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domingo, 17 de junho de 2012

CASO DE POLÍCIA: JOGANDO L.A NOIRE


















A minha lista de decepções nessa geração está ficando quilométrica. Jogos que pareciam ser apostas certas vêm se revelando desagradáveis surpresas a cada novo jogo comprado. A bola da vez é o super alardeado L.A Noire, da (toda poderosa) Rockstar Games.


O MUNDO A SUA VOLTA











A característica mais fácil de notar em Noire, obviamente, são os seus gráficos (atalho para não ter que digitar esse nomezinho chato. Um pouco de cultura dispensável: Noire é o feminino da palavra francesa Noir, que quer dizer negro, escuro). O jogo é muito bem trabalhado, com um nível de detalhes impressionante. A dublagem dos atores é de alto nível, assim como a sincronia e expressões labiais. Impecáveis. Um modelo a ser seguido daqui pra frente, não resta dúvida.
E, como você deve saber, Noire conta a história do policial Phelps tentando resolver diversos casos policiais. Nas cenas de crime, o jogador pode manipular objetos (por meio de zoom e rotação); fazer anotações relevantes ao caso (não diretamente, claro. Não é um jogo de Wii U); perseguir suspeitos; participar de interrogatórios e etc..
Mas, para continuar o texto preciso fazer uma pergunta: você conhece o jogo de 2005 chamado Grand Theft Auto San Andreas?
Se a resposta for sim, fica mais fácil explicar o tamanho da expectativa que L.A Noire causou no mundo dos videogames.
Poder vagar por uma Los Angeles fictícia dos anos 40, resolvendo as mais variadas missões em um vasto mundo aberto cheio de quests e detalhes interessantes para serem descobertos pelo jogador: era isso que se esperava da criadora de mundos Rockstar Games. Não é exagero não. Em se tratando de Rockstar, todos sabem como a promessa de tal parque de diversões a céu aberto é fácil de ser concretizado com maestria. Infelizmente, não foi bem o que aconteceu aqui.


CULPADO ATÉ QUE SE PROVE O CONTRÁRIO

O QUÉ QUE CÊ FOI FAZÊ NO MATO, MARIA CHIQUINHA?











É fácil resumir a estrutura de Noire logo nos primeiros minutos de jogo: um crime acontece. Você chega à cena do homicídio. Coleta pistas e provas acerca do caso (uma coisa bem chata e que não posso deixar passar batido é o tutorial do jogo. Durante as investigações, você é instruído a prestar atenção a pequenos detalhes na reação dos suspeitos. Até tudo bem, pois o estado de arte que o jogo alcançou em sua parte gráfica te permite perceber tais nuanças facilmente. O problema é conseguir se concentrar quando comandos básicos ficam aparecendo a todo instante no canto superior esquerdo da tela e fazendo um barulhinho, apenas para desviar a sua atenção. Sério: quantas vezes os idiotas que cuidam destes detalhes em um game acham que precisamos aprender que “a alavanca analógica esquerda serve para passar as páginas de uma caderneta”?). Visita locais relevantes à resolução do ocorrido (geralmente uma loja de armas). Persegue e prende suspeitos. E pronto: sensação de dever cumprido. Mas não por parte do jogador, infelizmente.
L.A Noire peca, logo de cara, em um aspecto fundamental para um jogo de polícia-e-ladrão: a jogabilidade dos veículos é bastante sensível. Chega a ser hilário o fato de estar no comando de um agente da lei (que deveria servir e proteger) que atropela e causa ondas de destruição ao patrimônio público por pura imperícia ao volante. E outra: de que serve uma sirene de carro de polícia se os automóveis não abrem caminho, como acontecia no (adivinhem) GTA San Andreas?
Mas, como os momentos de direção não abrangem uma parte muito grande dos casos, posso dizer que esse é o menor dos problemas do jogo. Ainda sobre a jogabilidade dos veículos, gostaria de saber por que a câmera filma A FRENTE DOS CARROS quando damos marcha ré. Diabos! Será que as desenvolvedoras realmente não jogam o produto de seu próprio suor? Ou será que elas só contratam beta testers deslumbrados sem senso de julgamento? Continuando...
A parte mais crítica, que concentra 99% das falhas de Noire (ao menos até onde cheguei) é durante os interrogatórios.
Três palavrinhas resumem o aspecto do jogo que deveria ser a menina dos olhos da obra da Rockstar: TENTATIVA E ERRO.

