Jogos de zumbi viraram um gênero. Isso é fato. E, se uma empresa quer chamar a atenção dos jogadores, basta lançar no mercado um jogo sobre apocalipse zumbi que, se for minimamente competente, conseguirá bons lucros no processo.
Dead Nation; Left 4 Dead; Dead Rising; Plants vs Zombies; Dead Block; Zombie Apocalypse; Rock of the Dead; The Last Guy; All Zombies Must Die; Fortnite. A lista é quilométrica. Isso sem citar aqueles jogos que ganham um modo zumbi que incrementa o jogo principal, como Red Dead Redemption e Yakuza.
Um dos jogos mais esperados dessa “zumbigrafia” é Dead Island, da Techland (total desconhecida por mim, admito). Esse jogo começou fazendo um bocado de estardalhaço, devido ao seu trailer que mostrava os eventos “de trás pra frente” de uma família sendo atacada pelos mortos-vivos.
Esse trailer é bem legal, e capta todo o desespero de estar numa ilha cheia de zumbis tão rápidos quanto maratonistas. Eu confesso que só assisti a esse trailer depois de ter comprado o jogo, o que é bom, pois seu eu tivesse visto antes, ficaria com coceira para jogar o mais rápido possível. Já de posse do mesmo, posso começar a minha (pequena) lista de primeiras impressões sobre Dead Island.
1-GRÁFICOS
Nesse quesito, o jogo não decepciona. Dead Island acontece na ilha ficcional de Banoi. E todos os elementos que compõem um cenário palpável que esse tipo de jogo de exploração exige estão lá. O jogo começa em um resort, depois de escolher um dos quatro personagens selecionáveis. Logo no começo, dá pra perceber que o pessoal da Techland não brincou em serviço, pois conseguiu não só entregar o prometido, como também impressionar e surpreender os olhos já acostumados do jogador com cenários paradisíacos de praia, estradas, prédios, quiosques e etc. Mesmo um iminente ataque zumbi não consegue desviar a sua atenção dos belos efeitos de luz, partículas de poeira, folhas ao vento, a belíssima água e outras texturas menos importantes, como estofados de móveis, superfícies de madeira, ferro e outras mais.
Visualmente falando, esse é o tipo de jogo que nós jogamos nos perguntando: “pra quê tudo isso?”, tamanha a beleza e detalhismo da ilha como um todo. Vale a compra, nem que seja apenas pelo visual impressionante.
2-SOM
Sem dúvida, o maior mérito de Dead Island é no quesito de som. Não falo apenas da trilha, que é muito boa e me lembra filmes western da década de 60. Me refiro também aos efeitos sonoros em geral, como ataque, passos do protagonista, os diálogos dos npcs, e o principal: os grunhidos dos zumbis. Aqui, preciso entrar em um outro departamento, para explicar o porquê de Dead Island ter causado a impressão que causou em mim logo nos primeiros minutos de jogo.
Eu não consigo levar sustos com games. É fato. Mesmo jogando sozinho, trancado no meu quarto escuro, não consigo me impressionar fácil com os games que supostamente se prestam a essa tarefa de assustar o jogador. Em jogos como Resident Evil ou Silent Hill, sempre achei os elementos de terror mais engraçados que assustadores. Joguei jogos como Fatal Frame e não consegui levar um susto se quer. Alone in The Dark 4, por exemplo, eu jogava fazendo jus ao título que o game carrega: sozinho, no escuro (apenas a luz do PC), acompanhado por um tenebroso corredor que teimava em “olhar” para mim de vez em quando. Sou um pouco sangue frio com relação a isso. Confesso. Mas com Dead Island foi diferente.
É engraçado como um jogo que se passa (ao menos no começo) de dia consegue te deixar tão apreensivo. Pelo fato do primeiro capítulo do single player ter todo aquele clima de férias de verão em Acapuco, tive um pouco de dificuldade em me sentir ameaçado pela atmosfera praiana do game. Isso, até ser surpreendido pela primeira zumbi escandalosa que veio gritando de surpresa pelas minhas costas e me fez retribuir o grito na mesma proporção. Para ele eu tiro o chapéu, pois um game que consegue me dar um susto logo nos primeiros vinte minutos de jogatina merece ganhar um troféu de platina.
O som do vento; os seus próprios passos; gritos distantes de desespero; grunhidos ao seu redor e vindo de todos os lados; todos esses elementos sonoros conseguem causar uma atmosfera de suspense que eu não via há muito tempo nos jogos de videogame. E, meu Deus, como gritam os zumbis desse jogo. É algo impressionante (e assustador) a forma como os inimigos vêm correndo pra cima de você, rugindoe bufando de desespero e dor. Até quando já estão mortos eles gritam. Experimente chutar um cadáver e verá.
Diante desse festival de sons aterrorizantes, a nossa curiosidade em encontrar inimigos diferentes (assim como as tão desejadas armas de fogo) aumenta a cada minuto de jogo.
