Depois de março deste
ano, os começos de mês passaram a ter um significado especial no meu calendário
gamer: ao assinar a Playstation Plus, a cada findar de quatro semanas a rede
nos presenteia com três jogos totalmente gratuitos, para o deleite dos menos
abastados.
A negociação mais que
justifica o custo-benefício já que, em um único mês, é possível recuperar por
uma média de R$33,00 por game o dinheiro que você investiu na assinatura da
conta Plus (que agora é necessária para poder jogar online e outras frescurites
mais).
Passado o primeiro
mês, o que vier pela frente é lucro...
Mas o mês de estreia
na conta “gold” da Sony (entendedores entenderão o motivo do “gold”...) não
poderia ser melhor: além de Counter Spy
(jogo comentado em vídeo. Deixa de ser preguiçoso e clica aqui) e Odd World
(o jogo do etzinho bufão, que também conta com vídeo, aqui também), as vantagens
de ser um jogador + me possibilitaram conhecer Valiant Hearts, um dos mais
belos e estilizados jogos de guerra já feitos (disputando sem dó o pódio de
melhor do gênero com This War of Mine).
CONHECENDO A TRINCHEIRA
VH se começa no início
da Primeira Grande Guerra e abrange quase todos os quatro anos que aquele
conflito perdurou. Ele conta a história de cinco personagens que precisam
sobreviver enquanto ajudam amigos, familiares ou completos estranhos que cruzam
seus caminhos.
VH é classificado como
um quebra-cabeças de aventura, e a sua porção puzzle se mostra por meio de
enigmas que vão desde empurrar uma simples cômoda a multitarefas que envolvem
até três protagonistas simultaneamente. E, por mais que você esteja mais que
acostumado com a velha mecânica de leva-e-traz dos jogos desse gênero, fique tranqüilo
pois VH vai conseguir te surpreender em vários momentos dos enigmas.
A progressão no game
se dá em Scroll Lateral, ou seja, com o jogador só podendo se mover para
os quatro eixos de direção, e as ações físicas
que podemos realizar se resumem a andar/correr, pegar/arremessar objetos, subir/descer escadas
e ataque melee com alguns dos personagens jogáveis. Nem é possível pular ou se
jogar de alturas maiores que um metro. Se você espera por intensas sequências
de tiroteio... bem, você até que vai encontrar, mas não da maneira vista em
shooters mais convencionais...
Sim, além de retratar
a vida dos envolvidos no grande conflito, Valiant Hearts tenta ser o mais
realista que dá pra ser em um jogo de videogame que trata do tema guerra.
Não espere encontrar
vida regenerativa aqui ou tolerância a diversos disparos no corpo do mesmo
protagonista.
PERSONAGENS
Como eu havia falado,
VH conta a história da Primeira Guerra Mundial e aborda a perspectiva não de
soldados super poderosos ou de exércitos de um homem só, mas sim de camponeses,
enfermeiras, ex-aristocratas e de pessoas que foram meio que arrastadas para o
conflito totalmente a contragosto.
Abordando a parte mais
técnica do jogo no quesito variedade de coisas a se fazer, VH não varia muito pelo
fato de podermos jogar com cinco protagonistas durante os quatro capítulos de
duração. Claro, temos as missões gerais com os brutamontes do game, que
misturam stealth (a parte das ovelhas é show de bola, me lembrando o livro A
Odisseia quase que instantaneamente. Só faltou o nome do personagem controlado
ser “Ninguém”...) e combate indireto (no qual nos esgueiramos pelas costas do
inimigo e o derrubamos com uma cacetada). Mas não espere, como eu já disse,
pegar uma metralhadora e sair por aí metendo bala no exército inimigo. VH não é
Call of Duty. Não chega nem perto, pra ser mais preciso.
Como o jogo dá um
enfoque muito grande nos protagonistas, apresento agora uma breve lista dos
personagens controláveis durante o jogo.
EMILE
É o primeiro
personagem que nós podemos controlar. Ele é um fazendeiro que vira prisioneiro
de guerra e está em busca do marido de sua filha (não sei o nome desse grau de
parentesco. Confesso.). Ele usa, na maior parte do tempo, uma concha de feijão
(?!) como arma e uma pá para escavar nas trincheiras.
FREDDIE
É um soldado americano
que perdeu a mulher no conflito e culpa o barão sei-lá-das-quantas (um militar
ridículo que fica usando máquinas contra você e fugindo quando é derrotado. Se o
nome Dr. Robotnik surgiu na sua mente, parabéns!). Freddie usa, além dos outros
itens comuns a todos, as mãos para atacar inimigos e destruir obstáculos
(entulhos no geral).
