O ser humano é um dos
organismos mais nocivos e prejudiciais ao equilíbrio das coisas naturais que já
habitou o nosso planeta. Isso é fato, e não é preciso finalizar uma faculdade
de biologia pra chegar a essa óbvia conclusão. Misantropias à parte, são raras
as vezes em que o homem acaba provando do próprio remédio, ou sendo vítima das
mesmas fraquezas e traços de personalidade (como a curiosidade) que se
configuram, ironicamente, como suas maiores qualidades.
A franquia Alien, no
meu modo de enxergar as coisas, é um exemplo de ficção que está sempre pronta a
colocar o pequeno Homo sapiens em seu devido lugar, sempre trazendo o lembrete
de que existe um peixe maior à espreita: não tem como topar com um Alien, ou
xenomorfo pros íntimos, sem se dar mal no processo. O que você faz quando lida
com criaturas com esse nível de agressividade e instinto de sobrevivência? Você
morre. Simples assim. Palavras da própria Ellen Ripley.
Mas, e quanto a um dos
jogos mais difíceis e desafiadores já lançados para o PS1, o que você faz
quando aceita o desafio de completar um jogo desses? É isso que eu pretendo
explicar com o post de análise de Alien Resurrection para PS1. Senta que lá vem
história...
HISTÓRIA (5,0)
Eu não falei que lá
vinha história? Então, piadas sem graça à parte, é simples resumir o enredo de
Alien Resurrection, o jogo: ele é simplesmente o mesmo de Alien Resurrection, o
filme, sem tirar nem pôr, salvo algumas mudanças pra que os acontecimentos vivenciados
no game se adaptem às necessidades da mídia em questão.
De resto, quem
assistiu já sabe: cientistas do Mal fazem merda; soldados boludos querendo te
currar sem dó nem piedade aparecem pra apimentar as coisas (muito embora que
esse plot combine mais com o Alien 3...) e Shazam: temos um enredo tão cópia em
carbono do filme que fica até difícil atribuir uma nota a ele (por isso escolhi a
média e decidi permanecer em cima do muro).
Fora isso, é preciso
salientar que há sim novos diálogos escritos especialmente para o jogo (cientistas
e outros NPCs ao longo dos cenários), mas não há dublagem nas transições de
fases, quando você se comunica com um dos personagens jogáveis (Ripley,
Distephano, Christie e Call). Isso seria um grande problema nesse aspecto, se
não fosse pelo detalhe da qualidade das vozes que eu vou detalhar no tópico a
seguir.
Esse aí não tem mais nenhuma história pra contar... |
Sim, o jogo não tem a
menor pretensão de consertar as cagadas narrativas arremessadas pela sua contraparte em película: Ripley
continua sendo um clone, os aliens estão tocando o terror em uma espaçonave
fortemente militarizada e preparada para recebê-los e todos querem: ou um
módulo de fuga ou alcançar a Betty antes que a vaca vá pro brejo ou acabar com
a sua raça na base do chumbo quente. Como
eu disse, é o mesmo plot do filme... Pra ser mais exato, o jogo começa naquela
parte em que Ripley está aprisionada em uma cela, e ele vai estendendo os
eventos do enredo (como a destruição dos clones) para se encaixar no seu
progresso de jogo.
Como acontece com todo
jogo de Alien, alguns detalhes estão meio que fora do lugar. Os facehuggers,
por exemplo, grudam na cara de Ripley (se você assistiu ao filme e conhece a
desculpa esfarrapada que deram pro retorno dela saberá por que isso não faz o
menor sentido). Call, por sua vez, usa quites de primeiros socorros pra
restaurar sua “vitalidade”. Fora esses detalhes bobos que só nerds tiozões
percebem, Alien Resurrection, de longe, seria um dos jogos mais fiéis à mitologia
da série até que o Isolation fosse feito.
Mesmo com uns
probleminhas de lógica, a Argonaut parece ter feito a lição de casa a contento:
há momentos clássicos da franquia, como os de rastejar por dutos de ventilação,
que compensam as poucas falhas criativas que este jogo possui. Sem dúvidas, há
mais acertos que erros na composição de enredo e eventos em Resurrection, o que
fez dele o primeiro jogo de Alien “pra valer” que eu joguei.
Esse é o jeito de Distephano perguntar o caminho da saída... |
Como eu falei, algumas
licenças poéticas precisaram ser tomadas pra que um filme de 1h 56 min rendesse
um jogo de 10 horas de duração. A USM Auriga do jogo, por exemplo, é no mínimo
umas dez vezes maior que a espaçonave militar na qual o filme se passa. Também
há o “pequeno” detalhe de que há cerca de 20 vezes mais aliens (e estou
sendo bem generoso nesta contagem, visto que o game não exibe o total de
inimigos mortos ao final da campanha) que os 12 da película. Mas somos
obrigados a dar um desconto nesse quesito, devido às já citadas necessidades de
transposição de uma mídia de entretenimento pra outra.
