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sábado, 4 de abril de 2015

CORAÇÃO VALENTE
























Depois de março deste ano, os começos de mês passaram a ter um significado especial no meu calendário gamer: ao assinar a Playstation Plus, a cada findar de quatro semanas a rede nos presenteia com três jogos totalmente gratuitos, para o deleite dos menos abastados.
A negociação mais que justifica o custo-benefício já que, em um único mês, é possível recuperar por uma média de R$33,00 por game o dinheiro que você investiu na assinatura da conta Plus (que agora é necessária para poder jogar online e outras frescurites mais).
Passado o primeiro mês, o que vier pela frente é lucro...

Mas o mês de estreia na conta “gold” da Sony (entendedores entenderão o motivo do “gold”...) não poderia ser melhor: além de  Counter Spy (jogo comentado em vídeo. Deixa de ser preguiçoso e clica aqui) e Odd World (o jogo do etzinho bufão, que também conta com vídeo, aqui também), as vantagens de ser um jogador + me possibilitaram conhecer Valiant Hearts, um dos mais belos e estilizados jogos de guerra já feitos (disputando sem dó o pódio de melhor do gênero com This War of Mine).



CONHECENDO A TRINCHEIRA





















VH se começa no início da Primeira Grande Guerra e abrange quase todos os quatro anos que aquele conflito perdurou. Ele conta a história de cinco personagens que precisam sobreviver enquanto ajudam amigos, familiares ou completos estranhos que cruzam seus caminhos.

VH é classificado como um quebra-cabeças de aventura, e a sua porção puzzle se mostra por meio de enigmas que vão desde empurrar uma simples cômoda a multitarefas que envolvem até três protagonistas simultaneamente. E, por mais que você esteja mais que acostumado com a velha mecânica de leva-e-traz dos jogos desse gênero, fique tranqüilo pois VH vai conseguir te surpreender em vários momentos dos enigmas.
A progressão no game se dá em Scroll Lateral, ou seja, com o jogador só podendo se mover para os  quatro eixos de direção, e as ações físicas que podemos realizar se resumem a andar/correr, pegar/arremessar objetos, subir/descer escadas e ataque melee com alguns dos personagens jogáveis. Nem é possível pular ou se jogar de alturas maiores que um metro. Se você espera por intensas sequências de tiroteio... bem, você até que vai encontrar, mas não da maneira vista em shooters mais convencionais...



Sim, além de retratar a vida dos envolvidos no grande conflito, Valiant Hearts tenta ser o mais realista que dá pra ser em um jogo de videogame que trata do tema guerra.
Não espere encontrar vida regenerativa aqui ou tolerância a diversos disparos no corpo do mesmo protagonista.



PERSONAGENS























Como eu havia falado, VH conta a história da Primeira Guerra Mundial e aborda a perspectiva não de soldados super poderosos ou de exércitos de um homem só, mas sim de camponeses, enfermeiras, ex-aristocratas e de pessoas que foram meio que arrastadas para o conflito totalmente a contragosto.

Abordando a parte mais técnica do jogo no quesito variedade de coisas a se fazer, VH não varia muito pelo fato de podermos jogar com cinco protagonistas durante os quatro capítulos de duração. Claro, temos as missões gerais com os brutamontes do game, que misturam stealth (a parte das ovelhas é show de bola, me lembrando o livro A Odisseia quase que instantaneamente. Só faltou o nome do personagem controlado ser “Ninguém”...) e combate indireto (no qual nos esgueiramos pelas costas do inimigo e o derrubamos com uma cacetada). Mas não espere, como eu já disse, pegar uma metralhadora e sair por aí metendo bala no exército inimigo. VH não é Call of Duty. Não chega nem perto, pra ser mais preciso.

Como o jogo dá um enfoque muito grande nos protagonistas, apresento agora uma breve lista dos personagens controláveis durante o jogo.


EMILE



É o primeiro personagem que nós podemos controlar. Ele é um fazendeiro que vira prisioneiro de guerra e está em busca do marido de sua filha (não sei o nome desse grau de parentesco. Confesso.). Ele usa, na maior parte do tempo, uma concha de feijão (?!) como arma e uma pá para escavar nas trincheiras.


FREDDIE



É um soldado americano que perdeu a mulher no conflito e culpa o barão sei-lá-das-quantas (um militar ridículo que fica usando máquinas contra você e fugindo quando é derrotado. Se o nome Dr. Robotnik surgiu na sua mente, parabéns!). Freddie usa, além dos outros itens comuns a todos, as mãos para atacar inimigos e destruir obstáculos (entulhos no geral).



