Rage é o projeto mais ambicioso da Id Software desde Quake.
A Id Software foi responsável pelo sucesso de jogos como
Wolfstein 3D, Doom (palco de várias polêmicas e discussões dispensáveis a
respeito da influência de jogos violentos em crianças e adolescentes) e Quake
(tido como o primeiro jogo verdadeiramente em três dimensões).
A Id também é famosa pelos seus feitos na área de criação de
software e motores gráficos que levavam os PCs ao seu limite de desempenho.
Depois de alguns anos fora dos holofotes, a Id Software
ataca com seu mais novo jogo: Rage, um game de FPS feito pela mãe dos jogos de
tiro.
O que esperar da empresa que “criou” o gênero e que era
famosa por maravilhas tecnológicas testadoras de máquina como Doom 3? O máximo,
no mínimo...
CARTÃO DE VISITAS DE
UMA GIGANTE DOS JOGOS
Filma eu, Galvão!!! |
Sinceramente, eu tenho mais o que fazer da minha vida do que ficar pesquisando dados como data de divulgação de primeiras imagens
ou os primeiros rumores sobre a cor dos cabelos da Lightnig no Final Fantasy XVY-ISO9002/Advanced.
É por isso que eu vou pular logo para um detalhe que será crucial para o
entendimento deste review com primeiras impressões sobre Rage (a Id e sua
predileção por nomes curtos): O VÍDEO DE
“GAMEPLAY” DE RAGE DA E3 2010. O motivo das aspas logo ficará claro, no
tópico gráficos.
Abaixo, o vídeo em questão:
Nota: infelizmente, não consegui encontrar o vídeo original
do gameplay de Rage. Não sei se foi retirado do Youtube, só sei que não achei.
Mas o vídeo abaixo é bem similar ao que me refiro.
Agora o vídeo real do início jogo rodando em tempo real:
Agora, veja este vídeo no qual um dos (cínicos) desenvolvedores afirma
que o jogo está em "fase de polimento" por parte dos programadores. Sem legendas
em português, infelizmente:
GRÁFICOS
Nuvens brincando de "estátua"! |
A regra é a mesma dos outros reviews: o aspecto que gosto de
analisar primeiro em um jogo são os seus gráficos. Não por eu ser um sujeito
extremamente superficial ou materialista. É que esse será o primeiro contato de
um jogador com um jogo, a menos que você seja o Johnny Cage do Mortal Kombat.
Pra começar, preciso adiantar que a falha mais grave de Rage
são, justamente, seus gráficos. Para entender o que quero dizer, faz-se necessário
assistir ao vídeo da E3 2010 da janela acima. Assistiu? E qual a conclusão que
podemos tirar desse vídeo? Simples: ELE
É FALSO, FAKE ou qualquer coisa que o valha. Perceba os artifícios usados pelo jogador do vídeo para disfarçar as falhas gráficas, como pegar itens de longe ou não se aproximar muito de objetos e, ainda, caminhar sempre pelo meio dos cenários.
De fato, Rage foi um dos primeiros jogos em que eu ouvi
rumores de que as empresas estariam lançando trailers com cutscenes fingindo se
tratar de gameplay em tempo real. Não que isso seja uma grande novidade, claro.
Mas para mim, esse foi um dos jogos em que isso ficou mais evidenciado.
Não é exagero dizer que o jogo se constrói (ou tenta) diante
dos seus olhos, e isso não é uma metáfora para um competente motor gráfico em
tempo real.
A primeira impressão que Rage nos passa é a de total espanto
e estupefação: como uma empresa do nível da Id teve a coragem de deixar passar
uma falha dessas no principal e mais aguardado produto de seu trabalho? Não
estamos falando de mais um Call of Duty, ou do Assassin’s Creed da próxima
estação. Estamos falando de uma nova série dos criadores de Doom. E isso já
deveria ser suficiente para que a empresa tivesse noção do peso que a
expectativa em torno de sua criação teria na mídia de games.
E aí? Tudo beleza? Acho que não... |
Os aspectos técnicos do jogo são um sério fator a ser levado
em consideração para quem pensa em levar uma cópia de Rage para casa.
Esse jogo conseguiu bater todos os recordes de demora na
instalação e tamanho do arquivo em questão. E , depois de esperar quase vinte minutos
pela instalação de um arquivo de aproximadamente 8GB de espaço em disco, fico
me perguntando até onde vai a tolerância dos jogadores de videogame em abraçar
e apoiar o produto de suas expectativas exageradas.
O pior é a cara de pau dos desenvolvedores em lançar uma
mercadoria defeituosa, visto que uma vez que você já adquiriu o game, só lhe
resta jogar para fazer valer o investimento.
