Uma das coisas que eu
mais gosto no Playstation 2 é a sua variedade de jogos: muito embora que alguns
estilos tenham predominado naquele aparelho (como é normal acontecer em cada
geração), uma imensidão de jogos diferentes foram produzidos pro segundo filho
da Sony. Tinha jogo de corrida que parecia desenho animado; jogo de “matar”
fantasmas tirando fotos (?!?); jogo de grudar objetos numa bola até ela ficar
do tamanho de um estádio de futebol (?!?!?!?!?!?!?!); e tinha até jogo de criar
seu próprio jogo, como no caso do RPG Maker.
Como os games são o
meio de entretenimento que mais abre possibilidades de interação e de
convergência de mídias (texto, som, movimento), claro que não podia faltar um
jogo que te permitisse participar de grandes clássicos do Rock como se você
mesmo estivesse em cima do palco, girando a guitarra no ar e tocando fogo na
dita cuja depois de um frenesi embalado por irados punhos de chamas.
O PS2 tentando pular uma geração. E olha que esse visual não é em alta definição... |
Claro que estou
falando de Guitar Hero, um jogo lançando em 2005 pela Harmonix em parceria com
Deus e o mundo, inclusive contando com a ajuda de uma colaboradora que chegava,
naquela época, a ser mais importante até que Deus e o próprio mundo quando o
assunto era música e Rock ‘n Roll: a MTV.
Eu sempre fui um ótimo
jogador de jogos de tiro, RPG e plataforma, mesmo que no campo dos esportes eu
seguisse o clássico estereótipo do nerd que não faz ideia do que fazer quando
seu atacante, eventualmente, conseguia parar com a bola nos pés. Mas e jogos de
música, aqueles em que você precisa acertar combinações no controle pra que a
música continue a tocar, ou seu personagem não perca o passo na hora de mexer o
esqueleto?
É isso que veremos a
seguir em um dos reviews que eu mais tinha vontade de escrever desde que criei
o blog, mas nunca tive a oportunidade adequada de fazê-lo por não poder jogar o
Guitar Hero original em seu console de estreia, o Playstation 2 (agora você
entendeu o motivo de abrir o texto falando desse aparelho, não foi?).
HISTÓRIA (6,0)
Parece meio absurdo
falar de enredo em um jogo musical, seja ele de que estilo for. Claro, se você
levar em conta jogos como Parappa the Rapper ou Bust a Move, vai concordar que
alguns criadores conseguem tirar leite de pedra e puxar da cartola uma história
que não só justifique a razão de ser dos personagens estarem cantando ou
dançando, como faz todo sentido dentro do universo maluco criado pelas mentes
criativas por trás do jogo. Mas japoneses não são pessoas normais, e não
podemos tirar a média criativa da população mundial levando em conta apenas os
moradores dessa excêntrica ilha vulcânica, não é verdade?
Depois de toda essa
enrolação vem a pergunta que não quer calar: Guitar Hero consegue apresentar um
motivo crível como pano de fundo pra seu enredo? Um motivo que justifique a
jogabilidade e os eventos que ocorrem na campanha principal? A resposta é sim,
muito embora que o pano de fundo não seja dos mais originais.
Cabelo: quanto mais pufante, melhor. Se a franja cobrir os olhos, MELHOR AINDA!!! |
Na campanha você
escolhe entre oito guitarristas (dois são desbloqueáveis) com um background de
vida pessoal que não vai fazer a menor diferença na hora em que o jogo começar
pra valer, exceto pelo visual do braço da guitarra que exibe os comandos que
precisam ser feitos pra que garrafas com líquido suspeito não sejam
arremessadas na sua cabeça, caso a música “falhe”.
Depois de decidir quem
vai ser agraciado pelo Deus do Rock com o talento de encantar multidões, você
começará tocando músicas pra lá de manjadas (como I Love Rock and Roll, de Joan Jett and the Blackhearts) no porão de
sua casa mesmo. Depois de muitas reclamações dos vizinhos e de algumas “visitas”
da polícia ao seu recinto, a grandiosidade finalmente bate à sua porta e as
coisas começam a melhorar pra você e sua banda cover de clássicos alheios.