ANNA
Uma enfermeira belga
que tenta encontrar seu pai, um cientista seqüestrado pelo Barão Robotnik,
enquanto ajuda feridos no campo de batalha. O gameplay de Anna é o menos ativo
dos seis, visto que ela é mulher. E antes que você venha encher meu saquinho
dizendo que na guerra mulheres e até crianças eram enviadas ao campo de batalha,
quero deixar bem claro: nem todas as guerras isso acontecia, e geralmente
quando ocorria eram nos momentos mais críticos dos conflitos e nas horas de
maior desespero tático. Sim, faz todo o sentido do mundo o gameplay de Anna ser
mais calmo pelo fato dela ser mulher, pois estamos falando de um jogo que
retrata eventos do começo do século vinte.
Bem, o fato é que Anna
é uma personagem bem agradável. Jogar na pele de uma enfermeira que caminha no
campo de batalha tentando ajudar combatentes feridos (não importa de que
exército seja) é ao mesmo tempo triste e recompensador.
Mas uma coisa tenho
que admitir: seria melhor poder ajudar os necessitados por meio de uma mecânica
diferente daqueles QTEs ao estilo Guitar Hero que somos obrigados a acertar.
KARL
É um soldado alemão
casado com a filha de Emile. Karl não muda exatamente em nada na questão do
gameplay com relação aos outros dois personagens masculinos. Ele é um dos que
menos participam, e o seu ponto alto é a parte de stealth na qual temos que nos
esconder no meio de um rebanho de ovelhas. De resto, suas motivações são as
mais básicas possíveis: ele quer abandonar um campo de batalha ao qual foi
forçado a abraçar e se mantém de pé pela esposa e filho pequeno.
WADIO
Não adianta vir me
corrigir. Eu sei que o nome do personagem mais carismático do jogo é Walt. Mas eu
sempre entendi os personagens chamando ele de “Wadio”, então não tem mais como
me desacostumar.
Wadio é um simpático
cão-enfermeiro que auxilia todos os personagens durante o jogo. Ele pega
objetos; rosna próximo a coisas enterradas no chão; arrasta pessoas feridas;
distrai inimigos para que você possa passar; e sofre bulling nas mãos do cruel
Shadow Geisel, da Shadowlândia:
Wadio, de longe, é um
dos ajudantes mais úteis que já apareceram num jogo de videogame. E ele não faz
nada de mais a não ser ser um cachorro treinado para ajudar pessoas.
Por meios de comandos
de contexto, ativados com os botões X, triângulo, quadrado e círculo, o canino
faz e acontece no mundo devastado pela guerra de Valiant Hearts.
Ele tem um grunhido
meio chato, como a maioria dos cachorros, mas passa longe de ser irritante como
certas atrapalhantes vistas em outros jogos...
Um dos objetos na imagem acima é de extrema utilidade ao homem. Dica: ele não usa cabelos loiros... |
Para finalizar o
tópico personagens, fique tranqüilo com relação a esse aspecto: VH conta com um
elenco (sendo de duas ou de quatro pernas) que vai te manter interessado do
começo ao fim da aventura.
Chega a ser engraçado
como você se importa com personagens dos quais você não entende uma palavra
(eles falam línguas existentes no mundo real, como inglês, alemão e francês,
mas de uma forma meio que caricaturizada). Claro que quando falo isso não estou
me referindo aos personagens secundários que ficarão a sua volta, como os
inúteis soldados aliados que portam rifles e fuzis, mas ficam esperando um
cozinheiro com uma concha de sopa na mão abrir caminho para eles passarem.
GRÁFICOS E SOM
Nesse quesito nem tem
muito o que falar senão elogios: Valiant Hearts é um dos jogos mais homogêneos
em 2D já feitos na história dos games. É o tipo de jogo que faz o jogador mais
experiente (pra não dizer velho mesmo) salivar por um retorno digno do estilo
2D, abandonado há muito pouco tempo atrás e que se tornou quase que um luxo que
apenas os jogos mais indies podem se dar ao prazer de resgatar.
O visual desse jogo
funciona tão bem e tudo é tão bonito, que não tem como não desejar por um jogo
da série Metal Slug com o mesmíssimo visual e estilo gráfico. Aliás, fica esse
recado para a Eolith, atual detentora dos direitos da série: se você tiver
alguma pretensão de resgatar essa série de um limbo de jogos terríveis e sem a metade
da graça que os antigos possuíam (como o inigualável MS3), COPIE VH EM TODOS OS ASPECTOS POSSÍVEIS E IMAGINÁVEIS. Se for
preciso, compre os direitos de usar o motor gráfico deste game para proporcionar
o retorno que Marco e Cia tanto merecem.