Pra não dizer que não
falei de tudo que me veio à mente no tocante a enredo, há um easter egg no game que eu fiquei até agora sem entender: na parte de
destruir os clones, com Ripley, precisamos usar um cartão de acesso pra
desativar um campo de força que impede nossa passagem. É então que Father, a IA
da USM Auriga, diz: “obrigado, cabo
Hicks. Bem-vindo ao setor de Desenvolvimento & Pesquisas”. Seria um
parente futuro do clássico marine do segundo filme ou eu viajei legal na
maionese? Enfim...
Essa foto ganharia um concurso de legendas engraçadas fácil fácil. |
Os mais atentos vão
encontrar outras referências, como algumas composições de cenários que remetem
a cenas do filme. Um exemplo que consegui identificar foi aquela sala da cena
do jogo de basquete, na qual Ripley tira o maior sarro com a cara do personagem
de Ron Perlman (que infelizmente não é jogável e sequer está no jogo).
Pena que nessa
localidade aconteça uma das maiores incongruências, em questão de gameplay, que
o game tem guardado pra você: é lá que você enfrentará soldados (sem nenhum
tipo de armadura) que aguentam mais tiros de fuzil que uma Alien Rainha. E tudo
isso pra justificar a aquisição de cartões de acesso a uma porta eletrônica. Bad
call, Argonaut Games. It was a bad call...
Só pra finalizar esse
tópico (do qual eu não tenho muito mais o que falar), a própria cena em CGI,
antes de acessar o menu principal, deixa bem claro o público-alvo desse game ao resumir os acontecimentos do começo do filme.
Se você não assistiu ao filme ou não está habituado ao universo de Alien, passe
bem longe de Alien Resurrection, a menos que um dos seus passatempos favoritos
seja terminar jogos insanamente difíceis nas horas vagas.
GRÁFICOS (9,8) E SOM (9,5)
Alien Resurrection, no
tocante a visuais, é e sempre foi um jogo de vanguarda, um jogo à frente do PS1
e seus escassos 2mb de memória RAM. Logo nos primeiros segundos no controle de
Ripley você se encontra em um ambiente de atmosfera sombria e aterrorizante,
que incentiva a exploração cautelosa e a troca de cuecas a cada nova partida.
De fato, esse foi o primeiro jogo de videogame que me fez sentir medo real ao
jogar, e não apenas receio de perder o progresso. Ele aproveita o
material-fonte da franquia e o eleva a um nível jamais visto nos games dessa
série até então, ao menos não por mim. É isso que todo spin-off devia ter em
mente no tocante a atmosfera, visuais e construção de cenário.
O gore, por sua vez, é
de alto nível e casa perfeitamente com o clima de “estou fodido” que impera nos
filmes da série. A violência gráfica desse jogo é algo que se podia
esperar do contexto mundo cão sempre
presente nos filmes de Alien: atire num cadáver e ele vai pintando o chão e
paredes de vermelho; aliens se debatem em uma poça de ácido ao serem abatidos
e, dependendo da arma utilizada, cabeças podem sair voando ou corpos explodirem
numa nuvem amarelo-ácida bem legal de se assistir. Não ficou nem um pouco
impressionado, pois esse tipo de coisa já faz parte do defaut dos jogos atuais,
não é mesmo? Normal, mas lembre-se que estamos falando de um jogo de PS1
lançado no longínquo ano de 2000.
No escuro e com fones. Não esqueça dos fones... |
“Este jogo fica melhor quando jogado no escuro”, diz a tela de load.
Essa dica por parte dos criadores dá uma ideia das camadas de atmosfera
assustadora e rica sob as quais Resurrection é pavimentado, muito embora que
esse clima meio que seja estragado por causa da indiscutível repetição de
inimigos nos ambientes.
Esqueça qualquer coisa
que lembra a palavra linearidade quando pensar em cenários: há portas
emperradas; terminais de computador com acesso por biometria; longos corredores
que chegam a dar receio de explorar; e por aí vai. Cada descida de escada, cada
virada de costas pode culminar com seu personagem morto no chão ou pior:
acordando com uma criaturinha parecida com uma aranha “dormindo” bem ao seu
lado...
O nível de detalhes é enorme,
indo além do que achávamos que o nobre PS1 seria capaz de nos entregar. Em
alguns cenários, por exemplo, há goteiras de ácido retumbando no chão e fazendo
buracos nos pisos da nave. Claro que esses detalhes não ocorrem em tempo real, sendo
eventos estáticos atrelados à cenografia do game, mas raios, o que você
esperava? Estamos falando de um console equivalente a um Pentium 133!
