Preconceito é algo complicado de se lidar. Em alguns casos, mudar um ponto de vista é quase como mudar o seu próprio jeito de ser. É como pedir pra uma águia sentir medo de altura, ou como esperar que um demônio se sinta culpado por se deleitar com o som de gritos alheios e carne sendo dilacerada, com um belo pôr-do-sol de sangue de fundo (obrigado, Hellblazer e Garth Ennis. Eu sempre soube que conseguiria encaixar essa paráfrase em algum lugar...).
Eu tenho um par de chifres, cara. Me dá um desconto... |
Não quero entrar no assunto de preconceito com opção sexual,
com cor de pele (lembre-se: não é preconceito racial. A raça continua a mesma,
independente da cor) ou com crença religiosa (ou a falta dela), visto que tais
assuntos tendem a gerar um tom dramático que simplesmente não combina com o
foco do blog (além de recair em temas que, honestamente, já encheram o meu
saquinho).
E, como faz um bom tempo que eu não o atualizo, gostaria de
me valer de uma definição de dicionário (todos que acompanham o Mais Um sabem
da minha paixão não tão secreta por livros com a pretensão de explicar a tudo e
a todos governar. Deve ser por isso que eu estou fazendo faculdade de biologia,
uma ciência nada pretensiosa que tem a “simples” missão de explicar a vida em
si):
(pré+conceito) sm 1 Conceito ou opinião formados antes de
ter os conhecimentos adequados.
O excelente dicionário Michaellis traz outros significados
para esse verbete. Mas o que citei acima é mais que suficiente para expressar o
que eu quero dizer.
Eu nunca fui muito fã dos desenhos da Disney. Vim assistir a
Hércules depois de velho, quando já não tinha nem mais graça. Os musicais
sempre me afastaram destas animações, mesmo que a ótima qualidade visual dos
desenhos exercesse efeito oposto.
Aliás, acho que eu nunca fui muito fã de animações
hollywoodianas em geral, visto que outras como A Era do Gelo ou Os Incríveis
demoraram bastante pra conseguir chamar um pouco da minha atenção.
"Humph! O que vai ser da minha reputação de cowboy se me virem com um urso cor-de-rosa"? |
O lado bom de aproveitar algumas coisas com certo atraso é
que podemos fazê-lo por uma perspectiva mais amadurecida do que na idade que foi
planejada para o público-alvo de algo. E nesse ponto, posso dizer que comecei a
quebrar meus preconceitos com as animações com o pé direito, com Toy Story (uma
animação muitíssimo menosprezada e enaltecida pelos motivos errados).
Bom, o fato é que, assim como os posts de Breaking Bad e
Splice, este aqui tem a modesta missão de indicar uma obra do cinema que eu
acho que merece um pouco da atenção de quem acompanha o blog. E antes que meu
escasso público cometa harakiri de tanta curiosidade e expectativa, a estrela
da vez a brilhar nesta constelação chamada Mais Um Blog de Games
Animações é Megamind, da Dreamworks.
UMA MENTE BRILHANTE
(SQN)
"Querida, vamos mandá-lo pra um planeta onde não confundam ele com o Brainiac" |
Megamind, ou Megamente (sim, eu assisti a essa animação
hoje, na Temperatura Máxima. Não é coincidência. E sim, eu pretendo comprar o
DVD original pra tirar o gosto ruim da dublagem brasileira e todos aqueles
nomes substitutos e cafonas que estragam o clima do desenho original), é uma
animação em computação gráfica que conta a história de dois personagens
icônicos das histórias em
quadrinhos. O exato começo do enredo eu ficarei devendo,
visto que quando liguei meu holotubo de teleapreciação espacial em 3D o filme
já tinha começado. Mas pelo que eu entendi, o enredo se foca em dois
personagens que vieram de outro planeta em orbes espaciais distintos (não, não
é impressão sua. Toda a animação está cheia de referências diretas ao
Super-Homem e seus filmes antigos. Se duvida, preste um pouco mais de atenção
no detalhe peculiar do queixo do “pai espacial” e, se conseguir somar um mais
um, entenderá a piada): um teve a sorte de cair em uma residência da burguesia
e contar com o melhor que a vida pode oferecer (tanto na questão do dinheiro
quanto na supremacia genética). O outro personagem, um simpático bebê cabeçudo
de grandes olhos verdes, deu o azar de cair na porta de um presídio e foi
criado... digamos... com certos valores de certo e errado um pouco distantes do
senso comum. A natureza foi sábia em não trocar os lugares, mais uma vez.
