Quando eu joguei o revival
de XCOM em 2014 eu saí com duas certezas sobre aquele jogo. Uma era de que ele
estava à altura, sendo até melhor em alguns aspectos, que me meu favorito desse
gênero (combate tático por turnos), o Final Fantasy Tactics. A outra era que o
título mais que merecia alcançar o status de Review Supremo no blog.
Complexo sem enfadar o
jogador com pormenores desnecessários; bonito e bem trabalhado no quesito som
(muito embora que possuísse lá suas falhas); extenso e profundo, com um enredo
capaz de causar arrepios na nuca dos mais aficionados por ficção científica (como
este que vos escreve); e tantas qualidades mais que podem ser conferidas AQUI.
Pelo título já deu pra
perceber que sua continuação direta, XCOM 2, não caiu no meu gosto na mesma proporção
arrebatadora que seu título de resgate da franquia clássica (a UFO: Enemy
Unknown, um clássico dos PCs). O que será que aconteceu? Será que os defeitos,
dessa vez, pesaram mais que as qualidades?
Olha o Mais Um Blog de Games daqui a 15 anos, sendo apreciado por todo o mundo em telões de hiper definição. |
Será que XCOM 2 é um
jogo tão diferente assim do primeiro? Ou foi meu ponto de vista que mudou por
causa do sentimento de revisitação que esse aqui carrega? Bem, a resposta a essas
perguntas você já sabe como encontrar (dica: tem a ver com rolagem de mouse).
Em tempo, este texto
será consideravelmente menor que o Review Supremo do primeiro XCOM (da geração
atual, que fique bem claro, visto que eu não joguei os clássicos). Isso se dá,
e já spoilando um pouco minha própria análise, pelo fato de que praticamente
TUDO que eu falei sobre gráficos, som, sistema e história do outro jogo se
aplica aqui, pro bem ou pro mal.
"Mais um gole de germes? O quê? Que porra é isso?" |
Não, isso não quer
dizer que eu vou escrever um texto apressado e preguiçoso que só vai indicar a
leitura do outro post. Longe disso. Essa congruência de aspectos técnicos só
significa que eu vou poder tirar do caminho toda aquela verborragia (regada a
elemento surpresa) do primeiro texto em prol de uma análise mais focada apenas
no que difere de um jogo pro outro.
Sem mais enrolação, vista
seu chapeuzinho de alumínio, desbloqueie a Alien Blaster nos Fallouts modernos
(pra entrar no clima de combate à ameaça alienígena) e embarque nessa nave da
Xuxa chamada Mais Um Blog de Games para mais um texto deliciosamente cumprido
de se saborear (olha os comentários com contexto sexual de volta. É, essa quarentena tá me afetando de jeito...).
HISTÓRIA (9,1)
O enredo dessa
continuação não oficial de Guerra dos Mundos versão videogame é mais do que
direto: lembra o objetivo do primeiro game, o de enfrentar a ameaça alienígena
e salvar a humanidade de ter seus orifícios corporais fustigados por toda a
eternidade? Então, aqui os escritores cagaram pro que aconteceu no final bom do
game e simplesmente partiram do pressuposto de que você é um Comandante de
bosta e os aliens ganharam a guerra. Meigo, não acha?
Aqui, surpreendentemente
(visto que odeio quando uma empresa ignora os esforços do jogador), eu preciso
dar um ponto pra Firaxis. XCOM 2 é um dos poucos jogos que eu conheço onde o
final alternativo, ou final “ruim” para os íntimos, é o que conta. Por que isso,
você se pergunta? Porque é mais divertido e abre mais brechas pra elementos
interessantes de gameplay, a Firaxis responde.
"Vote em mim, bicho. Eu prometo que tudo que nós precisamos é de amor!" |
Além desse panorama
necessariamente derrotista, a guerra agora é travada num contexto mais
político, acima de tudo. Isso quer dizer que seu exército vai vencer os ETs na
base das fake News, ou sujando o nome deles no horário eleitoral “gratuito”? claro
que não. Ainda existem os combates que tornaram a série famosa (além dos
elementos de estratégia, claro).
