Um dia o big boss da
Square Soft estava sem muita coisa pra fazer da vida. Foi então que ele teve a
seguinte ideia: “e se eu juntasse uma
equipe de desenvolvedores ninjas pra fazer o melhor RPG de todos os tempos”? Na mesma hora, o chefão da empresa puxou seu celular modelo tijolão do bolso,
deu uns breves telefonemas e, em pleno ano de 1995, nascia um dos maiores
clássicos da era 16-bits...
Chrono Trigger foi um
RPG desenvolvido pelo conhecido Dream Team dos JRPGs: Hironobu Sakaguchi (produtor
de uma série hentai chamada “Fantasia Final”...); Yuji Hori (diretor de uma desconhecida franquia chamada Dragon Quest...); Akira Toriyama (criador de um anime sobre esferas,
calcinhas, macacos e dragões...); Kazuhiko Aoki (que permanece um completo
desconhecido até os dias de hoje...); e Nobuo Uematsu, um carinha que “mexia
com som” em joguinhos de videogame desde a década de 80. O resultado dessa
conjunção interplanetária de astros da indústria dos games:
O MELHOR JRPG
DE CONSOLES DE TODA A EXISTÊNCIA!
Não, o texto não é pra
falar de Chrono Trigger, um dos jogos mais tecnicamente perfeitos de todos os
tempos. Se você prestou atenção ao título do post, saberá que o foco do texto é
com seu filho mais novo, Chrono Cross, lançado em 1999 como um exclusivo do
Psone.
Essa simples imagem desperta lembranças maravilhosas em minha mente. Mas calma que eu chego lá... |
Mas não se preocupe: o
que é bom para Chrono Trigger está guardado, em forma de um mega review
gigantesco conhecido na Shadowlândia pela temível alcunha de “Meu Review
Supremo...”
Bem, o fato é que no
mês passado a PSN resolveu dar um desconto de 50% em quase todos os jogos da
Square-Enix no site, ocasião na qual eu aproveitei para comprar dois dos
maiores clássicos dessa empresa: a versão plus de Chrono Trigger (aquela mesma,
lotada de cenas em animes e loads que não existiam no jogo original) e Chrono
Cross, um título que poderia muito bem se enquadrar na tag de “Melhor Game que
Ninguém Jogou”, aqui no blog.
Como estou de recesso
da faculdade, e jogando mais jogos simultaneamente que um analista do UOL
Jogos em época de E3, resolvi revisitar a continuação da história de Serge e sua turma (visto que
esse aqui eu só joguei completo uma única vez). E é essa história que você
confere abaixo, na análise de clássico do Chrono Cross.
HISTÓRIA (8,5)
Chrono Trigger, até
como o próprio nome dá a entender, contava as peripécias de um grupo de jovens
viajantes do tempo que tentava impedir a destruição do mundo (mas não da forma
clichê como você deve estar pensando) pelas “mãos” de uma criatura parasita
conhecida como Lavos. Naquele jogo eram comum as visitas a diversas épocas da
história, como à era dos dinossauros ou um futuro distópico ao ano de 1999 (que me
dá calafrios até hoje).
Chrono Cross muda um
pouco o foco da série principal, dessa vez abordando as viagens entre dimensões
diferentes. Apenas duas, pra ser mais exato. E é bom manter essa dualidade em
mente, pois é ela que vai dar o tom de todo o jogo (pro bem E pro mal...).
O enredo de Chrono
Cross conta a história de Serge, um garoto que descobre um portal para uma
realidade paralela na qual ele morreu aos sete anos de idade, devido a um
ataque de um animal venenoso conhecido como Pantera-demônio.
Claro que eu não posso
falar mais nada dos eventos, pois spoiler nesse jogo é algo que pode acabar com
toda a experiência de quem ainda não jogou. Mas o que eu posso adiantar, pra
quem não conhece o segundo jogo, é que Chrono Cross continua, de certa forma, de
onde Chrono Trigger parou.
Uma pedra no sapato interdimensional... |
Mesmo que não
diretamente, o jogo faz um link com vários elementos do primeiro, como
localidades e personagens clássicos do naipe de Glen, o próprio devorador de
mundos Lavos, a cientista Luca e o estudioso do tempo Belthasar (apesar de que
eu tenho quase certeza de que houve um typo na escrita desse nome). Sem querer
entrar no campo minado dos spoilers, mas até o silencioso Crono e a princesa
Marle fazem uma pontinha em algum momento do enredo.
