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sexta-feira, 1 de fevereiro de 2019

ANÁLISE: BLOODSTAINED CURSE OF THE MOON (PS4)























Em 2015, com a hype absurda do Fallout 4, eu decidi que aquele (hoje longínquo) ano seria “o ano do Fallout” aqui no Mais Um Blog de Games. O problema é que, ao decretar esse tipo de festividade no site, eu acabo assumindo um compromisso que eu sei que não vou cumprir (o simples peso do compromisso já me leva numa outra direção).

Sendo assim, eu decidi que 2018 não seria o “ano do Castlevania” aqui no blog. Eu simplesmente botei na cabeça que jogaria todos os jogos que meu ânimo permitisse e faria as análises na medida do possível, no mesmo ritmo “devagar quase sendo expulso por inatividade” que é bem típico do blog desde 2011 (seu aninho de estreia).

Mas qual seria a razão para flertar com um possível “ano do Castlevania”? As respostas são duas: a série animada da Netflix e a sombra do lançamento do Bloodstained que, pra quem voltou de Marte agora, é o sucessor espiritual do Symphony of the Night, um dos melhores Castlevania feitos por Koji Igarashi e sua equipe.

Tenha um pouco mais de paciência: estamos mais perto do que longe do lançamento

Pra quem está por fora dos babados, Bloodstained: Ritual of the Night (até o nome é parecido!) é um projeto financiado pelo site de arrecadação em massa Kickstarter, uma iniciativa que permite a fãs financiar um projeto que eles desejem se tornar realidade com a promessa de algumas vantagens àqueles dispostos a pagar antecipado por algo que nem sabem como será quando estiver pronto.

A essa altura, você já deve estar pensando: isso tem um enorme potencial pra dar em merda, com jogos lixos sendo lançados no lugar de promessas faraônicas e desenvolvedores fugindo pras Barramas com a grana dos financiadores sem deixar vestígios de sua passagem na Terra.

Sim, as hipóteses que eu citei no parágrafo acima, infelizmente, são inspiradas em casos que aconteceram na vida real. O que não é o caso do Bloodestained: Curse of the Moon, uma das metas da campanha de Kickstarter de seu irmão mais novo, o Ritual of the Night. Pra quem está voando, eu explico: o jogo “pra valer” mesmo é o Ritual, o sucessor espiritual do Symphony.

Zangetsu: "será que eu estou à altura da série clássica?"

O Curse, uma declaração de amor aos Castlevania da era 8-bits, era uma das metas (lançar um jogo bônus em estilo retrô) do Ritual caso ele alcançasse o valor almejado por Iga e sua trupe. Outras metas incluíam a OST do Ritual composta por Michuru Yamani (meu motivo de compra futura desse jogo) e outras coisas mais.

Mas então, Curse of the Moon serve apenas como um aperitivo pra estimular o apetite antes do prato principal ou é um jogo que caminha e chicoteia com suas pernas (e mãos) próprias? Ele serve de distração para a chegada do jogo mais aguardado ou tem personalidade, razão de ser e estilo próprios que justifiquem a compra? É isso que eu pretendo responder no texto a seguir.


HISTÓRIA (8,7)


Se você conhece os jogos idealizados por Koji Igarashi, deve bem saber que eles não possuem uma história, história de fato, e sim mais uma premissa que serve como desculpa pra jogar e para os elementos de jogabilidade encontrados em seus títulos. Bloodstained segue nessa mesma linha, então, se você está esperando aqui um enredo digno de um Bioshock ou um dos pretensiosos games do David Cage, pode ir tirando o cavalinho da chuva.

Tendo feito esse esclarecimento, vamos à premissa do jogo: um demônio super forte despertou e quer tocar o terror do mundo usando e abusando de criaturas da noite enquanto repousa imponente do alto de seu palácio (demoníaco). Ele quer usar os poderes da lua para alcançar seus objetivos. Esse é o lado do bandido.

Meu protagonista favorito: o vampiro que tem gosto de Alucard,
parece com o Alucard mas não é Alucard...

Do lado do (s) mocinho (s), temos um velhote que lança magias, uma mulher que ataca com um chicote, um vampiro que joga (?!?) morcegos nos inimigos e uma outra mulher samurai que luta com uma espada. Não, eu não me lembro do nome dos personagens, é por isso que usei substantivos genéricos pra me referir a eles. Durante o gameplay era exatamente assim que eu citava os heróis jogáveis do game: a doidinha do chicote, a samurai, o velho da magia e o Alucard.

Exceto pela mulher samurai, que eu acabei memorizando seu nome (Zangetsu), pelo fato de ela ser a protagonista do Ritual of the Night e exercer papel narrativo de extrema importância no Curse of the Moon, não cheguei a me apegar muito aos protagonistas. Isso é uma falha do jogo? Não, apenas um reflexo do formato de jogo em 2D menos duradouro que é típico das produções do titio Iga.

O capeta final do jogo é tenso: prepare to die!