O que eu quero dizer é
que é mais apropriado, a essa continuação em especial, que o viés da ameaça dos
aliens seja mais político que bélico. Pense comigo: os ETs conseguiram se
instalar no nosso planeta; depois fizeram a cabeça de uma parcela da população
com suas promessas enganosas; pra finalmente deixar a sociedade num ciclo vicioso
no qual ela é ludibriada por “benfeitores” que dizem estar ajudando o povo,
quando na verdade estão fazendo o exato oposto disso.
"Acorda, Comandante! A fake news tá comendo solta no Twitter!" |
Se fosse pra enquadrar
os ETS desse enredo em uma classe da sociedade na vida real, com quem os aliens
de XCOM 2 se pareceriam? Se sua resposta foi “políticos em época de eleição”, parabéns,
você está pronto para liderar o exército de libertação da humanidade que nos
conduzirá à vitória contra esses canalhas oportunistas que querem viver bem às
nossas custas (dessa vez eu me refiro aos alienígenas).
Eu prometi que daria
mais atenção a outros aspectos, aqueles que distanciam este do primeiro jogo,
então lá vai. No contexto do game, há um grupo significativo da humanidade que vive
em estado de ignorância e negação da ameaça alienígena, como se nada tivesse
acontecido. Alguns deles duvidam da presença dos ETs mesmo diante de fatos.
Imagina quantas fake news por segundo não dá pra enviar com um tablet desses... |
O jogo se passa no fictício
ano de 2035. Parece absurdo pra você que, apenas a 15 anos no futuro, existam
pessoas com tal perfil comportamental? Ok, vamos repassar a frase do bloco de
texto acima novamente, agora com caixa alta nos pontos mais importantes:
“No contexto do
game, há um grupo significativo da
humanidade que vive em
estado de ignorância e negação da
ameaça alienígena, como se nada tivesse acontecido. Alguns deles duvidam da presença dos e.ts mesmo diante de fatos.”
E agora? Essa conjuntura
narrativa te parece familiar? Pois é, foi o que eu pensei também.
Sectoid: "eu acho que você vai errar esse tiro." Soldado: "eu discordo de você!" |
É assustadora e quase profética
a forma como o enredo de XCOM 2, de 2016, alerta para o estrago que insistir em
opiniões sem embasamento e ideias errôneas pode causar à humanidade como um
todo. Relativização, falácias e desfaçatez podem muito bem representar a forma
como nós, seres humanos, estamos lidando com a informação que nos é fornecida
nessa era digital que vivemos atualmente, em 2020.
Sobre o enredo, não
tem muito mais o que falar. Ele é tão bom, instigador e elaborado como o dos jogos
anteriores. Ele abre uma brecha (quem jogou até a cena final vai entender o
trocadilho) para uma ameaça ainda pior que a já conhecida da invasão alienígena
e deixa o mistério no ar do que teria acontecido com o Professor Xavier depois
que o Advent encontra seu esconderijo. XCOM 3, here we go!
É um trabalho de um minimalismo sem igual. |
Sobre os detalhes de textos,
autópsias, descrições de itens e diálogos em geral, eles seguem o mesmo nível
de qualidade absurdo. Há conversas impagáveis caso você preste atenção à
janelinha no canto direito superior, a do coroa bonitão (pros padrões desse jogo,
claro) que te auxilia na administração do Avenger.
“Talvez, quando isso
tudo acabar, nós devêssemos pegar nossa nave e colonizar um dos planetas deles,
pra dar o troco.”
Alguns elementos de gameplay são assustadores, mesmo quando não era a intenção. |
Como sempre, o enredo
de XCOM é muito bem-utilizado pra gerar os mais diversos sentimentos de terror
no jogador (invasão de corpos, controle de mente, aniquilação total pelas mãos
de um inimigo infinitamente superior...). No topo da tela fica o contador de
Advent, um total de 12 quadradinhos que medem o tempo que falta pros ETs chutarem
a bunda da humanidade once for all.