Um link bem legal que
o jogo faz, dessa vez me reservando ao direito de spoilar um pouquinho, é que ele apresenta a teoria de que os seres humanos são uma espécie parasita que
não tem um lugar muito certo na vida do planeta Terra, pelo fato de serem
originados do contato de primatas com a criatura Lavos.
Se você prestar
atenção em como os humanos tratam o próprio planeta em que vivem, verá que a
comparação com um ser parasita especializado em destruir planetas não é nada
absurda. Ponto para o excelente enredo criado pela Square, que aborda temas
como ecologia, tecnologia, física (!!!) e evolução num mesmo pacote.
Como ponto negativo do
enredo de Chrono Cross, eu posso citar a confusão que acontece em alguns
eventos da história. Mesmo diminuindo o escopo, abordando apenas dois mundos
(em comparação com as várias eras vistas no primeiro jogo), muitas vezes o
jogador fica completamente perdido, sem saber em que dimensão está ou o que
deve fazer a seguir pra continuar a avançar (eu sei que o mundo em que você se
encontra é exibido no mapa-múndi, mas ainda assim acontece confusão...).
Outra coisa que me incomoda
nesse jogo é passamos uma boa parte do enredo jogando com um personagem que não
é o protagonista, se é que você me entende (quem jogou sabe a que me refiro). Isso
também acontece com relação à personagem Kid, que passa um quarto da aventura
debilitada em cima de uma cama, o segundo quarto ela passa desaparecida, e o
terceiro ela fica em estado de coma, não ficando bem-estabelecida sua relação afetiva com Serge.
Coisa difícil de aturar em RPGs antigos: personagens que falam elado, feito o Cebolinha. |
Como terceiro ponto,
acho a história de Chrono Cross fantástica e muito moderna (apesar de se passar
em um universo medieval, com magias e tudo mais), mas ela meio que sofre do
mesmo problema que aconteceu com o segundo Kingdom Hearts: passamos uma boa
parte do jogo sem saber o que realmente está se passando, pra nos últimos
momentos do enredo sermos floodados com doses cavalares de informações sobre o
enredo. De fato, Chrono Cross é o tipo de jogo que você até entende o enredo
com certa facilidade (partindo do pressuposto de que você jogou o primeiro), mas a
quantidade de informações é tanta que você esquece quase tudo que leu dois dias
depois de parar de jogar.
No mais não há muita
coisa pra falar sobre a história. Ela é bem original, aborda temas como ecologia,
sobrevivência e evolução de espécies, e com certeza é um dos pontos altos dessa
obra.
APRESENTAÇÃO (8,0)
Chrono Trigger era um
jogo que já fugia um pouco da tendência de personagens SD (super deformados)
que víamos na maioria dos jogos japoneses de RPG. Chrono Cross segue essa mesma
linha, com gráficos e estilo meio que em cima do muro: os personagens nem são
realistas, nem são desproporcionais; os cenários nem seguem um design mais
focado em construções pretensamente realistas (como Final Fantasy 8), nem
descamba pro totalmente fantasioso.
Aliás, já que eu falei
em Final Fantasy 8, é bom citar que Cross (provavelmente) usa o mesmo motor
gráfico que o jogo citado acima. Isso fica bem evidente nos gráficos
pré-renderizados dos ambientes, bem como dos efeitos de magias e uso de itens
(alguns usam exatamente as mesmas texturas que vimos em efeitos como o do fogo
que sai nos Limit Breaks de Zell e etc.).
Como se passa num arquipélago,
os cenários são bastante paradisíacos e coloridos, com um tema de recife de
coral imperando em várias localidades.
As magias e efeitos de
técnicas e itens são bastante grandiosos e impactantes, bem ao estilo clássico
da outrora gloriosa franquia Final Fantasy.
As dungeons do game,
por sua vez, possuem um design bastante simples se comparado com jogos passados
ou até da mesma época em que ele foi lançado.
Em parte isso é bom,
visto que temos uma folga de ambientes com excesso de caminhos alternativos e enigmas
exaustivos, como acontece com jogos como Final Fantasy 7 e cia.
"Olá, inseto interdimensional"... |
Já a parte sonora do
jogo quase fica à altura do excelente trabalho realizado no Chrono Trigger. Mesmo
não superando seu antecessor, Chrono Cross conta com uma maravilhosa lista de
faixas originais, bem como alguns remixes do primeiro jogo (o fanfare da
batalha é uma versão do tema de Luca).
