Esta época de pandemia
não tem sido nada fácil. No momento em que publico este post, já faz quase dois
meses que eu não saio de casa pra nada além de trabalho, trabalho e mais trabalho.
Mês passado minha antiga T.V. LCD (que já entrava em seu décimo aninho de vida)
resolveu pifar do nada.
Dessa forma, uma reles
ida a uma unidade do Bompreço pra comprar uma nova foi saboreada por mim quase
como um conto de viagem ao redor do mundo do meu escrito favorito, Jules Verne.
Fora isso, uma semana seguida da outra de trabalho, casa, trabalho, casa...
Eu sei que, por
enquanto, não tenho nada do que reclamar: mesmo executando um trabalho de risco
(entrego papel na casa das pessoas), eu e ninguém próximo a mim adoeceu ou
perdeu a vida. E espero que continue assim. Mas, e quanto aos games, visto que
este ainda é um blog criado pra falar deles?
"Quando eu contar até três e estalar os dedos, você vai acordar pensando que Resident Evil 3 Remake é um bom jogo..." |
Com relação a games,
praticamente todos os jogos que se encaixam no contexto de “muitas horas livres
sem sair de casa pra quase nada” já foram devorados por este que vos escreve. Eu
adoraria poder pressionar um botão de “esqueça tudo que sabia sobre o jogo X”
e me aventurar de novo em mundos vastos com os de Stardew Valley, Infamous Second
Son, Fallout 4 ou Dying Light.
Felizmente ou não, a
vida teima em não imitar a arte e tudo que me restou nesses dias (além de um
GTA 5 ainda não finalizado que estou reservando pras férias de junho) foi um final
de semana sem qualquer acesso à internet (a velha história do caminhão do mal
que passa cantando pneu e arranca o fio da sua conexão sem dó nem piedade).
Privado da minha
liberdade de locomoção e de conexão virtual com o restante do mundo, só me
restou continuar a minha jornada em um dos jogos com mais cara de “isolamento
social” que você vai encontrar na indústria dos games: Shadow of the Colossus
Remaster para PS4, dado “de graça” nos jogos da plus do mês de fevereiro.
HISTÓRIA
(???)
Antes de começar,
preciso dar um aviso: se você nutre algum desafeto pela minha pessoa enquanto
blogueiro e palpiteiro de games, este post vai ser a oportunidade perfeita pra
você consolidar seus sentimentos negativos com relação a mim.
Isso porque eu
pretendo falar algumas coisas que, quando o assunto é SOTC, raramente se ouve
alguém falando em outros veículos especializados em games (acho que depois de
nove anos de blog eu posso me dar ao luxo dessa pretensão dissimulada). Uma delas
é a que SOTC não possui história.
É isso mesmo que você
leu: um dos maiores clássicos da geração dos 128-bits (aposto que muitos dos
leitores nem sequer sabem o que essa expressão significa) é mais raso que um pires
quando estamos falando de enredo.
Da série: jogos que não fariam o menor sentido se já existisse o Tinder naquela época... |
“Mas Shadow, SOTC
tem história sim! E aquela introdução que mostra o Vando carregando a mulher
dele nos braços? E a cena com os cavalos? E o final do jogo?”
Veja bem, meu querido
troll da internet. Existe uma diferença muito básica entre enredo e premissa
quando se fala de uma obra literária. Peço ajuda ao Google nestes momentos
difíceis de confusão léxica:
Enredo: “Sucessão de fatos ou de incidentes
que constituem o fio condutor de uma obra literária ou de um filme; entrecho,
trama, urdidura.”
Dicionário Michaelis
Premissa: Direito dos párocos de receberem
uma certa parte das primeiras produções das terras. Dicionário Michaelis.
Algumas das cenas que avançam minimamente o enredo só acontecem aos 45 minutos do segundo tempo. |
Ok, já que o Michaelis
é um filho da puta que não me ajudou em nada nesse caso, eu vou tentar explicar
meu ponto de vista: um enredo é uma sucessão de acontecimentos, por meio de
diálogos ou não, com a função de elaborar uma trama (geralmente passando por
fases como construção de personagens, conflitos e clímax da história).
Já a premissa, que adianto
logo não ter nada a ver com homens de vestido jogando água na cara dos outros, seria
uma espécie de “desculpa”, de pretexto (no sentido mais literal da estrutura da
palavra) para que um enredo seja desenvolvido.
