo de jogar Yu-Gi-Oh! com o máximo de cartas disponíveis. Desabafo sim, pois a Konami não esboça nenhuma intenção de lançar novos jogos pra console no estilo dos excelentes GX ou Duelista das Rosas.

Se você gosta de Yu-Gi-Oh! vai ter que se conformar com o atual modelo de negócio que a Konami está disposta a empurrar goela abaixo das duas gerações de fãs que curtem seus produtos: jogos sem interface alguma, com baixa interatividade e zero de enredo, focados no nefasto modelo de microtransações que rasteja tentando passar despercebido pelas frestas das carteiras dos jogadores de videogame.

Quantidade de cartas avassaladora, mesmo com alguns poréns...

Enfim, voltando ao tópico: no Legado dos Duelistas, como já citado, há um modo Campanha no qual você vai ajudar o robô INF-N8 a registrar os duelos clássicos vistos nos animes. Nesse modo você usará decks de história, aqueles usados pelos personagens em seus respectivos momentos do enredo (por exemplo, a primeira batalha é Yugi usando deck de Exodia contra Kaiba e seus Blue-Eyes).

Some a esses confrontos a possibilidade de inverter as posições de batalha (vencendo ao menos uma vez é possível trocar de lado e dar o troco no personagem que tava te dando trabalho pra derrotar) ou usar um deck criado por você mesmo, caso esteja com muita dificuldade de prosseguir, e você terá à sua disposição uma quantidade bem satisfatória de duelos pra revisitar.

Também há os Challenges, desafios contra os personagens derrotados no modo Campanha, só que com baralhos tunados ao extremo, capazes de transformar até a Téa na mais perigosa oponente. Mentira, NADA no mundo é capaz de tornar Téa um desafio sério, mas o que eu quero dizer é que esses desafios vão trazer as novas mecânicas (como Synchro ou Xyz) a personagens com decks manjados.

Alguns desafios são realmente... desafiadores!

Então, não se surpreenda ao ter seu traseiro chutado por um Pegasus usando um deck de Madolche, fazendo uma Xyz Summon atrás da outra; ou um Mako Tsunami colocando DUAS cartas de 3200 de ataque logo no primeiro turno do duelo. Esteja avisado e monte um deck personalizado o quanto antes, se quiser encarar esses desafios.

A fim de completude de informações, não posso esquecer de falar que há um modo online com leaderboard e tudo, mas as partidas possuem um lag sem lógica que triplica o tempo de um duelo desnecessariamente, mesmo enfrentando oponentes a uma rua de distância da sua casa (por que raios eu consigo jogar um jogo com DOZE participantes online, sem lag, como no caso do Overwatch, mas um jogo com DOIS duelistas roda devagar quase parando?). 

E o nível das opções de busca de partida ou customização das mesmas é quase nulo. Pra desestimular ainda mais os dueleiros profissionais, há regras ocultas tiradas da bunda da Other Ocean que te impedem de usar alguns de seus baralhos personalizados sem que haja nenhuma explicação do porquê acontecer (pra não falar das cartas com regras erradas, como no caso da Fluffal Owl).

Falando sobre quantidade de cartas, mesmo com as confusas interfaces da Loja de Cartas (há avatares dos personagens clássicos, mas você não faz ideia do tipo de carta que pode vir em cada um deles), ela é bastante satisfatória, trazendo um leque de opções que vai te permitir jogar com arquétipos clássicos (como o Blue-Eyes e seus protetores) até os mais recentes decks de Xyz ou o Pêndulo e seus Camarartistas. Quanto a isso, pode ficar tranquilo.

Por que, Konami, por quê?

O conteúdo em DLC adiciona alguns duelos meio que desnecessários, em alguns casos (como os da Batalha da Cidade) e, em outros casos, que servem pra tapar um buraco que nem deveria existir no modo Campanha (como na fase Arc-V). Isso pra não falar da falta de lógica em algumas escolhas (que foram feitas propositalmente para forçar o jogador a comprar): por que raios eu tenho que duelar QUATRO vezes contra Alexis quando faltam duelos como a batalha de Jaden contra Darkness ou o excelente duelo de Axel contra um emissário de Darkness?

Mas a pior crítica aos DLCs deve ser feita mesmo com relação ao seu custo-benefício: são 17 conteúdos (que adicionam, além dos combates extras, receitas de baralho que muitas vezes destoam completamente dos decks que você viu nos animes) custando de R$10,00 a R$15,00 cada (season pass? Esqueça!).

R$15,00 pra jogar duelos de uma temporada filler? VTNC, Konami.

Mas Shadow, o jogo custa R$39,00 na Steam e R$40,00 nos consoles. Se eu comprar todos os DLCs eu vou pagar quase cinco vezes o valor do jogo!!!” É exatamente isso que acontece, caro troll da internet. Seja bem-vindo ao modelo insidioso de negócio que a Konami tenta, ano após ano, empurrar goela abaixo do jogador não muito bom em matemática.

Felizmente, se você é um jogador casual de Card Games e está pouco se lixando pra’quele duelo onde Yuya chuta o traseiro de Sora sem dó nem piedade, o conteúdo disponível no jogo-base é mais que suficiente pra você enjoar de jogar.