Se não conseguir mirar na cabeça, acerta o baço que tá tudo bem. |
Diferente do Meu
Review Supremo de Alien Isolation, que pode ser lido AQUI, não cabe um tópico
especial dedicado aos aliens de Resurrection, visto que aqui eles atacam em
ondas e não são exatamente a estrela principal do show. Mas cabem sim alguns
elogios à forma como eles foram inseridos no jogo. De forma geral eles são bem
dinâmicos, saltando do teto e de várias direções em cima de você.
Eles, muito embora que
depois das acrobacias venham em linha reta te atacar, andam dentro de
tubulações e se escondem nos cantinhos mais escuros e apertados da USM Auriga
pra tentar te pegar desprevenido. É com muito pesar que venho avisar que, na
maioria das vezes, isso dá certo até demais da conta...
Você tem a certeza de
que um jogo foi bem-sucedido nos aspectos técnicos de gráficos, design de
ambientes e atmosfera no momento em que você se flagra com medo de avançar
pelos cenários, ou comemorando quando finalmente encontra um painel de save pra
aliviar um pouco a tensão causada pela dificuldade do game.
Ele Morreu. Eu acho... |
A parte sonora, por
sua vez, justifica a nota alta dada por mim no título do tópico, acredite e
confie. A dublagem realizada pela Argonaut é soberba e minimalista (preste
atenção ao som das cápsulas de sua arma quicando no chão e volte aqui pra
concordar comigo depois). Isso fica claro logo no primeiro minuto de jogo,
quando Father acorda Ripley debaixo de avisos de que a merda foi arremessada
nos dutos de ventilação da Auriga. Se duvida, coloque seu fone 7.1 e clique no
botão de play abaixo:
Falando em fone 7.1, é
uma pena (pra não dizer desastre) que não haja um modo de plugar fones de
ouvido no PS1, pois a parte sonora desse jogo é o tipo de coisa que justifica
aquela minha velha frase de que o som é 50% da experiência com um jogo, pra
mim. Só a narração de Father já é um deleite àqueles loucos por voz
sintetizada, como este que vos escreve. Se eu for falar do som de passos,
tiros, hiss dos aliens e barulhos os mais diversos, aí eu teria que transformar
esse post em um Review Supremo dos Sons de Alien Resurrection.
De fato, eu sou tão
louco pela dublagem desse jogo que, às vezes, eu aperto botões que eu já sei que não vão abrir porta alguma só pra ouvir Father falando novamente. Por favor,
não chamem o sanatório pra me internar por causa disso. Eu juro que nunca
machuquei ninguém pra satisfazer meus fetiches por vozes sensuais (sejam
masculinas ou femininas) digitalizadas. Eu sei que eu sou meio pirado com
aspectos sonoros de um jogo mas, se eu fosse uma pessoa normal, qual seria a
graça em ler meus posts, não é mesmo?
Os efeitos sonoros de TODAS as armas dão show. |
Diferente do Alien
Trilogy, também pra PS1 e que segue o maior "estilo Doom" de ser, Resurrection não
possui música ambiente de qualquer espécie. Em um jogo governado por uma
atmosfera sufocante de terror e ansiedade a cada passo, isso passa longe de ser
um problema. Muito pelo contrário: a ausência de música, aliada à altíssima
dificuldade, vem apenas pra contribuir com a insistente sensação de “coração na
mão” que vai permear cada partida nos corredores escuros da Auriga.
Ainda babando com a dublagem
de Father, a parte onde ele começa a passar por “dificuldades técnicas” é
mais um deleite aos fãs dos equalizadores sonoros do Windows como eu. É um prazer
quase orgásmico ouvir sua bela voz sintetizada se desmanchando em distorções
dignas de uma turnê de Daft Punk, ao passo que você começa a imaginar como
devem ser reluzentes e molhadinhos os componentes internos de sua placa-mãe e
... aham, é ... desculpem. Me empolguei. Vamos continuar com o texto.
Infelizmente, apesar
de todos os elogios molhados a Father, há um único problema que me impede de
dar nota 10 pro quesito sonoro desse jogo. Como eu já adiantei, a ausência de
dublagem em alguns diálogos (especialmente nos terminais de comunicação entre
as fases) faz falta para uma melhor identificação dos personagens jogáveis e
imersão com a história. Mas seria essa uma limitação técnica do armazenamento
em CD do PS1? Será que dois discos, como no caso de Valkyrie Profile,
conseguiriam dar conta do recado com as dublagens? Quem sabe...