Nesse aspecto, o game
acaba te forçando a fazer escolhas que, num futuro muito próximo de gameplay,
se mostrarão completamente erradas, sem que você tenha a menor ideia da bola de
neve que estava escavando pra cima de si próprio. E o teor de tensão delas
permeia toda a experiência de jogo sem dar descanso à mente do jogador.
GRÁFICOS
(8,9) SOM (9,5)
Como eu falei no começo,
tudo que eu escrevi no primeiro post se aplica a esse aqui, sejam as falhas ou
os acertos. Antes de começar a escrever este eu reli o post do primeiro XCOM. E
qual não foi a minha surpresa, olhando as fotos, ao perceber que o 2 é bastante
parecido graficamente com os jogos anteriores?
Isso quer dizer que
XCOM 2 é um jogo feio, que não parece com um game da atual geração? Não,
sinceramente (como tudo que eu escrevo) eu não acho isso. Mas é indiscutível
que os jogos passados (de PS3, PCs e Xbox 360) serviram de base pra confecção
deste mais novo. De posse dessa informação você já sabe o que esperar: personagens robóticos
e sem expressão que parecem prontos pra saltar da TV e te esganar com as
próprias mãos.
Na boa: algumas cenas são muito desengonçadas. |
Parece que a Firaxis só
se deu ao trabalho de colocar texturas melhores por cima dos modelos do jogo
anterior e mandou prensar os discos. Ok, eu exagerei um pouco agora. Se reutilizar
motor gráfico velho fosse demérito, os games da Bethesda seriam as piores porcarias
do mundo (comentário que só faz sentido pré-lançamento do Fallout 76).
Meu conselho? Evite pesadelos
e não jogue XCOM 2 perto da hora de dormir. Os ETs não são a única coisa
medonha que vão assombrar a sua noite, caso você insista. Falando assim, parece
que a Firaxis deu a maior mancada nesse aspecto. Mas não é o caso.
O design de XCOM 2 continua
soberbo. É futurista sem soar fantasioso e detalhado a um nível quase molecular
de sandice perfeccionista. Pena que o mesmo não possa ser dito das animações
engasgadas e da queda vertiginosa de frames que desaba sobre alguns momentos
(a batalha final traz TRINTA E UM inimigos no total. Imagina o fuzuê que fica o
HD do seu PC/Console numa hora dessas...).
As telas iniciais são de tirar o fôlego. |
É verdade que XCOM 2
não é o jogo mais bisonho dessa geração. As fotos não me deixam mentir. Mas, já
que falei de PCs, enquanto jogador de consoles eu fico imaginando a tristeza de
um PC master racer que montou uma máquina com tudo no talo pra receber esse
desempenho sofrível em troca...
NOTA: é óbvio que o
comentário acima é do ponto de vista de quem jogou no PS4. Se os mesmos problemas
não acometem a versão do PC, favor deixar nos comentários.
Sobre o som,
maravilhoso como sempre. Nada mais a acrescentar, fora o fato de que alguns
barulhos e diálogos acabam meio que sendo prejudicados pela queda de frames
citada no parágrafo acima. Mas nada de muito preocupante, que atrapalhe a
experiência.
SISTEMA
(6,0)
A regra que eu usei
pra gráficos e som vale pra essa parte do sistema também. Sendo assim, tudo de
bom e ruim no sistema do jogo, fora as novidades de gameplay, acabam se
repetindo no XCOM 2. Primeiro eu vou falar de algumas novidades de maior
impacto na experiência de jogo.
A mais gritante é o mapa-múndi.
Se nos jogos anteriores o mapa era apenas uma periquitagem visual enquanto você
esperava o tempo passar, aqui ele funciona como um jogo de tabuleiro clássico, a
exemplo de War.
É preciso indicar as
rotas de voo da sua nave, o Avenger, pra que ele parta em busca de missões e
objetivos. Diferente dos outros jogos, onde todos os eventos ativos (pesquisa,
construção de instalações e fabricação de itens) progrediam simultaneamente, cada
objetivo vai evoluir individualmente, dependendo de onde você estiver estacionado.
O mapa-múndi ficou show de bola. Espero ansioso pra ver o que o próximo jogo nos reserva. |
Pra quem jogou com o
tique-taque do relógio assombrando cada minuto da campanha, nos outros jogos,
esse detalhe parece claustrofóbico e impeditivo. Mas confie em mim quando eu
digo que não é.