O LEGADO DO DUELISTA AO CUSTO DO LEGADO DA KONAMI


É com muita tristeza que eu afirmo que Yu-Gi-Oh!, ao menos nos consoles, está jogado às traças. Já que lucra milhões com a venda de cartas reais e angaria fãs e mais fãs a cada dia que passa, a Konami não vem demonstrando nenhum interesse em lançar jogos de qualidade (a exemplo do GX e do Duelista das Rosas) para consoles ou PCs (o PS Vita foi eutanasiado pela própria Sony sem ver um jogo sequer da franquia).

Se você parar pra pensar no tratamento frio e monetarista com que a Konami vem tratando suas marcas, vai se dar conta de que a atual situação de Yu-Gi-Oh! nos games nem é tão incompreensível assim: pra quê ela vai se dar ao trabalho de contratar uma desenvolvedora minimamente interessada em fazer um jogo de qualidade se o que mais importa a ela, as verdinhas, vão continuar a entrar na sua conta de qualquer jeito?

NOTA FINAL: 6,6

De um jeito meio torpe, Yu-Gi-Oh! continua a pleno vapor e oferecendo conteúdo constantemente atualizado a quem curte esse estilo de jogo (seja no TCG, seja nos jogos eletrônicos). Entretanto, a Konami parece ter encontrado seu porto seguro ao lançar jogos praticamente inacabados, sem diálogos ou um personagem pra controlar. Jogos esses que apenas mantêm acesa a lúgubre chama da esperança dos jogadores de ver um título de peso, de primeira linha, lançado na geração atual de games (ou na próxima. Pelo menos por sonhar eu não vou pagar R$15,00 via DLC...).

A carta mais forte do jogo, a Konami Negra de Olhos Puxados,
carregando um poderoso ataque pra destruir as expectativas do jogador...

O Legacy of the Duelista vale a pena ser jogado? Sim, vale, mesmo que eu ainda ache que seu preço devia ser cortado pela metade, visto que uma empresa merece receber pelo seu produto na proporção da dedicação que direcionou a ele. Apesar da nota mediana, é um jogo sobre o qual eu tinha uma opinião das piores antes de jogar, mas que se mostrou uma grata surpresa a quem quer apenas se manter no ramo dos duelos num console/PC de geração atual.

ATUALIZADO: pelo seu enorme fator replay e pela grande disponibilidade de conteúdo (mesmo a versão padrão sem DLCs), achei mais justo subir um pouco a nota final (um ponto extra além da média aritmética dos tópicos) pra não ficar parecendo que meu julgamento se baseou apenas em aspectos técnicos. Espero que os leitores entendam.

Au Revoir.

sexta-feira, 21 de setembro de 2018

ANÁLISE: HERE THEY LIE (PS4)






















Apesar de ter começado como um exercício de imaginação sobre até onde a tecnologia do entretenimento seria capaz de nos levar (lembra do Holodeck?), a realidade virtual é uma ferramenta maravilhosa que vem transformando diversos campos do conhecimento humano. Desde um tour virtual por um imóvel do seu interesse até uma simulação de cirurgia, as possibilidades abertas com esse segmento tecnológico estão num mesmo nível de “encurtamento de distâncias” que o e-mail significou no começo da década de 90.

E é claro que os games não ficariam de fora dessa festa. Não mais vistos como brincadeira de criança há um bom tempo, os videogames sempre caminharam lado a lado com as inovações tecnológicas e de mercado, impulsionando segmentos completos que, muitas vezes, só faziam sentido se analisados pela ótica de quem joga (como no caso da corrida por melhores placas de vídeo, nos PCs).

Se você nasceu na década de 2000 e começou a jogar videogames há não muito tempo, termos como Playstation VR, HTC Vive ou Hollow Lens podem soar como novidade para você. E na verdade devem soar como novidade mesmo: apesar dos games já flertarem com as três dimensões desde a década de 80, a realidade virtual é um ramo dos games tão novo que acaba despertando certa desconfiança aos mais habituados a jogar da forma mais ortodoxa: em frente à TV, com um controle (normal) na mão.

The Witcher XV rodando no Playstation VR 10

A Playstation Plus, como todo mundo deve saber, é um serviço de assinatura anual que brinda mensalmente, com jogos “gratuitos”, os gamers dispostos a pagar R$130,00 no serviço. É fato que a maioria deles são umas verdadeiras bombas, aquele tipo de jogo com cara de free to play pra celular que você só baixaria por engano. Não é exagero dizer que na PlayStore você encontra jogos melhores que os dados em alguns meses na Plus.

Entre os jogos gratuitos, a Sony sempre tenta trazer alguns títulos para PS3, PSVita (o console morto-vivo esquecido pela sua própria fabricante) e o já citado no texto, o Playstation VR (pra quem é lento nas associações, esse VR é de Virtual Reality, ou Realidade Virtual em bom português/BR). É nesse contexto que eu pretendo falar um pouco de Here They Lie, um dos jogos gratuitos do mês de setembro.

Será que é realmente a hora da indústria de videogames apostar neste novo segmento tecnológico? Jogar um jogo que foge dos padrões, mais focado em exploração e experiência real em três dimensões, é necessariamente uma coisa boa? E o papel de Here They Lie nisso tudo: será que esse título é o jogo que vai fazer você gastar R$1800,00 num PSVR e ingressar na realidade virtual de uma vez por todas? Veremos...


