De todas as séries que
joguei nos últimos dez anos, posso afirmar com segurança que Dragon Age foi uma
das mais conturbadas de todas.
Minha jornada em Thedas
começou em 2010, um ano após a compra do PS3.
Sentindo uma carência
enorme por um jogo de RPG tradicional naquele console, e depois de quebrar a
cara com Demon’s Souls, finalmente eu dei uma chance ao RPG da Bioware do qual
todo mundo estava falando. Afinal, um excelente trailer de jogabilidade e os
jogos anteriores no currículo dessa desenvolvedora só poderiam ser um sinal de
qualidade, não é mesmo?
Ainda não vou
responder essa pergunta, até porque ainda não finalizei a minha aventura no
primeiro jogo, e a vez dele vai chegar.
Mas o fato de eu ter
trocado esse jogo pelo Little Big Planet (e não ter me arrependido nem um pouco
desse ato) pode dar um sinal das minhas primeiras impressões acerca de Dragon
Age Origins, o primeiro jogo de um universo medieval que parecia já existir e
respirar por conta própria antes mesmo do lançamento do primeiro jogo. E essa
sensação ainda persiste com os jogos atuais, até mesmo quando você desliga o
videogame e vai dormir. Sim, tamanha é a capacidade narrativa da Bioware e a
qualidade do lore dessa série.
Ah se o restante dos gráficos acompanhasse a beleza dessa tela... |
Depois de uma pausa de
cinco anos, pra me recuperar do trauma, masoquista que sou eu resolvi dar uma
segunda chance ao jogo, aproveitando uma promoção do disco completo com todos
os DLCs. Pra oficializar de vez o meu hastear de bandeira branca com a
franquia, eu adquiri de quebra o segundo jogo também nesse pacote. Vai que, né?
A minha honra gamer de seguir a ordem natural das coisas me
impediu de passar da introdução desse segundo capítulo (aquela mesma onde
Varric é interrogado), mas não se engane: quem termina o Inquisition no nível
Nightmare supera qualquer coisa. Eu sou brasileiro, não desisto nunca, e a hora
de Dragon Age 2 ainda vai chegar. Assim que eu completar o primeiro...
DA2 faz muito mais bonito que o primeiro, ao menos no quesito gráficos. |
Também em 2015 chegou
a hora de aproveitar uma baixa de preços (parecendo antever a crise econômica
que está assolando o país) para adquirir o PS4, e dar continuidade a minha
jornada gamer pelos mais variados estilos. E quer estilo melhor que um RPG de
mais de cem horas de duração pra fazer valer a compra de um novo console?
Dragon Age Inquisition
foi o very first game que eu joguei no Playstation 4, e agora você confere a minha
análise sobre ele.
História
Como eu falei na
introdução do texto, a franquia Dragon Age conta com um lore tão absurdo que
parece que as histórias e dramas pessoais dos personagens continuam a se
desenrolar por conta própria, mesmo depois que você já desligou o console e foi
dormir.
E um conselho que eu
preciso dar ao leitor e interessado pelo jogo é o seguinte: vá ao Youtube,
assista ao vídeo de saga do Zangado sobre a série, e só depois comece a jogar
algum jogo dessa franquia. Não me entenda mal: eu não estou mandando o leitor
cometer uma espécie de suicídio narrativo com os jogos dessa série. Longe
disso.
O universo construído
de Dragon Age é absurdamente rico. E a história, ao menos nos dois jogos que eu
joguei (estou quase no final do Origins), é das melhores que eu já acompanhei
em uma série.
Mas Dragon Age em geral conta com um problema de excesso de
textos e narrativa em todos os jogos. Aliás, QUALQUER jogo da Bioware apresenta
essa falha. Dessa forma, fica bastante fácil se perder na enxurrada de textos e
entradas de Codex que serão vistas durante o jogo.
-Varric: "Boa noite, Inquisi... MAS QUE PORRA DE ROUPA É ESSA"? |
E mais uma vez: não me
leve a mal. Não estou dizendo que não gosto de universos ricamente detalhados
em um jogo. A questão é que a história da franquia fica muito mais suave de
acompanhar se você fizer algum tipo de pesquisa pré-jogo a respeito dos eventos
principais da história.
Eu não vou me
prolongar muito neste tópico, até por causa da quantidade absurda de conteúdo.
Mas cabem algumas observações acerca do contexto narrativo de Dragon Age
Inquistion, que podem ajudar os marinheiros de primeira viagem na série, e
sempre lembrando que tudo vai sair da minha parca memória, então não se
horrorize se eu falar alguma coisa imprecisa.
