Jogos de videogame são uma coisa fantástica. Mas, como tudo na vida, um dia eles acabam. Por mais longeva que seja a sua experiência com um game, e por mais que seu arquivo de save passe fácil dos dois dígitos de duração, um dia a princesa precisa ser salva; o lorde das trevas precisa retornar às profundezas de seu reino sombrio; e o ditador nazista zumbi terá que se recolher à sua própria insignificância, momento este que ele usará para bolar mais um de seus esquemas de dominação mundial. E a vida continua...
Pensando nisso, eu
sempre me pego relembrando momentos grandiosos nos quais nós fazemos justamente
isto: salvar a princesa, o mundo e, de quebra, dar descanso a um pobre ditador
zumbi nazista. Para tanto, é preciso enfrentar primeiro o Final Boss do jogo. E
não é exagero dizer que alguns melhores momentos da história dos games habitam
justamente nesses combates de vida e morte.
Alguns bosses simplesmente não fazem jus à qualidade do jogo em questão. |
Não, esta nova série
de posts não vai ser uma espécie de lista do tipo “top 10 melhores chefes
finais nos games”. Pra isso já existe o canal do Youtube Watchmojo, que realiza
a função a contento.
A ideia desse post (e
de outros que virão) é dar vida a uma sugestão que foi dada na seção de
comentários do blog Retina Desgastada (sempre ele...), no qual um dos participantes
lançou o desafio para que o autor do blog descrevesse uma cena de um game da
forma mais narrativa e artística possível.
Na ocasião, eu sugeri
ao camarada do Retina que transformasse a ideia em um quadro no blog, visto que
o resultado foi bastante recompensador. Como a ideia não foi tomada pelo site,
eu me resguardo ao direito de usá-la aqui, no Mais Um Blog de Games, para
estrear este novo marcador de posts.
Inicialmente a ideia
seria lançar um desafio, para que os leitores tentassem adivinhar qual batalha de
final boss eu estava descrevendo. Mas aí eu percebi que isso iria tolher a
possibilidade de fotos entre os parágrafos, o que tornaria o post indigesto de
ler.
Então, na estreia
deste meu exercício narrativo em forma de homenagem a grandes chefes que
tombaram diante do meu joystick, eu começo a brincadeira narrando a batalha
final entre Cloud e cia. e um dos vilões mais icônicos dos games.
Outros, nem final boss não possuem... |
Cabe o aviso de que eu
colocarei, no fim do post, o vídeo que usei para me basear na confecção do
texto. Também é bom ressaltar que o post é voltado a quem já terminou o jogo. Então,
mesmo indiretamente, haverá spoilers.
Também cabe salientar que o
texto será melhor aproveitado por quem passou pelas mesmas experiências com o
game que eu. Se você cometeu o pecado de gostar de JRPGs e nunca ter jogado
FF7, volte daqui a 50 horas de jogo para poder aproveitar melhor o meu texto.
Pra finalizar a enrolação, sugestões de batalhas contra chefes finais podem ser feitas nos comentários ou na página do Facebook. Claro que elas estarão sujeitas a avaliação, visto que inspiração não vende na farmácia, e pra escrever eu preciso ter jogado o jogo e ter criado um vínculo com o mesmo.
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Como que saído de uma
escuridão que antecede a própria criação, uma enorme criatura com aspecto písceo
paira no alto, arrogando a si mesma uma posição de superioridade, como o
predador que avista sua presa de uma ótica privilegiada...
O ser, que é parte
homem, parte abominação e uma outra parte que não consigo distinguir, parece
estar completamente indiferente à nossa presença.
Essa impressão inicial
é logo quebrada por um de seus ataques devastadores, lançado sobre mim e meus
companheiros com a mesma emoção de um peixe de olhar vítreo, sem se preocupar
em simular quaisquer sinais de vida...
Meus esforços parecem
causar efeito algum ao colosso abissal, que se mantém inabalado diante de
ataques que poderiam culminar na destruição de mundos. Seus olhares são vazios,
com uma indiferença quase autista, protegida por um uma aura de aparente
invencibilidade...
Mas a solução da charada
para derrotar a criatura finalmente se torna clara, e ela tomba lentamente, se
desfazendo em si mesma, mergulhando na mesma escuridão que parece ter lhe concedido o
sopro da vida.
Por breves momentos, o
silêncio inunda o ar. O confronto parece ter acabado, quando de repente eu
começo a ouvir gritos de lamento. Gritos oriundos das próprias profundezas do
inferno. Lamentos de almas inocentes, que parecem protestar por terem de
dividir espaço com tamanha monstruosidade.
E é nesse momento que
eu me dou conta de que não estamos mais sós. Ele está aqui. Ele chegou. O Salvador
chegou...
Um zumbido
insuportável parece querer abrir caminho entre meus tímpanos, tornando o
simples ato de permanecer de pé uma tarefa de proporções hercúleas.
A loucura de toda uma
raça aniquilada pela ambição humana tenta se apoderar da minha mente, quando a
tortura é finalmente interrompida por trombetas anunciando que Ele está aqui, e
está voltando sua atenção exclusivamente para mim...
O céu é rasgado por tons agradáveis de roxo e carmesim, que adornam o firmamento com o único propósito de desviar a nossa preocupação da real fonte do perigo.
Um coro de anjos entoa
cânticos em sua homenagem. Cânticos de beleza e esplendor, que chegam aos
ouvidos dos impuros como um aviso da imprudência de não se curvar à existência
do Salvador.
Sephiroth abre os
céus, pondo fim à escuridão.
