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sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

HISTÓRIA DE RADIATA

O Playstation 2 foi um console que, em minha modesta opinião, só não teve mais variedade em seus títulos que o insuperável Super Nintendo. Alguns gêneros, como de tiro em primeira pessoa, não deram muito as caras como foi o padrão da geração passada, mas a prolixidade de gêneros foi das melhores: jogo de dança; jogo de música (com a estreia do ótimo, mas de qualidade decrescente, Guittar Hero); jogo de carro de varrer com o rodo; RTS; esportes (como não poderia faltar), luta (com o excelente Soul Calibur 3) e é claro, os RPGs, aquele tipo de jogo em que você: anda; pega briga por nada; ouve caralhadas de linhas de diálogo e segue uma história, geralmente pré-determinada, que contraria o significado das três letrinhas que dão nome ao estilo de jogo.

O Playstation 2 foi casa de alguns dos melhores jogos que joguei na minha vida. Entre os RPGs, posso citar o maravilhoso Kingdom Hearts; meu RPG preferido de todos os tempos, Final Fantasy 10 (aguardem que haverá um Meu Review Supremo de Final Fantasy 10, assim que minha cópia da pré-venda chegar, eu completar o jogo pela sexta vez e tiver tempo de escrever...), Persona 3 e 4 (dois dos jogos com uma melhor trama que já joguei e o primeiro deles com o melhor e mais impactante final que já presenciei em um RPG) e é claro, o ilustre desconhecido Radiata Stories.


PEDIGREE, ENREDO E JOCOSIDADES DE RADIATA STORIES

Humph! Detesto garotos de olhos grandes!


Radiata Stories foi desenvolvido pela Tri-Ace e lançado no ano de 2005, exclusivo para PS2, sendo publicado pela Square-Enix. É isso mesmo que você está pensando: o toques de midas da Square foi pro beleléu depois que a Enix foi incorporada. O motivo eu sinceramente não sei, pois a Enix sempre criou grandes jogos de RPG. Valquirie Profile é um dos melhores, só pra citar um. Continuando, não é à toa que Radiata é um jogo tão bom, tendo como madrinha a Square e como matriarca uma empresa que consegue lançar, já no final de vida de um console, o game citado logo acima.

Leia a legenda e vai saber a que me refiro quando falo em bom humor...


Radiata conta a história de Jack Russel, um jovem cujo melhor talento é ser filho de um famoso matador de dragões. Ele acorda (atrasado) no dia de se apresentar como candidato a recruta em uma das guildas da cidade de Radiata. Chegando em seu teste (um tutorial disfarçado de prova), Jack leva a maior surra de uma garota loira de olhos verdes e gigantescos, a Ridley (não lembro o sobrenome). E, logo no comecinho do jogo, a Tri-Ace quebra um baita clichê (o do heroizinho machão e invencível) e se faz ser merecedora de uma bela salva de palmas quando o assunto é enredo. Pelo tom do início já dá pra perceber que o humor de Radiata Stories está entre os melhores já feitos em um game (a cena de Jack saindo às pressas para chegar ao local da prova é hilária), podendo a ser comparado ao insuperável (ever) Super Mario RPG (jogo que talvez ganhe um post aqui. Planejo isso desde a estreia do blog, em 2011, mas nunca consegui realizar. Planos, sabe como é...). Radiata é um daqueles games que, mesmo com um sistema longe da perfeição (abordarei no momento certo), ele deve ser jogado pelo seu excelente e impagável senso de humor. A única ressalva que faço é com relação à personagem Ridley. Infelizmente, para explicar do que trata, terei que recorrer a um spoiler. Portanto, se você não jogou e pretende faze-lo, pule a parte sinalizada com os asteriscos.

Ridley e seus malditos spoilers


** Em um dado momento da história, Ridley sofre um ataque que custa a sua vida. Para salvá-la, é preciso realizar um ritual élfico conhecido como Transfiguração. Desculpem se o nome não for esse, pois faz muito tempo que joguei. Basicamente, nesse ritual a alma de uma pessoa é salva e mantida no corpo com o auxílio da alma de um poderoso e experiente elfo. O problema é que Ridley começa a perder a sua personalidade própria por causa do ritual (ela fala sozinha, como se tivesse possuída pelo capeta. Que meda!), e as deliciosas brigas entre a carrancuda garota de olhos grandes e o cabeça quente e pretensioso Jack Russel dão lugar a um melodrama chato e injustificado que não combina com o restante do clima de humor que dá o tom de Radiata. **

Carneiros da altura de um ser humano. Isso é o mais normal que você vai ver em Radiata


Salvo esse pequeno detalhe (para quem leu o spoiler asterisco), o enredo do game é recheado com situações hilárias, muita ironia e piadas de autocrítica ao próprio sistema do jogo.