SISTEMA (7,1)
Ok, antes de começar
eu já vou avisando logo que este será o maior (e derradeiro) tópico do post,
como de costume. Também é necessário o aviso de que Alien Resurrection é UM DOS
JOGOS MAIS DIFÍCEIS DA HISTÓRIA DOS GAMES, mesmo se jogado na dificuldade easy
(meu caso). Sendo assim, saiba que este jogo lazarento de difícil é para
poucos. E não, não estou querendo me gabar dizendo que sou o fodão. A intenção
aqui é alertar que, caso você desista de jogar por perceber que esse tipo de
experiência masoquista não é a sua praia, ninguém vai te julgar por causa
disso. Entendeu, seu franguinho covarde usuário de Game Shark da porra? Ótimo,
podemos começar...
A franquia Alien como
um todo se passa em um mundo-cão dos infernos no qual o ser humano só faz se
ferrar o tempo todo. Então, nada mais justo que os jogos dessa franquia não
sejam lá um passeio no parque condescendente com jogadores mais frouxos,
concorda? Ahhh, não acredita que Resurrection seja um jogo tão impossível assim
como eu descrevo? Então me responda: que outro FPS que você conhece ESCONDE A
PRIMEIRA ARMA DO GAME ao invés de fazer com que sua coleta seja obrigatória?
Heim? Heim?
Eu esperando ganhar uma Smartgun e é ISSO que eu recebo? |
Sim, é fato que existe
o recurso de uso automático de medkits, caso você esteja em seu juízo perfeito
por selecionar o nível fácil de dificuldade. Mas em geral, Resurrection é bem
escuro, seus inimigos são implacáveis e atacam de surpresa, dando pouca chance
de reação ou improviso na hora que o bicho vai pegar. Falando em bicho, os
inimigos, sejam soldados, facehuggers ou aliens, surgem do nada e a qualquer
momento, tornando os combates em 99% dos casos letais e imprevisíveis.
Aliás, falando em
facehuggers, eles possuem um “novo” sistema de dano que precisa ser salientado
no post. Nos jogos anteriores dessa série (como no Alien 3 de SNES ou Alien
Trilogy do PS1), quando uma aranha grudava na sua cara, ela baixava certa
quantidade de vida sua e você seguia de boas, matando xenomorfos a torto e a
direito. Se você assistiu ao menos ao primeiro filme sabe como isso é uma coisa
nada a ver da porra. Em Resurrection esse problema foi corrigido, finalmente.
Quando um facehugger
te encontra, ele gruda na sua cara e a tela fica escura. Uns segundos depois
você acorda, o bicho está caído ao seu lado e uma barrinha com um símbolo de
alien fica abaixo da sua vida, esvaziando aos poucos. Quando chegar ao final... acho que não preciso explicar o que acontece, não é?
É isso que acontece quando você demora a entender o sistema de jogo... |
O motivo das aspas no
adjetivo novo, no começo do parágrafo acima, é que isso nem de longe se
configura como uma novidade ao universo de alien. Muito pelo contrário: é dessa
forma que sempre devia ter sido, caso os jogos de videogame tivessem a
obrigação de serem 100% fiéis ao material de origem no qual se inspiram.
“Mas Shadow, existem milhares de ovos de alien espalhados
pelo cenário. Você está querendo me dizer que é preciso terminar o jogo sem ser
pego por uma aranha o jogo inteiro? ” Claro que não, troll da internet. É aqui que entra a beleza
no sistema original de Alien Resurrection...
Lembram do que eu
sempre falo nos posts dessa franquia, de que os personagens vão enfrentar os
aliens sem estarem preparados pro que vão encontrar? Então, aqui a Argonaut deu
um passo à frente na série e inventou o P.A.U, ou Portable Autodoc Unit, um
aparelhinho da hora que emite um pulso radioativo pra eliminar corpos estranhos
do seu organismo.
Quando acordar, já sabe: ou leva pau ou morre!!! |
Sim, eu sei que matar
um chestburster com uma onda de radiação é uma baita forçação de barra, mas
essa é uma novidade mais que bem-vinda e que faz todo sentido no universo alien
(principalmente se você parar pra pensar que a USM Auriga foi preparada para
lidar com o organismo).
Aproveitando o ensejo
e a certeza de que você vai topar com uma sala cheia de facehuggers e será pego
por eles de qualquer jeito, aproveito pra dar a dica de só usar o Portable
Autodoc Unit pra remover o chestburster quando tiver dado cabo de todos os
outros que estiverem em uma área (respeitando o limite de tempo, claro), visto
que você ficará imune a grudadas na cara enquanto o visitante estranho estiver
dentro de você.