HISTÓRIA (2,0)


O jogador começa o jogo no controle de um completo estranho, o típico protagonista silencioso de jogos em primeira pessoa (TODOS os jogos em realidade virtual são, quase que obrigatoriamente, em primeira pessoa, e acho sim essa uma falha). Você desce de um trem numa estação abandonada, guiado por uma linda mulher negra que, de alguma forma, parece te conhecer pessoalmente. Ao explorar um pouco mais, parece que tudo está deserto e abandonado. Seu contato com outros humanos se dará apenas por meio de textos encontrados em páginas espalhadas aleatoriamente nos cenários (ao menos na primeira parte).

Mas as semelhanças com Slender param por aí. As cartas, poemas, devaneios ou seja lá o que você achar que elas sejam, não trazem nenhuma mensagem que faça algum sentido ou que digam respeito ao “enredo” do jogo como um todo. Elas falam, de forma muito vaga, sobre questionamentos e dúvidas existenciais que todo ser humano tem, como vida após morte ou a existência de realidades alternativas.

"Batatinha quando nasce se esparrama pelo chão. Eu gosto do Mais Um Blog de Games, é um blog muito bão!"

No meio de todo um sentimento de “eu não faço ideia do que porra está acontecendo aqui”, há uma tentativa dos roteiristas em oferecer algumas escolhas morais que, em teoria, afetarão o resultado final da jornada de seu personagem. Você empurraria num abismo um cara que acabou de espancar até a morte, com um cano de ferro, uma outra pessoa? Vale a pena se esforçar pra salvar uma pessoa (de muitas) que está sendo enforcada para a diversão de uma plateia sádica, em um teatro lotado?

O final do game traz uma escolha que, além de não fazer sentido nenhum no enredo (não importa se você escolha a mão ou a marreta), não altera em nada na sua experiência, pois o jogo não se dá ao trabalho de contextualizar nada, deixando apenas as coisas insinuadas. Isso quando não parte pra exposição barata propriamente dita, com a personagem principal da trama te dizendo EXATAMENTE o que aconteceu com a cidade onde você se encontra, sem muito rodeio.

"Espelho, espelho meu: existe um jogo mais nonsense do que eu?"

O enredo de Here They Lie tenta fazer um julgamento de suas ações durante seu curto gameplay mas não tem os colhões de apontar o dedo na sua cara te dizendo o que você fez de errado. Não importa sua decisão final, o jogo acaba passando um pano nos seus atos moralmente questionáveis (como jogar uma lajota na cabeça de uma pessoa 20 metros abaixo de você). Se era pra colocar um dilema moral sem as devidas consequências, qual o sentido de colocar, pra começo de conversa?

Atrair a atenção do jogador como um burro que vai sendo puxado pela cenoura na ponta de uma vara, sem dar a devida recompensa no final, é um mau costume detestável que eu adoraria que a indústria de videogames (e a indústria de entretenimento em geral) perdesse de uma vez por todas.


GRÁFICOS (8,9) E SOM (3,5)


Eu sei que tudo tem que ter um começo, um ponto de partida. Se a Sony ficasse esperando os polígonos perfeitos para adentrar no mundo do 3D, não teríamos em 1997 jogos como Final Fantasy 7 ou Tekken (não teríamos também o Polygon Man, detalhe esse que eu acho que compensaria o atraso tecnológico...). Sendo assim, a indústria de games não pode (e nem deve) esperar que a tecnologia de Realidade Virtual esteja a preço de banana para começar a brincar com suas possibilidades.

Entretanto, quando penso em adquirir um PSVR, eu não consigo me livrar da sensação de “ainda não é o momento” que o ato carrega consigo próprio. Dessa forma, é fácil constatar que eu não tenho um PSVR e, provavelmente, nunca vou chegar a comprar um (ao menos não na geração atual). Portanto, eu joguei Here They Lie sem poder aproveitar o melhor que ele tem a oferecer: seus gráficos e proposta de experiência em realidade virtual.

A atmosfera da cidade é muito boa. Se bem aproveitada, renderia
um excelente jogo de terror.

Mesmo com essas considerações e com o possível aviso que meu julgamento pode não ser dos mais isentos, chega uma hora que a novidade proporcionada pela tecnologia precisa baixar seu fogo e dar lugar aos verdadeiros aspectos que fazem um jogo de videogame ser bom: diversão, imersão e interatividade. Como Here They Lie se sai nesses quesitos?

Os gráficos do jogo são lindos, mas com uma ressalva. Provavelmente ele é bem-sucedido em sua proposta de embasbacar os pouco acostumados com RV arremessando coisas que se contorcem, derretem, se montam e pegam fogo bem na cara do jogador. Entretanto, não adianta ter visuais quase fotorreaslísticos e texturas de alta qualidade num jogo que não tem nada pra fazer, lembrando mais uma atração de parque de diversões que um jogo eletrônico interativo.

Apelar pra fractais é um indício de que o processo visual-criativo foi pro saco.

Here They Lie não se preocupa em te explicar quase nada do enredo e conta com doses cavalares de psicodelia. Quero deixar bem claro que eu não tenho nada contra psicodelia. Quando bem utilizada, é uma ferramenta narrativa bastante eficaz (a exemplo de jogos como Farcry 3 ou filmes como Dredd). O problema é que a psicodelia visual aqui não tem nenhum nexo, parecendo mais um clipe do Tears for Fears que um jogo, em alguns trechos.

Do som não tem nada pra falar. Há apenas dois personagens dublados e com diálogos (fora as cartas e fotos que trazem diálogos que parecem terem sido gravados de pessoas aleatórias passeando na rua). O resto são grunhidos dos “monstros” e sons ambientes caóticos, como coisas desabando, se desconstruindo ou pegando fogo (não espere que o jogo te explique quem diabos é aquele carinha de chapéu que taca fogo em tudo que encontra pela frente...).