E falando em investimento, qual seria a atitude ou suporte
da Id perante as reclamações dos consumidores com relação aos problemas de seu
produto? Bem, acredito que seja nenhuma, visto que a empresa está mais
preocupada em continuar lançando DLCs para complementar algo que ganhou as
prateleiras de forma inacabada do que trabalhar em um urgente e completamente
justificado patch de correção de texturas.
Sim, meu amigo e sofredor gamer, parece piada mas é a mais
pura verdade: a Anarchy Edition de Rage vem com um opulento DLC intitulado The
Sewers Missions que pesa, aproximadamente, 300 e poucos MB no disputado HD do
seu PS3/360, mas sem nenhuma tentativa de correção dos problemas citado acima.
Pra quê que servem os malditos updates e atualizações de sistema mesmo? Um doce
para quem respondeu “estorvar o jogador” que só quer... jogar!
Se não pagar pelo conserto eu solto um yoga fire em você, viu? |
Como se não bastasse a avalanche de mentiras e trailers
fake, os gráficos de Rage não são melhores que os de outros representantes do
gênero, mesmo sem o problema das texturas que pipocam na cara do jogador. E
como eu posso afirmar isso com tanta autoridade? Respondo com outra pergunta: e
se eu disser que a demo deste mesmo jogo não apresenta o problema das texturas
citado acima?
Ultrajado? Revoltado? Ludibriado? Bem-vindo ao fantástico
mundinho da indústria de jogos eletrônicos. Se acomode na poltrona, torre
R$1000,00 em uma caríssima TV de LCD e mais R$800,00 para experimentar um
versão beta de um jogo se construindo em frente aos seus olhos.
Se tudo que você conhecia sobre Rage vem daquele trailer da
E3 2010, tenho o desprazer de te informar que você foi redondamente enganado
pela Id Software.
Na parte dos gráficos, pelo menos, Rage não faz nem o
cabeçalho da lição de casa: uma das poucas coisas competentes no visual do
game, o céu, seria lindo se não fosse totalmente desprovido de vida e de
movimentação. Pelo jeito, o terrível meteoro que atingiu o planeta Terra deu um
jeito de cessar o movimento de rotação do planeta também.
Sim, Oblivion, a taça de “céu mais bonito” ainda continua
descansando merecidamente em seu colo.
Claro, nem tudo são falhas e defeitos quando se fala nos
gráficos de Rage: o visual das armas é muito bom (rola até uma espécie de
“paquera” entre o protagonista e uma nova arma adquirida); a variedade no
visual dos NPCs é bastante satisfatória, tirando aquela impressão de jogos como
Fallout 3 de que estamos conversando com um dos irmãos quadrigêmeos de uma
família de mercadores; os efeitos de explosão são muito bonitos e convincentes;
o nível de detalhamento dos já citados NPCs é alto, passando uma boa impressão
de que estamos lidando com seres humanos, e não com marionetes horrendas prestes
a ganhar vida e te matar.
GAMEPLAY E ASPECTOS
GERAIS
Dado de vinte pode? |
O primeiro defeito grave de Rage foi esse, o das texturas.
Se você tiver o fôlego necessário para prender a respiração e ignorar os
(ultrajantes) visuais mal-acabados do game estará pronto para o próximo passo.
Como é a diversão em um jogo de tiro feito pela criadora de
Doom, um dos jogos de tiro mais divertidos já feitos? Simples e direto: é alta.
Mais uma pergunta: o que costumamos fazer em um game de tiro
em primeira pessoa? Andar, chegar a lugares e atirar em monstros, certo? E sou
muito feliz quando afirmo que Rage executa tudo isso com muita competência e
precisão.
Mas, antes de tecer elogios ao que merece ser elogiado no
game, gostaria de falar sobre a I.A do jogo.
O mestre dos combates ensinou a sempre mirar na cabeça |
Eu não sei quais foram as promessas pré-lançamento deste game
com relação à I.A dos inimigos, mas o fato é que o comportamento dos mutantes e
monstros de Rage é o pior possível.
Os mutantes, pequenas criaturas esbranquiçadas que correm de
quatro patas simplesmente se jogam em cima de você sem nenhum tipo de estratégia
ou planejamento. Até aí eu não esperava mais de criaturas dementes de mente e
corpo corrompidos. Mas quando se trata de humanos... ah, meu amigo... tente não cair na risada com o vídeo abaixo. Peekaboooooooo!!!!
Até onde joguei, os oponentes humanos do jogo (fácil
distingui-los dos mutantes, pois geralmente carregam alguma arma de fogo) não
são inimigos. Eles me parecem mais com atores seguindo um rígido e risível
script imposto pela piada que é a I.A desenvolvida para Rage.