Só por essa descrição do
mapa já deu pra perceber que esse jogo possui um fator estratégico absurdo, não
deu? De fato, suas decisões são tudo em XCOM 2. Sim, meu camarada, não é à toa
que tem chamam Comandante. Você provavelmente vai arruinar sua primeira jogada
sem ao menos se dar conta do que vinha fazendo de errado até que seja tarde demais.
Dessa forma, esteja
avisado que XCOM 2 possui uma dificuldade predatória, tanto nos combates quanto em
seus fatores estratégicos. Nos primeiros momentos com o jogo você vai ter a
mais plena certeza de que o alcance de suas armas (bem como sua potência), suas
habilidades e a quantidade de inimigos não batem com os recursos que te são
disponibilizados.
Dê upgrade nas suas armas o quanto antes. Acredite, faz toda a diferença. |
Mas vai por mim: chega
uma hora que, se você aprendeu com seus erros e fez a lição de casa direitinho,
XCOM 2 (pasme) vai parecer tolerável aos seus olhos! Entretanto, eu ainda preciso
dar o conselho de que é bom você não se apegar muito à sua primeira jogada. Muito
provavelmente, assim como eu, você terá que apagar seu save e começar de novo.
Aí vem a pergunta que
não quer calar: a culpa é sua pelas decisões “erradas” que tomou? Sim e não. Explico.
O sistema de jogo vai te empurrando numa cascata de eventos que, mesmo tendo experiência
com a franquia, não são tão intuitivos assim de assimilar. Caso você não
aprenda o sistema (e suas consequências) a tempo, se vê numa bola de neve
desgovernada culminando na vitória dos ETs.
Muitas vezes você
investe num ponto (como instalação de antenas de comunicação) só pra perceber,
tardiamente, que precisava focar em outro (como aumento de unidades por esquadrão
ou melhorias nas armas).
O sargento Jarle Boladão da primeira jogada: o país jamais vai esquecer seus feitos heróicos. |
Eu sei, por experiência
própria, que dói demais ter que abandonar os personagens nos quais você
investiu (literalmente) horas de gameplay e customização. Mas, quanto mais cedo
você se der conta dos erros que cometeu, melhor para seu progresso no jogo e
psicológico enquanto ser humano combatente de aliens (eu fiquei em estado
shaken quando tive que começar tudo do zero...).
XCOM, de forma geral,
é tão duro com o jogador quanto uma situação de invasão alienígena seria com o
ser humano na vida real. Cabe a você pesar quanto dessa dureza recai sobre as
suas decisões erradas e quanto dela recai sobre os problemas de sistema que a
2K poderia corrigir facilmente, via arquivo de atualização, mas não o faz (sim,
eu falo das taxas de acerto nesse caso).
Queima teu time inteiro com ácido, possui várias camadas de armadura, um canhão de plasma com criticals de até 15 de dano e recupera TODA a vida quando morre: um inimigo de nível "fácil" no XCOM... |
É bem verdade que, às
vezes, eu choro um pouco além da conta com uma coisa que me desagrada num jogo.
Quem me segue nas redes sociais já sabe disso. Dados os upgrades na ordem certa
e ignorando algumas missões “desnecessárias” em momentos cruciais, é até
possível afirmar que XCOM 2 se torna (eu não acredito que vou dizer isso...) um
jogo fá... facl... um jogo fasc... FÁCIL!!! Pronto, falei!
Depois de colocar os
ETs no cabresto e dominar o sistema, o nível das batalhas do game meio que não
condiz com a descrição que você encontra sobre o nível de dificuldade, antes
de aceitar os combates. O problema é a via crucis desnecessária pela qual
o jogo te faz passar até chegar a esse estado de iluminação espiritual.