Sowing the Seeds of Love versão videogame...

O jogo não traz nada que possa ser reconhecido como música, falha essa que eu considero não só grave como um desperdício, visto que a intenção desse tipo de proposta é mais contemplação que interatividade e gameplay como um todo.


SISTEMA (3,0)


Contrariando o padrão dos meus textos, onde o tópico Sistema é onde eu aproveito pra soltar o verbo sobre cada detalhezinho do jogo analisado, com Here They Lie essa parte vai ser bem curta, pra casar com a falta de coisas a fazer no game. Aqui você não vai encontrar armas, enigmas ou qualquer espécie de combate. Não há nada pra fazer além de andar, coletar pilhas pra uma lanterna que se gasta num ritmo surreal e ler mensagens desconexas com os momentos pelos quais você está passando no game.

As ameaças também são bem inconsistentes, com um teor de aleatoriedade que não faz muito sentido: numa hora um cara com um cano na mão te espanca até a morte (o game over desse jogo é super legal!) apenas por te avistar; e numa outra, um exato cara do mesmo tipo te deixar passar sem relar um dedo em você (culpa sua se não adivinhou que o caminho certo a seguir era justamente o do carinha com o cano na mão...).

Peraê: esse bicho tá tentando me matar ou não tá?

Toda essa falta de ritmo, associada a checkpoints ocultos e perda de conteúdo (você demora pra descobrir que as reticências que aparecem em algumas telas escuras é justamente quando o jogo salva seu progresso) transformam Here They Lie num legítimo “walking simulator” da melhor qualidade.


TIC, TOC, SÃO DEZ HORAS QUE PARECEM DUZENTAS...


Here They Lie é um jogo que parece durar muito, por causa do eterno sentimento de “preciso descobrir o que acontece a seguir” que permeia toda sua jornada, mas que se revela desconcertantemente curto quando você descobre que “era só isso”? É um título feito propositalmente pra servir de outdoor de um deslumbramento com a realidade virtual que, certamente, não segura a empolgação com uma tecnologia, depois que o gosto de novidade sai da boca.

Pelo menos o game over é da hora!

Ele não funciona narrativamente e também não funciona como stealth (visto que a maioria dos inimigos pode ser ignorada ou deixada pra trás com sua “velocidade” de corrida). Uma hora é inevitável que o tédio te vença pelo cansaço: você segura o botão de “corrida” (mais parece um leve caminhar apressado) e só quer seguir em frente pra ver onde toda aquela loucura vai dar.

NOTA FINAL: 3,6

Jogos como Here They Lie são a prova mais irrefutável de que tecnologia avançada sem boas ideias por trás dela não serve pra nada, a não ser exibir visuais sem substância nenhuma, colocados lá de forma aleatória e desleixada pra arrotar poder gráfico na cara do jogador. Se a experiência de jogos como Here They Lie é o melhor que a atual realidade virtual tem a oferecer, prefiro poupar meus R$1800,00 e seguir jogando da maneira que vem dando certo pra mim desde a década de 90...

Au Revoir.

sexta-feira, 7 de setembro de 2018

ANÁLISE: YU-GI-OH! GX (PSP)






















É engraçado como algumas coisas acontecem sem que a gente se dê conta ou planeje: eu criei o Mais Um blog de Games no final de 2011, com pouca técnica ou experiência em escrever, mas com muita vontade de soltar o verbo sobre assuntos que eu achava que mais ninguém na internet tinha falado, com a mesma convicção, anteriormente.

Nesse ritmo, eu acabei me focando naqueles jogos ou franquias os quais eu achava mais urgente escrever sobre no momento. Por uns bons quatro ou cinco anos, essa mentalidade de encarar prioridades acabou deixando o blog meio que sem forma, ora focando em lançamentos super aguardados, ora dando um giro de 180 graus para analisar ou indicar um jogo obscuro ou antigo do qual poucos tinham ouvido falar.

Esse “problema” de foco criativo acabou passando a impressão, a menos na minha cabeça, de que eu menosprezava algumas franquias em detrimento de outras. Claro, mesmo o leitor menos familiarizado com a manutenção de blogs ainda deve ter em mente de que é impossível jogar ou conhecer tudo.

"Yay, chegou a minha vez!!!"

Desculpe se você tem a Cortana ou o Master Chief como figuras ilustres na sua experiência enquanto gamer: eu sou limitado por fatores como o financeiro (para jogar em vários consoles), disponibilidade de tempo e meu humor (volátil) pra escrever sobre um game que eu acho relevante.

Foi por causa desse efeito de excesso de informação e pouco tempo disponível que franquias como Yu-Gi-Oh! passaram quase que inauditas durante esses quase sete anos de blog. Os que estão pouco se lixando pra card games já devem estar correndo o cursor do mouse em direção ao botãozinho X de fechar a página. Àqueles fãs eternos da série, fica a impressão de que eu sou um Maria-vai-com-as-outras que inventou do nada que é um baita fã da franquia.

A quem pensa da segunda forma, fique agora com meu primeiro texto de um jogo da série Yu-Gi-Oh!, bem como algumas opiniões e descrição de situações in-game que jamais poderiam ter sido inventadas por um bot de inteligência artificial do Google ativado para ludibriar os leitores.


