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domingo, 10 de setembro de 2017

ANÁLISE: GUITAR HERO (PS2)



Uma das coisas que eu mais gosto no Playstation 2 é a sua variedade de jogos: muito embora que alguns estilos tenham predominado naquele aparelho (como é normal acontecer em cada geração), uma imensidão de jogos diferentes foram produzidos pro segundo filho da Sony. Tinha jogo de corrida que parecia desenho animado; jogo de “matar” fantasmas tirando fotos (?!?); jogo de grudar objetos numa bola até ela ficar do tamanho de um estádio de futebol (?!?!?!?!?!?!?!); e tinha até jogo de criar seu próprio jogo, como no caso do RPG Maker.

Como os games são o meio de entretenimento que mais abre possibilidades de interação e de convergência de mídias (texto, som, movimento), claro que não podia faltar um jogo que te permitisse participar de grandes clássicos do Rock como se você mesmo estivesse em cima do palco, girando a guitarra no ar e tocando fogo na dita cuja depois de um frenesi embalado por irados punhos de chamas.

O PS2 tentando pular uma geração. E olha que esse visual não é em alta definição...

Claro que estou falando de Guitar Hero, um jogo lançando em 2005 pela Harmonix em parceria com Deus e o mundo, inclusive contando com a ajuda de uma colaboradora que chegava, naquela época, a ser mais importante até que Deus e o próprio mundo quando o assunto era música e Rock ‘n Roll: a MTV.

Eu sempre fui um ótimo jogador de jogos de tiro, RPG e plataforma, mesmo que no campo dos esportes eu seguisse o clássico estereótipo do nerd que não faz ideia do que fazer quando seu atacante, eventualmente, conseguia parar com a bola nos pés. Mas e jogos de música, aqueles em que você precisa acertar combinações no controle pra que a música continue a tocar, ou seu personagem não perca o passo na hora de mexer o esqueleto?

É isso que veremos a seguir em um dos reviews que eu mais tinha vontade de escrever desde que criei o blog, mas nunca tive a oportunidade adequada de fazê-lo por não poder jogar o Guitar Hero original em seu console de estreia, o Playstation 2 (agora você entendeu o motivo de abrir o texto falando desse aparelho, não foi?).


HISTÓRIA (6,0)


Parece meio absurdo falar de enredo em um jogo musical, seja ele de que estilo for. Claro, se você levar em conta jogos como Parappa the Rapper ou Bust a Move, vai concordar que alguns criadores conseguem tirar leite de pedra e puxar da cartola uma história que não só justifique a razão de ser dos personagens estarem cantando ou dançando, como faz todo sentido dentro do universo maluco criado pelas mentes criativas por trás do jogo. Mas japoneses não são pessoas normais, e não podemos tirar a média criativa da população mundial levando em conta apenas os moradores dessa excêntrica ilha vulcânica, não é verdade?

Depois de toda essa enrolação vem a pergunta que não quer calar: Guitar Hero consegue apresentar um motivo crível como pano de fundo pra seu enredo? Um motivo que justifique a jogabilidade e os eventos que ocorrem na campanha principal? A resposta é sim, muito embora que o pano de fundo não seja dos mais originais.

Cabelo: quanto mais pufante, melhor. Se a franja cobrir os olhos, MELHOR AINDA!!!

Na campanha você escolhe entre oito guitarristas (dois são desbloqueáveis) com um background de vida pessoal que não vai fazer a menor diferença na hora em que o jogo começar pra valer, exceto pelo visual do braço da guitarra que exibe os comandos que precisam ser feitos pra que garrafas com líquido suspeito não sejam arremessadas na sua cabeça, caso a música “falhe”.

Depois de decidir quem vai ser agraciado pelo Deus do Rock com o talento de encantar multidões, você começará tocando músicas pra lá de manjadas (como I Love Rock and Roll, de Joan Jett and the Blackhearts) no porão de sua casa mesmo. Depois de muitas reclamações dos vizinhos e de algumas “visitas” da polícia ao seu recinto, a grandiosidade finalmente bate à sua porta e as coisas começam a melhorar pra você e sua banda cover de clássicos alheios.