Claro que eu não vou gastar um resto de domingo meu contando
cada detalhe do enredo do filme, até porque o post é pra indicar, não pra dar
spoiler. Mas o que eu gostaria de salientar é como nós podemos nos surpreender
quando paramos pra dar atenção a algo que julgávamos ser totalmente indigno de
nosso tempo.
Não dá pra negar: ele é chato mas é bonitão |
Todos sabem que eu adoro escrever. A extensão de alguns
posts do meu blog jamais me deixaria mentir. E é por isso mesmo que eu dou
tanto valor a um bom enredo quando eu encontro um.
Veja bem, não estou dizendo que Megamind é a reinvenção da
roda quando o assunto é tirar sarro com super-heróis. O tema é clichê desde Os
Incríveis (mesmo que a real intenção ali fosse plagiar, não satirizar) e
Kickass. O que estou ressaltando, mais uma vez, é a FORMA como isso é feito na
aventura.
O enredo de Megamind consegue ser muito bom, com um humor
inteligente claramente feito não só para crianças e com um ótimo toque de
suspense e originalidade que vão te prender do começo do “desenho” ao fim. É
interessante, com diversas referências (inteligentes e engraçadas) sobre o
mundo dos quadrinhos. Além de todas essas qualidades, Megamind passa uma
mensagem educativa de forma nada tediosa sobre como é importante você não
abandonar as suas raízes, ou como você deve fazer justamente isso quando nada
mais estiver dando certo na sua vida.
A teoria do bom selvagem sendo posta à prova |
Hoje em dia é muito difícil aparecer conteúdo de boa
qualidade, voltado a um nicho de mercado específico e que cumpra o seu papel
com personalidade e estilo próprios. Numa fase da cultura humana em que as
coisas precisam ser fabricadas em larga escala (e isso inclui o próprio consumo
de cultura, como games, filmes e quadrinhos podem muito bem atestar), é de
encher os olhos ver uma animação voltada às crianças (mesmo só podendo ser
aproveitada em sua plenitude por aqueles que já passaram dessa fase) que não as
trata como retardadas e, de quebra, adianta a seus pequenos universos temas
relevantes a sua puberdade (como rejeição, relacionamentos e valorização pessoal).
Mau até os ossos? Nada que vitamina B não resolva |
MEGAMIND ESTÁ VALENDO
A COMPRA? A resposta é óbvia: NÃO, pois ainda não comprei o DVD original
(pegadinha do Malandro. Ié, ié). Mas pretendo fazer isso em breve para
prestigiar os criadores desse excelente desenho que me fez soltar diversas
gargalhadas durante os seus breves minutos. E, pra encerrar o texto, deixo os
leitores com uma pergunta que já vem acompanhada da resposta: sabe como um
roteirista tem a certeza de que conseguiu escrever uma coisa de qualidade
voltada ao público infantil? É quando ele, com a exata mesma obra, consegue
arrancar sinceras gargalhadas de um marmanjo que passou já dos seus trinta anos de idade.
Au Revoir!
Já estava perdendo as esperanças de ver conteúdo novo publicado aqui e desistido de visitar todos os dias quando sou surpreendido não apenas com uma postagem mas com uma postagem sobre um tema totalmente inesperado e glorificando uma animação que curto bastante.
ResponderExcluirCaro Shadow, certamente é novidade para você, mas as animações amadureceram muito nos últimos quinze anos. Os estúdios finalmente se tocaram que é uma boa ideia agradar também aos pais que acompanham as crianças no cinema... Alguns como Up ou Ratattouile possuem dramas e sutilezas que criança alguma entenderia e poucos adultos também.
Se Megamente causou esse alvoroço, sugiro também Os Croods, Como Treinar Seu Dragão, A Noiva-Cadáver e Uma Aventura Lego.
Aquino, perdi o comentário por causa da bendita checagem de senha do google. mas resumindo:
ExcluirNão abandone o Mais um blog de games, camarada, pois ele te considera como um padrinho. infelizmente não posso atualizar muito o blog por falta de tempo (trabalho, faculdade, estudando pra concursos pra ver se consigo um trabalho que me deixe mais tempo para cuidar de blogs e coisas desse tipo...).
Megamind me surpreendeu a ponto de parar o que estava fazendo no domingo pra escrever este post homenageando essa animação muito legal, cheia de humor inteligente, temas maduros e quebra de clichês. obrigado pelas indicações. vou assistindo na medida do possível. Como treinar o seu dragão eu já vejo quase todo sábado (na Globo). gosto muito de Kung Fu Panda tb. abraços.
Nota: o comentário acima é válido, Aquino. É que Shadow Geisel sofre de dupla personalidade (e alguns desentendimentos com as caixas de diálogo de senha do blogger) e acaba perdendo o controle às vezes.
ResponderExcluirEsse filme é primoroso, gostei muito tmbm.
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