No feriado de dia das crianças fui visitar um amigo que não via, pessoalmente, desde março deste ano.
Além de poder testar alguns jogos de um universo quase que
completamente desconhecido (leia-se Xbox 360), pude jogar o faladíssimo Diablo
3 e comprovar algumas das queixas das quais apenas tinha ouvido falar sobre o
game.
Além do Diablo 3, joguei algumas demos, como o fraco Binary
Domain e Alice Return to Madness.
A grata surpresa foi Silent Hill Downpour (a pronúncia é
pór, e não pur), um jogo arraigado aos moldes do passado (Zero de linearidade.
Inventário. Itens colecionáveis e etc..). Mas a surpresa mais grata ainda viria
por parte de uma empresa que foi comprada por uma outra grande multinacional e
que parecia ter a sua galinha dos ovos de ouro abatida em prol das altas cifras
e das ainda mais altas expectativas que o mercado impõe.
CABRA CEGA
Tirem as crianças da sala... |
Antes de continuar, queria atentar a um detalhe que me incomoda muito quando o assunto é indicar uma obra ou produção de entretenimento a alguém que eu conheça.
Não que isso seja uma vantagem, necessariamente, mas eu sou
uma pessoa que vá viu de tudo, ao menos quando de se fala em entretenimento: já
colecionei quadrinhos (passando pelas porcarias essenciais até as grandes
obras-primas); já joguei RPGs de livro; estou a par de uma boa variedade de
músicas; filmes passei pelos clássicos e pelos não clássicos. Jogos nem se
fala: gosto muito de conhecer de tudo. Quanto mais jogos eu tiver conhecimento,
melhor. Mesmo que nunca vá passar de alguns apertos de botões com a maioria
deles.
E é justamente por isso que detesto quando alguém tenta me
recomendar algo, seja para assistir, jogar ou ler. E sabe por quê? Porque as
pessoas não costumam ter um pingo de bom senso quando vão indicar algo a uma
pessoa que conhecem há séculos. Parece que são atacados por uma crise de
amnésia que os impede de se lembrar das coisas que você e a pessoa gostam em
comum.
Um breve exemplo: certa vez fui a uma daquelas lojas que
vendem (de forma totalmente ilegal) temporadas de animes.
Comentei, com o intuito de provocar e desafiar mesmo, que
gostaria que ele me mostrasse um anime que estivesse no mesmo nível de sagacidade que o ótimo Death Note. Um desafio bastante exigente e
pretensioso, eu sei. Mas sonhar não custa nada.
E, do alto de seu vasto conhecimento em incontáveis séries
japonesas, qual foi o desenho que o infeliz me recomendou, você se indaga?
DARKER THAN BLACK, uma série chatíssima que nos força a assistir mais de VINTE
episódios que saem de nowhere para chegar a lugar algum.
O engraçado é que o máximo de informações que obtive acerca
da trama desse desenho foi obtido através da total ausência de antolhos com
relação a spoilers por parte deste “grande conhecedor” de animações japonesas.
Esse queixume foge um pouco do âmago do texto mas, antes que
o leitor abandone a página do blog, tentarei deixar claro aonde quero chegar: EU, SIMPLESMENTE. NÃO SUPORTO PESSOAS QUE
NÃO TÊM A CAPACIDADE DE ENTENDER HUMOR REFINADO. É triste, e uma síndrome
que esbarra em várias carências (que, infelizmente, não podem ser supridas por
nenhuma espécie de vitamina conhecida pelo homem) de ordem social, intelectual
e de falta de sensibilidade para enxergar o óbvio mesmo.
Sabe quando você chega com um filme, jogo ou série bem
interessante ou engraçada, e aquela pessoa a quem você está querendo mostrar
faz a maior cara de paisagem que alguém pode estampar? Foi exatamente o que
aconteceu com Viva Piñata, um dos jogos mais alardeados pela Microsoft depois
da aquisição de sua mais nova galinha dos ovos de ouro, a Rare.
A janela que exibiu a paisagem? Meu velho amigo, dono do 360
e do PC testador de Diablo 3 citados acima, que parece não ter a capacidade de reconhecer humor de qualidade nem que este exploda e solte milhares de pirulitos na sua cara.
TIRANDO A VENDA
Sim, É tão bonito em tempo real quanto em fotos |
Viva Piñata foi lançado em 2006, apenas um ano depois da estreia do Xbox 360.
No jogo, da mesma equipe criativa de Banjo-Kazooie, você
encarna na pele de um jardineiro que tem a tarefa de cuidar de seu espaço para
atrair diversas criaturas coloridas conhecidas como Piñatas.
Sabe aquele boneco feito de barro, das festas infantis, que
é recheado de doces e pirulitos? Aquele mesmo, que você precisava destruir com
uma cacetada depois de ter sido vendado e rodopiado até ter uma crise de
labirintite (e ainda dizem que a infância é a melhor parte da vida...)? Aquilo
é uma piñata, ou pichorra, como a maioria de nós deve conhecer por causa da
série Chaves.
Eca! Prefiro as do jogo! |
E é aí que está a grande sacada da Rare: a ideia de cultivar um jardim recheado de pichorras baseadas em animais da fauna real é bastante criativa e empolgante. Isso se você não for uma daquelas pessoas iluminadas, como as citadas acima, que não têm a capacidade de perceber o grande potencial cômico de certas coisas.
COMO FUNCIONA A
BAGAÇA?