E o que começou como um passatempo entre amigos na sua garagem vai terminar com um show de fazer inveja a Woodstock, com direito a raio laser, pessoas tentando subir ao palco e o tão sonhado reconhecimento mundial do seu talento nato como músico.


GRÁFICOS (6,5) E SOM (9,5)


O Playstation 2 contou com jogos incrivelmente bonitos, que desafiam suas limitações de hardware e conseguiam fazer nossos queixos caírem num ato de incredulidade sem tamanho. Se acha que estou exagerando, procure no Youtube por vídeos de jogabilidade do FPS Black ou do RPG Valkyrie Profile Silmeria, dois jogos que, de tão avançados, pareciam ter se adiantado uma geração.

Então, o que esperar de Guitar Hero nesse aspecto visual? Estamos falando de um jogo que mostra um palco, um braço de guitarra com notas que não param de cair em sua direção, e uma meia-dúzia de personagens pra simular uma plateia de show ao vivo. Nada mais justo que esperar gráficos fotorreaslísticos dele, não acha justo? Bem, pode tirar seu cavalinho da chuva, pois a pegada desse game simplesmente não é essa.

Falando agora de pura opinião pessoal, eu não acho que os gráficos de Guitar Hero são o melhor que o console podia oferecer na época, e tampouco acho que suas continuações seguiram a evolução tecnológica dos consoles de nova geração. Por outro lado, acho que um game de acertar notas musicais no tempo certo deve tomar certas medidas pra que sua principal característica não seja prejudicada em prol de uma melhoria gráfica que nem faz tanta diferença ao que sua proposta se dispõe a entregar.

Acredite: não se trata de um jogo de PS3. É Black, de PS2, rodando em "baixa definição".

Mais uma vez, você não entendeu nada, não é? Explico: qual a pior coisa que pode acontecer, do ponto de vista técnico, em um jogo cuja premissa é um atirador de elite que executa seus alvos com um rifle sniper? A resposta é simples: lentidão, queda de frames ou controles ruins na hora de usar a principal arma do jogo, concorda?

Partindo desse raciocínio utilitarista, a pior falha que poderia acometer um jogo de música é resposta ruim aos comandos na hora de inserir as notas musicais no controle, seja ele o joystick padrão do console ou uma guitarra feita especialmente para este game. E esse erro Guitar Hero tem o bom senso de não cometer.

Pra finalizar essa parte dos visuais, que sinceramente acabou ocupando uma extensão não planejada no post, eu posso afirmar que não sei se a decisão do jogo ter um gráfico inferior ao que o console podia entregar foi uma medida intencional a fim de manter uma boa taxa de quadros, que não atrapalhasse aquilo que realmente importa ao gameplay. Se foi esse o caso, só posso dar os parabéns aos desenvolvedores.

Na parte do som, minha parca compreensão das coisas só consegue imaginar dois aspectos em que um jogo como esse pode ser julgado: a qualidade de áudio das músicas e a fidelidade com que as faixas foram transportadas ao game, de forma que sejam imediatamente reconhecíveis mesmo àqueles que nunca tocaram num controle de videogame antes, mas são familiarizadas com os clássicos presentes no game.

Não dando atraso nas notas, pra mim tá de boa.

Sobre a qualidade do áudio, não tenho nada a reclamar: ele é de alta qualidade e eu recomendo que você dê um jeito de “turbinar” a sua experiência sonora antes de começar a jogar (seja com fones 7.1 ou plugando seu PS2 a um mini system que vai tornar a festa muito mais empolgante). Já sobre a fidelidade das faixas, eu tenho algo a comentar.

Até pela “história” do jogo ficou claro que as músicas não serão cantadas pelos cantores originais das bandas. As músicas serão executadas pelo vocalista da sua banda, que vai fazer uma espécie de cover das faixas. Isso nem de longe é um problema, visto que Guitar Hero nunca teve nenhuma pretensão de ser um documentário interativo sobre a indústria musical.