Um gesto do anjo de
asas corrompidas procura trazer proteção a ele mesmo. Proteção contra a malícia
do homem. Outro gesto do Salvador inverte a polaridade entre o tempo e o espaço,
causando um escuro e devastador frio que alcança os limiares da minha alma.
Os céus continuam, em
uníssono, a clamar: meu filho, venha. Nunca
me deixe morrer. Meu filho, venha, e me traga a segunda morte...
Uma carícia de sua asa
negra é o suficiente para convidar a morte para entrar. E não adianta invocar a
vida, pois tudo converge para que ela seja desfeita, seguindo a vontade do
Salvador...
O anjo de cabelos
brancos paira no ar, ainda mais majestoso do que antes. De repente, o próprio
tempo parece congelar. Sephiroth me encara. Me olha diretamente nos olhos, de
um azul tão límpido que falsamente me dá a impressão de que essa semelhança física
nos revela algo em comum. Então eu compreendo...
Eu tento atingir o inalcançável,
golpeando apenas o vazio deixado pela falta de Sua presença. É então que eu
vejo o espaço, eu vejo a imensidão do espaço trazida a mim por um segundo
vislumbre do olhar de Sephiroth...
O universo parece
compreender uma coisa que eu mesmo lutava para não aceitar: a vontade do anjo
de várias asas reina suprema. Seu capricho é lei primeira, que rege tudo que se
move, destrói planetas e chega para conquistar... e destruir.
O calor de um astro
que já desistiu de resistir chega até mim. Minha pele arde diante da
imprudência de desafiar um deus. Mas o pequeno planeta azul me ensina uma
lição: a de acreditar no impossível.
De pé, eu e meus amigos tentamos aferir o imensurável estrago que foi causado em nossos corpos e mentes. Sephiroth carrega em suas mãos o poder de um deus. Mas o que é um deus guiado por fúria cega e ódio contra tudo que vive, comparado à benevolência de Gaia e tudo que n’Ela habita?
A vinda do Salvador me
mostrou algo: que o impossível é alcançado quando você tem alguém em quem se
apoiar, em quem acreditar...
A divindade prepara
mais um ataque, um daqueles capazes de partir a própria existência ao meio. Mas
agora é tarde...
Já nos encontramos de
pé. Somos a prova altiva de que nem mesmo deuses, ou falsos deuses, são capazes
de se colocar diante da nossa determinação e força de vontade. Até o coro de
anjos parece mudar de opinião, concordando com meus sentimentos. Sephiroth
cairá...
Eu devo isso a Zack. Eu devo isso a Tifa, a Marlene e até a mim mesmo, um homem que ou nunca existiu de verdade, ou jamais deveria ter fingido que chegou a existir. Eu devo isso ao espírito da Terra, que toca com ternura em minha mão, me dando forças pra continuar, pra seguir em frente.
Um brilho radiante
percorre a ponta da minha espada. Parece que a minha própria alma abandonou meu
corpo, dando força a um último ataque que corta o ar e faz os anjos
silenciarem. O impossível se transforma em um mero conceito distante, e
Sephiroth tomba.
Se tem a capacidade de sentir o desespero ou a dor da morte, Sephiroth não parece ser capaz de demonstrar. Um poder
avassalador começa a deixar seu corpo, em protesto, diante da blasfêmia que foi
cometida através das minhas mãos.
Um som ensurdecedor,
mais uma vez, perpassa meus ouvidos. A própria Criação parece se desfazer,
levando consigo o corpo inerte de Sephiroth. Enfim, o tormento chegou ao fim. Mas
por que eu sinto esse incômodo vazio, essa sensação de que algo de extrema importância
e periculosidade foi esquecida, deixada para trás?
Então eu mergulho,
rumo aos recônditos da minha mente. Agora tudo faz sentido.
Um barulho que
incomoda apenas em minha cabeça dá o tom do que está por vir.
Não acabou. O quase
impossível de se alcançar não viria assim tão fácil...
Se apegando à
realidade através dos recônditos do meu ser, eu vejo um guerreiro e sua enorme
espada. Ele está aqui, com a diferença de que “aqui” agora significa apenas dentro
de mim.
Do nada, o silêncio. O
único sinal de vida que eu sinto são as batidas do meu coração, que tentam me
avisar de que a visão diante de mim não faz parte deste mundo. Sephiroth não
está vivo. Não pode estar. Não é possível que ele ainda persista, a não ser na minha cabeça.
Um fogo queima cada
célula do meu corpo, dando lugar a uma legião de heróis contaminados pela
pureza da energia Mako e pelos erros da ambição humana. Um senso de urgência se
apodera das minhas faculdades mentais, deixando espaço apenas para a técnica e
a perfeita habilidade, pura e simples.
Meu corpo se move sem
que eu perceba, e num piscar de olhos eu desfiro um sem número de ataques que
rasgam o ar, o silêncio e a própria vida de Sephiroth.
Se é que essa criatura
algum dia pôde ser confundida com algo remotamente parecido com vida...
O campeão de um mundo
alienígena tomba, novamente. Dessa vez para sempre, para nunca mais retornar. E
eu sinto o calor pueril do espírito de Gaia. Mais do que isso: eu sinto a
presença de uma velha amiga, me dando a certeza de que agora eu não estou mais
só. Não mais...
Au Revoir!
Bateu até uma dor no peito de lembrar quando estava acabando os The Legend Of Zelda, sempre dava vontade de voltar, enrolar um pouco, para então salvar a princesa, é gostoso fechar o game, mas bate uma bad, aquele sentimento de vazio por salvar a princesa e acabar a aventura :(
ResponderExcluirSugestão anotada. Seja bem-vindo ao blog, e parabéns por ser o centésimo inscrito!
ResponderExcluirCara um que muito me marcou foi breath of fire 2
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