Volta e meia eu paro a programação do blog para dar avisos, choramingar ou simplesmente fazer um desvio no tipo de conteúdo que normalmente se vê aqui.
O lado bom é que eu faço esse tipo de coisa para
indicar algum conteúdo de entretenimento que não se encaixa na proposta do
site, como livros (apesar de que, ainda, estou devendo o post sobre grandes
livros que marcaram a minha vida) e filmes, mas que têm certa importância na minha trajetória como pessoa no geral.
Isso aconteceu algumas vezes nos últimos meses, e fico mais
que feliz com a certeza de que indiquei grandes obras nos posts que escrevi.
Ontem, em mais uma das minhas andanças pelas tímidas
prateleiras das Lojas Americanas, seção de DVDs, não resisti ao impulso de
levar pra casa um filme que já me paquerava há muito tempo, talvez até mais
tempo que o meu romance indireto com Splicer, alvo de outro post de indicação
aqui no blog.
Antes de continuar, quero deixar bem claro que minhas
opiniões são minhas opiniões, e uma coisa que é a maior festa de fim de ano na
minha cabeça pode ser uma maçante confraternização entre colegas de trabalho, na
sua.
Outro aviso: ESTE
TEXTO NÃO CONTÉM NENHUM SPOILER. Dar spoiler com esse filme, principalmente os seus 30 minutos finais, seria uma atitude passível de pena de morte na
Shadowlândia. E eu, mesmo sendo o soberano destes vastos campos verdejantes,
sou young demais pra morrer.
A ÓRFÃ?
Segundo a Wikipedia, A Órfã (Orphan, no original) é um filme
feito nos EUA e lançado no ano de 2009. Foi dirigido por Jaume Colete Serra e
lançado pelo Dark Castle Entertainment, um estúdio que eu aprecio deveras. De
acordo com a página, ele foi orçado em 20 milhões de dólares e foi um grande sucesso
de bilheteria e crítica (gerando uma receita de mais de 70 milhões, se pagando
completamente e ainda dando muito lucro). E é aí que eu me pergunto: o que raios eu estava fazendo em
2009 que não percebi um filme desses passando no cinema? Bem, deixa pra lá.
A Órfã conta a história de um casal tipicamente americano (mas
sem os clichês tão comumente ruminados no gênero suspense) que resolve adotar
um filho crescido depois que a esposa perdeu a gravidez.
Eles vão a um orfanato e acabam trazendo pra casa Esther,
uma garota de 9 anos de idade muito madura e inteligente. Esther exala uma aura
sombria de que “há algo de errado nessa garota”. E a graça do filme é ele
justamente transcender os clichês de filme de suspense, no qual um casal adota
uma criança visivelmente perturbada mas são tapados o suficiente pra só
perceberem o real problema quando já é tarde demais.
Aliás, o maior mérito de A Órfã é justamente este: o
telespectador, assim como os protagonistas, só consegue se dar conta da real
dimensão do problema que a perturbada Esther representa quando já é
desesperadoramente tarde demais.
O QUE MAIS ME AGRADOU
EM A ÓRFÃ
Primeiramente foi a capa. Antes de comprar o DVD eu achava a
capa desse filme bem tosca, típica de filmes B que saem diretamente em DVD por
que ninguém se daria ao trabalho de ir assisti-los no cinema. Depois de comprar
e prestar mais atenção, e principalmente depois de descobrir o segredo
principal do filme, passei a gostar bem mais da capa do título, inclusive tendo
a certeza de que a personagem Esther é a garota-propaganda perfeita de um filme
com temas tão pesados e cenas chocantes. Falando nisso, como são fortes as
cenas desse filme.
Não vou dar spoiler do enredo, e posso citar uma cena do
começo pra dar uma noção do que eu falo: a cena do pombo, e você sabe de que
cena eu estou falando, me fez virar o resto pro outro lado de uma forma tão
abrupta que eu não esperava que fosse acontecer com um filme de suspense.