Os interrogatórios são muito, mas muito, sacais. Totalmente anacrônicos e parecendo que foram criados com uma mentalidade de duas gerações atrás, eles são o maior exercício de tentativa e erro que eu presenciei, até o presente momento, em um jogo da atual geração ( e olhe que eu estou levando Dead Space 2 em consideração). Explico: depois de visitar a cena do crime e coletar evidências, você deve interrogar suspeitos para tentar chegar ao fim do caso. Cadernetinha em mãos e muita paciência, o jogador deve escolher entre opções que atestem que o suspeito está mentindo ou dizendo a verdade. Nada mais natural, pois se trata de uma investigação. O problema é que o jogo, nessa parte, é totalmente tacanho e preso nos trilhos.
O tutorial te aconselha a prestar atenção às expressões e reações do suspeito. Como já disse, um ponto altíssimo do jogo. Só que, se você escolher a opção “errada”, não há variações ou desfechos alternativos no desenrolar do caso. A função do policial Phelps é mais de inquisidor do que de investigador, tentando provar de todas as maneiras possíveis que "naquele mato tem coelho".
Durante a conversa, surgem “alternativas” como Lie; Truth e Doubt (essa devia ser a mais utilizada, por razões óbvias). Mas, como eu disse antes, elas servem apenas para constituir o sistema de tentativa e erro do jogo. Vamos supor o seguinte: você está entrevistando um suspeito. A conversa revela algumas informações e caberá a você (com base nas pistas de que dispõe) julgar se o camarada está dizendo a verdade ou mentindo. Se o sujeito estiver mentindo e você escolher a opção Doubt, o jogo te punirá por não ter adivinhado que ele mentia e o interrogatório acabará. Aliás, antes acabasse! Toda a cena é reiniciada, sendo que alguns diálogos não podem ser cortados. Se houver cinco perguntas a serem respondidas e você errar na última, o suspeito se fecha em uma concha e se faz de surdo, levando a uma cena em que você leva um esporro do seu chefe e todo o maçante processo se reinicia, sem direito de defesa. Para remediar um pouco a situação, há um sistema de pontos que envolvem a Intuição do policial Phelps. Ainda não usei, mas acredito que seja um tipo resolução automática para o caso. Triste, pois em um game de investigação eu quero... investigar. A última coisa que eu gostaria é de uma opção mágica que resolve tudo pra mim, do nada.
Nesse sistema não há espaço pra sutileza, improvisos, pequenos detalhes, tiques nervosos ou mentira óbvia e descarada mesmo. Nada de investigar mais a fundo a vida do suspeito, ou mandado de busca na casa do indivíduo. Há, sim, um sistema de múltipla escolha tão maçante quanto a mais maçante das provas de um vestibular. Pena que L.A Noire não se passe no Brasil, pois só assim contaríamos com a opção de descer a mão no interrogado e fazê-lo confessar na marra (mais uma vez, com o perdão do clichê).

Aliás, a falta de liberdade de Noire chega a ser um caso de polícia, com o perdão do trocadalho (de novo).
Com exceção das cenas de crime, não dá pra mexer em nada. Mesmo o jogo te ensinando que o botão quadrado serve para iniciar diálogos, ninguém na cidade parece estar interessado em bater papo com o policial, a menos que se esbarre em alguém. Bem temida essa polícia da década de quarenta.
Não há nada para coletar. Os lugares indicados com uma maçaneta dourada, que indica que a porta em questão pode ser aberta, só podem ser acessados durante os casos. Faria bastante sentido, pois um policial que se preze não vai estar por aí entrando em casas alheias a torto e a direito. Sim, faria sentido se não estivéssemos falando de tabacarias, lanchonetes e lojas de toda a espécie.
O mapa, por sua vez, só mostra localidades de missões se o jogador selecioná-las manualmente, coisa que logo nas primeiras horas de jogo se torna tarefa desnecessária e irritante.