Todavia, o fato de
você poder usar o Pau (pensou mesmo que eu deixaria esse trocadilho passar?)
não vai facilitar a sua vida nem um pouco, dadas as dificuldades que este jogo
insano tem guardado pra te enlouquecer. Imagine jogar um FPS onde cada cantinho
escuro, cada caixote solto no cenário pode significar uma tela de game over com seis patas,
pronta pra pôr todo seu progresso a perder?
Entrando pelo cano numa nave espacial do barulho!!! |
Então, fica mais essa
dica: se estiver borrando as calças, com o coração e o fiofó na mão, use o pau que estiver mais perto de você que tudo acabará bem (desculpem, não consegui resistir de fazer esse
trocadilho novamente...). Além da bem-vinda remoção de corpos estranhos, há novos elementos não existentes na
série, como os campos de força, que foram tão bem utilizados e colocados nos
ambientes de forma natural que você nem vai se dar conta de que eles foram
“inventados” para o game em questão.
Já que o tópico também
são os facehuggers, quero deixar documentado o queixume de que não faz o menor
sentido as aranhas continuarem te atacando (elas causam dano se chegarem perto)
mesmo depois que você já está incubado, ou o fato de as aranhas ficarem
perambulando a esmo, fora dos ovos, pelos cenários à procura de uma vítima.
Essa falta de cuidado com esse detalhe lógico destoa muito do esmero com os
outros aspectos do game, além de ir contra a função vital desses organismos.
Ainda sobre essas
adoráveis criaturinhas, atesto que Resurrection conseguiu transplantar para o
jogo a periculosidade desse organismo como ele é retratado nos filmes. Aqui o
facehugger é o inimigo mais perigoso do jogo, pelo fato de que você morre
instantaneamente se não tiver um pau na retaguarda. Droga, eu ainda não consegui me
desapegar dos trocadilhos fajutos...
"Pessoal, o chefe mandou avisar que o horário de almoço acabou". |
Sim, é fato que às
vezes eles dão o maior vacilo, tentando grudar na sua cara de longe, sem contar
que são os inimigos mais frágeis em questão de dano. Mas não duvide disto nem
por um segundo: algumas das situações mais cabeludas do jogo incluem esses
filhos da mãe no roteiro: que tal atravessar um corredor cheio de raio laser
enquanto foge de um deles? Tenso, foi o que eu pensei...
Em tempo, acho que o
facehugger é o bicho mais FDP já inventado pela ficção, vamos combinar. Como se
sua função biológica de troll master não fosse o bastante, o jogo faz questão
de forçar situações de gameplay onde você não tem saída a não ser se ferrar nas
garras deles, como no subir e descer de escadas.
Voltando sobre o mimimi
com os detalhes (que provavelmente só um louco pela série como eu deve ter
notado), o sangue ácido dos aliens não causa dano nos personagens humanos como
Distephano, Call ou Christie. Parece loucura cobrar mais dificuldade num jogo
que foi feito pra te enlouquecer de raiva, mas o ácido machucava já no Alien
Trilogy, do mesmo PS1, então...
Falando da experiência
como FPS em si, Alien Resurrection é, fácil fácil, um dos jogos de tiro (quiçá
jogos como um todo) mais difíceis que eu já joguei na vida. Pra começar, não há
espaço pra enganos: existe uma névoa de tentativa-e-erro pairando no ar que permeia
cada cômodo dos cenários, onde conseguirá sobreviver aquele jogador que
memorizar melhor a ordem de eventos do jogo.
Enquanto uns tão levando pau, outros tão subindo pelas paredes. Nossa, as piadas desse post tão a maior baixaria, heim seu Shadow? |
Você poderá jogar com
quatro personagens presentes no filme (Ripley, Distephano, Call e Christie),
mas isso pouco fará diferença: exceto pelo arsenal, praticamente não há nuances
de jogabilidade entre os sobreviventes (muito embora que pequenos detalhes,
como a ausência do localizador por movimento, variem entre eles). A mira, por
sua vez, é bastante democrática: É HORRÍVEL PRA TODO MUNDO DE FORMA BASTANTE HOMOGÊNEA.
Ela (a mira) é
imprecisa e dificulta bastante a jogabilidade, mesmo que você baixe a
sensibilidade ao valor mínimo. É possível causar mais dano nos inimigos
acertando pontos como a cabeça, mas dificilmente você terá tempo de ajustar a
posição do cursor no meio do desespero que são os combates desse jogo. A mira
das armas é tão problemática que você precisa ajustar a altura da retícula
antecipadamente aos inimigos, pois se for fazer isso no calor da batalha,
provavelmente vai errar e tomar uma cachoeira de ácido e dano.