-RESUMÃO DA SAGA DRAGON AGE PARA INICIANTES
Dragon Age conta a
história de Thedas, um mundo medieval típico lotado de raças diversas: anões;
elfos; magos; criaturas mitológicas; orcs; e etc.
Quase todas essas
raças acreditam no mito da criação que narra a história do Maker (Criador), um
ser de pura luz e purpurina que deu origem a tudo que há. \0/
Existem pelo menos
dois planos de existência em Dragon Age: o terreno, com criaturas boas e más
que, às vezes, desejam se encontrar com o Maker em toda sua glória; e o Fade,
uma espécie de plano espiritual onírico que abriga os nossos maiores pesadelos,
demônios que personificam sentimentos humanos (como Ira e Compaixão), e os
espíritos. Quando um espírito consegue tomar conta do corpo de um mago, temos
uma Abominação. Para controlar os magos e impedir que Abominações apareçam,
temos os Templários, um grupo de cavaleiros e guerreiros que seguram a coleira
do Circle of Magi, uma instituição especializada no treinamento de... magos.
O Ammer tinha razão: a deliciosidade ESTÁ na barba... |
Depois da criação,
alguns seres humanos decidiram ir atrás do Criador. Foi aí que a merda começou
a atingir o ventilador: os grandes “sábios” conseguiram alcançar a Cidade
Dourada (me perdoem se o nome não for esse mesmo. Lembram do “parca memória”?),
um lugar de pureza e perfeição existente em um dos planos do Fade e que serve
de moradia para o Maker.
O problema é que eles
o fizeram em sua forma física, corrompendo suas próprias formas e dando origem
aos chamados Darkspawns, uma raça de orcs que vive nos subterrâneos e que
participam, de tempos em tempos, dos Blights.
Os Blights são uma
espécie de guerra civil entre humanos e criaturas do submundo, na qual estas
tentam, com o auxílio de tudo que não presta (Magistrados, arquidemônios,
dragões e etc.), tomar o controle de tudo e currar o máximo de pais de família que conseguirem no processo.
"Eu vou acabar com essa putaria de Ferrugem é agora"! |
Para combater o mal
trazido com os Blights (uma palavra inglesa que significa “ferrugem”, mas pode
ser entendida como “podridão”) foram criados os Grey Wardens, uma companhia de
guerreiros que se submetem a um ritual capaz de lhes conferir habilidades úteis
em sua tarefa, como sentir a presença do inimigo e outras vantagens mais.
De resto, espere
encontrar no lore de Dragon Age todos aqueles temas já vistos em sagas como O
Senhor dos Anéis e etc.: grandes confrontos entre os exércitos do bem e do mal;
criaturas mitológicas poderosas; conspirações entre nações e seus reis; um
carinha do mal que deseja destruir tudo pra depois conquistar; e por aí vai...
A SANTA INQUISIÇÃO
Eu sei que o tópico já
está ficando maior do que devia, mas um bom jogo de RPG deve ter como uma de
suas maiores qualidades a história, concorda? É por essa razão que esse quesito
do jogo deve receber um pouco mais de atenção do que eu costumo dar nos outros
textos do blog.
E pode ficar certo de
uma coisa: um dos grandes méritos de Dragon Age Inquistion é a sua história.
Inquisition começa com
a destruição do Chantry, uma organização de magos que eu não lembro exatamente
pra que serve no lore da saga (mais uma vez: parca memória...).
A tragédia ocorrida no
Chantry deixou apenas um sobrevivente. No meu caso, Mahanon, um mago élfico de
orelhas pontudas que lembra o vampiro Nosferatu.
O Escolhido, ou
herdeiro de Andraste (Andraste, pelo que eu entendi do enredo, é a esposa do
Maker, um tipo de santa), acorda da explosão que causou todo o miserê no
Chantry com uma marca misteriosa em sua mão direita: a Âncora, uma runa de
grande poder capaz de selar rupturas no Véu, a fina camada que separa o nosso
mundo do mundo espiritual.
Advinha só: Corypheus quer dominar o mundo. Que novidade... |
A missão do
protagonista de Inquistion é derrotar Corypheus, um magistrado que havia sido
derrotado no segundo jogo por Hawke e Cia., mas que voltou a vida de alguma
forma. O objetivo de Corypheus é o de todo vilão unidimensional típico de
grandes sagas medievais: reunir um exército de orcs (aqui chamados de
Darkspawns), retornar à Cidade de Ouro e obter os poderes de um deus.
Cabe a você impedir
Corypheus e descobrir o porquê de Andraste ter escolhido justo você, um mago
apóstata (magos sofrem um ostracismo terrível nessa série), para carregar o
futuro de Thedas nas costas. Ou seria não palma da mão?