ANNA



Uma enfermeira belga que tenta encontrar seu pai, um cientista seqüestrado pelo Barão Robotnik, enquanto ajuda feridos no campo de batalha. O gameplay de Anna é o menos ativo dos seis, visto que ela é mulher. E antes que você venha encher meu saquinho dizendo que na guerra mulheres e até crianças eram enviadas ao campo de batalha, quero deixar bem claro: nem todas as guerras isso acontecia, e geralmente quando ocorria eram nos momentos mais críticos dos conflitos e nas horas de maior desespero tático. Sim, faz todo o sentido do mundo o gameplay de Anna ser mais calmo pelo fato dela ser mulher, pois estamos falando de um jogo que retrata eventos do começo do século vinte.

Bem, o fato é que Anna é uma personagem bem agradável. Jogar na pele de uma enfermeira que caminha no campo de batalha tentando ajudar combatentes feridos (não importa de que exército seja) é ao mesmo tempo triste e recompensador.
Mas uma coisa tenho que admitir: seria melhor poder ajudar os necessitados por meio de uma mecânica diferente daqueles QTEs ao estilo Guitar Hero que somos obrigados a acertar.



KARL



É um soldado alemão casado com a filha de Emile. Karl não muda exatamente em nada na questão do gameplay com relação aos outros dois personagens masculinos. Ele é um dos que menos participam, e o seu ponto alto é a parte de stealth na qual temos que nos esconder no meio de um rebanho de ovelhas. De resto, suas motivações são as mais básicas possíveis: ele quer abandonar um campo de batalha ao qual foi forçado a abraçar e se mantém de pé pela esposa e filho pequeno.







WADIO



Não adianta vir me corrigir. Eu sei que o nome do personagem mais carismático do jogo é Walt. Mas eu sempre entendi os personagens chamando ele de “Wadio”, então não tem mais como me desacostumar.

Wadio é um simpático cão-enfermeiro que auxilia todos os personagens durante o jogo. Ele pega objetos; rosna próximo a coisas enterradas no chão; arrasta pessoas feridas; distrai inimigos para que você possa passar; e sofre bulling nas mãos do cruel Shadow Geisel, da Shadowlândia:



Wadio, de longe, é um dos ajudantes mais úteis que já apareceram num jogo de videogame. E ele não faz nada de mais a não ser ser um cachorro treinado para ajudar pessoas.
Por meios de comandos de contexto, ativados com os botões X, triângulo, quadrado e círculo, o canino faz e acontece no mundo devastado pela guerra de Valiant Hearts.
Ele tem um grunhido meio chato, como a maioria dos cachorros, mas passa longe de ser irritante como certas atrapalhantes vistas em outros jogos...

Um dos objetos na imagem acima é de extrema utilidade ao homem. Dica: ele não usa cabelos loiros...


Para finalizar o tópico personagens, fique tranqüilo com relação a esse aspecto: VH conta com um elenco (sendo de duas ou de quatro pernas) que vai te manter interessado do começo ao fim da aventura.
Chega a ser engraçado como você se importa com personagens dos quais você não entende uma palavra (eles falam línguas existentes no mundo real, como inglês, alemão e francês, mas de uma forma meio que caricaturizada). Claro que quando falo isso não estou me referindo aos personagens secundários que ficarão a sua volta, como os inúteis soldados aliados que portam rifles e fuzis, mas ficam esperando um cozinheiro com uma concha de sopa na mão abrir caminho para eles passarem.



GRÁFICOS E SOM























Nesse quesito nem tem muito o que falar senão elogios: Valiant Hearts é um dos jogos mais homogêneos em 2D já feitos na história dos games. É o tipo de jogo que faz o jogador mais experiente (pra não dizer velho mesmo) salivar por um retorno digno do estilo 2D, abandonado há muito pouco tempo atrás e que se tornou quase que um luxo que apenas os jogos mais indies podem se dar ao prazer de resgatar.

O visual desse jogo funciona tão bem e tudo é tão bonito, que não tem como não desejar por um jogo da série Metal Slug com o mesmíssimo visual e estilo gráfico. Aliás, fica esse recado para a Eolith, atual detentora dos direitos da série: se você tiver alguma pretensão de resgatar essa série de um limbo de jogos terríveis e sem a metade da graça que os antigos possuíam (como o inigualável MS3), COPIE VH EM TODOS OS ASPECTOS POSSÍVEIS E IMAGINÁVEIS. Se for preciso, compre os direitos de usar o motor gráfico deste game para proporcionar o retorno que Marco e Cia tanto merecem.

Momento fodástico de ação!