A questão é que, em algumas faixas, fica visível a diferença entre a pessoa que cantou a música para o jogo e o vocalista original. Só pra dar dois exemplos rápidos, esse efeito pode ser mais claramente sentido nas músicas Take me Out (Franz Ferdinand) e No One Knows (Queens of the Stone Age). Claro, a menos que você seja um portador de ouvido absoluto (ou conheça o timbre de voz dos cantores intimamente), a maioria das faixas vão passar completamente despercebidas no tocante a essa exigência.

Como eu acabei de falar, esse detalhe não vai atrapalhar a sua experiência com o game, mas não consigo deixar de sentir que a música acaba ficando com uma cara de paródia, de versão genérica da faixa original, devido a esse problema. Mais uma vez, nada que atrapalhe sua diversão, mas se não existisse essa falha seria possível dar uma avaliação ainda mais positiva a este ótimo jogo musical para Playstation 2.


SISTEMA (10,0)


Nos tópicos anteriores eu meio que já entreguei do que se trata o sistema de Guitar Hero, e já vou adiantando que se você jogou um, exceto por alguns detalhes irrelevantes das versões posteriores, você já conhece todos. Pra quem acabou de pousar a espaçonave na Terra e não faz ideia do jogo que é Guitar Hero, eu explico: uma música vai começar a tocar. No braço de guitarra, que aparece no meio da tela, vão começar a descer bolinhas coloridas que representam as seis cordas de uma guitarra de verdade.

Cada bolinha/nota possui uma cor, que por sua vez dizem respeito a cada um dos botões de ombro do controle do Playstation 2: verde para L2, vermelho para L1, amarelo para R1, azul para R2 e laranja para o botão X. Quando a nota passar pela linha horizontal na parte debaixo do braço da guitarra, você precisa pressionar o comando certo para a melodia tocar sem interrupção, lembrando que apenas o som da guitarra é prejudicado em caso de erro. Falando em erro, há um mostrador com um ponteiro que vai do vermelho ao verde. Se errar muito e chegar ao extremo da área vermelha, a música se encerra debaixo das vaias da plateia.

Desnecessário dizer que, durante o gameplay, várias combinações serão mostradas pra desafiar o jogador. Algumas tão fáceis que simplesmente não condizem com o ritmo da música que está tocando. Algumas, de tão difíceis, vão exigir praticamente uma polidactilia das suas mãos pra serem executadas corretamente (se você estiver jogando no nível Hard ou Expert, claro).

Sobre a seleção das faixas em si, afirmo com segurança de não estar exagerando que este primeiro Guitar Hero ainda é o melhor e mais eclético de todos. O jogo abre de forma perfeita, com I Love Rock ‘n Roll, e fecha de forma mais perfeita ainda, com Bark at the Moon, do eterno deus do Rock Ozzie Osbourne (boa sorte pra completar essa faixa no nível expert. Estou tentando desde que comprei o jogo e ainda não consegui). Sem falar das várias faixas extras que podem ser compradas na loja, como a excelente (e esquistona) Farewell Mith, da banda Made in Mexico.

Essa belezinha pode ser sua por apenas 30 faixas no nível Expert...

A seleção das músicas é perfeita e conta com clássicos eternos e contemporâneos, como Iron Man (Black Sabbath), Killer Queen (Queen) e Smoke on the Water (Deep Purple), no time dos clássicos; e faixas como Take me Out (Franz Ferdinand), No One Knows (Queens of the Stone Age) e Cochise (Audioslave) no lado das bandas mais contemporâneas. O problema que eu percebi é que algumas faixas parecem estar deslocadas no tocante à dificuldade. Explico...