E não se deixe
enganar: Resurrection é um survival dos brabos. Mesmo no nível easy (que,
definitivamente, não corresponde ao nível fácil visto em outros jogos) você vai
passar apertos inimagináveis diante das situações preparadas pelos sádicos da
Argonaut (lembra da parte da água, no filme? Pois é...). Nesse jogo cada bala
conta, e gerenciar seus itens, uso da arma apropriada e saber quando fazer
backtracking ao save point (eu já mencionei que não há mapa nesse jogo?) fará a
diferença entre um console íntegro e um PS1 arremessado na parede do seu
quarto, após um ataque de fúria.
Difícil é decidir qual a melhor arma desse jogo. |
Mas, se por um lado a
mira é ruim, as armas presentes no game são fabulosas. A reles pistolinha
single de Ripley já dá conta das aranhas e de um ou outro alien sozinho nos
cenários, dada a distância suficiente para matá-lo. A shotgun (aquela usada
pelo cadeirante na cena do alien no teto), arrisco dizer, é a melhor de todos os FPSs
que já joguei. O rifle laser de Call vai te fazer sentir vontade de aplicar um
cheat de munição infinita, só pra sentir um pouco do gostinho da felicidade em
um game escabrosamente difícil.
Acho que, assim como
Quake, Alien Resurrection foi um dos poucos FPSs no PS1 a ter o recurso de
olhar pra baixo e pra cima com a mira. O problema, como já falei, é que a
movimentação da retícula é tão dura e pouco ajustável que, mesmo dando toques
sutis no analógico direito, ela vai correr como louca pela tela e errar o alvo
que você está tentando acertar.
Parece muita liberdade
pra um jogo que foi lançado apenas sete anos depois de Doom, um outro jogo em
que a mira consistia, primordialmente, de olhar para frente e acertar inimigos
em diferentes níveis, às vezes a cem metros de distância, com uma shotgun de
cem balas que não tinha necessidade de recarregar. Mas não vá pensando que
liberdade de visão vai resolver a sua vida neste jogo.
Ripley tentando um high ground... |
Via de regra, desista
de tentar subir em lugares altos pra tirar proveito do fato de que os aliens
não sobem andares diferentes de onde apareceram: seus disparos não passam por
brechas de grades e portões, não importa o tamanho dos espaços. Os aliens, por
sua vez, se escondem em ângulos inalcançáveis por seus tiros de uma forma tão
escrota que quase me fez sentir vontade de entrar no jogo pra matá-los com
minhas próprias mãos. E olha que eu quase ia me esquecendo de falar que a mira,
mesmo com a ajuda da alavanca direita, só desce ou sobe até um certo nível (dê
adeus ao seu fetiche de olhar pros pezinhos delicados da Ellen Ripley).
Pra continuar o tópico
Sistema eu preciso falar de alguns detalhes esparsos que não se encaixam muito
em outros momentos do texto. Vamos lá: lembra do “fator Doom” nos FPSs que eu sempre comento nos textos, aquele onde
você coleta um item no cenário e brotam inimigos nas suas costas? Então, eu
podia descrever Alien Resurrection com essa frase apenas e tirar férias do blog
pelos próximos trinta dias, se assim eu desejasse...
É verdade que alguns
vícios desse gênero, que foram fortemente estabelecidos por Doom e Half-Life,
são atenuados com o avançar das fases, mas isso não quer dizer que Alien
Resurrection fica mais fácil por causa disso.
"E agora: arrisco de procurar um save ou volto e tento a sorte no módulo de fuga?" |
Sobre os save points,
cabe lembrar que o maravilhoso Alien Isolation foi acusado (injustamente) de escassez de
pontos de save, em seu lançamento em 2014. Não, você não leu errado.
Estou falando do Isolation mesmo, não do Resurrection. O motivo da comparação é
que o Resurrection sim é que conta com uma escassez absurda de save points.
Muitas vezes você vai
passar mais de 40 minutos de jogo, ao risco de morrer a qualquer minuto, e não
vai topar com nenhuma dessas maquininhas da felicidade e redução de estresse.
Noutras, dois ou mais save points na mesma área vão te fazer soltar o
comentário (justificado) de que os sacanas poderiam ter tornado a sua vida
muito menos sofrida se colocassem mais pra trás um save que apareceu muito
perto de um outro. Mas acho que o conceito de facilitar a vida do jogador foi algo que passou
longe do prédio da Argonaut durante o desenvolvimento desse game...