Os inimigos humanos de Rage são tão artificiais que chegam
ao absurdo de retornar à mesma posição de onde acabaram de levar um headshot da
arma do jogador. Nos combates não tem muito o que fazer: posicione a mira na
cabeça do retardado que, provavelmente, estará buscando cobertura bem ao lado
de um barril vermelho de combustível; atire e espere ele colocar a cabecinha
novamente na mira de seu rifle sniper para dar cabo da existência ignóbil do
infeliz. É uma tática infalível, pode acreditar...
Com eu disse que teceria elogios, farei: os combates de
Rage, apesar da I.A dos inimigos, são muito desafiadores.
O jogo leva adiante a tradição dos níveis de dificuldade de
Doom, com os já conhecidos “Hurt me plenty” e “Nightmare”. eu, como de costume,
estou jogando no último nível em uma tentativa de burlar a dificuldade
decrescente dos jogos atuais. Uma maldita tendência de imbecilizar e facilitar
tudo para uma geração que não sabe o que significa enfrentar Ryu no nível 8 no
Super Street Fighter II Turbo.
Para resumir: dependendo da sua perícia em jogos de tiro,
você não terá grandes acessos de ira jogando Rage (perdão do trocadalho). Mas
fique sabendo que a dificuldade do jogo, apesar de ter uma curva muito sutil e
balanceada, é sempre na direção vertical e no sentido de baixo para cima, se é
que deu pra entender.
Gostaria de abrir um parêntese sobre os loads do jogo e dar
um conselho aos jogadores: PLANEJE AO
MÁXIMO SUAS IDAS E VINDAS NO GAME, seja em missões ou evitando mortes
desnecessá
rias.
“Por quê”, pergunta a Marília Gabriela? Pelo simples fato de que, apesar de
instalar quase 8GB de dados em disco, Rage te soterrará com uma avalanche de
loadings totalmente desnecessária e mal planejada.Eu não disse que voava peça de Lego? |
Vejamos as missões de corrida, por exemplo: há um load para
entrar na corrida (antecipado por uma tela preta de “Saving, please don’t turn
off the game”) e mais um load para sair e retornar à cidade. O problema é que,
em algumas missões (como a Mutant Menace, que exige muita perícia com o rifle
sniper por parte do jogador) você será transportado à entrada da cidade, ao
invés de retornar do ponto de onde parou (?!?). Por quê? Provavelmente pela
lógica deturpada dos programadores de concluir que, se você veio de uma missão
de carro, significa que precisa ter passado pela entrada da cidade para voltar.
E tome mais e mais telas de load no saquinho do coitado que segura o controle
em mãos.
Outro aspecto falho do jogo é a ausência de um mapa dentro
das cidades (acho que foi proposital, para criar uma conexão entre o jogador e
os cenários) e o tamanho das legendas.
As legendas de Rage SÃO
AS MESMAS DO DOOM 3 EM HD. Sem tirar nem pôr. Simplesmente reaproveitaram as do
jogo mais antigo sem corrigir o tamanho da fonte.
Tente ler alguma coisa na cidade de Wellsprings, por
exemplo, quando as legendas dos anúncios de rádio do prefeito da cidade se
interpõem com as legendas do diálogo do npc que está na sua frente...
HISTÓRIA E ATMOSFERA
"And I don't wanna miss a thing..." |
Sobre a história, todos sabem que não vou falar muito.
Apenas o necessário para embasar o meu ponto de vista sobre a atmosfera e
similaridades com um outro jogo da produtora de Rage.
Rage se passa no ano de dois e lá vai o trem (clichê de
mundo futurista: confere).
Diante da ameaça de um enorme meteoro que vai colidir com a
terra, uma equipe é enviada no melhor estilo “I don’t wanna close my eyes” para
interceptar o corpo celeste (clichê de grande catástrofe: confere). Algo dá
muito errado (clichê de “algo dando muito errado”: confere) e a equipe não
consegue completar a missão.
O meteoro se choca com a Terra e, por razões que eu ainda
desconheço, causa a mutação e alteração de quase todas as espécies de vida do
planeta (clichê de mutantes em mundo pós apocalíptico: confere).
A sua missão é tentar sobreviver nessa atmosfera a la
Mad Max.
Por que eu resolvi falar um pouco mais sobre a história de
Rage? É porque ela serve de pano de fundo para deixar claro as óbvias
influências de um outro jogo da produtora do Rage.
Caso você ainda não tenha percebido, Rage é produzido pela Bethesda
Softworks, atual detentora dos direitos da série Fallout, game que tem como
cenário o Wasteland, uma terra pós apocalíptica devastada por um grande
conflito nuclear envolvendo a China e os EUA. Deu pra perceber as semelhanças?
A admissão das influências de Fallout em Rage é tanta que a empresa faz uma
piada com os games da Bethesda ao colocar um Vault Boy na mesa do escritório de
um dos personagens principais do enredo.