A campanha principal é dividida em seis concertos, cada um com cinco músicas. É mais que esperado que o desafio comece simples, até por questões de adaptação do jogador e curva de aprendizado, e depois a porca vá torcendo o rabo, com músicas que vão te fazer duvidar da sua capacidade motora em pressionar os botões de um controle. A questão é que algumas posições das faixas simplesmente não respeitam o progresso natural do jogo, com umas músicas no primeiro concerto quase te fazendo desistir de jogar, ao menos nos níveis mais altos (como I Wanna Be Sedated, dos Ramones), e outras, perto do fim da turnê, que quase te fazem pegar no sono, como Ziggy Stardust, de David Bowie.

Fora esse queixume, não há nada do que reclamar no sistema de Guitar Hero, muito pelo contrário: diferente de jogos rítmicos como Bust a Move, esse foi o primeiro que realmente me fez sentir como seu eu estivesse participando da música, construindo a melodia tocada na tela por meio do controle do videogame. E elementos como o Star Power só servem pra agregar ainda mais valor a esse sentimento tão único que apenas jogos como esse primeiro Guitar Hero conseguiram despertar em mim.


EM PERFEITA SINTONIA


Guitar Hero é um dos melhores jogos musicais que já joguei, sendo um daqueles exemplos de uma franquia que começa com o pé direito e depois vai regredindo com o passar do tempo (e o exagero de versões lançadas pras mais diversas plataformas, no menor intervalo de tempo rentável possível...).

É um jogo simplesmente atemporal, que consegue a façanha de apresentar músicas modernas, de alta qualidade, ao mesmo tempo que aproxima as gerações mais novas de clássicos eternos que devem constar no currículo de qualquer roqueiro que se preze.

NOTA: 9,0 (8,0 da soma + 1,0 pelo conjunto das partes funcionarem bem)

Acima de tudo, é um jogo que pode e deve ser jogado por qualquer idade, trazendo uma bagagem cultural riquíssima em forma de clássicos do rock e contando com um humor de excelente qualidade e leveza em suas telas de carregamento, que por sinal são mais rápidas do que poderiam ser.

Aceite os conselhos dos criadores do game quando eles te aconselham que você “não coma nada arremessado no palco”, ou que você “evite usar a guitarra acima da linha da cintura, pois você não faz parte dos Beatles...” Eles serão essenciais para sua carreira como futura estrela do Rock.

Já tive essa guitarra, mas confesso que prefiro jogar no controle.

Eu sei que jogos musicais já não eram novidade nenhuma em 2005, data do primeiro Guitar Hero. Mas aqui, mais uma vez, o mérito está na execução e na simplicidade da jogabilidade, elementos que infelizmente (a meu ver) foram sendo desvirtuados nas edições posteriores, com novidades de sistema que não traziam melhora alguma à experiência e um setlist de músicas que afastava os fãs de rock menos hardcore.

Com a ordenha compulsiva da Activision e das distribuidoras que ficariam a cargo da franquia no futuro, Guitar Hero foi se tornando um jogo cada vez mais pretensioso e que afastava os jogadores menos “dedicados”, incapazes de completar músicas absurdas (como as faixas escalafobéticas da banda Dragonforce).



Deixando de ser um jogo mais cosmopolita, democrático e inclusivo, que conseguia aproximar roqueiros de todas as idades, Guitar Hero foi se transformando em um produto de nicho dentro de um nicho ainda mais recluso e específico, até culminar em um lixo sem alma que exigia uma guitarra de verdade pra jogar. Uma transfiguração que é bem triste de se acompanhar, dado o potencial da série.

E é isso, pessoal. Espero que tenham gostado do post, mas já vou adiantando que (provavelmente) não haverá outros posts sobre Guitar Hero aqui no blog. Mesmo tendo jogado quase todos as sequências após o primeiro (o mais recente foi o Aerosmith), não vejo muita razão pra comentar mais sobre uma franquia que basicamente só se diferencia no tocante às músicas escolhidas para os jogos.


Au Revoir.

3 comentários:

  1. Joguei todos os guitar hero de ps2 *O* q nostalgia ver isso. Aliás eu nunca consegui completar through the fire and flames no expert :( chegava só na metade.. PS: eu só jogava com o controle normal.

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  2. Acho q foi no Guitar hero 3.. não lembro bem.

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