HISTÓRIA (7,5)


Antes de começar a falar da história do GX em particular, eu preciso falar das particularidades da MINHA história pessoal com a série Yu-Gi-Oh!. Eu conheci a série da mesma forma que 90% das outras pessoas que jogam os games atualmente conheceu: vendo o desenho tosco na T.V aberta. Numa época em que a internet engatinhava no Brasil e os playtimes (como são conhecidas as casas de jogos aqui na minha região) ainda existiam em número significativo para significar concorrência com outras formas de entretenimento.

Nessa época, meados de 2002, o game de cartas, impulsionado pelo anime da T.V, gerou um estranho fenômeno nos locais que eu frequentava: o Yu-Gi-Oh! Forbidden Memories, do Psone, chegou ao cúmulo de ser jogado, simultaneamente, em OITO aparelhos de T.V quase que lado-a-lado. O mais bizarro era testemunhar marmanjos calejados de PES ou Winning Eleven jogando um “joguinho de cartas feito pra crianças”, onde o objetivo era extinguir pontos de vida do oponente, ao invés de arrancar o topo da cabeça de zumbis com headshots de rifle sniper.

Pasmem: as cartas eram quadradas e não traziam nenhuma descrição do monstro!

Eu, amante eterno de jogos que forçam minimamente minha massa cerebral, tentei participar do frenesi das cartas do jeito que podia: como na minha casa havia um computador K6-2 com alguns megas de memória RAM, eu conseguia emular o jogo de forma satisfatória e passar horas colocando cartas e mais cartas pra cima pra ver no tipo de monstro que a mistura ia dar. Eu também assistia à primeira temporada exibida à exaustão, dever de casa mais que obrigatório a quem queria se familiarizar com as cartas que apareciam no jogo.

O resto da história é fácil de adivinhar: a Rede Globo não deu continuidade às outras temporadas da série animada (são cinco, pra quem não está por dentro do assunto); a indústria de games se mostrou incapaz de entregar um game que simulasse as jogadas e efeitos complexos realizados no desenho; e o interesse geral arrefeceu para dar lugar a outros modismos igualmente passageiros.

Agora que falei sobre minha história com a série animada, posso ser um pouco mais específico e detalhar a história do GX em particular. Ela é exatamente a mesma que você viu no anime (falo da série GX): personagens vivem numa realidade alternativa que se passa num tipo de faculdade de jogo de cartas onde tudo é resolvido na base do duelo (desde interesses amorosos até disputas físicas que deveriam ser acertadas com sopapos).

Esse é o Zé-Ninguém com que você joga. E o pior é que não nem pra escolher o gênero.

A diferença é que, ao invés de controlarmos Jaden na sua jornada para se tornar um duelista profissional, controlamos um completo estranho cujo nome é definido por nós durante o começo do jogo. A ideia é que você chegou paralelamente à Academia de Duelos junto com Jaden, a tempo de testemunhar os principais acontecimentos vividos pelo herói que adora heróis e seus amigos.

Além de revisar todos os principais acontecimentos narrativos que acontecem na série animada (ou seria o contrário?), também há eventos bem legais que foram retratados no anime, como o clássico duelo onde Jaden detona os pontos de vida de Bastion com o Kuriboh Alado de nível 10.

De forma geral, tudo que foi visto em 24 quadros por segundo, na tela da T.V, está inserido na experiência do modo campanha de Yu-Gi-Oh! Gx. Se você viu todos os episódios (da primeira temporada) vai se sentir em casa ao avançar na campanha principal do jogo. Sendo assim, pela primeira vez no blog eu atribuo uma nota não à qualidade do enredo de um game, e sim à sua fidelidade com relação ao anime.


GRÁFICOS (9,0) E SOM (9,5)


Antes de prosseguir, mais uma historinha precisa ser contada. Eu sei, eu sei, elas são um saco. Mas são necessárias, visto que é por meio delas que eu vou provar que tenho um relacionamento que já dura eras com a franquia em questão, e que não sou um bot da Google pago pra escrever post pra um blog.

Então, depois de jogar o Forbidden Memories (Psone), o Duelists of the Rose (PS2) e Capsule Monster Coliseum (PS2 também), eu fiquei sabendo do jogo (o GX pra PS2) por meio de um amigo e fui comprar numa banca de jogos “alternativos” no centro da minha cidade. Quando pedi pra olhar o jogo, pensei que o cara havia colocado o disco errado: a primeira tela, a da sala de aula, parecia a de um jogo de Gameboy Advance em resolução 480i.

Fiquei ultrajado, claro! Depois de jogar visuais de derreter as retinas de tanta beleza (como Shadow of the Colossus, Metal Gear 3 ou Valkyrie Profile Silmeria), eu achava que estava diante de uma piada de extremo mau gosto por parte de quem havia feito o jogo. Eu nem sabia que ele era um port de PSP, e tampouco estava interessado em descobrir isso. Larguei o jogo de lado e fui comprar qualquer outra coisa que parecesse ter sido desenvolvido na mesma década na qual eu me encontrava.


Diga se não é pra sair correndo de susto?

Mas o Coração das Cartas nunca abandonaria um fiel servo, e eu teria contato com Yu-Gi-Oh! GX uma vez mais antes de oficializar meu amor à terceira vista com o game. Ao visitar um amigo que também gosta desse tipo de jogo (e da série como um todo), ele me mostrou como eram os duelos do jogo, elemento esse que eu nem quis ver por causa do choque com os visuais pelo qual eu fui submetido.