Momento fodástico de ação! |
Os cenários de VH são
fantásticos, e fica mais essa dica, desta vez voltada aos jogadores mesmo: leia
todos os fatos históricos que antecedem cada cenário. Além de aprender detalhes
contidos no evento da Primeira Guerra, você ainda vai poder se inteirar sobre
detalhes visuais presentes nas locações do game (e a importância dessas
localidades para o conflito em si) e, de quebra, ter uma vaga noção do que te
espera pela frente nos desafios vindouros (não se espante se se deparar com uma
nuvem de gás logo depois de ter lido sobre o uso de máscaras e efeitos do gás
na pele e olhos dos vitimados pela guerra)
Na parte sonora, VH dá
um show poucas vezes antes vistas em um jogo de guerra. Nada de som de bala ou
de granadas explodindo debaixo dos seus pés. Se você ainda espera isso, ou
sofre de dislexia ou pulou o texto todo e veio parar nesse exato ponto.
O som de VH brilha (ou seria reverbera?) nos
momentos de ação, com músicas de violino; temas tristes para momentos tristes;
empolgação sendo retrata da maneira perfeita com músicas empolgantes ou o
simples toque de piano que vai te acompanhar por muitos minutos de game se você
aceitou a minha dica de ler os fatos históricos.
O tipo de visual em que é impossível escolher uma foto apenas pra exemplificar |
Tanto pelo som quanto
pelos gráficos eu bato o meu martelo Mjolnir da justiça nerd: a trilha e
gráficos de VH são o exemplo de como a tecnologia deve estar a serviço de uma
obra, e não servir de muleta para ela. É incrível como um jogo indie
desenvolvido por pouco mais que meia-dúzia de pessoas pode ser tão competente
nos quesitos técnicos como Valiant Hearts faz nesse caso. Polegar fraturadamente
pra cima para o pessoal da Ubisoft Montpellier, e não tenha a menor dúvida.
ENTRE MORTOS E FERIDOS...
Spoiler: um deles vai morrer no final... e você não vai dar mínima importância a isso... |
É recompensador
constatar como um jogo de guerra, e bastante violento por sinal (não se engane
pelos visuais cartunescos do jogo), pode trazer muita paz e momentos de
reflexão sobre os horrores cometidos por seres humanos contra outros seres
humanos (como na parte com Freddie, que passamos de vidraça à pedra e assumimos
o controle de um tanque de guerra).
VALIANTE HEARTS VALEU A COMPRA? Bem, tecnicamente eu não comprei o jogo,
visto que ele foi dado “de graça” por ter assinado a Plus o mês de março.
Se for pagar com
dinheiro, na PSN brasileira, VH custa R$30,00. É um preço que vale a pena? Depende.
Se você curte jogos alternativos, com lindos visuais e OST mas de baixo fator
replay, a resposta é SIM. Se você
curte jogos indie, mas tem um jogo como Resident Evil HD Remaster na fila de
espera das suas futuras aquisições, a resposta é NÃO: além do survival estar apenas R$10,00 mais caro, ele tem um
fator replay que vai muito além de completar todos os cacarecos espalhados
pelos cenários.
Independente dos
critérios e complicadores que estejam envolvidos na sua decisão de adquirir ou
não Valiant Hearts, é indiscutível a qualidade desse jogo como um todo.
Como voltei com aquela
velha mania de atribuir notas, minha nota final para VH é 7,5. Se você está
acostumado com o conteúdo marrom comumente encontrado na net acerca de games,
com certeza deu um pulo do sofá nesse momento. Mas lembre-se que 7,5 estão dois
pontos e meio acima da média, e apenas dois pontos e meio da completa
perfeição.
Valiant Hearts é como Alien Isolation: um
daqueles jogos que como fã eu adoraria poder dar uma nota maior do que a nota
final escolhida. Mas não poderia fazer isso sem prejudicar o meu compromisso
pessoal que tenho com a sinceridade e o compromisso com os leitores de ser o
menos parcial possível ao indicar um game.
Sai daí, Wadio! |
Ao Isolation eu
diminuí a nota final por causa de problemas técnicos. Com VH isso aconteceu por
causa do baixo fator replay contido no game e com a escorregada final que
acontece nas partes derradeiras do game: o final de Valiant Hearts (sem
spoiler, no worries) é totalmente anticlimático e sem maiores atrativos. É um
final claramente preparado (artificialmente) para impactar o jogador, apelando
para um apego emocional que até então vinha sendo perfeitamente explorado no
restante do jogo.
A conclusão
apresentada em VH, além de não fazer muito sentido diante dos acontecimentos passados
da história (como assim? Fulano (a) vai morrer dessa forma ridícula depois de
todos os momentos difíceis e perigos que superou lá atrás?), é facilmente
confundível com qualquer outro momento do restante do jogo. Se não fossem pelas
letrinhas escoando na vertical, dificilmente eu saberia que estava na hora de
me despedir daquele mundo extremamente belo e cativante.
Au Revoir!
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