Voltando ao enredo, ele se resume a isso mesmo: derrotar o demônio lorde das trevas em seu palácio com a ajuda dos protagonistas do game. Substitua a palavra “palácio” por “castelo”, “demônio” por “Drácula” e “protagonistas” por “caçadores de vampiros” e teremos uma cópia em carbono da estrutura (tanto narrativa quanto de jogabilidade) de um dos maiores clássicos desse gênero, o Castlevana 3.

Sim, fica impossível não notar a homenagem e a semelhança entre esses dois games. Até um completo tapado como eu conseguiu perceber de cara, com a aquisição do segundo herói, que todo o game seria muito parecido com o que vimos no terceiro episódio da franquia de vampiros da Konami... exceto pelo fato de que eu NÃO JOGUEI o terceiro episódio da franquia de vampiros da Konami!

Não fique envergonhado caso se flagre dizendo: Castlevania Curse of the Moon.
A semelhança beira a univitelinidade.

Não ter feito a lição de casa vai estragar sua experiência com Curse of the Moon? Claro que não, muito pelo contrário: por ser uma cópia quase exata do Castlevania 3, se você não conhece este game vai conseguir aproveitar muito melhor o Curse se jogar às cegas, aceitando-o enquanto o projeto referencial que ele de fato é.

Sobre o enredo em si, claro que não vou dar detalhes pra não estragar a surpresa de quem pretende jogar (acredite: TEM sim muita coisa boa guardada na história desse jogo, apesar de sua estrutura simplória fazer parecer que não). Entretanto, posso dar o conselho de que o jogador termine o jogo pelo menos no segundo modo de dificuldade, aquele que jogamos sem a Zangetsu, caso contrário não conseguirá entender o rumo final que a história toma.

Pra finalizar o tópico, preciso dizer que o final verdadeiro do game foi um dos mais prazerosos que eu consegui fazer nos últimos tempos, seja pela batalha final surpreendente, seja por uma direção de eventos que consegue ao mesmo tempo instigar sua curiosidade e te deixar com ainda mais vontade de jogar o Ritual of the Night quando ele for lançado.


GRÁFICOS (8,5) E SOM (6,0)


Diferente de jogos como Stardew Valley, Curse of the Moon não tenta simular um jogo de gerações passadas com efeitos modernosos escondidos debaixo de uma máscara de jogo antigo. Nesse caso, Curse é realmente um jogo feito com um motor gráfico que realmente se parece com um jogo 8-bits verdadeiramente.

Claro que a quantidade de efeitos e objetos nos cenários jamais poderia ser realizada num console de 8-bits sem drásticas alterações de hardware, mas o cerne do game é de um puro jogo de 8-bits em pleno ano de 2018. Isso é muito bom, visto que apenas os fãs verdadeiros do estilo se dedicarão ao game.

Pra ser sincero, não consigo imaginar um jogo mais de nicho lançado ano passado que esse aqui: além de trazer uma experiência de jogabilidade que retrata perfeitamente os jogos da aurora da indústria, Curse of the Moon é fiel ao visual quase monocromático dos jogos da década de 70 e 80.

Alguns bosses ocupam, literalmente, a tela inteira!

Isso se traduz no estilo gráfico adotado para os heróis, por exemplo: cada um deles é representado por uma cor primária (roxo pro chicote, vermelho pra Zangetsu, preto com vermelho pro Alucard e amarelo pro velhinho das magias) que não deixa dúvidas sobre qual dos heróis você está controlando.

De resto, não tem muito o que comentar sobre visuais: há chefes que ocupam a tela inteira, e algumas batalhas contra eles vão trazer uma quantidade de partículas e efeitos especiais que te darão a certeza de que esse jogo jamais poderia ser possível de acontecer num console true 8-bits.

Sobre o som, infelizmente não foi dessa vez. Os efeitos sonoros são bem ok, mas as músicas não chamaram muito minha atenção. Pra ser sincero, não faço ideia de quem compôs a OST desse game mas, se foi a Michiru Yamani, não acho que ela estava em seus dias mais inspirados. Não que as faixas sejam ruins, longe disso, mas elas não ficam na memória depois que você desliga o console, cumprindo seu papel apenas in-game (o que já é mais do que muitos jogos conseguem alcançar).


SISTEMA (10,0)


Sim, eu adorei de paixão a fórmula de troca de personagens que o jogo traz. Eu sei, isso também foi chupinhado do Castlevania 3, onde jogávamos com Trevor, Grant, Alucard e Sypha (lembra da série animada da Netflix? Então...). Dessa forma, pra colocar os bois em seus respectivos cercados: a doidinha roxa do chicote é o Trevor; o velho amarelo das magias é a Sypha; o vampiro que parece com o Alucard é o... Alucard; e o Grant... foda-se, quem liga pro Grant?

Sobre as mecânicas de jogo, elas também foram “homenagens” sem dó do Castle 3: você mata monstros em uma tela que avança para os lados; coleta poções que caem de candelabros destruídos; e possui uma barra de vida que vai sendo esgotada ao receber dano, mas que pode ser recuperada com, vejam só, CORAÇÕES, como sempre devia ter sido.

Adivinha quem é o único que consegue subir ali em cima?