Aí eu pensei: “é, até que o jogo é ‘legalzinho’. Dá pra fazer tudo que eu via no anime, e as batalhas são bem complexas e divertidas, não é? Acho que vou dar uma outra chance a esse game...” Por “dar uma chance” entenda-se: copiar o disco do meu amigo no computador e levar o jogo pra casa. Bem, depois de algumas poucas horas eu já havia me dado conta do julgamento precipitado que havia feito na primeira ocasião, e finalizei a jogada com a certeza de que estava diante do jogo definitivo da franquia.

Dessa forma, não tem como negar que o GX tem uma interface de jogo horrenda. Os personagens são cabeçudos de uma forma que desafiam as leis da embriologia como as conhecemos, a movimentação é tosca e os cenários parecem ter sido feitos no Paint. Mas as partidas de cartas são 100% fiéis ao que vemos nos animes, realizando um sonho antigo, ao menos pra mim, desde a fase do Reino dos Duelistas. E acho que isso é o que realmente importa num jogo.

Nunca julgue uma carta pela arte: o que conta é o efeito que ela causa. O mesmo vale pro GX.

Mas Yu-Gi-Oh! GX é tão malsucedido assim em seus aspectos visuais? Será que nada se salva no jogo, nem o tabuleiro de cartas? E por falar nelas, são borradas ou estão em preto-e-branco? Não, nada disso. O campo de duelo é bem legal, com um efeito de universo como plano de fundo. As cartas, apesar de serem um pouco pequenas, estão em ótima resolução, sendo diferenciadas por cores de acordo com sua função no campo. Os gráficos do game trazem até aquelas animações do oponente puxando uma carta, colocando no disco de duelo e etc. (o que, a meu ver, é uma tentativa válida da Konami de retratar os duelos com a máxima fidelidade possível).

A única queixa é que essas mesmas animações tornam o tempo de duelo impraticável (o que não chega a ser um problema, pois dá pra desativá-las nas opções). Infelizmente, mesmo que não fossem demoradas, as animações do oponente são bem serrilhadas, matando quaisquer vontades (até do discípulo mais fervoroso do Coração das Cartas) de realizar os duelos na íntegra, sem cortar nada.

Os novos campos de batalha são super legais e variados!

Já as cenas de ataque e invocação de monstros especiais estão de parabéns: passa um filminho em anime dos monstros mais legais do jogo entrando em campo e depois atacando, seja um Exodia prestes a obliterar ou um Herói Elemental Homem-Chama Alado disposto a causar em dano os pontos do ataque do monstro destruído. Aconselho que ative as animações ao menos nos eventos, se não vai perder muita coisa legal de se ver.

Por outro lado, um problema que não é gráfico mas pode atrapalhar um pouco a experiência é o tamanho da tela do PSP: as cartas ficam um pouco pequenas demais, como eu já falei, e as toneladas de texto que precisam ser lidas pra entender o funcionamento das cartas podem acabar ficando inacessíveis aos portadores de problemas de vista. Uma alternativa seria a versão de PS2, onde você pode jogar no “conforto” de uma imensa T.V. de tubo com resolução de 480i ...

O melhor lugar do jogo, fácil.

Ai, lá vem o Shadow, a putinha sem critério, dar nota máxima pro som de um jogo de novo...” Dessa vez o senhor está duplamente errado, seu Troll da internet: eu não dei nota máxima e eu tenho senso de julgamento sim. O problema é que, antes de decidir atribuir a nota a esse aspecto do game, o mesmo me desafiou a um duelo e as condições eram as seguintes: se eu ganhasse, daria a nota que eu bem quisesse. Se eu perdesse, teria que dar uma nota próxima do máximo pra esse quesito. Enfim, desnecessário dizer o resultado dessa batalha, não é?



Falando sério agora (e deixando de lado o jeito Yu-Gi-Oh! de resolução de conflitos por um instante): o som é excelente em todos os aspectos, desde os mais insignificantes barulhinhos (como o de colocar cartas no campo ou fazer fusão) até o tema de batalha comum, que vai embalar partidas longas e desafiadoras durantes dezenas de minutos. Um destaque também são as faixas adaptáveis, que tocam de acordo com a situação do duelo (como a empolgante You Are Losing, que começa sempre que alguém está prestes a ter o traseiro chutado pra valer).



Não é exagero dizer que eu passei literalmente anos pra criar coragem e jogar outros Yu-Gi-Oh!s (como no caso do 5D’s) pelo simples fato deles serem diferentes, musicalmente falando, do GX. A faixa da Loja de Cartas, por exemplo, vai grudar na sua mente como um Adhesive Explosive cerebral, te dando a certeza de que você poderia ouvi-la durante horas sem enjoar. O mesmo vale para o tema de batalhas comuns, o Duel, que consegue embalar centenas de horas de duelo sem fraquejar.


SISTEMA (9,0)


Depois das histórias que eu contei, fica mais fácil pra você se colocar no lugar de um fã doente da franquia como eu. Imagina a situação: você acorda de manhã e fica esperando passar o mais novo episódio do anime na T.V. Globinho. Nele, você vê Yugi, Joey e o resto da cambada fazendo combos super legais e ativando efeitos que não fazem lógica nenhuma! Ou seja, mais um dia comum pra um espectador de Yu-Gi-Oh! Duel Monsters.

Aí você desliga a televisão, vai pro Psone (ou PC, no meu caso) e se depara com um jogo bastante simplório onde nada parece seguir o mar de possibilidades que você vê no anime. Fácil deduzir que a decepção domina seu humor numa hora dessas, não é mesmo? Sendo assim, não fica difícil imaginar a alegria que um jogo como o GX trouxe à minha vidinha gamer quando eu o descobri.