Gostou das artes das telas de load? Que bom. Você vai ter tempo de sobra pra gravar elas na sua retina. |
Agora que já coloquei
alguns pingos nos is no tocante a decisões, posso me voltar aos dois maiores
problemas do sistema desse jogo: o load e as taxas de acerto. Sobre os loads,
não tem como dizer isso de uma forma muito enfeitada: XCOM 2 POSSUI LOADS QUE
VÃO TE FAZER DUVIDAR DO ESTADO DE CONSERVAÇÃO DO HD DO SEU CONSOLE.
Mesmo jogando em mídia
digital (meu caso, pois “ganhei” essa cópia num dos meses da PS Plus de 2018), XCOM
2 traz tempos de carregamento ainda maiores que os do jogo anterior (eu
considero Enemy Unknown e Enemy Within o mesmo jogo, por razões
autoexplicativas).
Uma tela de load que leva pra o menu que leva pra outra tela de load que leva pra... |
Esse jogo foi o primeiro
em toda a minha vida que me despertou a curiosidade de CRONOMETRAR seu tempo de
carga. Sim, eu sei que tem uma diferença entre o load dentro dos combates pro load da
base. Mas, acredite, ela é pequena, levando em conta que os maiores loads do
game batem na casa dos 1m e 42s! Juro! Quero ser arrastado pro inferno se
estiver mentindo!
E aqui vai um recado à
Firaxis, desenvolvedora do game: o tempo de viagem que nossos soldados precisam
esperar NÃO PRECISAVA SER O MESMO DE UMA VIAGEM NA VIDA REAL, CARALHA!!! Pronto.
Desabafei. Continuando.
Tempo estimado de chegada: um minuto e quarenta e dois segundos de load... |
Você já ouviu aquela
expressão “esse jogo tem load pra tela de load”? Então, é exatamente o caso
aqui. E não, isso não é maneira de dizer. XCOM 2 REALMENTE tem uma tela de load
(que não é rápida, diga-se de passagem) antes de mostrar as opções do menu
principal. Depois você carrega o save e... tome mais load!
Ai você sai da base,
aceita uma batalha e... mais load ainda. Caso precise (e você vai precisar) carregar
um save de um turno anterior, adivinha o que acontece? Alguns loads desse jogo
eu aproveitava para: ir ao banheiro; colocar água pra fazer um café; brincar
com minhas gatas; ou cortar as unhas! Sério. O pior é que, depois dessa espera
toda, a performance do jogo é sofrível, como eu já adiantei.
Só faltava ter load pras animações em câmera lenta. |
Se acontecesse um load
escroto mas, depois dele, o game rodasse lisinho, tudo bem. E sabe por que ninguém
se lembra dos loads cavalares que os games da série GTA trazem quando você os inicia?
Porque, depois desse único load, você tem um jogo ENORME e maravilhindo rodando
SEM LOAD QUASE NENHUM por HORAS. PORRA!
O mesmo não pode ser
dito da franquia XCOM, que te obriga a aturar telas de carregamento (lindas,
pra ser justo) de quase dois minutos pra depois entregar um jogo que engasga
com tudo, crasha por nada e empaca com uma qualidade gráfica que destoa de jogos
mais velhos da atual geração (alô, The Witcher 3? Fallout 4? Infamous Second
Son? Alguém em casa?).
"Se eu acertar ele daqui será que conta como um crash?" |
Aliás, falando em
crashes, eles são frequentes apenas ao ponto de você lembrar deles. No total,
acho que o game congelou menos de dez vezes, é verdade. Mas é bem frustrante
quando você está passando por um confronto final que já contabiliza DUAS HORAS
quando, na hora de ver o zeramento, o game trava. Firaxis, melhoras.
Certo, já tratei do
problema dos loads. Aceita que dói menos. Pior se o jogo tivesse loads grandes
e fosse ruim, o que não é nem de longe o caso. Agora é hora de abordar o problema
responsável pela nota final que o XCOM 2 vai levar aqui no Mais Um Blog de
Games: as taxas de acerto.
O recurso de captura de fotos acaba virando um criador de memes instantâneo. |
O que dizer de um problema
tão escroto que acabou virando um meme, sendo alvo inclusive de posts no
Twitter e queixas de jogadores diversos internet afora? Se acha que eu estou
exagerando, confira este post AQUI do blog. Ele relata a experiência do usuário
de Twitter Darren Weeks e sua relação no mínimo... irônica com as percentagens de
acerto no XCOM 2.