A atenção aos detalhes
que faltou em alguns elementos de gameplay já citados (como o dano por ácido ou
os facehuggers maratonistas) e os não citados (o facehugger grudar na cara de
Ripley, que seria o equivalente a ele atacar um alien que estivesse passando por perto...) foi
compensada em alguns outros momentos bem legais do gameplay. Por exemplo: se
você tentar passar por um corredor eletronicamente trancado enquanto estiver
incubado, um aviso de “presença não
humana detectada” vai soar e impedir seu progresso (dica: pau nele!!!).
Tá de boas. É só passar pelo cantinho... |
Não posso encerrar
esse tópico final sem falar dos bugs e de um caso em especial que aconteceu
comigo. Sobre os glitches, eles acontecem, inevitavelmente. Na batalha contra a Alien Rainha
(jura que você acha isso um spoiler, a essa altura do campeonato?) surgiu um
alien comum que simplesmente se recusava a morrer. O filho da mãe levou mais de
15 tiros certeiros de shotgun e não tombava, me obrigando a carregar o save
novamente. Em um ou dois momentos também vai acontecer um respawn infinito de
aliens, e nessas horas só posso te aconselhar a seguir avançando e matando eles
sem olhar pra trás, até mudar de cenário e rezar pro bug ser corrigido pelo
game.
Também acontece de
alguns facehuggers se recusarem a pular na sua cara, ou ovos que não abrem
quando você chega perto. Esses bugs podem ser considerados como... quer saber
de uma? Bug é o caralho!!! Num jogo filho da puta como esse, um inimigo não
querer te atacar só pode ser considerado algo no nível de compensação divina, não
uma falha propriamente dita.
E o caso especial que
eu tinha pra falar? Bem, esse aí é mais específico de quem joga jogos originais
de PS1 no PS3: logo no começo do jogo alguns botões de ativar porta se
recusavam a funcionar. Depois de sofrer recomeçando o jogo umas dez vezes, eu
finalmente fui procurar em fóruns e descobri que o problema é da emulação que o
PS3 faz pra rodar esses jogos em retrocompatibilidade. Isso é uma pena, pois o
visual dos games de PS1 no PS3 “sofrem” uma melhora significativa. Se jogar
Alien Resurrection no PS2 a melhora, acredite, é maior a ponto de tornar os visuais quase irreconhecíveis, e pra melhor (o problema é que
você precisará de um memory card original de PS1 pra salvar o progresso...).
Zero de munição e life no bico: um dia corriqueiro na vida de Ellen Ripley... |
E se teve algo de
positivo nessa novela toda pra rodar o jogo da melhor forma possível é que eu
descobri algumas diferenças entre os níveis de dificuldade do jogo (eu
arrisquei de colocar nos níveis mais altos por saber que não ia continuar dali
mesmo). Por exemplo: na parte de liberar o módulo salva-vidas que está
enguiçado, com Call, jogando no Normal você precisará pegar 4 propulsores para
ejetar o módulo (dois a mais que no nível easy, muito embora que neste nível
haja uma contagem de tempo).
Eu confesso que
adoraria rejogar o game no normal (e até no hard) pra vivenciar cada diferença
nos objetivos e jogabilidade. Mas, sem a utilização de um cheat de vida ou
munição infinita, é desnecessário dizer que Alien Resurrection não é o tipo de
jogo que te convida a “passear” pelos seus cenários debaixo de dificuldades
mais altas.
Pra finalizar o
tópico, vou compartilhar algumas impressões sobre os momentos finais do jogo.
Primeiramente eu queria agradecer a Argonaut por não ter colocado uma batalha
contra chefe final que fosse estressante e exageradamente difícil. Acho que já
deu pra entender que dificuldade alta é um fantasma que assombrou cada momento
da minha experiência com esse game, então não havia razão pra torturar o jogador mais ainda no final.
Segundamente, a
sequência final, onde o Newborn começa a aparecer pra nos matar, é uma das mais
tensas que eu já enfrentei num jogo. Sim, é tensa pelos motivos que ainda vou
explicar mais abaixo, mas o crédito de retratar o terror de estar no mesmo
cômodo que aquele bicho horrendo dos infernos precisa ser dado a Argonaut em
tempo. Felizmente é nessa parte também que ganhamos a Eletric Gun, de longe a
arma mais útil de todo o jogo.
O jogo acha que tá fácil demais e coloca essas porras dessas turrets pra te matar. |
O problema desse
trecho final é que nós acordamos com Ripley, depois de ser ridiculamente
abduzida por um alien, e estamos sem o localizador de movimentos. A Auriga está
indo pro saco, então seremos atormentados por blackouts, correntes elétricas
causando dano quando você passa e contamos apenas com duas armas (a outra é a
shotgun) pra lidar com a caralhada de inimigos que vão aparecer pelos caminhos
em linha reta até o galpão onde a Betty se encontra.
