A minha nova fase de
colecionador de games (de PS3 e, futuramente, de PS4) começou mais ou menos no
meio do mês passado e, apesar de uma desavença ou outra com lojas que teimam em
colocar fotos que não correspondem ao produto enviado, o saldo vem sendo
bastante positivo até agora.
Além da satisfação
pura da completude a cada raridade (ou não) engavetada, colecionar games é uma
excelente chance de conhecer títulos obscuros da gameteca do seu console
favorito. Pra ser mais preciso, eu estou adiantando um pouco do meu discurso no
primeiro vídeo de coleção no canal do Youtube, que finalmente sairá amanhã, faça
chuva ou faça sol (espero que minha net não me deixe com cara de tacho e mais uma promessa não cumprida...).
Além do sentimento de
completude, colecionar games também gera outro efeito em mim: o de conhecer
jogos que dificilmente eu colocaria pra rodar no meu aparelho, não fossem as
razões que parecem só fazer sentido na cabeça de um colecionador "profissional". Com isso, nada mais natural
que belas porcarias em forma de zeros e uns acabem passando pelos globos
oculares deste que escreve (ah, Spiderman 3, o que é seu ainda está guardado...)
Confesse: minhas mãos são belas e bronzeadas! |
Alguns jogos são tão
ruins, ou medíocres, que nem são dignos de menção. Outros, como Aliens Colonial
Marines, PRECISAM ser analisados, nem que seja a título de alerta a jogadores
desavisados, ou porque rendem excelentes textos de achincalhamento (clique AQUI pra ler a análise dessa bomba). Dessa forma,
venho hoje estrear um novo marcador no site, o “Dando Adeus” a tal jogo. A ideia
desse marcador não é nada nova: surgiu há um ano, enquanto eu estava de licença
médica e de pernas pro ar em casa, ocasião em que tive a oportunidade de jogar
bombas do naipe de Nier e Tower of Guns.
Foi pela ótica de
colecionador que eu tive o insight de que posso me dedicar à confecção de
textos mais curtos, explicando os quês e porquês de eu ter desistido de jogar determinado jogo logo nas suas primeiras horas. Por mais contraditória que a frase a
seguir soe vindo de mim, eu sei que nem todo jogo rende uma bíblia de devoção
em forma de post. Ou melhor: nem todo jogo MERECE um texto de extensões bíblicas explicando
por que não é uma boa ideia jogá-lo.
A idade traz toneladas
de XP com games e um faro mais apurado para esquivar de lixos como Toy Story
Mania ou Beowulf, e tal maturidade como jogador é mais do que suficiente para
sacar quando bombas ambulantes como Jericho aparecem de mansinho, se esgueirando pelo quanto do
olho pra pegar o jogador desprevenido...
Sendo assim, vamos cortar
a enrolação e ir direto ao que interessa.
O DESERTO MAIS GENÉRICO DE TODA A HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA
O jogo Clive Barker's Jericho se passa no deserto de Kahli, localizado na terra do “eu não ligo”, logo ali na província da "Genericolândia". Ele conta a história de um pelotão de um exército genérico com
capacidades psíquicas/sobrenaturais montado para combater um mal antigo que
ameaça a humanidade. E sabe o que é mais triste nisso tudo, e adianto logo que não
estou falando dos clichês? É que a premissa do enredo de Jericho até que é bem
interessante.
No mundo do game
existem livros apócrifos da bíblia cristã com relatos de uma criatura que teria
sido a primeira tentativa de Deus de criar a raça humana. O jogo se refere ao
bicho como “um ser de infinita beleza e morbidez, cuja contemplação causa tanto
maravilhamento quanto repulsa.” Ou algo assim. Tal ser teria sido banido por
Deus e condenado a viver em isolamento, por lhe faltar traços humanos como amor
e sensibilidade.
"Não quero dinheiro, cara. De jeito maneira! Eu só quero amar, só quero amar..." |
Antes que eu me
esqueça, livros apócrifos são aqueles que não entraram na versão final da
bíblia. No mundo real existem mais de 50, incluindo o Evangelho de Judas. Provavelmente
você não sabia dessa, não é mesmo? Então, pesquisar um pouco é sempre bom, não
importa o assunto.
Voltando ao tema do post: um jogo que começa com um pelotão gritando “go, go, go!” depois
de descer de um helicóptero nunca é um bom sinal. Sem contar que essa cena
nunca foi feita antes (de 2007) no cinema/games, não é?
Pra piorar, o jogo
parece ter zero % de interesse em fazer você se importar com seus companheiros
de equipe. Ele simplesmente arremessa um bando de personagens clichês na cara
do jogador (o grandão do lança-chamas; a mulher-macho piadista e mal-humorada;
o veterano de meia-idade...) e espera que o pobre coitado consiga adivinhar quem é
quem durante a bagunça que são os tiroteios desse jogo.
UM ATAQUE PSIÔNICO LANÇADO CONTRA O SISTEMA NERVOSO DO
JOGADOR
Pra começar esse
tópico (que caso você não tenha decifrado o enigma, diz respeito ao sistema e
gráficos), duas palavras apenas são o bastante pra definir o visual de Jericho:
sem vida. Não que ele seja um jogo mal feito, principalmente pro ano de 2007. Nesse
ponto ele até que é meh...
Sua maior falha mesmo
reside em seu design confuso de cenários e personagens com identidade visual
beirando o zero. Aqui, os criadores usaram o sistema de programar do “Oito ou Oitenta”: ou você está andando
em corredores extremamente lineares, sem nada pra interagir, ou está perdido, sem saber que direção
seguir (eu mencionei que não existe indicador de objetivos? Não? Mesmo?).