E o que começou como
um passatempo entre amigos na sua garagem vai terminar com um show de fazer
inveja a Woodstock, com direito a raio laser, pessoas tentando subir ao palco e
o tão sonhado reconhecimento mundial do seu talento nato como músico.
GRÁFICOS (6,5) E SOM (9,5)
O Playstation 2 contou
com jogos incrivelmente bonitos, que desafiam suas limitações de hardware e
conseguiam fazer nossos queixos caírem num ato de incredulidade sem tamanho. Se
acha que estou exagerando, procure no Youtube por vídeos de jogabilidade do FPS
Black ou do RPG Valkyrie Profile Silmeria, dois jogos que, de tão avançados,
pareciam ter se adiantado uma geração.
Então, o que esperar
de Guitar Hero nesse aspecto visual? Estamos falando de um jogo que mostra um
palco, um braço de guitarra com notas que não param de cair em sua direção, e
uma meia-dúzia de personagens pra simular uma plateia de show ao vivo. Nada mais
justo que esperar gráficos fotorreaslísticos dele, não acha justo? Bem, pode
tirar seu cavalinho da chuva, pois a pegada desse game simplesmente não é essa.
Falando agora de pura
opinião pessoal, eu não acho que os gráficos de Guitar Hero são o melhor que o
console podia oferecer na época, e tampouco acho que suas continuações seguiram
a evolução tecnológica dos consoles de nova geração. Por outro lado, acho que
um game de acertar notas musicais no tempo certo deve tomar certas medidas pra
que sua principal característica não seja prejudicada em prol de uma melhoria
gráfica que nem faz tanta diferença ao que sua proposta se dispõe a entregar.
Acredite: não se trata de um jogo de PS3. É Black, de PS2, rodando em "baixa definição". |
Mais uma vez, você não
entendeu nada, não é? Explico: qual a pior coisa que pode acontecer, do ponto
de vista técnico, em um jogo cuja premissa é um atirador de elite que executa
seus alvos com um rifle sniper? A resposta é simples: lentidão, queda de frames
ou controles ruins na hora de usar a principal arma do jogo, concorda?
Partindo desse
raciocínio utilitarista, a pior falha que poderia acometer um jogo de música é
resposta ruim aos comandos na hora de inserir as notas musicais no controle,
seja ele o joystick padrão do console ou uma guitarra feita especialmente para
este game. E esse erro Guitar Hero tem o bom senso de não cometer.
Pra finalizar essa
parte dos visuais, que sinceramente acabou ocupando uma extensão não planejada
no post, eu posso afirmar que não sei se a decisão do jogo ter um gráfico
inferior ao que o console podia entregar foi uma medida intencional a fim de
manter uma boa taxa de quadros, que não atrapalhasse aquilo que realmente
importa ao gameplay. Se foi esse o caso, só posso dar os parabéns aos desenvolvedores.
Na parte do som, minha
parca compreensão das coisas só consegue imaginar dois aspectos em que um jogo
como esse pode ser julgado: a qualidade de áudio das músicas e a fidelidade com
que as faixas foram transportadas ao game, de forma que sejam imediatamente
reconhecíveis mesmo àqueles que nunca tocaram num controle de videogame antes,
mas são familiarizadas com os clássicos presentes no game.
Não dando atraso nas notas, pra mim tá de boa. |
Sobre a qualidade do
áudio, não tenho nada a reclamar: ele é de alta qualidade e eu recomendo que
você dê um jeito de “turbinar” a sua experiência sonora antes de começar a
jogar (seja com fones 7.1 ou plugando seu PS2 a um mini system que vai tornar a
festa muito mais empolgante). Já sobre a fidelidade das faixas, eu tenho algo a
comentar.
Até pela “história” do
jogo ficou claro que as músicas não serão cantadas pelos cantores originais das
bandas. As músicas serão executadas pelo vocalista da sua banda, que vai fazer
uma espécie de cover das faixas. Isso nem de longe é um problema, visto que
Guitar Hero nunca teve nenhuma pretensão de ser um documentário interativo
sobre a indústria musical.