Primeiramente, parece
que a maldição de todos os personagens, em um turno, errarem seus tiros permanece. Dessa vez eu tive a impressão de que carregar o arquivo de save
novamente altera os acontecimentos, o que pode ser considerada alguma diminuição na
mesquinhez dos criadores do jogo.
Pelo menos a regra de
errar tiros, e errar tiros muitas vezes com a arma COLADA NA CARA DO ALVO,
também vale pros inimigos. Nesse aspecto XCOM consegue ser bastante democrático. Pelo visto, errar não só é humano como é alienígena também, já que os ETs conseguem
errar tiros (com uma certa frequência até) que nem um Esquilo Cego conseguiria
errar (jogadores de console entenderão...).
17% a essa distância? TÁ COM O OLHO NO CU, PORRA??? |
Esse roubo nos cálculos
de acerto acaba meio que sabotando o próprio sistema de habilidades e árvore de
evolução do game (que é excelente, já adiantando). É comum você deixar de
comprar um upgrade de promoção que se baseia em chance pra escolher um que,
embora não tão bom, tenha acerto garantido.
Isso acaba tornando
todas as suas unidades (salvas as devidas diferenças de classe) meio que umas
iguais às outras, prejudicando um aspecto que devia ser influenciado por
escolhas (pego a habilidade de Demolição ou a de descarregar o cartucho inteiro
de uma vez?), não pelo medo de ser roubado na hora de calcular as probabilidades
de acerto.
Deviam pedir um exame de vista mais rigoroso pra entrar nesse batalhão. |
Pra terminar o tópico
e encerrar o texto, cabem algumas novidades esparsas que eu achei bem legais no
sistema. Não lembro se já tinha isso nos anteriores ou nas expansões, mas agora
dá pra carregar nas costas um aliado incapacitado. Esse recurso até é utilizado
como um objetivo de missão, mas nada muito incrível.
Também dá pra curar
aliados com um Drone, uma das melhores coisas que a Firaxis implementou no game, sem sombra de dúvidas. É possível atirar em barris de combustível e tonéis para
causar dano a inimigos desavisados. Ainda sobre o drone, ele é capaz de hackear
à distância painéis que garantem bônus temporários (como aumento de mobilidade)
e unidades robóticas inimigas.
Algo que ajuda bastante
o jogador foi a novidade de que não é mais necessário comprar armas individualmente.
Quando você aplica um upgrade a uma arma, ela vale pro seu esquadrão todo. Do lado
dos ETs, temos alguns inimigos novos e bem legais (como os Archon e a forma
verdadeira dos Thinman).
Prepare os nervos: o contador do Advent vai te assombrar do começo ao fim. |
Outro ponto de
novidade bem-vindo é o já citado medidor de Advent. É uma adição bem legal ao
sistema que se integra com o enredo, bem como com suas ações estratégicas in-game.
Dependendo do que você faz, os aliens respondem com uma ação que vai desde
aumento de patrulha até custo maior para obter informação sobre as atividades
inimigas numa área.
Só achei que ele
poderia se encher um pouco mais devagar (é injusto eu fazer uma coisa que elimina
dois quadradinhos quando os ETs, do nada, enchem até QUATRO sem você saber por
quê) e que deveria ser um pouco mais claro o que é preciso fazer para esvaziar
esse contador (no começo é bastante confuso).
Nesse ponto das novidades eu preciso
dar os meus mais sinceros parabéns à equipe do XCOM 2. Aqui não teve nada disso
de usar o resto da carne do almoço pra fazer a sopa do jantar. XCOM 2 traz tantas diferenças
de gameplay e design que nem parece que é uma continuação, podendo ser
considerado um jogo em separado.
MISSÃO
CUMPRIDA, COMANDANTE
Então, chegou a hora
dos mais pacientes na rolagem de mouse descobrirem não só a nota que eu, pessoalmente,
atribuí a esse aqui, como o motivo pelo qual eu não o enquadrei na categoria de
Review Supremo, como fiz com o primeiro.