Shadow of the Colossus
não tem um enredo, visto que PORRA NENHUMA é desenvolvida nesse jogo no tocante
a construção de personagens, suas motivações ou mudanças na direção dos eventos.
Ao contrário, as informações que você recebe no início só servem pra justificar
a jogabilidade do jogo: um rabo-de-saia morreu e você precisa do favor de uma
entidade visivelmente malégna para trazê-la de volta dos mortos.
Seria ótimo se Dormin só falasse fora dos combates... |
É por isso que eu acho
que SOTC tem uma PREMISSA no lugar de um ENREDO propriamente dito. Mesmo com os
ganchos pra obra anterior do Team Ico (acho que esse nome já dá uma pista a
qual jogo me refiro), nada parece sair do lugar narrativamente falando enquanto
você joga.
“Mas Shadow, você
está sendo injusto e superficial com o game.” Não, não estou não. Estou apenas
tentando analisar esse aspecto do game pela ótica de uma pessoa que está
jogando pela primeira vez (não que eu seja o maior especialista em SOTC do
mundo, já que só terminei o jogo três vezes ao longo de mais de 10 anos).
De fato, a “história” de
SOTC é tão simples que nem é preciso falar mais sobre ela do que eu já fiz nas
linhas acima: sua mulher morreu e você precisa derrotar 16 colossi pra ela reviver.
Ponto. E é por essas e outras que eu bato o martelo, sob pena de sofrer hate de
internet, e afirmo que SOTC não possui história (não que um game precise disso
pra ser bom). E narrativa embutida de * é R$ol@. Tenho dito.
GRÁFICOS
E SOM
Nota 10 pros dois. Próximo
tópico.
SISTEMA...
Ok, é lógico que se
você já leu algum texto aqui do blog sabe que um tópico com menos de 1500
palavras é algo que nunca vai acontecer enquanto eu me chamar Shadow Geisel da terra
das estrelas. Claro que esse não é meu nome verdadeiro. Mas dê um desconto, pois
minha mente está afetada pelo isolamento social do coronga vairus.
Gráficos, o que dizer
dos gráficos de um remake que é mais fiel ao jogo original que ele mesmo? Nada foi
mudado pra pior, apenas melhorado de um jeito correto, familiar e reconhecível
a quem jogou o jogo em 2005.
Sobre a beleza crua
desse remake, as fotos falam por si mesmas. O aspecto visual do trabalho da
Bluepoint é tão significativo neste projeto que eles mesmos, na galeria de
arte, inseriram fotos comparativas entre este e o jogo original de PS2. Sério,
se sua primeira impressão foi a de que o remake não mudou quase nada com relação a gráficos, você precisa conferir essas fotos comparativas da galeria.
Sabe aquele tipo de jogo que fica impossível escolher uma foto que represente toda sua beleza gráfica? Então... |
Em sua proposta de apresentar
ao jogador um mundo de solidão e imensidão através de vários biomas da natureza
(deserto, planícies, regiões montanhosas, pântanos, lagos e rios), Shadow se
configura como um dos mundos digitais mais belos já feitos num game,
principalmente no tocante a retratação de natureza.
Alterações leves (como
a barra de estamina) foram feitas, mas o altíssimo teor artístico do game (todos
os indicadores desaparecem quando não há nenhuma ação acontecendo) foi
preservado em sua melhor forma.
O som do jogo. Esse era
um dos meus maiores medos quando o remake foi anunciado. Eu sempre conto uma
história aqui nos posts do blog, a de que eu comecei a me interessar por games
por causa da música (o empolgante tema de Blanka no Street Fighter 2) e não
apenas por causa do apelo visual e interação.
O quinto colosso, um dos meus favoritos. |
Dessa forma, fica fácil
imaginar meus temores com relação a esse projeto. Shadow of the Colossus possui
uma das trilhas sonoras mais fantásticas e inspiradas já compostas pra uma obra
de entretenimento, sendo esse mérito uma de suas características positivas mais
marcantes quando se fala de clássicos instantâneos na geração dos 128-bits.
E o meu temor era de
que a OST do game original fosse alterada. Só isso. Não falo de ser remixada,
retrabalhada com outra pegada, ter faixas adicionais ou qualquer coisa do tipo.