Mas, apesar de toda a minha baixa poesia e paixão pela série, é preciso dar um importante aviso: vá se acostumando com o pior que o sistema complexo do game tem pra arremessar contra você, pois a dificuldade da franquia como um todo, não só neste jogo, é bastante alta, em alguns momentos beirando a injustiça.

Zane, um dos duelistas mais difíceis do jogo inteiro.

O primeiro adversário, o loirinho que fica na porta do seu quarto e usa monstros de água, é tão (ou mais) difícil quanto o último chefe, Kagemaru. Não se deixe enganar pelas fotinhos diferentes dos personagens que encontrar: por trás de todos eles, dessa aparente variedade de oponentes, há um mesmo jogador onisciente, apelão e calculista que conhece todas as regras (AKA: CPU) e vai chutar seu traseiro da forma mais eficiente possível. A única coisa que muda é a intensidade da apelação, devido a variantes de baralhos.

Alguns oponentes, como a Jewels do Obelisco Azul, simplesmente compilam TODAS as cartas mais agressivas e desonestas do jogo inteiro, algo bem frustrante que torna a tarefa de vencê-la quase impossível. Sobre esse problema, acho que devia ter um limite de alguns tipos de carta que você poderia colocar no seu deck, como acontece com o Duelists of the Rose. Mas acho que isso resultaria no dilema de matar a liberdade dos arquétipos, um dos pilares que torna essa série tão legal.

Subestimar seu oponente pela aparência: o pior erro que você pode cometer nesse jogo.

Falando em arquétipos, você sabe o que são eles? Então, lembra no Forbidden Memories, quando você ia adicionando cartas ao seu deck até ele virar um Franquenstein apelativo lotado das cartas mais poderosas e convenientes possíveis (com foco no ataque e na defesa)? Aqui isso ainda é possível, mas a graça mesmo do sistema reside nos Arquétipos, ou seja, temas de como você pode construir seu baralho. Lembra do exemplo do loirinho com cartas de água? Então, é disso que se trata um arquétipo, uma estratégia feita para maximizar e tornar viável o uso de um baralho com um tipo de cartas específico.

O legal é que os arquétipos não precisam estar relacionados apenas com o tipo ou atributo das cartas de monstro. Você pode montar um arquétipo baseado numa ideia, como a ideia de ferrar a vida do seu oponente não deixando que ele coloque monstros em campo (LOL), ou drenando seus pontos de vida antes que ele consiga te atacar. Jogando o GX você vai se deparar com decks e estratégias que nunca imaginava serem possíveis de se utilizar, acredite.

Há um arquétipo pra qualquer coisa que sua imaginação puder criar.

Entretanto, um grande problema com os arquétipos é que não há muita hierarquia nos oponentes encontrado no jogo. Um calouro do Slifer Red (o ranque mais baixo da academia) pode apelar tanto quanto (ou até mais) um estudante do Obelisco Azul (o que não faz muito sentido, visto que são níveis de graduação diferentes).

Muito embora que uns poucos gatos pingados usem arquétipos que beiram a inocência (como o carinha que joga com cartas de cogumelo?!?), a grande maioria vai se utilizar das estratégias mais insidiosas e revoltantes para vencer, te obrigando a criar decks personalizados apenas pra derrotar um oponente em especial (como no caso dos malditos irmãos do Chazz).

Um dos grandes diferenciais da franquia GX é a loja de cartas, um lugar super legal onde você vai querer passar boa parte do jogo (seja torcendo pra que venha aquela carta que você precisa em um dos pacotinhos espalhados nos 48 decks existentes, seja duelando com os frequentadores só pra acumular Pontos de Duelo).

Chazz começa o jogo sendo um pé no saco arrogante... e termina do mesmo jeito.

É verdade que alguns decks ficam indisponíveis baseados nos dias da semana, ou por outros critérios que não fazem lá muito sentido (tem um que só é liberado com o Konami Code!), mas o simples ato de simular a abertura dos boosters (os pacotinhos da vida real que contêm as cartas) já é motivo suficiente pra conquistar o mais exigente dos fãs da franquia.

Falando em sistema de jogo, faz-se necessário tratar um pouco a respeito da campanha. Ela é dividida em três fases principais, que podem ser acessadas individualmente uma vez que você termine o jogo. Na primeira você deve preencher oito corações de amizade com um dos duelistas disponíveis (por meio de duelos, sanduíches ou conversa fiada) para lutar em dupla no campeonato vindouro.

Confesso que na primeira vez que joguei, no PS2, eu passei batido por esse objetivo pelo simples fato de que o jogo não se preocupa muito em deixar claro o que você precisa fazer pra avançar. E ter que encher a barriga do seu futuro parceiro com sanduíches é uma tarefa bem penosa, visto que se você não adivinhar o tipo certo de comida que ele gosta num sorteio randômico (tem sanduíche de uva, ovo frito e até de miojo, pode acreditar!), precisará dominar a arte da captura do Sanduíche do Ovo de Ouro.

A alegria de pegar esse item é indescritível!

Esse petisco dos sonhos preenche um coração inteiro automaticamente de QUALQUER parceiro que você presentear. Ainda durante essa primeira fase, cabe o aviso de que eu descobri um bug com relação a esse sanduíche: às vezes o jogo não registra que você deu o item, então salve sempre antes de entregar a alguém.