A GUERRA NUNCA MUDA
Pronto para caçar "mutantes"... |
As influências de Fallout não param por aí: a própria palavra
usada para descrever o mundo do game é, simplesmente, a mesma: Wasteland.
Alguns elementos são de fácil reconhecimento, como o
Authority, uma organização militar (eu acho , pois ainda não topei com nenhum
deles) que impõe muito medo e toca o terror entre os cidadãos de Wasteland
(alguém aí lembrou do Enclave?), inclusive vigiando os civis com seus bots
espiões espalhados pelas estradas no mundo aberto.
O sistema de Rage também se baseia em quests dada por NPCs. É
possível criar itens e os ambientes lembram muito as ruínas radioativas de
Fallout.
Felizmente tudo funciona muito bem no universo do game, com
objetivos bem marcados no mapa; um inventário intuitivo e prático de usar; armas
impactantes e boas de se usar e etc..
Há muita coisa com o que se ocupar nas cidades de Rage,
incluindo: as quests propriamente ditas; um minigame de cartas; um minigame
(viciante e hipnotizante) ao estilo holodec de Star Trek; corridas de
automóveis; missões de entrega de itens e pasmem: um minigame bizarro no qual
devemos fazer aquela brincadeira da faca nos espaços entre os dedos. Nesse
minigame eu me furei mais vezes que um viciado em drogas injetáveis. Adoraria
ter podido contar com a ajuda do universitário Bishop, do Aliens O Resgate...
Se precisar de uma mãozinha é só falar... |
A jogabilidade dos carros é meio brusca. Pelo menos até que
você se acostume. Depois que pegamos o jeito, fica fácil de perceber que tudo
em Rage está no lugar e funciona muito bem (exceto as texturas que não decidem
aonde querem estacionar).
Há uma grande variedade de elementos de distração no jogo.
Neste ponto eu tiro o chapéu para a Id: ela conseguiu colocar um grande leque
de opções na experiência com o seu título de altas expectativas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Vai me dizer que essa belezinha não merece uma chance? |
É engraçado como mundos pós apocalípticos (quando embalados
em uma inebriante atmosfera de abandono e desolação) exercem este enorme
fascínio sobre mim.
Rage tem algumas falhas graves que, sob o crivo de mãos mais
cuidadosas, impediriam que o título sequer chegasse às prateleiras nas atuais
condições em que ele foi lançado.
Então vem a pergunta inevitável:
RAGE VALE A COMPRA?
Bem...
Recomendar um jogo como Rage chega a ser um ato de
irresponsabilidade, pois fazendo isto eu estaria induzindo os possíveis
leitores e compradores a levarem para casa um produto com defeito de fábrica e
sem previsão de recall. Mas não consigo e não quero parar de jogar Rage. Levem
em consideração meus outros reviews, baseando-se nas suas próprias experiências
e decidam por si mesmos. Não é uma questão de tirar o corpo fora ou me livrar
da “responsabilidade” de indicar ou não o jogo. É que a atual indústria dos
games vem exercitando esta sua nova capacidade de nos magnetizar com aberrações
de difícil veredito. Não é a primeira vez que me vejo em um impasse como este. De
fato, muitos jogos têm me colocado nesta posição de relevar falhas que há pouco
tempo seriam consideradas graves por mim em prol do bem maior e que deveria ser
o objetivo de todos que jogam videogame: a diversão.
Confesso que minhas primeiras impressões sobre Rage foram as
piores possíveis: falha gráfica inadmissível; paredes invisíveis da morte
(linearidade); história cheia de clichês; muretas de 10 cm de altura barrando o
progresso (isso é tão 1999).
Eu, sinceramente, imaginava que a criadora do gênero viria
com um produto bem mais evoluído que isso.
Mas Rage consegue ser muito competente em características
que não se configuram como grandezas aferíveis propriamente ditas. E tudo acaba
ficando muito subjetivo e a critério de quem está jogando: você se sente
ludibriado, tendo comprado um produto defeituoso que não cumpre nem metade das
promessas técnicas que prometeu? Parabéns! Temos um sentimento em comum quando
o assunto é Rage. E, se esse for o caso, PASSE
BEM LONGE DESTE JOGO.
Mas, se você considerou todos os prós citados por mim no
texto acima, aproveite as promoções e compre uma cópia bem baratinha do jogo.
Aproveite para SE DIVERTIR E VIVENCIAR TUDO DE BOM QUE O JOGO TEM A OFERECER.
Rage parece ser um produto do desleixo de criadores
desajeitados que não têm noção da responsabilidade que carregavam nas costas.
Eu consegui ver além disso. E a diversão continua, cheia de fúria e carros
armados dos pneus até o capô...
Vai me dizer que você não daria uma chance a uma belezinha dessas? |
Au Revoir!
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