A questão é que, em
algumas faixas, fica visível a diferença entre a pessoa que cantou a música
para o jogo e o vocalista original. Só pra dar dois exemplos rápidos, esse efeito
pode ser mais claramente sentido nas músicas Take me Out (Franz Ferdinand) e No
One Knows (Queens of the Stone Age). Claro, a menos que você seja um
portador de ouvido absoluto (ou conheça o timbre de voz dos cantores
intimamente), a maioria das faixas vão passar completamente despercebidas no
tocante a essa exigência.
Como eu acabei de
falar, esse detalhe não vai atrapalhar a sua experiência com o game, mas não
consigo deixar de sentir que a música acaba ficando com uma cara de paródia, de
versão genérica da faixa original, devido a esse problema. Mais uma vez, nada
que atrapalhe sua diversão, mas se não existisse essa falha seria possível dar
uma avaliação ainda mais positiva a este ótimo jogo musical para Playstation 2.
SISTEMA (10,0)
Nos tópicos anteriores
eu meio que já entreguei do que se trata o sistema de Guitar Hero, e já vou
adiantando que se você jogou um, exceto por alguns detalhes irrelevantes das
versões posteriores, você já conhece todos. Pra quem acabou de pousar a
espaçonave na Terra e não faz ideia do jogo que é Guitar Hero, eu explico: uma
música vai começar a tocar. No braço de guitarra, que aparece no meio da tela,
vão começar a descer bolinhas coloridas que representam as seis cordas de uma
guitarra de verdade.
Cada bolinha/nota
possui uma cor, que por sua vez dizem respeito a cada um dos botões de ombro do
controle do Playstation 2: verde para L2, vermelho para L1, amarelo para R1,
azul para R2 e laranja para o botão X. Quando a nota passar pela linha
horizontal na parte debaixo do braço da guitarra, você precisa pressionar o
comando certo para a melodia tocar sem interrupção, lembrando que apenas o som
da guitarra é prejudicado em caso de erro. Falando em erro, há um mostrador com um ponteiro que vai do vermelho ao verde. Se errar muito e chegar ao extremo da área vermelha, a música se encerra debaixo das vaias da plateia.
Desnecessário dizer
que, durante o gameplay, várias combinações serão mostradas pra desafiar o
jogador. Algumas tão fáceis que simplesmente não condizem com o ritmo da música
que está tocando. Algumas, de tão difíceis, vão exigir praticamente uma polidactilia
das suas mãos pra serem executadas corretamente (se você estiver jogando no nível
Hard ou Expert, claro).
Sobre a seleção das
faixas em si, afirmo com segurança de não estar exagerando que este primeiro
Guitar Hero ainda é o melhor e mais eclético de todos. O jogo abre de forma
perfeita, com I Love Rock ‘n Roll, e fecha de forma mais perfeita ainda, com
Bark at the Moon, do eterno deus do Rock Ozzie Osbourne (boa sorte pra completar
essa faixa no nível expert. Estou tentando desde que comprei o jogo e ainda não
consegui). Sem falar das várias faixas extras que podem ser compradas na loja, como a excelente (e esquistona) Farewell Mith, da banda Made in Mexico.
Essa belezinha pode ser sua por apenas 30 faixas no nível Expert... |
A seleção das músicas é
perfeita e conta com clássicos eternos e contemporâneos, como Iron Man
(Black Sabbath), Killer Queen
(Queen) e Smoke on the Water (Deep
Purple), no time dos clássicos; e faixas como Take me Out (Franz Ferdinand), No
One Knows (Queens of the Stone Age) e Cochise
(Audioslave) no lado das bandas mais contemporâneas. O problema que eu percebi
é que algumas faixas parecem estar deslocadas no tocante à dificuldade. Explico...
A campanha principal é
dividida em seis concertos, cada um com cinco músicas. É mais que esperado que o
desafio comece simples, até por questões de adaptação do jogador e curva de
aprendizado, e depois a porca vá torcendo o rabo, com músicas que vão te fazer
duvidar da sua capacidade motora em pressionar os botões de um controle. A questão
é que algumas posições das faixas simplesmente não respeitam o progresso
natural do jogo, com umas músicas no primeiro concerto quase te fazendo desistir
de jogar, ao menos nos níveis mais altos (como I Wanna Be Sedated, dos Ramones), e outras, perto do fim da turnê,
que quase te fazem pegar no sono, como Ziggy
Stardust, de David Bowie.