Os cenários de VH são fantásticos, e fica mais essa dica, desta vez voltada aos jogadores mesmo: leia todos os fatos históricos que antecedem cada cenário. Além de aprender detalhes contidos no evento da Primeira Guerra, você ainda vai poder se inteirar sobre detalhes visuais presentes nas locações do game (e a importância dessas localidades para o conflito em si) e, de quebra, ter uma vaga noção do que te espera pela frente nos desafios vindouros (não se espante se se deparar com uma nuvem de gás logo depois de ter lido sobre o uso de máscaras e efeitos do gás na pele e olhos dos vitimados pela guerra)

Na parte sonora, VH dá um show poucas vezes antes vistas em um jogo de guerra. Nada de som de bala ou de granadas explodindo debaixo dos seus pés. Se você ainda espera isso, ou sofre de dislexia ou pulou o texto todo e veio parar nesse exato ponto.
O som de VH brilha (ou seria reverbera?) nos momentos de ação, com músicas de violino; temas tristes para momentos tristes; empolgação sendo retrata da maneira perfeita com músicas empolgantes ou o simples toque de piano que vai te acompanhar por muitos minutos de game se você aceitou a minha dica de ler os fatos históricos.

O tipo de visual em que é impossível escolher uma foto apenas pra exemplificar


Tanto pelo som quanto pelos gráficos eu bato o meu martelo Mjolnir da justiça nerd: a trilha e gráficos de VH são o exemplo de como a tecnologia deve estar a serviço de uma obra, e não servir de muleta para ela. É incrível como um jogo indie desenvolvido por pouco mais que meia-dúzia de pessoas pode ser tão competente nos quesitos técnicos como Valiant Hearts faz nesse caso. Polegar fraturadamente pra cima para o pessoal da Ubisoft Montpellier, e não tenha a menor dúvida.



ENTRE MORTOS E FERIDOS...

Spoiler: um deles vai morrer no final... e você não vai dar mínima importância a isso...


É recompensador constatar como um jogo de guerra, e bastante violento por sinal (não se engane pelos visuais cartunescos do jogo), pode trazer muita paz e momentos de reflexão sobre os horrores cometidos por seres humanos contra outros seres humanos (como na parte com Freddie, que passamos de vidraça à pedra e assumimos o controle de um tanque de guerra).

VALIANTE HEARTS VALEU A COMPRA? Bem, tecnicamente eu não comprei o jogo, visto que ele foi dado “de graça” por ter assinado a Plus o mês de março.
Se for pagar com dinheiro, na PSN brasileira, VH custa R$30,00. É um preço que vale a pena? Depende. Se você curte jogos alternativos, com lindos visuais e OST mas de baixo fator replay, a resposta é SIM. Se você curte jogos indie, mas tem um jogo como Resident Evil HD Remaster na fila de espera das suas futuras aquisições, a resposta é NÃO: além do survival estar apenas R$10,00 mais caro, ele tem um fator replay que vai muito além de completar todos os cacarecos espalhados pelos cenários.

Independente dos critérios e complicadores que estejam envolvidos na sua decisão de adquirir ou não Valiant Hearts, é indiscutível a qualidade desse jogo como um todo.
Como voltei com aquela velha mania de atribuir notas, minha nota final para VH é 7,5. Se você está acostumado com o conteúdo marrom comumente encontrado na net acerca de games, com certeza deu um pulo do sofá nesse momento. Mas lembre-se que 7,5 estão dois pontos e meio acima da média, e apenas dois pontos e meio da completa perfeição.
 Valiant Hearts é como Alien Isolation: um daqueles jogos que como fã eu adoraria poder dar uma nota maior do que a nota final escolhida. Mas não poderia fazer isso sem prejudicar o meu compromisso pessoal que tenho com a sinceridade e o compromisso com os leitores de ser o menos parcial possível ao indicar um game.

Sai daí, Wadio!


Ao Isolation eu diminuí a nota final por causa de problemas técnicos. Com VH isso aconteceu por causa do baixo fator replay contido no game e com a escorregada final que acontece nas partes derradeiras do game: o final de Valiant Hearts (sem spoiler, no worries) é totalmente anticlimático e sem maiores atrativos. É um final claramente preparado (artificialmente) para impactar o jogador, apelando para um apego emocional que até então vinha sendo perfeitamente explorado no restante do jogo.

A conclusão apresentada em VH, além de não fazer muito sentido diante dos acontecimentos passados da história (como assim? Fulano (a) vai morrer dessa forma ridícula depois de todos os momentos difíceis e perigos que superou lá atrás?), é facilmente confundível com qualquer outro momento do restante do jogo. Se não fossem pelas letrinhas escoando na vertical, dificilmente eu saberia que estava na hora de me despedir daquele mundo extremamente belo e cativante.


Au Revoir!

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