A premissa de Portal é bastante simples: você controla uma
personagem que está presa em um grande laboratório com ares de fábrica
high-tech.
Sua missão: resolver enigmas impostos por uma inteligência
artificial que atende pelo nome de GLaDOS (Genetic Lifeform and Disc Operating
System). Pronto. Tudo que há para se contar sobre o enredo de Portal 2 foi
resumido nas linhas acima.
Portal 2, ao meu ver, pode ser enquadrado na mesma categoria
de jogos como Limbo; Journey; Mirror’s Edge e tantos outros.
Não que haja uma pretensão artística por trás dele , longe
disso. É que esse game segue a mesma linha dos jogos citados acima: premissa
simples, que dificilmente sofrerá alteração durante todo o jogo; forte apelo
visual; público de nicho; outras características recebendo mais destaque que a
ação propriamente dita; baixo fator replay e etc..
E isso é uma algo ruim? Claro que não! Portal, assim como os
outros jogos citados, são um sopro de criatividade para quem já não aguenta
mais estourar cabeças de zumbis/alienígenas/nazistas.
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Só faltou as duas bolas pra complicar... |
A premissa de Portal 2, mais uma vez, é bastante direta.
Toda a estrutura do jogo é tão simples quanto o ato de passar por uma porta e
sair do outro lado (se é que deu pra entender a comparação), e é mais ou menos
isso o que será visto em quase todo o seu decorrer. Sua fórmula é mais direta
que receita de bolo: você entra em uma sala de testes; se distrai com algum
gracejo de GLaDOS; dá uma olhada em um painel que resume os perigos que serão
encarados no desafio; resolve o enigma (por meio da sua Portalgun, que me lembra
muito a X Buster de Megaman); pega um elevador e começa tudo de novo. A curva
de aprendizado dos enigmas é bastante sutil e respeitosa com o jogador: portais;
cubos; lasers; cubos refletores de lasers; plataformas de salto; pontes de luz
sólida; turrets; gel; túneis de energia; ou tudo isso quase que ao mesmo tempo,
se o seu cérebro aguentar o tranco.
E sabe o que é mais curioso? É que você vai seguir esse
esquema por horas de jogo, tendo que se obrigar a parar de jogar e não ceder à
tentação de resolver “só mais um”.
Jogos com estruturas simples costumam dar um melhor
polimento a outras características, e é nesse quesito que Portal 2 brilha com
resplendor.
O humor do jogo é muito bom (mesmo com toda a verborragia e
velocidade nos diálogos). Bom como eu não via há muito tempo, em jogos como
Super Mario RPG; Radiata Stories ou Lego Star Wars.
Mas não se engane. Não há nada de infantil ou pastelão aqui.
O humor de Portal é ácido; cruel; cínico; inteligente; sarcástico; mordaz. Bem,
acho que sem querer, acabei de descrever a personalidade de GLaDOS, sendo que
esqueci de acrescentar o item vingativo à lista.
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Seu nome não é Dave, mas ainda assim quero te matar |
“GLaDOS” nutre um rancor quase humano pela protagonista do
game, pelo fato dela ter sido a responsável direta pela sua “morte” (se você
chegou longe no jogo, certamente entenderá a razão das aspas). Isso é muito
evidente, graças à (ótima) dublagem da voice actress de GLaDOS, que consegue
passar tanto veneno e cinismo que quase dá pra cortar com uma faca. Mas não sem
se ferir no processo...
Não joguei o primeiro Portal. Infelizmente não saiu para
Playstation 3. Mas dá pra perceber, ao decorrer do jogo, que a relação entre as
duas não é das mais saudáveis, envolvendo ataques pessoais; ameaças de morte
indiretas e todo tipo de terror psicológico que a mente calculista de uma
inteligência artificial pode realizar.
Claro, apesar de sua ideia inovadora, interessante e
inteligente, Portal 2 ainda é um jogo de videogame, e está sujeito a falhas
como qualquer outro produto. A começar pelos gráficos.
O jogo não é feio. Longe disso. Mas, quando paro para pensar
que os desenvolvedores não precisaram se preocupar com taxas de quadro por
segundo; quantidade de personagens ao mesmo tempo na tela; resolução de cenas
de vídeo (pois todo o game é em tempo real), não consigo deixar de desejar que
o jogo tivesse texturas mais detalhadas e bem trabalhadas e visuais mais
“realistas” em geral. Os
loads também poderiam ser bem mais curtos, se uma maior quantidade de dados
fosse instalada no disco rígido. E o visual da personagem principal é simplesmente horrível (sim, Portal 2 é um FPS, que nesse caso pode ser traduzido
como “Front Portal Shooter, mas dá pra ver o personagem controlável, graças
aos... portais!) . Ela é desengonçada e me lembra muito a animação de NPCs do
Fallout 3.
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Portal, portal meu: existe alguém mais desengonçada que eu? |
O design das fases é excelente. Criativo (mesmo com a
repetição do mesmo ambiente no começo do jogo) e bastante inspirado, remetendo a
games como o já citado Mirror’s Edge e Bioshock. É muito interessante ver os
cenários do laboratório sendo reconstruídos por máquinas que lembram aqueles
braços robóticos de montadoras de carro.
Tudo é muito limpo e hospitalar em Portal, e eu não ficaria
nem um pouco surpreso se descobrisse que algum design da Apple participou da
criação da arte do jogo.
Na parte sonora o jogo também não faz feio. A dublagem de
todos os personagens da trama é de alto nível, com belos efeitos de
“robotização” e eco (adoro a voz feminina dos turrets). Atenção especial aos
sons de botões sendo pressionados; plataformas de pulo; escorregada no gel (puro Space Paranoid);
raio laser e tiros de turrets. Muito originais e divertidos de se escutar,
nunca tornando a tarefa de pressionar o mesmo botão pela milésima vez em uma
coisa repetitiva.
CONCLUSÃO
Portal 2 é a prova cabal de que uma boa história, aliada a
um conceito simples e boa jogabilidade, pode carregar qualquer estilo de jogo
nas costas, sem a necessidade de torrentes de tiros (ao menos não vindos da sua
personagem) ou multidões enfurecidas de zumbis.
VALE O DINHEIRO
INVESTIDO? Sim, cada centavo. Claro, se você é daqueles que não consegue
jogar mais de vinte minutos sem atirar em um soldado de sotaque alemão, ou acha
que Sudoku é um tipo de termo chulo, dificilmente se identificará com o jogo. Mas,
caso goste de um desafio de tostar os neurônios, já sabe onde encontrar.
Portal 2 é inteligente; inovador e massivamente divertido.
Eu sei, copiei os dizeres da contracapa do game, mas isso não torna as
afirmações menos verdadeiras. Para apreciar toda a qualidade de um jogo como
esse, faz-se necessário começar a pensar com portais. Eu já come│ │cei. E você?
Au Revoir!