Falo em QUAISQUER alterações, em qualquer nível, na música original composta
para o game.
Só quem jogou e é fã da
versão do PS2 vai ter segurança emocional suficiente pra captar o que eu estou
querendo dizer. Quanto a isso, ainda existe esperança pra humanidade, visto que
nada foi mudado na OST desse remake. Os sons, músicas e efeitos sonoros de toda
espécie são exatamente os mesmos. E é esse tipo de coisa que renova minha fé no
ser humano de forma geral.
SISTEMA (8,0)
E JOGABILIDADE (5,0)
Lembra quando eu falei
que proferiria opiniões que despertariam o rage de muitos fanboys internet
afora? Claro que não, né? Isso foi há umas 500 rolagens de mouse acima. Então,
se você é um dos meus desafetos virtuais, aqui vai mais uma: SHADOW OF THE
COLOSSUS POSSUI UMA DAS PIORES JOGABILIDADES E CÂMERA QUE EU JOGUEI NO PLAYSTATION
2.
Era a esse tipo de
frase que eu me referia quando avisei que falaria coisas que não se costuma ler
em sites especializados por aí quando o assunto é o clássico imaculado SOTC. Quem
me conhece sabe que eu amo com a mesma intensidade que odeio. Alguns dos meus
jogos favoritos (como Kingdom Hearts ou Final Fantasy 10) possuem falhas
grotescas que afastariam jogadores menos inclinados a gostarem desses jogos.
Um sistema tão simples quanto cavalgar um cavalo que não te obedece... |
Com SOTC não poderia
ser diferente. Mas vamos por partes. O sistema do jogo é bem simples: você
começa o game com todos os elementos que precisará pra finalizá-lo (espada,
arco, cavalo filho da puta que não te obedece) e terminará praticamente da
mesma forma que começou (a ressalva fica por conta do aumento de HP e estamina
ao derrotar os colossi).
De fato, muitos
jogadores (que não aceitaram os desafios de tempo) nem devem saber que existem
itens como uma capa de aliviar quedas, uma espada que causa mais dano e... cores
diferentes pro pelo do Agro. Ai, ai...
“Mas Shadow, o que
tem de tão ruim na jogabilidade de SOTC? Eu fechei o jogo sem muitos problemas
e não vi nenhum motivo pra reclamar.”
Boa sorte quando a espada te indicar uma direção que não tem nada a ver com seu objetivo... |
Meu querido troll da
internet: se você conseguiu derrotar 16 colossi sem o protagonista boneca de pano bater a cabeça
em polígonos invisíveis durante saltos, errar pulos sem motivo aparente, PULAR PRA
DIREÇÃO CONTRÁRIA da qual você está mirando, ou a retícula do seu arco correr
feito uma louca ao menor toque no analógico, parabéns, você é um COMPLETO
MENTIROSO DA PORRA.
Some tudo isso que eu descrevi
acima a uma câmera que desafia as leis da ótica, te deixando na mão quando você
mais precisa, e você terá um gostinho do inferno que é controlar o Vando em sua
cruzada com intenções claramente de necrofilia na Terra Amaldiçoada de Nimrod
(desculpem o spoiler no nome da entidade que nos guia).
O mais incrível sobre
esse aspecto técnico do jogo é como a maior qualidade deste remake (não mexer
em nada que não devia) acaba se tornando seu maior defeito. Bluepoint, eu agradeço
imensamente por fazer um remake que preserva todas as características do game
original. Mas você podia ter aberto uma exceção com as FALHAS que o game de
2005 possuía. Nem o fanboy mais intransigente do mundo ia te condenar por isso.
Tá vendo onde eu quero
chegar quando digo que todo jogador de videogame, independente de escrever
sobre games ou não, devia tentar jogar com senso crítico e prestar atenção a
certos padrões nos games e indústria?
Se todo mundo não
ficasse aclamando SOTC, em seu lançamento, como a cria divina e sem falhas que
ele claramente não era, os problemas de jogabilidade e câmera que eu citei
poderiam ter se tornando senso comum e chegado aos ouvidos da Bluepoint na
ocasião da feitura deste remake.