Pra finalizar o tópico
enredo, preciso atestar que Inquisition conta com algumas das escolhas mais
tensas que eu já tive que fazer em um RPG. Só pra dar dois exemplos, sem entrar
em spoiler, os dramas pessoais de Blackwall e Cole foram duas situações nas
quais eu suei frio na hora de escolher um dos lados na roda de diálogos.
"E aí orelhudo, o que vai ser"? |
E o final do game é do
tipo Fallout, com o destino das principais “facções” sendo exibido por slides,
com o impacto das decisões que você tomou ao longo do jogo.
A Bioware deixa bem
claro que a história de Dragon Age não acaba por aqui. Ela segue em frente. Uma
história rica como essa DEVE seguir em frente, pois o mundo de Thedas ainda
tem muito o que contar. Mesmo que você não esteja lá para ouvir...
APRESENTAÇÃO
Como este não se trata
de um Review Supremo, farei uso do tópico Apresentação, ao invés de listar
pontos como Gráficos e Som em separado.
Pois bem, o primeiro
Dragon Age, o Origins, conta com um dos piores visuais e design de fases que eu
tive o desprazer de jogar na geração passada. As texturas são sem vida, sem
cor, totalmente lavadas. Nem parece um jogo finalizado, em certos momentos.
Pra piorar, o design
das fases é repetitivo ao extremo, com localidades cinza e marrom que se
parecem umas com as outras. Das expressões dos personagens nem se fala: vão do
“mas que porra é essa” ao “vou desligar o console antes que esse
manequim crie vida e salte da tela da TV pra me matar”.
Belos gráficos. |
Veja bem. Eu não sou um
jogador volúvel que acha que o sucesso de um jogo depende majoritariamente dos
gráficos. Mas quando você tem um console que lança jogos do nível técnico de
Resident Evil 5, Dead Space, Fallout 3 e Bioshock praticamente no mesmo ano que
Dragon Age, fica difícil engolir um trabalho tão porco e mal-executado como o
visto com esse jogo. Sem contar que gráficos ruins podem sim estragar a imersão
de um jogador com um jogo, principalmente com relação à precisão na retratação
de itens e situações.
Prosseguindo, Dragon
Age 2 eu ainda não joguei. Na verdade, comecei um novo jogo nesses dias, mas
não vou continuar até ter finalizado o primeiro. De loucura, já basta ter
começado em uma franquia pelo terceiro jogo. Mas o que eu pude perceber em uma hora
de jogo é que o visual mudou da água pro vinho. Não só o visual: o combate do
segundo jogo parece ter sido acelerado em pelo menos 2X em movimentação e
execução de golpes, um sinal de que a Bioware ouviu as críticas ao jogo
anterior e tratou de corrigi-las.
Tem momentos que a vontade é só parar e curtir a paisagem... |
Já no Inquisition,
antes que você se esqueça do que se trata o texto, eu fico aliviado em dizer
que o terceiro jogo da série, de longe, é o mais caprichado de todos.
Inquisition foi o
primeiro jogo de nova geração que eu joguei. Quer dizer, nova entre aspas, pois
ele também foi lançado pros consoles passados. E eu tremo na base só de
imaginar como esse jogo deve ser nos hardwares mais antigos.
Aqui foi feito um
trabalho realmente satisfatório. Não, Inquisition não é o jogo mais bonito que
você vai jogar no PC, Xone ou PS4, mas nem de longe ele deixa aquele gosto
amargo de trabalho de estagiário (com o perdão do clichê) que o primeiro jogo
deixava em sua boca.
"Mas que porra de gráficos são esses, estagiária? Explique-se já!" |
Como você pode
constatar pelas minhas capturas no PS4, os gráficos de Inquisition não só estão
a contento, como, vejam só, são capazes de GERAR PERSONAGENS BONITOS! Isso
mesmo que você leu: existem pessoas bonitas no Dragon Age Inquistion, e se você
contar com o mínimo de paciência e criatividade na criação de seu personagem,
conseguirá jogar com um (a) personagem bastante agradável aos olhos.
Os efeitos em geral
são bem legais, e volta e meia eu me pegava hipnotizado por um efeito de aço
nas armaduras, ou texturas de pedra e vegetação encontrados nos cenários. Do
design, infelizmente, não posso dizer o mesmo.
Gráficos bonitos não
significam necessariamente um design criativo, inspirado. O fato de você ter
ótimos ingredientes pra fazer um bolo (leia-se: hardware de nova geração) não
quer dizer que o produto final seguirá essa mesma qualidade.