Antes de tudo, não
deixe minha rabugice costumeira passar a impressão errada sobre XCOM 2. Eu gostei
bastante desse jogo. Gostei de verdade, a ponto de considerá-lo, em muitos aspectos,
uma verdadeira evolução com relação aos anteriores.
Dessa forma, caso você
cometa o erro de estrear na franquia lendo o livro pela metade, fica a dica:
não julgue XCOM 2 pelos seus vinte minutos iniciais. No começo, ainda nos
tutoriais, ele pode até não parecer, mas é um exemplo genuíno de continuação
feita do jeito certo.
Na boa, esse drone é tão útil que eu podia dar um beijo na boca dele. Se eu soubesse onde ela fica. |
Ele expande e renova
ideias e conceitos dos games anteriores de uma forma que poucas vezes eu vi em
uma continuação de um jogo (talvez Kingdom Hearts 2?). Apesar dessa declaração
de amor, não posso encerrar o texto sem avisar ao leitor antes. XCOM é uma série
que provavelmente é odiada por essa geração mal-acostumada com jogos fáceis
demais.
É um game que não se
joga levianamente, pra desestressar depois de um dia de trabalho. Ele demanda
toda a sua atenção e planejamento, seja nas fases de batalhe ou nas fases de gerenciamento e administração de recursos. É um jogo que te força a fazer escolhas realmente
difíceis e te pune severamente caso você não entenda rápido o bastante a
mensagem que ele quer te passar.
NOTA FINAL: 5,0
Apesar de tudo, é um jogo muito bem pensado e original. |
Sim, eu sei que pra
quem leu o texto do Enemy Unknown é bem chocante ver um jogo do nível de XCOM
2 levar uma nota tão baixa. Mas permitam-me explicar os quês e porquês dessa
dolorosa decisão.
Mesmo quando você pega
o jeito do sistema do jogo e passa a derrubar QUATRO Archons em um único turno
(acredite, é possível!), o que sobra de XCOM 2 é um jogo irritante, mesquinho e
desagradável de se jogar. E tudo isso por causa da teimosia da Firaxis em não
corrigir as taxas de acerto sem lógica do jogo.
Ao final do dia você
encerra o jogo pensando: “será que valeu a pena todos aqueles tiros errados
(com mais de 90% de acerto), performance problemática e loads abusivos? O que
sobrou de diversão no meio de toda essa trabalheira toda?"
Não ouse me julgar, seu careca telepata filho de uma égua. |
É um jogo que você
finaliza mais pela obrigação do que pelo divertimento que sua experiência traz
consigo. A Firaxis bate o pé, lança um DLC atrás do outro e simplesmente ignora
as queixas (justificadas) dos jogadores aos problemas que o game, indiscutivelmente,
possui.
Falo isso por experiência própria: eu mandei um tuíte questionando as
taxas de acerto do game e ela simplesmente fingiu que eu não existo. É por essa
postura, e todos os defeitos listados acima, que eu NÃO recomendo XCOM a outros
jogadores.
Eu juro que queria dar
uma nota mais alta a esse jogo. Mas a teimosia da Firaxis em tornar XCOM uma
experiência desnecessariamente desagradável e exaustiva ao jogador não deixa. Se
não fosse por isso, talvez XCOM 2 fosse um forte candidato a melhor jogo que eu joguei em 2020.
"EU RECLAMO MAS EU GOSTO, PORRAAAAAAAAAAAAA" |
Se você é um fã doente
da franquia e não se incomoda com todas as falhas que eu citei ao longo desse
texto, adicione três ou quatro pontos a essa nota e seja feliz na sua demência.
XCOM 2 é um ótimo game, mas ele cobra uma dedicação e tempo do jogador que
muitos talvez não possuam, ou não estejam dispostos a reservar, a um título com
tantos problemas.
E é isso, pessoal. Espero
que tenham gostado da leitura e nos vemos daqui a mais dez anos, quando eu
recuperar meu fôlego dessa experiência de autoflagelação que é defender o planeta
Terra das garras dos alienígenas malvadões invasores de bundas.
Au Revoir!
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