As estratégias pra derrotar os colossi são bem variadas. |
Shadow é uma
experiência intransponível por causa de suas indiscutíveis falhas? Claro que
não. Mas fica a certeza de que a jornada do Vando e sua missão de matar os 16
colossi poderia ser muito mais suave (e deixar lembranças bem mais ternas na
mente do jogador) se não fossem essas manchas de jogabilidade que a obra possui.
Só pra finalizar essa
parte do sistema, além de matar colossi (é preciso escalar os bichões e cravar
a espada em seus pontos fracos), o que mais tem pra fazer nesse jogo? Andar a
cavalo, procurar frutas que aumentam seu HP e lagartos de cauda prateada com
reticulafobia (o consumo deles aumenta sua estamina).
Fora os já citados
desafios de tempo (é hilário um jogo com um jogabilidade como essa cobrar precisão
e rapidez nos comandos), não tem muita coisa que se possa fazer ao explorar o
mundo aberto do game. Tem os templos (que nesta versão servem de checkpoint),
mas nem sei se isso conta como um extra de coisas a se fazer.
Falando em andar a
cavalo, Agro, eu te odeio do fundo do meu coração. Não, não vou detalhar aqui
as razões, caso o vídeo acima não tenha sido o suficiente. Jogue e passe a odiar esse cavalo filho da puta e desobediente pelos
seus próprios motivos de gamer.
Só posso acrescentar
que, assim como a Navi do Ocarina of Time, Agro é um dos “ajudantes” mais
irritantes já criados pra um jogo de videogame. Se quiser saber mais, procure por
vídeos com esse tema no Youtube.
A SOMBRA
DE UM CLÁSSICO COLOSSAL
Shadow of the Colossus
é aquele tipo de jogo que, de tão clássico, fica até difícil atribuir uma nota
a ele. A regra pra amarelar na hora de atribuir nota diz que eu só posso me
abster da responsabilidade caso o texto seja um Review Supremo, se assim eu desejar.
Sendo assim, contrariando a mim mesmo, precisei atribuir uma nota ao jogo. E por que razão eu não o enquadro nessa categoria de importância aqui no blog? Vai saber.
Sendo assim, contrariando a mim mesmo, precisei atribuir uma nota ao jogo. E por que razão eu não o enquadro nessa categoria de importância aqui no blog? Vai saber.
Talvez seja porque ele
é um jogo tão simples que não tenha tanta coisa assim pra detalhar a seu
respeito (tanto que o texto foi escrito sem fazer nenhuma anotação em papel pra
rascunho, algo raro de eu fazer nos dias de hoje).
NOTA FINAL: 8,3
Palavras não dão conta de descrever a emoção de alguns combates... |
Mas simplicidade de
premissa, gameplay e execução de ideias não significa um jogo aquém do esperado
quando se fala de clássicos que redefiniram a forma como os games passaram a
ser encarados pela sociedade e pelos próprios jogadores que tanto os amam.
Shadow of the Colossus
é o tipo de jogo eletrônico que flerta com as maiores obras artísticas que costumamos
encontrar nos meios tradicionais de entretenimento como cinema, música e pinturas.
Apesar de seu teor de
violência (perfurar com uma espada criaturas que estavam quietas no canto
delas), Shadow é carregado de um valor artístico e reflexivo que poucas vezes
se vê nos jogos de videogame (nas primeiras duas vezes que joguei, eu era
abatido por uma inexplicável tristeza ao ver os colossi tombando em combate, mesmo
sabendo do nobre motivo do protagonista).
Os colossi têm nomes oficiais, mas eu gosto de dar apelidos carinhosos a eles. O desse aqui é Barbatos e não tem nada no mundo que me faça mudar de ideia. |
Shadow of the Colossus
é um jogo que não tem a menor pretensão de acompanhar os shows
estroboscópicos que são os games de hoje (e já daquela época também).
E esse remake deixa isso ainda mais claro: mesmo mantendo as falhas, ele consegue resgatar todo o deslumbramento e sensação de grandiosidade que o título original conseguiu em sua primeira tentativa.
E esse remake deixa isso ainda mais claro: mesmo mantendo as falhas, ele consegue resgatar todo o deslumbramento e sensação de grandiosidade que o título original conseguiu em sua primeira tentativa.
E acho que não preciso
dizer que já é mais do que muitos REmakes vêm conseguindo fazer de uns tempos
pra cá, não é mesmo?
Au Revoir!
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