Isso é o que eu chamo de falha de design... |
Mais uma vez, não me
entenda mal. Não estou dizendo que o design de Inquisition é ruim. Apenas que
ele não é muito inspirado. Os artistas da série possuem uma avalanche de
material pra se inspirar. É só ler os textos espalhados no jogo que você verá
isso. Mas as localidades são meio artificiais. Não possuem a alma de jogos como
Skyrim, Fallout ou God of War no quesito design.
Nem sei como explicar.
É uma sensação que eu tenho, a de que estou andando por cenários e ambientes
deliberadamente montados por uma equipe de artistas 3D, ao invés de realmente
me sentir mergulhado em um ambiente único, pitoresco e cheio de vida (como nos
exemplos acima).
ATMOSFERA E AMBIENTAÇÃO
Pelo tópico acima você
já deve ter uma noção da minha opinião. Mas eu quero confessar que fui um pouco
ranzinza ao julgar esse terceiro jogo.
A atmosfera de
Inquisition é bem convincente, e faz um trabalho mil vezes melhor que as ruínas
sem graça e as cidades acinzentadas do primeiro episódio.
A vegetação de
Inquisition é belíssima. O jogo conta com uma variedade enorme de ambientes,
com florestas; desertos; campos nevados; planícies; cidades destruídas; regiões
costeiras com ondas gigantescas; e por aí vai.
A última coisa que
você vai sentir com relação às locações deste jogo é a sensação de repetição.
Já no quesito
exploração, que eu não sabia se devia encaixar neste tópico ou no de sistema,
eu preciso fazer umas queixas que não me deixariam dormir à noite se eu não
conseguisse colocá-las pra fora.
Prepare-se pra penar e vagar em alguns cenários do jogo |
Os ambientes e
cenários de Inquisition são chatos pra caramba de explorar. Não há incentivo à
facilidade de exploração no jogo, muito embora que exista uma variedade
interessante de coisas pra se fazer nas cerca de onze localidades abertas na
aventura. O que eu quero dizer é que parece que o design foi planejado pra te
atrapalhar de chegar aos lugares que você deseja (o jogo se utiliza do velho
recurso de colocar uma montanha tapando a passagem, isso quando não coloca
parede invisível mesmo pra barrar seu avanço).
Mesmo com a novidade
do pulo e da varredura de área, executada com o botão L3, às vezes fica
cansativo dar longas voltas em torno de um lugar, apenas porque os designers
resolveram ser uns babacas que querem dar mais trabalho sem razão ao jogador. E
não estou dizendo que o jogo devia ser linear nesse quesito. Apenas que muita
coisa em Dragon Age Inquisition é desnecessariamente difícil, quando podia
facilitar a nossa vida. E olha que nem estou me queixando do modo Nightmare de
dificuldade, pois inventei de jogar um jogo que eu não conhecia nesse alto
nível por minha conta e risco.
"Você é um guerreiro? Preciso de alguém capaz de dar um chute em uma parede." |
Também há uma necessidade
patética de ter em sua party um Rogue ou Warrior pra abrir portas e quebrar
paredes, durante as dungeons. Se você joga com um time de magos, como no meu
caso, terá que voltar todo o caminho pra trocar os membros da sua party, só pra
ver um Rogue mexendo em uma fechadura, ou um guerreiro dando um chute em uma
parede, coisa que QUALQUER personagem do time devia ser capaz de fazer.
SISTEMA
Pra começar, o sistema
de Inquisition gira em torno da War Table, uma mesa enorme de RPG na qual os
nossos ajudantes planejam suas estratégias, levando sempre em consideração a
sua ordem. Cada objetivo no mapa (que lembra muito o jogo War, de tabuleiro)
deve ser completado com uma das três opções de aliados: Connections, liderada
por Josephine, uma espécie de diplomata; Secrets, comandada por Leiliana, uma
guerreira das sombras que usa furtividade e agentes infiltrados; e Forces,
liderada pelo galã Cullen, encarregado de investidas de força bruta, com seus
exércitos.
Tudo no jogo gira em
torno da War Table: itens; materiais para fabricar itens; áreas novas no
mapa-múndi; missões de julgamento de criminosos (as que eu mais gosto); ajuda a
aliados; pesquisas de novos recursos para ajudar na causa da Inquisição; e
tantas outras que não lembro no momento.
Preparando-se para a guerra... de pijamas! |
E é aqui que reside, a
meu ver, o maior problema com relação a esse jogo: NADA em Dragon Age
Inquisition é bem sinalizado, ou fácil de entender. O sistema de craft, por
exemplo, é confuso e pouco intuitivo. Ele demora demais pra gerar bons frutos
de armas e armaduras. E muito provavelmente você já vai estar no final do jogo
quando colocar as mãos nos melhores materiais para fabricação de runas, armas e
acessórios. E tudo isso para, na maioria das vezes, gerar itens que aumentam apenas
2% em algum atributo.