Nessa hora,
prepare-se. Lembra-se do que eu falei sobre save point mal localizado, ora
faltando ora sobrando? Então, esse é um dos problemas dessa parte. Toda a
mesquinhez de quem mantém como refém um jogador ávido por finalizar um game sofrido virá à
tona por parte dos doentes mentais da Argonaut. Dando nome aos bois: em uma
sala com nada menos que CINCO facehuggers, os programadores deixam como sua
única rota de fuga um corredor apertado e escuro. Se você tentar voltar, raios elétricos
são ativados nas suas costas só pra te lembrar do quão maliciosa pode ser a
mente de um ser humano.
A única coisa boa
nessa sequência final, se é que dá pra interpretar assim, é a linearidade dos
cenários: são vários corredores, quase intermináveis, lotados de inimigos em
cada centímetro quadrado que você avance. Um teste literal de paciência pra ver
quem consegue sobreviver às intempéries do rigoroso universo de Alien. Pelo
menos o jogador não poderá dizer que foi pego de surpresa...
UM JOGO MUITO BOM DE UM FILME MUITO
RUIM...
A essa altura do post
você já deve ter se dado conta de uma coisa que não se faz necessária explicar
com palavras, mas que eu farei mesmo assim: Alien Resurrection é um jogo para
poucos. Um jogo para sobreviventes, eu arriscaria dizer. Mesmo no nível mais baixo,
é um dos jogos de tiro mais difíceis da póstuma geração dos 32-bits.
Não é o tipo de jogo
que você pode tirar sarro com a cara das ameaças encontradas, ou proveito de
seu sistema pra sacanear os inimigos: é VOCÊ a vítima nessa história toda e
quem tem mais a perder. É VOCÊ quem deve andar com máxima cautela pelos
cenários. É VOCÊ quem está numa situação de bosta da qual poucos conseguiriam
escapar com vida. ESSA é a mensagem que eu quero acreditar que a desenvolvedora
do game quis passar ao criá-lo, a fim de não perder a minha sanidade ao pensar
sobre a alta dificuldade do jogo.
Alien Resurrection
para PS1 é um jogo o qual você completa mais pelo desafio e pela superação
pessoal de saber que poder aguentar qualquer agrura digital planejada pela cruel
mente humana. Você não joga esse jogo por diversão. Não é o tipo de game que
você coloca pra relaxar depois de um dia de trabalho estressante. É mais como
um compromisso, uma tarefa árdua que você aceita mais pra conhecer seus próprios limites, algo
bem na linha da franquia Souls.
"Ai, Shadow, sua rainha do drama!!! O jogo nem é tão difícil assim!!!" |
Junto com o primeiro
Half-Life, Alien Resurrection foi um dos jogos mais mesquinhos e
mal-intencionados que eu já vi, projetado propositadamente pra ferrar com o
jogador em cada minuto de seu gameplay que eu já tive o ____ de jogar (insira o
substantivo de filhadaputice que achar mais adequado na linha ao lado).
Terminar esse jogo sem
qualquer tipo de cheat ou guia é olhar na cara do impossível e mandar um belo
FODA-SE na fuça dele. É saber que é foda no que faz, ao menos no tocante a
jogos de videogame programados pra fazer o jogador arrancar os cabelos de
desespero. De forma alguma falo isso pra me gabar, pra me achar o máximo. Muito
pelo contrário: em vários momentos eu pensei em largar o jogo e ir jogar Barbie e
o Resgate dos Filhotinhos no nível very easy, pra desopilar os pensamentos ruins. Mas
meu compromisso como fã absoluto dessa série falou mais alto e eu perseverei.
NOTA FINAL: 7,9
É sério: a experiência
com esse jogo é tão causticante e nervosa que fica até difícil levar o fator
Diversão em consideração ao analisar sua conjuntura friamente, depois que a
raiva e o desespero nos momentos de dificuldade passaram. Acabar esse jogo é
tirar um peso das costas ao enfrentar mais de 12 horas de hordas de inimigos
que bastariam pra filmar umas duzentas trilogias da série Alien.
O mais difícil nesse game? Aguentar a desculpa do clone da Ripley duas vezes... |
Sendo assim,
fica a dica honesta de jogador de games para outros jogadores de games: se não
for fã da franquia, PASSE LONGE DESSE JOGO DOS DIABOS. Não pela sua qualidade,
longe disso. Resurrection é um dos jogos mais bonitos e tecnicamente
bem-executados que você encontrará na geração do PS1. Mas acredite: se você não é um fã da série ou não quer conhecer um pedacinho do inferno antes mesmo de morrer, Alien Resurrection
deve ser evitado por você a qualquer custo...
Au Revoir.