A música de batalhas
comuns é bastante desvairada e enervante, mas o tema de confrontos contra
chefes é daqueles que vai te fazer afastar os móveis da sala e extravasar umas
sacudidas de esqueleto, de tão empolgante e divertida de se ouvir.
O caso do tema de boss
battle é aquele que eu falei no post sobre a OST do Final Fantasy 8, onde a
música de chefes deveria ser o tema de batalhas comuns, tamanha a sua qualidade
e vontade que sentimos de ouvi-la mais vezes.
SISTEMA (7,0)
Aqui adentramos num
assunto bastante espinhoso de se tratar em uma análise, principalmente quando
falamos de um jogo que sucede um dos melhores e mais simples sistemas já criados
pra um RPG.
Faz-se necessária a
comparação com o primeiro jogo, mais uma vez: Chrono Trigger era um RPG por turnos
baseado no sistema Active Time Battle. Isso quer dizer que não há uma ordem
específica de agir nos combates. A sua ação é governada por uma barrinha que,
quando cheia, permite que você realize um ataque ou ação. O problema é que o “Active”
do nome significa que os inimigos não precisam ter a educação de esperar, pacientemente,
você escolher o que vai fazer, como acontece em jogos como Final Fantasy 10 ou
Breath of Fire 4.
De cara, Chrono Cross
vem pra quebrar vários paradigmas dos JRPGs tradicionais: não há uma barra de
espera para executar ações. Você não entra em confrontos apenas pisando no chão,
podendo evitar a maioria dos encontros. Não há pontos de Mana ou comando para
usar itens. Na verdade, não há nem mesmo algo que possamos chamar de itens (exceto os itens de quest, que podem ser acionados com o botão quadrado).
O sistema do jogo, bem
como o enredo, gira em torno dos Elements. Trocando em miúdos, são magias que
realizam os mais diversos efeitos em campo de batalha e fora dele, como ataques
espetaculosos de invocar meteoros ou um reles “feitiço” de cura.
"Atenção todas as unidades: um mau elemento foi visto rondando as proximidades do planeta Terra." |
Para usar um Elemento
é necessário equipá-lo em um slot no seu personagem. Os slots são agrupados por
níveis em colunas, que vão do 1 ao 8. E é aí que entra o detalhe da divisão de
ataques por níveis de intensidade: para usar um Elemento alocado no nível
quatro, por exemplo, é necessário acertar quatro golpes de nível 1 em seu
inimigo (ou dois de nível 2, mas calma que eu chego lá...).
Mas, diferente de RPGs comuns, você conta com três níveis de ataques físicos: o mais fraco possui as maiores chances de acerto; o mediano, chances médias; e o ataque mais forte tem as chances mais baixas de acerto.
Mas, diferente de RPGs comuns, você conta com três níveis de ataques físicos: o mais fraco possui as maiores chances de acerto; o mediano, chances médias; e o ataque mais forte tem as chances mais baixas de acerto.
O diferencial deste jogo
é que os ataques melee seguem uma hierarquia: ao conectar um ataque de nível
fraco, a porcentagem de acerto do próximo nível de ataque aumenta um pouco. Trocando
em miúdos: fica a seu cargo desferir apenas três ataques (um fraco, seguido de
um médio, finalizado com um forte, geralmente crítico), ou se concentrar apenas
em ataques de nível mais baixo (pois eles têm maior chance de acerto), caso
você precise encher níveis para usar elementos.
Vale lembrar que essa
ordem não precisa ser seguida à risca: a qualquer momento do seu turno você
pode interromper o que está fazendo pra soltar um Elemento, ou defender, e
assim por diante. O problema grave na batalha de Chrono Cross reside no termo
que eu usei logo acima: INTERROMPER.
Acredite: já errei vários golpes com essa taxa de acerto. |
Pra começar, Chrono
Cross consegue superar até mesmo XCOM no quesito “calculadora de probabilidades
ladrona”. É incrível a quantidade de vezes que erramos ataques com 95% de
chance de acerto na mesma batalha, e muitas vezes seguidamente. Ao mesmo tempo
que possui um dos combates mais dinâmicos já vistos em um RPG da Square, Chrono
Cross também conta com uma das batalhas mais estressantes e frustrantes dos
RPGs, com inimigos interrompendo seus ataques e esquivando das suas tentativas
a todo momento.