SISTEMA DE JOGO: AMIGO É COISA PRA SE GUARDAR DEBAIXO DE SETE CHAVES...

Tá aí uma boa descrição pra perfil do Face


Radiata Stories é uma cidade com dimensões quase realísticas (considerando todo o game, não a cidade de Radiata apenas, que deve ter o tamanho de um pequeno bairro). De fato, esse jogo tinha um mapa tão grande e com tantos lugares e entradas para explorar que eu o apelidei de “o San Andreas dos RPGs". Quem é fã de CJ sabe o que significa essa comparação. Radiata é enorme: tinha casas e mais casas para entrar; esgotos para explorar; florestas; dungeons; um castelo tão grande que levava mais de duas horas para explorar (entrando em tudo, mexendo no que visse pela frente e abrindo todos os baús). Além dos NPCs que dava pra conversar, Jack contava com um chute (que parecia mais uma tentativa frustrada de fazer uma embaixadinha) que revelava itens, dinheiro e... itens. O mais legal é que dava pra chutar pessoas também, o que ativava uma inesperada batalha dentro dos portões da cidade (e engraçadíssimos comentários do tipo: “agora já chega, seu moleque. Prepare-se para encontrar seu criador”! Rsrsrs). Não posso deixar de citar também o melhor uso já feito da "analogicidade" do controle do PS2. No vídeo abaixo dá pra ter uma noção do que estou falando, logo nos primeiros segundos:



A batalha do game acontecia em tempo real e era de ação, não de turnos, podendo ser evitada caso você não encostasse no avatar do inimigo(sabe, aquela representação do inimigo no cenário que geralmente não revela todos os oponentes que você enfrentará em campo). Você só podia controlar Jack, sendo que seus outros três aliados eram controlados automaticamente pela CPU. Comandos do tipo “use magia” ou “apenas defenda” eram possíveis de serem dados, mas não espere muita obediência por parte de seus parceiros. Jack possuía três ataques, sendo que dava pra escolher a ordem e a quantidade deles. Uma coisa muito chata eram alguns gritos que Jack soltava enquanto atacava. Por exemplo: se o melhor ataque de um machado fosse o “Sling Trust”, você podia excluir os outros dois e soltar um Sling Trust atrás do outro, o que resultava em um enervante "raiá, raiá, raiá"! vindo de Jack.

Se não aguentar o pau, corra!


Havia lanças, espadas de uma mão e de duas e machados. Cada uma delas libera um ataque conhecido como Volty Blast (um deles, o Limit Break, faz uma óbvia alusão a um famoso sétimo jogo de uma também famosa franquia de RPGs...), um especial de tela cheia com uma animação personalizada. Alguns de seus amigos podiam soltar esses especiais também mas nem todos, o que gerava muita expectativa frustrada com o sistema e a descoberta de novos aliados. Aqui vai um vídeo com todos os Volty combos do game, para os saudosistas:



Falando em camaradagem, em Radiata Stories era possível recrutar ajudantes, como eu já falei. Dentro da batalha, um sistema de links era disponibilizado, o que permitia o aprendizado (de Jack) das habilidades pertencentes a seus compadres. Havia uma quantidade quase absurda de Friends para recrutar (um pouco menos que no Facebook, mas ainda assim muitos) e os requerimentos para a aquisição desses companheiros eram os mais variados possíveis, como um cavaleiro da guilda dos guerreiros, que perdeu as suas lentes de contato (?!) no esgoto (?!!) e precisa de ajuda para recuperá-las. Dentre as figuras ilustres, podemos citar Lenneth do Valkyrie Profile, o pai de Jack Russel e Lezard Valeth (também do Valkyrie). No game também há várias referências a outros games da Tri-Ace, como o próprio Valkyrie e a série Star Ocean.

Eu avisei que a tiração de sarro é das pesadas


A batalha de Radiata era pura tiração de sarro, com efeitos de poeira, indicadores de dano em estilo HQ e doidera generalizada em uma espécie de “salve-se quem puder em tempo real”. Não posso deixar de ressaltar que esse jogo rompe com a tradição da Tri-Ace de batalhas com perspectiva 2D, tendo um combate todo em 3D com movimentação livre e ataques diretamente aplicados pelo jogador, ao invés de menus.