Falando em atributo,
não existe mais a possibilidade de customizar diretamente habilidades como
força, mágica, destreza e etc.
As árvores de
habilidades são as mesmas vistas nos jogos anteriores, com pouca coisa nova
entre elas. Mas o problema é que tudo pode ser desbloqueado com todo mundo.
Então, aquela graça de evoluir um mago para que ele se torne um
especialista em magias de gelo simplesmente não existe aqui.
Os enigmas do Astrarium:, uma das coisas mais divertidas do jogo. |
De fato, se me fosse
incumbida a tarefa de resumir Dragon Age Inquisition em apenas um verbete, este
seria “inconstância”. Você nunca sabe ao certo o que ativou determinado evento,
ou o que deve fazer para alcançar o resultado x na jogabilidade. O problema é
que acontece muita coisa sem que você se dê conta do porquê. Leva literalmente
dezenas de horas pra matar a charada do funcionamento do jogo. Ao menos, quando isso
finalmente acontece ele fica consideravelmente mais divertido.
O combate é um misto
do que vimos nos outros jogos da série: nem é letárgico como no primeiro jogo e
não é tão frenético como no segundo. Acredito que se eu não tivesse inventado
de jogar no nível Nightmare eu teria conseguido me divertir muito mais com os
entraves de Inquisition, que são bem dinâmicos e divertidos.
Na série Dragon Age
como um todo os magos são uma espécie de metralhadora de magias. E como eu
adoro jogar com magos em RPGs, só posso agradecer à Bioware por isso.
Gigante na área! Salve-se quem puder! |
O que eu não posso
agradecer é pelo sistema de MP e Cooldown de habilidades: demora muito pra
poder lançar um feitiço especial novamente, e dificilmente você vai conseguir lançar
mais que dois deles em sequência, visto que uma reles magia de gelo consome
MAIS DA METADE DA SUA BARRA DE MP.
Ou seja: o combate de
Inquisition, em vários momentos, se resume a uma eterna e maçante vigília a sua
barra de MP e ao carregamento de habilidades.
De resto, tudo que
pode ser feito em um típico jogo de mundo aberto (apesar de que este aqui não é
totalmente de mundo aberto) pode ser feito em Inquisition: coleta de plantas
para criar poções; itens inúteis aos borbotões, espalhados pelos cenários;
realização de toneladas de quests; caça de inimigos maiores e mais poderosos,
na forma de dragões; andar de cavalo pelos cenários; e etc.
PERSONAGENS
Um enredo não seria
grandioso e bem construído sem personagens à altura.
Se Inquisition manda muito
bem na história, no elenco de personagens (controláveis ou não) ele manda ainda
melhor.
O elenco de
personagens de Inquisition segue a já altíssima qualidade dos outros jogos da
Bioware. É composto por personagens tão sólidos e bem desenvolvidos que nos dão a impressão de que eles existem de verdade, e que seus temores, desejos e
lamentações são o reflexo de uma personalidade que existe fora do mundo
limitado pela mídia que comporta o game.
Sendo assim, nada mais
justo que fazer uma pequena lista de todos os personagens controláveis
disponíveis no jogo, bem como citar algumas ilustres participações de NPCs que
vêm pra engrandecer a já rica experiência com Inquisition.
-O PROTAGONISTA
Não importa a raça ou
classe que você escolha: seu personagem será o chosen one, o escolhido, o Neo,
encarregado de acabar com as rupturas do Fade e deter Corypheus.
Só você possui a
Âncora, uma habilidade mágica na sua mão que permite selar brechas no Fade e
realizar alguns truques mais, como materializar objetos e acender tochas de
chamas espirituais.
Não há muito o que
falar sobre Mahanon, meu personagem no Inquisition, até porque eu não utilizei
o recurso de importação de personagem do jogo anterior, então não tem como eu
perceber as nuances das decisões tomadas na aventura anterior.
O protagonista carrega
o peso de ser o Inquisidor, o “herdeiro de Andraste” destinado a salvar o
mundo. Eu nem sei se temos a alternativa de realizar um governo tirânico e
ditatorial, por meio de nossas escolhas de diálogo, mas eu escolhi ser um
soberano bonzinho e amante da justiça.