E já que falei em
identidade visual, é difícil saber quem é quem quando você está no meio de um
time que parece um elenco descartado de um capítulo da série de filmes Anjos da
Noite (parece que nesse mundo só existem duas opções de roupa: couro preto e
armaduras militares pretas que lembram couro preto).
Ainda no campo da
falta de personalidade pra se vestir, os monstros do jogo parecem ter fugido de
um clipe do Marilyn Manson, e são tão genéricos e sem carisma que você
constantemente irá confundi-los com seus parceiros de equipe, que também são
genéricos e sem carisma (pro caso de eu ter esquecido de citar a palavra "genérico" nesse
parágrafo...)
Logo de cara você começa com SEIS "ajudantes" em seu esquadrão. Por aí você tem uma ideia da zona que são os combates do game... |
Já o sistema de jogo é
uma bagunça maior que os combates: os monstros demoram um pente inteiro de
fuzil pra morrer, mesmo colocando no nível normal de dificuldade. E alguns deles
têm a capacidade de te matar com apenas um hit. Isso não seria um grande
problema se não fosse pelo simples detalhe de que tudo que eu descrevi até agora se refere apenas ao
TUTORIAL DO JOGO!
Sim, eu sei que estou
ficando mais velho e carrancudo a cada review escrito, mas Jericho é chato assim: antes mesmo de enfrentar a primeira horda de monstros (que muitas
vezes aparecem do nada, como se tivessem saído do traseiro de quem programou
esta joia rara da geração passada) você vai estar repassando mentalmente todos os
maravilhosos FPSs que poderia estar jogando para PS3 no lugar de Jericho (não
darei nome aos bois pra não sujar a reputação dos bovinos, associando-os a um
jogo tão sem graça quanto este).
"Aí eu falei: chupa essa, seu monstro bichinha! Você acabou de ser morto por uma mulher! Aí ele ressuscitou e disse: maldita trans cis misógina do empoderamento do caralho!" |
A cereja no bolo do
sistema reside em comandos totalmente inúteis dados por você ao seu esquadrão
(que solta comentários, sobre os monstros, do tipo: “há há, você acabou de ser morto por uma mulher!”) e na performance dos mesmos
durante os combates: além de só ficarem na frente dos seus tiros, eles possuem
tanta resistência quanto uma velha de andador, e precisam ser revividos a cada
onda de inimigos enfrentados.
“Quem foi que soltou aquela onda psiônica? Quem faz o quê nos combates? Por
que o inimigo explodiu com menos tiros de metralhadora que da outra vez que eu
atirei? De que buraco esses monstros estão saindo afinal?” É esse tipo de
coisa que vai se passar pela sua cabeça enquanto tenta achar o caminho certo,
ou espera por um load que só está acontecendo por causa dos checkpoints mal
posicionados dos cenários.
DANDO ADEUS AO DEUS QUE CRIOU E DEPOIS SE ARREPENDEU...
Jericho foi um jogo
praticamente de começo de geração que trouxe à minha mente uma antiga reflexão sobre essa história de jogos assinados por pessoas famosas: da mesma forma que todo civil está ciente dos perigos em se assinar um documento em branco, celebridades como Clive
Barker (pra quem não sabe, o criador de Hellraiser), Tom Clancy e tantos outros
deviam ter um pouco mais de cuidado nos jogos e produtos onde seus nomes vão aparecer daqui pra frente.
Toda empresa devia
estudar um pouco os clássicos de um gênero (Doom ou Half-Life seriam um bom ponto de partida...) antes de lançar
um jogo que já era datado em seu ano de estreia, e a Codemasters, a criadora do
jogo, prova por A + B que, enquanto desenvolvedora de FPSs, ela é uma ótima publisher
de jogos de esporte. Sábia foi a decisão futura dessa empresa de se focar
apenas no que sabe fazer de melhor: jogos de corrida!
Nem precisa ser um deus pra se arrepender de criar certas coisas... |
A geração passada,
apesar de ter estreado visivelmente com o pé esquerdo neste gênero, conta com
FPSs de excelente qualidade para agradar aos fãs desse estilo. O deserto de
Kahli pode até estar em perigo. Mas dane-se: a indústria de games não precisa de mais um
jogo de tiro genérico como Jericho para engordar as suas fileiras...
Au Revoir.
só um adendo, Clive Barker tem um certo conhecimento sobre jogos, tanto que antes de Jericho, ele roteirizou The Undying, um excelente FPS obscuro de 2001. Igualmente ele roteirizou Jericho, o problema é que o ego dele falou mais alto, tanto que esperava fazer uma sequência desse jogo... Mal ele sabia o rumo que esse jogo acabou tendo
ResponderExcluirPois é, Marcos. Não duvido que Clive Barker tenha talento, tanto é que a parte do jogo que eu mais gostei foi a premissa do enredo. Mas os diálogos são ruins, os personagens clichês e os pontos técnicos pecam em quase tudo. Não há talento que salve uma bomba dessas. Se estivéssemos falando de um livro, talvez. Mas jogos são mídias mais complexas. O buraco é mais embaixo.
ExcluirSuas resenhas são bem completas, parabéns!
ResponderExcluirObrigado, Gi. Seja bem-vinda ao blog.
ExcluirEu gostei do jogo pena que não teve uma sequência por este motivo estou aqui falando dele em pleno 2019.
ResponderExcluirPois é Givaldo....pena mesmo que não teve sequência. Ontem eu reinstalei-o novamente, quero jogá-lo mais uma vez, eu sinceramente gostei do game...
ExcluirTem alguma loja que venda ele em mídia digital?
ResponderExcluirAté 2011 dava pra comprar na Steam, mas procurei agora e não achei. Dá uma olhada nas outras que talvez tenha.
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