Fora esse queixume,
não há nada do que reclamar no sistema de Guitar Hero, muito pelo contrário:
diferente de jogos rítmicos como Bust a Move, esse foi o primeiro que realmente
me fez sentir como seu eu estivesse participando da música, construindo a
melodia tocada na tela por meio do controle do videogame. E elementos como o
Star Power só servem pra agregar ainda mais valor a esse sentimento tão único
que apenas jogos como esse primeiro Guitar Hero conseguiram despertar em mim.
EM PERFEITA SINTONIA
Guitar Hero é um dos
melhores jogos musicais que já joguei, sendo um daqueles exemplos de uma
franquia que começa com o pé direito e depois vai regredindo com o passar do
tempo (e o exagero de versões lançadas pras mais diversas plataformas, no menor
intervalo de tempo rentável possível...).
É um jogo simplesmente
atemporal, que consegue a façanha de apresentar músicas modernas, de alta qualidade,
ao mesmo tempo que aproxima as gerações mais novas de clássicos eternos que
devem constar no currículo de qualquer roqueiro que se preze.
NOTA: 9,0 (8,0 da soma + 1,0 pelo conjunto das partes
funcionarem bem)
Acima de tudo, é um
jogo que pode e deve ser jogado por qualquer idade, trazendo uma bagagem
cultural riquíssima em forma de clássicos do rock e contando com um humor de
excelente qualidade e leveza em suas telas de carregamento, que por sinal são
mais rápidas do que poderiam ser.
Aceite os conselhos
dos criadores do game quando eles te aconselham que você “não coma nada arremessado no palco”, ou que você “evite usar a guitarra acima da linha da cintura, pois
você não faz parte dos Beatles...” Eles serão essenciais para sua carreira como futura estrela do Rock.
Já tive essa guitarra, mas confesso que prefiro jogar no controle. |
Eu sei que jogos
musicais já não eram novidade nenhuma em 2005, data do primeiro Guitar Hero. Mas
aqui, mais uma vez, o mérito está na execução e na simplicidade da
jogabilidade, elementos que infelizmente (a meu ver) foram sendo desvirtuados
nas edições posteriores, com novidades de sistema que não traziam melhora
alguma à experiência e um setlist de músicas que afastava os fãs de rock menos
hardcore.
Com a ordenha
compulsiva da Activision e das distribuidoras que ficariam a cargo da franquia
no futuro, Guitar Hero foi se tornando um jogo cada vez mais pretensioso e que
afastava os jogadores menos “dedicados”, incapazes de completar músicas
absurdas (como as faixas escalafobéticas da banda Dragonforce).
Deixando de ser um
jogo mais cosmopolita, democrático e inclusivo, que conseguia aproximar roqueiros de todas as idades,
Guitar Hero foi se transformando em um produto de nicho dentro de um nicho
ainda mais recluso e específico, até culminar em um lixo sem alma que exigia
uma guitarra de verdade pra jogar. Uma transfiguração que é bem triste de se acompanhar, dado o potencial da série.
E é isso, pessoal. Espero
que tenham gostado do post, mas já vou adiantando que (provavelmente) não haverá outros posts
sobre Guitar Hero aqui no blog. Mesmo tendo jogado quase todos as sequências após
o primeiro (o mais recente foi o Aerosmith), não vejo muita razão pra comentar
mais sobre uma franquia que basicamente só se diferencia no tocante às músicas
escolhidas para os jogos.
Au Revoir.
Joguei todos os guitar hero de ps2 *O* q nostalgia ver isso. Aliás eu nunca consegui completar through the fire and flames no expert :( chegava só na metade.. PS: eu só jogava com o controle normal.
ResponderExcluirEssa música é de qual GH?Pelo nome não sei.
ExcluirAcho q foi no Guitar hero 3.. não lembro bem.
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