GRÁFICOS E SOM (PÁ, PÁ... PAYA PAPAYA PÁ!)

Lá e lá outra vez...


A trilha sonora de Radiata era de excelente qualidade. No subúrbio e em outras partes da cidade podíamos visitar uma loja de discos para comprar os vinis com a trilha sonora do game. Tirando a repetitiva voz de ataque de Jack, citada anteriormente, tanto a dublagem quanto músicas e efeitos sonoros de Radiata eram um show à parte. Nada que reclamar nesse quesito. Não vou colocar o link para algumas de minhas faixas prediletas porque o Youtube não sabe a diferença entre indicação/referência e pirataria. Mas tudo bem, quem jogou ou jogar sabe/saberá do que estou falando.

"Ok. Admito. Tô perdido"!


Já a parte gráfica do game merece um parágrafo especial. O visual do game era coisa de louco. Os criadores utilizavam um estilo de livro de histórias infantis com cell shading que caiu como uma luva ao visual cartunesco e semi-sd (Super Deformed, para os novatos. Tipo: corpos pequenos e cabeças e olhos exageradamente grandes. É duro ter que explicar a piada...). Além das fotos que ilustram o post, gostaria de deixar um vídeo com a belíssima introdução do game, que conta a lendária batalha de Cairn Russel contra o Dragão da Água (que tem a maior queixada de burro que eu já vi em um dragão).



Além de ter um visual digno de contos de fada, todos os equipamentos de Jack alteravam a sua aparência dentro e fora das batalhas. Se você se pegou comprando aquela belíssima túnica azul-turquesa feita de escamas de hidra (que reduzia a sua atual taxa de defesa mas era um luxo), fique tranqüilo que você não estava só em sua obsessão fashion. O belo visual e esmero com detalhes também podia ser visto nos menus, com ricas ilustrações de itens e acessórios. E todos sabem como sou louco por detalhes bem aplicados em um game. De fato: o visual de Radiata Stories é tão bom (mesmo para os padrões de hoje) que ele se configura como um daqueles jogos que imploram desesperadamente por uma revitalização em HD (e um pacote de troféus, why not?).


HISTÓRIAS DE UM CONTO SÓ...



Radiata Stories foi um grande jogo, que se destacou entre as inúmeras compras de dvds pirateados durante a era do PS2. Infelizmente a Square-Enix não demonstra nenhum interesse em uma continuação da série. Radiata é de uma época que as desenvolvedoras lançavam grandes jogos como quem troca de roupa, e o total esquecimento por parte da produtora demonstra ser mais um daqueles casos em que eles nem se deram conta de como acertaram a mão na criação do game (eu podia fazer um post inteiramente dedicado a esse tema).

Radiata Stories era grande. Tinha gráficos lindos. Uma trilha sonora memorável (mesmo que não vá ocupar uma vaga em meu disputado mp3 do celular). Possuía um senso de humor raramente visto em jogos de videogame. A comparação deste jogo com GTA San Andreas não é exagerada, se você levar em conta como era viva e pulsante a cidade de Radiata. Personagens iam de suas casas até o comércio local. Passeavam tranquilamente pelas ruas da cidade. Se aventuravam em florestas e esgotos mal cheirosos. Apresentavam diálogos diferentes para diferentes momentos do percurso.
O município de Radiata apresentava um ciclo de dia e noite quase crível, com direito a gatos revirando latas de lixo na calada da noite e galo cantando ao raiar do dia.

Saudade foi a única coisa que restou aos fãs da série


Eu, como gamer, nunca me senti tão triste pelo fato de uma empresa não ter feito jus a um plural do título de um jogo, pois o mundo de Radiata e repleto de vida, bom humor e visuais capazes de te fazer parar para refletir. Me sentirei um pouco mais feliz se, com este post, tiver conseguido fazer um pouquinho mais de justiça nerd/gamer e indicado um game muito bom que deve ser jogado por todos os amantes de RPG e possuidores do finado mas célebre Playstation 2.


Au Revoir!