Na segunda fase é preciso coletar medalhas (num total de noventa) pra entrar na Torre de Duelo. Como os duelos são do tipo Tag (em dupla), cada dupla de adversários pode apostar uma quantidade diferente de medalhas que, segundo o diretor da Academia de Duelo, vai determinar a dificuldade das partidas (dica: coloque o máximo de medalhas possível, pois a dificuldade será altíssima de todo jeito).

Essa fase eu achei particularmente divertida, pois não temos que nos preocupar em dar draw num maldito sanduíche de ouro oito vezes, bastando apenas fazer o que mais gostamos de fazer nos jogos: duelar e chutar o traseiro de todos que cruzem nosso caminho (eu sou tão maníaco que sempre que jogo derroto TODAS as duplas, mesmo depois de já ter conseguido a quantidade exigida). Além disso, a passagem dos dias desaparece, tornando essa parte da campanha principal bem leve e menos morosa que a primeira.

O gato Pharaoh é um Shadow Rider. Eu tenho como provar!

Por último, será preciso derrotar os sete Shadow Riders espalhados no mapa. É bom saber que alguns deles estão bem escondidos de forma que, se você joga sem guias, pode ter um pouquinho de trabalho pra encontrá-los (sim, Camula, é de você que estou falando). Alguns desses duelos serão bem difíceis, mesmo em dupla, principalmente levando em conta que os Cavaleiros da Sombras sempre escolhem como parceiros estudantes do Obelisco Azul pra ajudá-los.

Também tem uma pegadinha antes de enfrentar o último chefe, o halterofilista Kagemaru: depois de derrotar o último Shadow Rider, o jogo te obriga a enfrentar mais duas batalhas (a do velho Kagemaru e a do Kagemaru Gogo Boy) sem poder salvar, sendo que na última você nem mesmo pode editar seu deck caso perca (e acredite, mesmo com um deck câncer de retornar e destruir monstros como o meu, você vai perder ao menos uma vez pro velhote.

O Jinzo é foda até com gráficos medíocres

Ao menos, ao terminar o jogo, você ganha três cartas super legais de Feras Sagradas, aquelas mesmas que fazem cosplay do Dragão Alado de Rá, do Obelisco e do Slifer (Konami, contrate novos designers de cartas com urgência, pois parece que a criatividade aqui já tinha ido pro saco). E encontrar essas cartas e colocá-las em seu deck vai ser moleza, visto que o game conta com uma ferramenta de busca maravilhosa e super completa, que infelizmente não foi aproveitada nos jogos mais novos (como o Legacy of the Duelist).

Ainda sobre os duelos em dupla de forma geral (que podem acontecer aos domingos, na Fase 1, ou durante toda a Fase 2 e 3) a I.A do jogo resolve bancar a estúpida com seu parceiro (no caso, VOCÊ) e sabotar as partidas. Mesmo com cartas que poderiam salvar a jogada (como a Sakuretsu Armor), seu ajudante decide fazer absolutamente NADA e olhar os pontos de vida compartilhados pelos dois indo por água abaixo. Parece que tudo em Yu-Gi-Oh! GX está contra você, até o parceiro que foi cevado na base de sanduíche de ovo de ouro e que tem a obrigação de te ajudar.


EU COLOCO UMA CARTA VIRADA PRA BAIXO E ENCERRO MEU TURNO...


Yu-Gi-Oh! GX é a epítome do que deve ser um jogo com as limitações técnicas de um portátil: é extremamente divertido e extenso (mesmo que sua grandeza não resida na quantidade de bytes gravados no UMD), apesar de seu tamanho geográfico diminuto (há poucas telas para se explorar no mapa quando comparado até a outros games do PSP). Mas a maestria desse jogo não se encontra lá fora, no mapa-múndi, e sim no interior dos discos de duelos no braço de cada NPC ávido a varrer o chão com a sua cara.

NOTA FINAL: 8,8

É um jogo excelente, que representa a empolgação de um mundo utópico onde o maior problema que a humanidade enfrenta é achar um oponente desafiador pra duelar, com alta fidelidade ao card game da vida real (salvo algumas regras, claro) e um fator replay beirando os pontos de ataque do Exodia.

Yu-Gi-Oh! GX é feio em sua interface e pequeno em espaço de disco, mas é competente no que realmente importa num jogo desse gênero: variedade de cartas absurda, fidelidade ao card game que o inspirou (por isso a nota 9,0 aos gráficos, mesmos esses sendo medíocres) e quantidade de estratégias e estilos de jogos disponíveis ao jogador.

Àqueles que gostaram do texto, é só ter paciência que um dia eu escrevo sobre o dois.

Por tudo que você leu ao longo do post, deve ter percebido qual é a de Yu-Gi-Oh! GX: um jogo muito bom sim, mas que deve ser jogador com parcimônia, principalmente pelos novatos. Isso se você quiser conservar seu juízo e evitar o risco de arremessar seu PSP na parede (acredite, o sorriso cínico de alguns personagens e sua malícia ao duelar vão despertar esse lado negro em você).

Mas, se você é fã dos animes (meus pêsames aos seus e aos meus neurônios) e quer encenar as peripécias de Yugi, Seto Kaiba, Jaden e cia., esse é o jogo pelo qual você tanto esperou. E com esse texto eu estreio a franquia aqui no blog, com a promessa de muitos outros conteúdos relacionados no futuro.

Au Revoir.