A sensação que fica ao
completar o jogo é a de cansaço, de tanto ouvir o barulhinho do seu personagem
acertando o vento durante as lutas. Pra piorar tudo que eu reclamei acima, há
uma constante queda de frame nas lutas, a ponto de você escolher uma opção que
não queria por causa de atraso nos menus. Também rola uma vagareza na execução
da música do violinista com mal de Parkinson que é o tema de batalha desse
jogo. Mas, mesmo com essas falhas, a batalha desse jogo ainda se configura como
uma das mais dinâmicas que eu presenciei em um jogo. Pena que o conceito peque
pela má execução técnica...
Ainda no campo do
sistema, a marca registrada de Chrono Cross é a quantidade enorme de
personagens que podem se juntar a nossa causa: são aproximadamente 40
lutadores, cada um com duas ou três técnicas próprias. Aliás, falando em
técnicas, tenho que dizer que eu entendo que este jogo tenha tentado a árdua
tarefa de superar seu antecessor e caminhar com as próprias pernas, mas não
consegui deixar de sentir falta da inclusão das famosas técnicas duplas e
triplas que imortalizaram o sistema de Chrono Trigger.
Olha o tanto de boca que tem pra alimentar nesse RPG! |
Pra finalizar o
tópico, quero reclamar, como um velho de 34 anos que eu sou, a respeito de duas
coisas: a primeira é com relação às recompensas do game.
Na maioria dos casos,
ao abrir baús, nós só encontramos Elementos que ou são totalmente inúteis, ou
que já estão obsoletos na progressão do jogo. Sem falar no sistema de craftagem de armas, que tem
tanta utilidade quanto todos os outros sistemas de construção de itens inúteis
que vimos ao longo da história dos games.
O outro queixume é com
relação à dificuldade: nem de longe Chrono Cross é desafiador como seu
parente mais velho. De fato, se você entender o sistema de elementos opostos do
jogo, dificilmente vai se deparar com a tela de game over antes de
chegar a Necropolis, ocasião na qual enfrentamos um robô Transformer que apela
mais que o último chefe do game. E não estamos falando de uma dungeon secreta,
feita com o propósito de ser desafiadora. Necropolis é uma
cidade obrigatória ao decorrer do enredo, então só posso desejar câncer de ânus
ao japonês desocupado que decidiu tunar as estatísticas de um robô genérico de
tal forma que seus ataques especiais causassem uma média de 600 de dano.
CONCLUSÃO
Chrono Cross é um jogo
muito bom sim. Trata-se de um clássico idolatrado por muitos, com lindos gráficos, uma trilha
original de excelente qualidade e um enredo que faz jus ao seu antecessor
espiritual, Chrono Trigger. Mas, infelizmente, ele não se compara ao primeiro
jogo da franquia, o que nem de longe serve como atestado de incompetência por parte de
seus criadores.
Chrono Cross traz um
dos sistemas mais originais, dinâmicos e empolgantes já criados para um RPG da
Square Soft. Mesmo com suas falhas, ele consegue embalar 35 horas de jogo como
se fossem minutos, tamanho o carisma dos NPCs e imersão que temos com o enredo.
Não é perfeito, e
talvez algumas de suas falhas técnicas tenham sido resultado da ousadia de
sonhar grande demais, exigindo de um hardware que já não aguentava mais nos
presentear com jogos que desafiavam as especificações técnicas de sua época. Mas
isso nem de longe vem pra tirar o brilho exibido por este grande jogo, que é
obrigatório a quem acompanhou Crono em suas aventuras no tempo.
E é isso, folks. Espero
que tenham gostado de mais uma análise de jogo antigo aqui no blog, e fiquem em
modo de alerta que ainda este ano eu farei o Review Supremo do Chrono Trigger.
Au Revoir!
Eu realmente fico feliz de ver reviews com argumentos desse game. Digo isso porque a maioria sempre crítica mais por serem fanboys do trigger do que da qualidade do jogo. Chrono Cross é o meu jogo predileto da vida e marcou muito minha infância/adolescência mas nem pro isso fico me sentindo ofendido como muitos. É como eu sempre digo, achar um jogo da época ps1 para trás e falar que é perfeito é mentira, o pessoal tem que aceitar isso. E independente do meu gosto pessoal, o review está super bem escrito e coeso, parabéns pelo trabalho.
ResponderExcluirMuito obrigado meu querido. Crono Cross é um jogaço, seja pela ótica de "continuação" de CT quanto como um jogo isolado.
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