Apenas finalizando, eu
gostei muito do peso e da responsabilidade de carregar nas costas a formação de
uma nova facção e da tarefa de salvar o mundo. Inquisition conta essa história
meio que evitando alguns dos clichês vistos em outros jogos/filmes, como
excesso de militarismo, uma coisa que eu detesto em obras de cunho medieval.
-CASSANDRA
Cassandra é uma
templária. É ela que te encontra, depois da destruição do Chantry.
Cassandra é bastante
rígida e durona, sendo que a sua estreia acontece no Dragon Age 2.
Ela é uma guerreira, e
seus dramas pessoais envolvem uma peleja contra magos e um dilema se deve ou
não aceitar o compromisso de se tornar a nova Divine da sua ordem.
Cassandra é muito
gata, mas infelizmente não consegui desenvolver meu romance com ela.
Provavelmente ela não curte elfos magricelos de orelhas pontudas, então acabei
levando um fora. Talvez isso tenha mais a ver com o sistema de relacionamentos
do jogo, que separa as preferências dos NPCs de acordo com certos critérios
(raça, gênero, classe, suas respostas na roda de diálogos), do que com o nível
de qualidade das cantadas baratas que eu joguei pra conquistá-la.
Uma das quests mais
engraçadas do jogo envolve essa personagem, quando descobrimos sua predileção literária.
Não posso entrar em mais detalhes pra evitar spoiler, mas essa quest do livro
com Cassandra me fez rir copiosamente. É uma prova do poder da Bioware de criar
personagens incrivelmente carismáticos e bem construídos.
-VARRIC
Assim como Cassandra,
Varric é uma gata. Brincadeirinha. Assim como Cassandra, Varric participou mais
ativamente do enredo do segundo jogo, sendo que no primeiro ele é um NPC inexpressivo em
Ostagar (se não me falha a memória).
Varric é um anão,
especialista em arcos e atende pela classe de Rogue, aquela mesma que você vai
precisar pra destrancar uma fechadura (baús não aparecem mais trancados, e
tampouco existe o atributo Cunning pra encher o seu saco).
O anão transante,
segundo o Zangado, é bastante útil em combate, sendo um dos personagens
jogáveis que eu mais selecionei, quando não estava controlando meu mago
orelhudo de pernas finas.
Além de exímio
arqueiro e mentiroso compulsivo, nas horas vagas Varric exerce seu hobby de
escritor de livros baratos de romance. E aposto que nesse exato momento as
engrenagenzinhas do seu cérebro estão começando a funcionar para juntar os
pontos. Cassandra... quest hilária envolvendo um livro... Varric é um
escritor...
Os dramas pessoais do
baixinho peludo envolvem quantidades massivas de Red Lyrium e uma tal de Bianca,
que leva o nome da besta preferida dele e só sabe fazer besteira.
E não. Não consegui
levar Varric pra cama. Nem tentei.
-SOLAS
Solas é um mago:
confere. Solas é um elfo: confere. Solas é careca, tem orelhas pontudas e
parece com o vampiro Nosferatu: confere. Conclusão: eu criei um personagem
principal, sem saber, que é uma cópia em carbono de um NPC que já existe no
jogo. Parabéns pra mim mesmo, por essa prova de extrema criatividade em
ferramentas de criação de personagens.
Passado o trauma,
continuo. Solas é um mago estudioso do Fade. Ele tem uma enorme afinidade com
espíritos, assuntos do mundo sobrenatural e artefatos da nossa raça, os
Daelish. Ele é um mago, como eu falei, e esse simples detalhe já garantiu que
ele participasse do time em 90% do tempo de jogo.
Solas sofre, junto
comigo, todos os preconceitos atribuídos aos magos e elfos que existem no mundo
de Thedas. Seus dramas pessoais envolvem uma busca por vingança e a tentativa
de ajudar um espírito brother dele.
Esse foi outro que
resistiu as minhas cantadas baratas. Confesso que eu sou um fracasso quando o
assunto é levar pra cama NPCs mal-humorados em jogos de RPG.
-IRON BULL
É um ser de chifres da
raça quinari, ou algo assim. É uma raça misturada com dragão, especialista em
combate bruto e bebedeiras sem fim noite afora.
Visualmente falando,
Iron Bull é um personagem bem interessante. E confesso que me flagrei jogando
com ele em alguns momentos da minha visita a Storm Coast. Tirando isso, ele é
apenas um guerreiro genérico com habilidades de influenciar os atributos da
party, por meio de suas habilidades de soprar um chifre.
Iron Bull é o mais
próximo de um Kratos, ou Wolverine, que você vai encontrar em Dragon Age
Inquisition. Ele dá muito valor a uma companhia de guerreiros que age sob seu
comando, e seus dramas pessoais envolvem justamente isso.