CASO ENCERRADO?

SE CORRER O BICHO PEGA. SE FICAR...











É triste ver como um jogo tão bem acabado e bonito sofre de problemas (de lógica e de jogabilidade) tão básicos.
Quando as desenvolvedoras irão aprender que belos gráficos, por si só, não fazem um jogo? Eu, particularmente, prefiro um vasto mundo pixelado a um belíssimo beco sem saída em alta definição.
Mesmo jogando na pele de um policial, a sensação que tenho com L.A Noire é a de ser um prisioneiro em um mundo fascista e tirano, disfarçado com o melhor que a alta definição pode proporcionar. E sem direito ao meu advogado!
Mas uma vez, fico na torcida e esperando pela resolução de mais esse caso, que parece estar longe de acabar.

VALE A COMPRA? Até agora, não. Mesmo não tendo a obrigação de ser um GTA, eu esperava mais liberdade e variedade na maneira de resolver os casos. Um pouco de exploração descompromissada (em forma de rondas policiais? Tá vendo como há um jeito pra se colocar tudo dentro do contexto?) seria muito bem-vinda. Alguns aspectos da jogabilidade poderiam ser um pouquinho melhores também.
Me surpreenda, Rockstar. Me surpreenda!

Au Revoir!

10 comentários:

  1. Quem diria, de entusiasta a um crítico amargurado. Suas análises que eram apaixonadas e destacavam a diversão dos jogos se tornaram amargas e seus 3 ou 4 ultimos textos agora lembram filmes noir ( me perdoa o trocadilho). Jogos são diversão nobre bloger Shadow, não olhe só com um olho. Depois de um tempo na vida gamer não há jogo que não decepcione, mas a grande graça é descobrir o que há de bom, o que ainda diverte. Jogue o jogo amigão!

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  2. Querido anônimo (que disse que não comentaria mais como anônimo), escrevo com entusiasmo quando realmente estou entusiasmado com um jogo. os reviews supremos que escrevo são os textos mais longos, mas que escrevo de forma mais rápida e mais no improviso que quaisquer outros posts. se o jogo decepciona, não tem como levar no bom humor. é fácil falar bem de um jogo que só te traz boas lembranças. se eu só escrevesse para falar bem, apareceria alguém com quatro pedras na mão me acusando de não ter opinião.
    é triste ver um site como IGN dando 9.2 para um jogo com os problemas de L.A Noire: justo onde o jogo mais deveria empolgar (nos interrogatórios) é onde ele mais decepciona, te obrigando a acertar a opção "certa" para poder prosseguir.
    seu meus posts estão mais para o lado negro da força (rsrsrs) é um sinal de meu descontentamento com a atual geração de games, que raramente está conseguindo surpreender os jogadores mais dedicados.
    de qualquer forma, esse texto tratava das minhas primeiras impressões com o jogo. eu realmente queria estar errado e poder me retratar, num futuro post, pois Noire foi um jogo muito aguardado por mim.
    valeu pela participação.

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  3. Grande Shadow, um apaixonado por games e ainda mais pela interação social, lembrando com carinho de mim um réles achivement...
    Pior é que me pego tbm sendo as vezes muito crítico com um jogo, descobrindo depois é que deveria me divertir e ver não as imperfeições(é muito mais fácil) as descobrir o que ele tem de bom e fantástico. Todos contam algo de maneira única, vc deixou passar que o Deus Ex trata de transumanismo e ainda mais sobre o que nos faz humanos. Vc no começo do jogo é fraco e débil e o quanto da sua humanidade vc resolve preservar em troca do final do jogo? Mesmo dilema, mas sem a mesma liberdade de Bioshock. L.A trata do quanto é massante e difícil investigar, detalhoso, meticuloso...
    Já temos vozes demais para dizer o que não funciona, salta aos olhos, mas o que marca, o que torna a expêriencia única esta no que bons olhos enxergam. Adoro seus textos, não deixe o lado negro da força te levar.

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  4. Percebo que você, assim como muitos outros jogadores, focam demais no que é novo mesmo sendo ruim. Que tal jogar coisas boas do passado que ainda não teve oportunidade de conhecer? Quem sabe aparece um review supremo de um game clássico por aqui...