3-GAMEPLAY
Independente de todas as críticas que eu ouvi antes de decidir comprar o jogo, Dead Island é muito bom de se jogar. Em um dos reviews que li (ou foi um vídeo? Não me lembro), o analisador afirmava que, apesar dos seus defeitos, o jogo prezava muito pela exploração e busca por itens. E é a pura verdade. Vasculhar malas; carteiras; gavetas; armários; tudo isso aumenta a nossa vontade de sair por aí andando a esmo apenas para achar novas construções e localidades. Mas aí entra um problema que pode atrapalhar um pouco essa sensação de sandbox que o jogo oferece: o sistema de save.
Nesse jogo, não há o comando save. O jogo salva automaticamente em determinados pontos. Se você morrer (e pode apostar que isso vai acontecer logo no início da partida), você volta àquele ponto com todos os equipamentos e da mesmíssima forma como chegou. Se você sair do jogo, retornará à área principal do capítulo, com todos os itens dos cenários reiniciados, inclusive alguns inimigos que já tinham sido mortos (de novo) por você. Frustrante, poder explorar uma belíssima ilha paradisíaca sofrendo de crises de amnésia brava. Por outro lado, esse fator de tosqueira pré-memory card serve para aumentar ainda mais o clima de tensão e perigo com o qual o game cerca o jogador. Dificilmente você colocará o disco do game para uma "partidinha descompromissada".
Outra coisa muito interessante no jogo é a forma realista como o protagonista interage com os elementos do cenário. No controle de Logan, pela primeira vez em décadas jogando FPSs, tenho a real impressão de estar controlando uma pessoa que usa o esquema “um pé depois do outro” para caminhar, e não um personagem superleve feito de palha que parece se locomover sobre patins. Falando em pés, é possível visualizar os membros inferiores de Logan ao olhar para baixo (gostaria de deixar bem claro que quando falo membros, me refiro às pernas e pés), coisa que eu acho muito legal em jogos desse gênero (como no ótimo Mirror’s Edge).
Outra coisa que eu gostei, particularmente, foi o sistema de habilidades e evolução do personagem. Cada zumbi que você mata te dá uma quantidade de experiência. Isso elimina a velha matança sem sentido que é tão comum em jogos sobre apocalipse zumbi.
No jogo, as armas se desgastam. Muito razoável, pois desmembrar, esmagar ou decapitar um ser humano com um objeto e ainda querer que ele não sofra nenhum desgaste é pedir demais. Há quem reclame que as armas se “quebram” muito rápido. Eu, pessoalmente, não achei isso. Mesmo porque há a opção de reparar seus itens, pagando uma baixa quantia em dinheiro. E já que estou falando sobre armas, queria ressaltar (antes que eu me esqueça) como o combate de Dead Island é fluente, divertido e impactante. É muito bom decapitar os zumbis. Cortar seus braços ou simplesmente chutar seus traseiros apodrecidos até a (segunda) morte. Isso é essencial em um game que fala sobre sobreviver ao custo da “vida” de milhares de zumbis famintos.
Outro aspecto de gameplay muito bom nesse jogo é a sua dificuldade. Logo na primeira missão, aquela de recuperar o cartão eletrônico, eu me desviei do caminho e fui explorar para ser feliz. A bela ilha de Banoi me ensinou a dura lição de que passear acompanhado de uma multidão de zumbis enlouquecidos não é lá uma das idéias mais inteligentes que se pode ter. Se você ainda não jogou, não tem noção de como os zumbis desse jogo são rápidos e assustadores. O simples lamento vindo de um quartofechado já é o suficiente para fazer você pensar duas vezes e computar cada arma de seu inventário antes explorar uma nova localidade. Já na segunda missão, a de usar o cartão eletrônico, eu me vi em um terrível impasse diante da magnética e aterrorizante atmosfera do jogo: seguir com a missão ou me aventurar em uma convidativa estrada deserta que estava a minha esquerda? A visão de um zumbi do tipo Thug, ao longe, me fez decidir pela primeira opção.
CONCLUSÃO DAS PRIMEIRAS IMPRESSÕES
Se você gosta de jogos com atmosfera imersiva, clima de tensão e dificuldade desafiadora, com certeza vai gostar muito de Dead Island. A exploração dos cenários é muito incentivada pelo próprio design do game, e você terá que se segurar para não sair por aí procurando sarna pra se coçar na ilha. O combate é muito brutal e dinâmico, te oferecendo tanta liberdade quanto o ato de sair por aí matando pessoas que já estão mortas pode te oferecer.
Dead Island é muito bem acabado, apesar de algumas falhas , como castelos de areia indestrutíveis e um ou outro objeto mais “tímido” em interagir com o jogador (heim, bola de praia?). Algumas coisas no jogo soam bem estranhas, como a fácil (e sem questionamentos) aceitação do protagonista em sair por aí roubando coisas alheias ou o porquê de todas as pessoas da ilha terem virados canibais insandecidos. Mas Dead Island não deixa de brilhar por causa desses meros detalhes, e cumpre as nossas expectativas de tirar férias em uma ilha infestada por zumbis.
Au Revoir!