Eu até que tentei dar
umas polidas nos belos chifres ornamentados do grandalhão, mas ele deixou bem
claro que o negócio dele é outro. Malditos NPCs puritanos da Idade Média...
-VIVIENNE
É um membro da nobreza
de Vaux Royal. Ela é uma maga, se é que esse termo existe.
Eu confesso que não
gostei nem um pouco dessa personagem. Ela é preconceituosa, cheia de pompa e dá
poucas razões ao jogador de se interessar por ela.
A maioria das decisões
(corretas) que eu tomava no jogo eram acompanhadas por mensagens como “Vivienne desaprova isso”, e era assim
que eu sabia que estava no caminho moralmente correto.
Ela é sarcástica de um
jeito desagradável, parecendo aquelas pessoas metidas a chiques, da vida real,
que não foram com a sua cara por nenhum motivo aparente, e sequer têm a
pretensão de disfarçar isso.
Não sei se foi por
falta de investimento no relacionamento com ela, mas os dramas pessoais de
Vivienne não fizeram o menor sentido para mim. E eu tampouco me importei com
isso. Tentei conquistar a deusa de ébano da aristocracia de Orlais, mas advinha
qual foi a resposta dela? “Se existe alguma possibilidade de você e eu... Claro
que não”!
Dane-se, sua vaca
esnobe. Prefiro cortejar um High Dragon de eletricidade que tentar alguma coisa
com você.
-DORIAN
Pegue todas as más
qualidades de Vivienne, inverta a polaridade e o resultado é Dorian, um mago
aristocrata de Tevinter com extremo senso de humor (mesmo que muitas vezes a
única pessoa rindo no aposento seja ele...).
Dorian é um
homossexual confesso. E isso em uma época em que as pessoas eram queimadas na
fogueira por terem pensamentos impuros. Com isso você tem uma noção de quanto
ele se garante em combate, seja em campo ou nos longos e cansativos bailes da
nobre sociedade de Thedas.
Dorian é ardiloso,
levanta as maiores suspeitas em todos os aliados (por ser de Tevinter) e adora
corromper as pessoas a sua volta. E ele foi o único personagem que conseguiu integrar
a questão de sua sexualidade com os demais eventos do enredo, dando uma lição a
empresas como a Bethesda, de que um elemento não deve ser colocado apenas para
gerar marketing gratuito a um jogo.
A Bioware ainda lidera em maturidade com as questões de homoputaria nos games. |
Os dramas de Dorian
envolvem provar pra todo mundo que nem todo Tevinter é um mau caráter, ao passo
que lida com os problemas afetivos envolvendo seu pai.
Dorian foi meu par
romântico em Dragon Age Inquisition, e por isso só tenho a agradecer à Bioware
por tratar de um assunto espinhoso com bastante maturidade e naturalidade no
jogo.
-BLACK WALL
Qual a utilidade de um
Belmont depois que o Drácula já foi derrotado? Se a sua resposta é FAZER MERDA,
como Richter no Castlevania Simphony of the Night, você ganhou um doce.
O drama de Richter é o
drama de Black Wall, um Grey Warden que ficou desempregado depois que o Blight
foi impedido, durante os acontecimentos do segundo jogo.
Black Wall é um
guerreiro, mas ele passa longe de ser genérico. De longe foi o personagem
controlável com quem eu mais joguei, quando não estava controlando o personagem
principal. Ele tem uma aparência bem distinta, e suas armaduras e posturas de
luta figuram entre as mais bonitas do game.
O drama pessoal de
Black Wall é o melhor de todos os personagens. Não posso entrar em detalhes,
pra não estragar a surpresa, mas a história de Black Wall me deixou
verdadeiramente sem saber que decisão tomar, quando me foi cobrado um desfecho
em seu caso.
Se dá pra conquistá-lo
em um romance, eu só posso especular que não é com a raça/classe/gênero escolhidos
por mim.
-COLE
Cole é o personagem
mais sem graça de todo o grupo. Ele é da classe Rogue, e é um espírito
personificado que busca entender como funcionam os sentimentos humanos.
Sua história não tem graça,
sua motivação é clichê e sua aparência é desagradável, diferente de personagens
como Cassandra e Vivienne, que nos despertam a vontade de interagir nem que seja só pela beleza
que exibem.
Apesar de tudo, sua
história não é de toda ruim, e eu até que me vi interessado por ela em alguns
momentos. No campo de batalha, quase não escolhi ele para jogar. E não me
arrependo disso nem por um segundo.