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    1. Este comentário foi removido pelo autor.

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    2. Fernando, se você prestar um pouco de atenção à data de lançamento dos jogos dos meus textos, verá que a maioria se trata de jogos mais ou menos antigos. não dou mais atenção a um jogo por ele ser novo. o fallout 3, por exemplo, é de 2008 (uma eternidade para alguns). eu simplesmente me concentro no que eu estou jogando no momento, pois é mais fácil falar de um jogo que está fresco na mente. estou preparando um review do Doom, do Bioshock e do Resident Evil 4. mas a dificuldade é ter tempo para jogar esses jogos mais velhos pra poder me lembrar das minúcias que tornam os jogos pitorescos. não acho que LA noire seja ruim. e o texto é sobre as primeiras impressões que tive com o jogo. além do mais, meu julgamento (e o de ninguém) é verdade absoluta. uma coisa que é boa pra você pode ser ruim para outra pessoa. se você gosta de uma coisa ruim por falta de cultura, ou por não ter experimentado outras coisas de um nível mais alto, aí já é outra história (usando um exemplo clássico: se você assistia ao desenho ThunderCats, dificilmente iria gostar do clone paraguaio SilverHawks. mas uma criança que nunca viu o primeiro provavelmente adoraria o último).

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  5. Shadow Geisel,

    Até reconheço que são jogos meio antigos, mas mesmo assim são recentes. É que eu vi em todo lugar reviews criticando L.A. Noire, mesmo admitindo ser um bom game de investigação. Aí vejo você 1 ano depois fazendo as mesmas críticas e me deu uma ligeira impressão que você não tinha lido nada à respeito, hehehe

    Meu problema é que sou meio rabugento com esse negócio de todo mundo bater na mesma tecla com reviews, falando dos mesmos games.

    Eu prefiro ver reviews de games pouco comentados ou antigos por ser algo que provavelmente passou batido pelos grandes portais de games.

    Por isso, aguardo ansiosamente os reviews dos games citados. Aliás, se puder, faça o review dos ThunderCats. Ia ser muito legal :)

    PS. A abertura dos SilverHawks era melhor

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  6. realmente, Fernando, eu não tinha visto muita coisa de Noire antes de jogar. vi um review do GT que apontava como principal defeito do jogo um esquema repetitivo dos casos (que eles sempre seguiam um padrão, do suspeito fugir e vc ter que persegui-lo). não gosto de ler muito sobre um jogo antes de fazer um review, pois isso tira a particularidade do meu texto.
    um review dos ThunderCats fica meio difícil, até porque não é a proposta do blog (não que seja impossível. tem umas coisas bem engraçadas que eu penso sobre o desenho, que tem a ver com a minha infância). eu acho a abertura dos ThunderCats imbatível, mas gosto é gosto.
    o review dos jogos citados vai demorar um pouco, pois tem muitos na fila de espera e pouco tempo, mas como estou meio decepcionado com a atual geração de games, vai acabar sobrando mais tempo pra escrever, à medida que vou jogando menos. abraço.

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  7. Por favor eu desiste desse lixo, por não saber dar marche ré. alguém pode me dizer? já apertei todos os botões, fiz todas as sequencias de botões e essa merda não volta. só anda pra frente.. dinheiro jogado no lixo, vou quebrar essa porcaria. jogo mais frustrante que já jogeuei. lixo de game só tem gráficos.

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    1. Anônimo, pra dar marcha-ré no controle do PS3 pressione L2(acredito que seja essa a sua versão. se não for, aperte LT no xbox).
      eu tô com muitos jogos no momento, e pouco tempo pra jogar tudo e escrever. um jogo que eu detestei no começo foi o GTA 4 e o Mass Effect 2. depois vi o erro que tava cometendo ao não dar uma chance maior a esses jogos. resumindo: GTA 4 eu jogo todo domingo, sem falta. Mass Effect 2 é uma paixão na minha vida gamer que ainda vai ganhar um review supremo. ou seja: adoraria estar enganado sobre o Noire. ainda vou dar outra chance pra ver se ele me conquista ou se mando ele pro xadrez de uma vez por todas.

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