O game não é um Metroidvania no sentido de mapa e exploração, mas há passagens que só podem ser alcançadas com a habilidade de determinados heróis (como o voo do morcego ou o carrinho da mulher de chicote). Cada um deles vai utilizar uma arma secundária que serve pra situações de combate específicas, variando muito de acordo com a movimentação, resistência e força dos inimigos. Ah, também vale lembrar que é possível trocar de herói a qualquer momento do game, a menos que ele tenha morrido, claro.

Sobre a dificuldade, ela é bem alta para os padrões de hoje. Não espere um passeio no parque ao jogar esse jogo, mas também não fique com receio de jogar achando que ele está no nível de doença mental de clássicos da filhadaputice como Ninja Gaiden ou Battletoads: Curse of the Moon é um jogo que vai te desafiar sim, mas na medida certa a ponto de você se empenhar pra passar dos desafios sem perder o interesse no game, o que eu acho algo maravilhoso no contexto atual de jogos muito fáceis como parece ser o da atualidade.

Tem knockback e escadas do capeta pra te jogar no abismo,
igualzinho aos jogos clássicos

Como já adiantei, há diferentes níveis de dificuldade que revelarão mais do enredo (tem um até que remove o knockback típico desse gênero), trarão desafios mais emocionantes e alguns momentos de jogabilidade que eu, particularmente, não esperava ver num jogo descompromissado desse nível (na boa: não pare de jogar esse jogo antes de enfrentar o chefe final verdadeiro. Será uma das melhores lutas contra um final boss que você terá em anos!).

Apesar de ter atribuído nota máxima ao tópico sistema, ele não deixa de possuir falhas. São bobagens que não mancham a maestria alcançada pela equipe da Artplay, mas que eu preciso citar no texto a fim de completude e isenção no julgamento final. Por exemplo, o chefe da segunda fase, aquele bicho que parece uma tartaruga, é exageradamente difícil pra um começo de jogo, te fazendo morrer várias vezes até pegar seu macete. Falando nisso, praticamente tudo nos confrontos do game se resumem a exatamente isto: macete.

Alguns desafios vão fazer você suar
até descobrir o melhor personagem pra cada situação...

São raras as batalhas com chefe que abrem uma janela pro jogador improvisar, ou tentar usar um dos quatro heróis que deseja mesmo sabendo qual é o mais apropriado para a ocasião. Sendo assim, alguns confrontos são praticamente impossíveis de finalizar se você já tiver morrido com o personagem requisitado.

Também achei o game um pouco curto. Eu sei, pode ser apenas o desejo de “quero mais” de um jogador que experimentou algo novo e gostou do que viu, mas acho que um herói extra ou uma leva de fases inéditas (se é que não existem nos modos mais difíceis) viria bem a calhar, já que você fica bastante confiante depois que aprender as potencialidades e fraquezas de cada personagem.

Fora esses queixumes forçados pra ter algo a relatar no texto, não tem mais nada do que reclamar do sistema do Curse of the Moon: é complexo na medida certa, instigando o jogador a masterizar o uso de cada protagonista e descobrir seus itens e habilidades exclusivas que podem significar a derrota completa ou a total aniquilação dos chefes de fase.


LUA DE SANGUE


Parece que 2018 foi o ano dos jogos indie brilharem: depois de The Sexy Brutale e Stardew Valley terem me arrebatado completamente com suas qualidades inesperadas, Bloodstained Curse of the Moon chegou pra dar o golpe de misericórdia no que havia restado no meu preconceito bobo com jogos independentes de baixo orçamento.

Respondendo às perguntas feitas no começo do post: não, ele não serve apenas como um aperitivo pro prato principal que será o aguardadíssimo Ritual of the Night. Esse Bloodstained caçula, se brincar, pode acabar roubando a cena e atraindo para si todos os holofotes que deveriam estarem virados na direção de seu irmão maior (sinceramente, espero que isso jamais aconteça).

NOTA FINAL: 8,3

Sim, ele chicoteia, dá golpe de espada e arremessa morcegos com suas pernas e mãos próprias, mais que cumprindo a sua função de nos fazer ansiar o lançamento do Ritual of the Night em (espero eu) 2019.

O melhor momento do jogo, fácil.

É um jogo surpreendentemente bom, desafiador e completo, que vai dar água na boca dos fãs mais antigos da franquia Castlevania (é o que tem pra hoje, já que a Konami está pouco se fodendo para essa série nos games) enquanto recruta novos adeptos da saga de heróis que lutam contra um mal noturno sem fim.

Espero que tenham gostado do texto e que tenham se surpreendido tanto quanto eu com a qualidade desse jogo. Confesso que eu comprei o jogo por engano, achando que seria o Ritual of the Night (se eu passo a impressão de ser inteligente, saiba que eu sou uma completa besta, às vezes), mas fiquei mais que feliz com minha experiência final com o game.

Au Revoir!


2 comentários:

  1. muiito dificil achar alguem que ainda poste em blogspot, ótimo conteúdo

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    1. Realmente, blogs são uma espécie em extinção. Agradeço pelo elogio.

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