Corvus Infernae! Nem todas as piñatas são boazinhas! |
Viva Piñata me faz lembrar a estrutura de um famoso jogo de simulação, Sim City: você comanda um cursor que pode realizar várias ações, como bater com uma pá para afofar terreno; plantar grama; aguar plantas ou simplesmente selecionar objetos ou criaturas.
Depois que certos requisitos forem cumpridos, como o de X
metros quadrados de área verde, as primeiras piñatas começam a aparecer. Se a
safada gostar do seu jardim, ficará de vez para morar e mudará de cor no
processo. Aliás, as piñatas “forasteiras” são representadas pela cor...
preto-e-branca. Quando decide fixar moradia, a piñata adquire o seu verdadeiro
aspecto e fica totalmente colorida.
Quando tiver um casal, é hora de cumprir os requerimentos
pessoais para que as duas piñatas possam realizar a “Dança do Romance” (a
moradia adequada é fundamental para o sucesso), um hilário ritual de
acasalamento que pode (e deve) ser acompanhado de camarote pelo padrinho de
todo o relacionamento (no caso, você!). Mas não sem antes finalizar um minigame de dificuldade
variável, de acordo com a espécie de piñata em questão.
Onde há fumaça, há fogo, e novas piñatas são atraídas pela
presença de outras, em uma cena muito divertida que nos apresenta a nova espécie e seu nickname, geralmente um trocadilho bem engraçado.
A pirâmide alimentar vai se tornando cada vez mais complexa,
com piñatas cada vez mais exigentes que demandam determinadas condições de
alimentação, tempo e até de humor para se juntarem à festa.
A BELEZA DA NATUREZA
So colorful! |
Viva Piñata se sai muito bem em um aspecto que eu acho fundamental em jogos de videogame: a apresentação ao mundo ao qual vamos interagir.
A começar pelos gráficos, Viva Piñata é beleza pura. Extremamente
colorido, o visual do jogo, seis anos depois de seu lançamento, ainda é
surpreendente.
As pichorras possuem vários detalhes e cores que as tornam
únicas. E todo o resto do jogo é apresentado com belos gráficos (dos cenários
aos menus) que lembram muito a arte cartunesca de livros infantis. E tudo isso
apresentado por um agradável tutorial que nunca chega a cansar o jogador. Tá
achando que o jogo está tentando te ensinar algo que você já está careca de
saber? Um toque no botão B e tudo se resolve. Quer dar uma revisada em uma dica
ou saber mais detalhes sobre algum aspecto do jogo em particular? Um toque no
botão Y é o suficiente.
No aspecto sonoro, Viva Piñata brilha, ou melhor, reverbera
em alto e bom som.
A trilha do jogo, pelo que pude perceber pela demo, é muito
divertida. Esse é um ponto crucial para um jogo em que ficaremos horas
repetindo tarefas rotineiras, como arar a terra ou colocar casais de pássaros
para dançar tango.
Até a musiquinha de menu de pausa é engraçada e empolgante,
nos fazendo ter a certeza de que este jogo foi feito com base em muita
criatividade e amor aos games (e à natureza, por que não?).
O GOLPE CERTEIRO QUE
PÔS FIM À FESTA
Massacre em praça pública |
O golpe certeiro, neste caso, vem por parte dos próprios jogadores.
Críticas ao excesso de continuações e à falta de
criatividade nos games podemos ler (e ouvir e assistir) aos montes em vários
veículos de comunicação especializados em games. De fato, se os consumidores de games
fossem tão exigentes quanto parecem ser em suas críticas, com certeza fenômenos
como Resident Evil 6 não seriam tolerados ou vistos com tanta frequência como tem
acontecido nesta geração.
E é de cortar o coração ver que jogos cheios de vida,
inspiração, bom humor e criatividade como o alvo deste post não alcançam o
mínimo de vendas e aceitação por parte do público para que sequências sejam
produzidas e seu universo seja expandido.
Viva Piñata teve uma continuação, Trouble in Paradise, que
provavelmente fez tanto sucesso quando seu antecessor. Sucesso esse que,
obviamente, não foi o suficiente para colocar os jardins apinhados de
criaturinhas coloridas de volta aos holofotes do mundo dos jogos.
A postura das gananciosas desenvolvedoras de jogos é sempre
alvo de ataques e críticas por parte de fãs raivosos, mas quando chega a hora
de dar valor à criatividade e a iniciativas com a pretensão de inovar, os
lançamentos altamente hypeados com vários algarismos no título falam mais alto,
e colocam obras como Viva Piñata em seu devido lugar: o mais baixo nível da
cadeia alimentar autocanibalista dos blockbusters que se vendem, em grande parte, pelo nome e
base de fãs.
A Rare, com seu belo Viva Piñata, é vítima da falta de bom
humor de jogares engessados que parecem não ter a capacidade de compreender
humor refinado.
Viva Piñata pode ser classificado como um “jogo das
antigas”, vindo de uma época em que a criatividade apenas já era o suficiente
para garantir boas vendas, e não um fator excludente nos lucros de uma grande empresa.
Mas a empreitada da Rare já valeu a pena por conseguir algo
quem nem mesmo os Halos, Gears of War ou Alan Wakes da vida conseguiram: me
fazer sentir uma pontinha de inveja dos proprietários do console das três luzes
vermelhas.
Vegetais também têm seu lugar ao sol no belo jardim que é Viva Piñata |
Au Revoir...
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