Uma outra parte, também no começo, mostra a perspectiva do mundo encarado por uma pessoa com surdez. De uma forma completamente delicada e emocionante, o filme nos apresenta um elemento que, num momento desperta ternura e sentimentos fortes de empatia pelo próximo, para num outro nos aterrorizar com esse mesmo ponto de vista, evocando sensação de impotência e aflição.
As
cenas desse filme, principalmente as de violência, são tão bem encaixadas que
passam aquela sensação que toda cena devia passar: a de que elas estão ali
porque não tem outro jeito de contar a história, e de que não estão colocadas de forma que banalize
a violência ou para causar choques baratos no telespectador. Você vai se
impressionar com alguns momentos nesse filme. Você vai duvidar das motivações da
personagem e duvidar da veracidade dessas cenas... até o ponto em que você
descobre o terrível segredo que faz Esther ser uma das mais (se não a mais) aterrorizantes personagens infantis já criadas no cinema.
Essa personagem é assustadora. Claro, durante todo o filme
cenas de senso-comum dos filmes de suspense (como aparições súbitas nas costas
de alguém ou no espelho) vão te enganar e pensar que A Órfã se trata de mais um
filme sem cérebro recheado de jump scares baratos. Mas não se engane: esse
filme se parece muito com o caso que eu descrevi no post sobre Splice, com cada
cena sendo posicionada muito bem no enredo e com uma exata razão de ser. Essa
razão, mais uma vez, vai fazer todo o sentido com o final surpreendente que vai
te assombrar por alguns minutos mesmo depois que os (lindos) créditos rolarem.
Eu não faço o tipo bebê chorão que não está acostumado a
sangue e violência em
filmes. Muito pelo contrário: minha infância foi regada a
muito gore e filmes lado B de terror, assim como filmes totalmente lado A como
Alien, Tubarão e milhares outros mais. Mas ao terminar de assistir A Órfã,
confesso que fiquei bastante apreensivo de ter que dormir com a porta do quarto
aberta e totalmente na escuridão. Isso porque esse filme aborda um tipo de
horror dos mais cabulosos que existem, que é o psicológico.
Ter um estranho invasor em casa, uma pessoa que você pensava
que conhecia mas que na verdade não é exatamente quem você pensava que era, é
uma das sensações mais terríveis de insegurança que uma pessoa pode sentir.
Adicione uma mente totalmente manipuladora, uma faca peixeira e um 38 à receita
e você tem um dos melhores filmes de suspense já feitos desde O silêncio dos
inocentes.
Só pra concluir, gostaria de deixar um grande elogio à
atuação das crianças desse filme. É incrível como as crianças americanas
conseguem estar a anos-luz das de outras nacionalidades quando o assunto é
interpretar.
HÁ ALGUMA DE MUITO ERRADO COM
VOCÊ... SE NÃO INTERESSOU EM ASSISTIR A ESSE
FILME.
A Órfã foi uma grata surpresa. Eu queria poder viver em um
mundo fictício onde pudéssemos simplesmente pagar uma quantia de R$14,99 por
algo, não importando o contexto e o objeto da compra, e contar com uma experiência de entretenimento igual à que este filme se
propõe a oferecer.
A Órfã é um filme perturbador, assustador e muito impactante,
que te faz sentir um medo e desconforto reais pela figura da personagem
principal, Esther. É impossível evitar a sensação de desconforto, revolta,
apreensão e medo que os minutos finais desse filme conseguem passar ao
telespectador.
E é isso. Fico por aqui, sem querer me prolongar demais, e
com a certeza de que indiquei mais uma ótima obra que possa ter passado
despercebida por você mas que, sem sombra de dúvidas, vai te dar aquela
sensação deliciosa de “eu devia ter visto esse filme antes...”
Fiquem na paz e tenham sempre algo em mente: há algo de
muito, mas muito errado com essa garota...
Au Revoir
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