-CULLEN
É o bonitão que era
monstruoso no Dragon Age Origins. Não que fosse culpa dele, claro: qualquer
pessoa é monstruosa quando é representada pelo motor gráfico daquele jogo. Até
a delícia da Morrigan. Pensando bem, acho que é impossível Morrigan ser uma
baranga, não importa se estamos falando de um hardware de PS3 ou de
Nintendinho.
De longe um dos
personagens mais boa-pinta do jogo. Cullen é um cavaleiro viciado em Red
Lyrium, e infelizmente não podemos jogar com ele. Ele também é o general
encarregado dos seus exércitos, e sempre vai tentar resolver as missões na War
Table da maneira mais truculenta e cheia de testosterona possível.
Conselho de amigo: se for beber, não aposte suas roupas! |
Dá pra levar o bonitão
de madeixas douradas pra cama, mas esse filho da pu$@ fez questão de me dar um
belo fora logo nas primeiras horas de jogo, quando eu ainda nem estava
familiarizado com o sistema de paquera do game. Provavelmente por causa da
minha raça e gênero. Ou das minhas orelhas pontudas, que fazem cócegas durante
o beijo...
CONSIDERAÇÕES FINAIS SOBRE DRAGON AGE
INQUISITION
Por muito tempo,
Inquisition foi um fenômeno difícil de analisar. Por causa da bobeira de
começar jogando no nível de dificuldade mais alto, acabei pegando um ranço não
natural com alguns aspectos do gameplay desse jogo (como o fato de levar um
trilhão de ataques pra matar um reles coelho). Mas depois que esfriei a cabeça e me
familiarizei mais com a bagunça generalizada que é o sistema dele, minha
impressão geral mudou da água pro vinho, a ponto de me sentir ansioso pela
próxima incursão da série nos games.
NOTA FINAL: 7,9
Dragon Age Inquisition
levaria uma nota bem mais alta, se não fosse pela sua autossabotagem: ele
dificulta demais a própria vida e o entendimento do jogador com alguns aspectos, ora com
explicações desnecessárias, ora omitindo informações vitais de gameplay que
tornariam a experiência com o jogo muito mais fluente e agradável.
Muitas águas ainda vão rolar no universo de Dragon Age... |
É fato que a Bioware aprendeu
muito com seus erros dos jogos passados. A única coisa que a série precisa para
deslanchar definitivamente como uma franquia referencial de seu gênero é
corrigir as falhas de Inquisition e seguir em frente, replicando os pontos onde
acertou.
Mesmo que pelo texto
não pareça, eu me diverti muito em várias ocasiões com esse jogo. Ele possui
cenários belíssimos, com um senso de grandiosidade e variedade de ambientes que
me fazem esperar por mais, muito embora que eu não vá adquirir os DLCs que já
existem para ele.
Espero ter notícias da
série em um futuro não muito distante, e que a Bioware continue contribuindo
para o gênero RPG medieval, com seus enredos fantásticos e com uma construção
de mundo poucas vezes vistas em outras obras.
Au Revoir.
Cara! Pq vc jogou nesse nível de dificuldade? Toda vez eu começo um jogo no normal, ainda mais se eu não conheço. Essa Cassandra parece o Kakashi em relação a gosto literário kkkk
ResponderExcluirEu tava pensando em jogar Dragon Age desde o primeiro jogo, agora é mais uma motivação pra mim o/
Off topic: resgatei um mangá do cavaleiros do Zodíaco G q iria pro lixo, esse mangá é bom? (Não, eu não curto CDZ).
É sempre bom entrar no blog e encontrar texto novo :)
ResponderExcluirKáh, respondendo suas perguntas: 1- porque eu sou louco; 2- nunca li nenhum mangá de CDZ. Os animes só recomendo a série original, até as doze casas, e todo o Lost Canvas.
ResponderExcluirCarlos Wilson, se eu não precisasse trabalhar e estudar, a ideia de frequência do blog seria de um post de dois em dois dias (claro que nem todos seriam gigantescos, lógico). Mas quando começam as provas da faculdade, já viu...
ResponderExcluirAnalise incompleta , faltou falar sobre a Sera ,e sobre o jogo tem sim a opção de vc ser especialista em alguma skill , jogue e zere o jogo antes de fazer uma análise
ResponderExcluirabcs
Se você acha que a análise está incompleta, meu amigo, escreva uma completa e melhor que a minha que eu terei o prazer de publicá-la aqui no blog. As fotos do post foram tiradas do meu PS4. Se você zerou o jogo deve ter reconhecido fotos da cutscene final, a da derrota de Corypheus. Minhas análises não têm pretensão nenhuma de serem completas, e sim relatar a minha experiência com o game. Não posso falar de um personagem que não desbloqueei. Abraços.
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