8 comentários:

  1. Poxa, está aí mais um jogo que entra pra lista de jogos bons do PS2 que eu preciso jogar. Tanto no PS1 quanto no PS2, eu deixei de jogar jogos ótimos por não ter amadurecimentos suficiente pra gostar deles. Me lembro que não gostava de RPG's nessa época, pois era muita história e enrolação e, veja só, hoje em dia, meu gênero preferido de jogos são RPG's, não só CRPG, mas também JRPG's. Me lembro que no PS2, eu cheguei a ter mais de 300 jogos - pirataria rolando solta! -, porém eu só jogava Guitar Hero, God Of War e PES. Pra mim, o requisito era: porrada rolando solta. Se não fosse GH ou esporte, o jogo tinha que ter porrada e não história. Mais uma vez, ótimo post e me desculpe pelo tamanho do comentário - eu tenho que parar de escrever comentários tão grandes! rsrsrs -.

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  2. caramba, Luis: 300 jogos? dificilmente vai acontecer de eu falar de um game de PS2 e vc não conhecer. rsrsrsrs. mesmo com a pirataria acho que nem juntando os meus jogos mais os dos meus outros 2 irmãos totalizava isso tudo. Radiata era muito bom, mas acho que a maioria nem ficou sabendo desse jogo. sobre a extensão do comentário, eu te desculpo pelo tamanho do seu comentário se vc me desculpar pelo tamanho do meu texto. rsrsrsrs.

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  3. Sim, 300 jogos. A pirataria era uma parada mt barata, eu ia com 20R$ e levava 10 jogos! E eu ia com umas notas de 50R$ de vez em quando, aí já viu. Desses 300, eu zerei só os dois God Of War, todos os GH e jogava constantemente PES, os outros, era uma horinha e já parava. Aliás, não, tinha dois outros que eu jogava direto: Os Incríveis - zerei ele jogando coop com meu irmão mais de 10x - e God's Hand que é um jogo muito bom e que parece um beat'em up tridimensional. E nem precisa pedir dsclp pelo tamanho do texto, pois adoro seus textos grandes, vc escreve mt bem. Seu blog foi um dos que eu me deu vontade de criar um blog novamente e o seu jeito de escrever é um no qual eu tenho me inspirado.Então, escreva mais textos enormes! rsrsrs (O comentário ficou gigante dnv, não consigo escrever pouco, rsrsrs)

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    1. R$20,00 e comprava 10 jogos? nossa, onde ficava essa ilha da fantasia dos games?rsrsrs. na época do PS2 eu comprava game a R$10,00 ou R$15,00. quando parei tava na casa dos R$7,00. depois comprei um PSP no final de 2009 e parei de comprar jogos pirateados. Dois meses depois eu e meus irmãos adquirimos o PS3, então nada mais pirata desde então. o engraçado é que antes de tomar a decisão de só comprar original eu tinha receio de que a quantidade de jogos cairia muito. mas como eu passei em um concurso público e melhorei de grana pude comprar todos os jogos que queria sem me preocupar muito. mas hj em dia mesmo quem não tem $ pra esbanjar com games pode comprar muito jogo bom por preço barato. é só ter paciência e ficar de olho nas promoções. só compra pirata quem quer. preço já foi desculpa (lembro que uma vez vi os caras vendendo God of War 2 original por R$300,00, acredite...). como vc falou que está lendo os posts do blog, gostaria de te indicar um texto que escrevi sobre pirataria. aqui vai o link, se gostar me fala. se discordar de algo me fala tb. saber a opinião dos leitores é o melhor controle de qualidade de um blog. http://maisumblogdegame.blogspot.com.br/2012/09/grandes-falacias-sobre-pirataria-de.html

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  4. Esse jogo eu tinha comprado pirata, achei engraçado mas ñ a ponto de jogar, só delois de um bom tempo q eu peguei para jogar, e vi como era tão divertido, ñ conseguia parar de jogar, até em uma certa parte o jogo funciona mais T.T.
    Enfim como vc disse Radiata é bem grande lembro já me perdi

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  5. Incrível como eu nunca ouvi falar desse jogo O.o e eu tbm aproveitei a pirataria, acho q tinha quase 200 jogos mas joguei fora boa parte. Infelizmente meus 2 Ps2 (prata e preto) não ta lendo mais os discos, acho q o leitor de dvd morreu :( agora não posso mais jogar Bully e muito menos Radiata.

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  6. Bully acho que você encontra fácil na Steam. Ou então pelo PS4, já que a Sony está portando alguns dos jogos de PS2 para o console atual. Radiata não tem jeito mesmo: só com um emulador ou no PS2. Uma pena que a Enix e a Tri-Ace não vêm demonstrando nenhum interesse em continuar a franquia.

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  7. Valeu! Achei o Bully na steam :) achei um jeito de usar o ps2 de novo, tem um programa chamado Unlauncher que permite que eu use um pen drive ou um hd com a iso do jogo.

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