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sábado, 20 de outubro de 2012

BOMBONS E PIRULITOS AO LÉU...
















No feriado de dia das crianças fui visitar um amigo que não via, pessoalmente, desde março deste ano.
Além de poder testar alguns jogos de um universo quase que completamente desconhecido (leia-se Xbox 360), pude jogar o faladíssimo Diablo 3 e comprovar algumas das queixas das quais apenas tinha ouvido falar sobre o game.
Além do Diablo 3, joguei algumas demos, como o fraco Binary Domain e Alice Return to Madness.

A grata surpresa foi Silent Hill Downpour (a pronúncia é pór, e não pur), um jogo arraigado aos moldes do passado (Zero de linearidade. Inventário. Itens colecionáveis e etc..). Mas a surpresa mais grata ainda viria por parte de uma empresa que foi comprada por uma outra grande multinacional e que parecia ter a sua galinha dos ovos de ouro abatida em prol das altas cifras e das ainda mais altas expectativas que o mercado impõe.

CABRA CEGA

Tirem as crianças da sala...
















Antes de continuar, queria atentar a um detalhe que me incomoda muito quando o assunto é indicar uma obra ou produção de entretenimento a alguém que eu conheça.

Não que isso seja uma vantagem, necessariamente, mas eu sou uma pessoa que vá viu de tudo, ao menos quando de se fala em entretenimento: já colecionei quadrinhos (passando pelas porcarias essenciais até as grandes obras-primas); já joguei RPGs de livro; estou a par de uma boa variedade de músicas; filmes passei pelos clássicos e pelos não clássicos. Jogos nem se fala: gosto muito de conhecer de tudo. Quanto mais jogos eu tiver conhecimento, melhor. Mesmo que nunca vá passar de alguns apertos de botões com a maioria deles.
E é justamente por isso que detesto quando alguém tenta me recomendar algo, seja para assistir, jogar ou ler. E sabe por quê? Porque as pessoas não costumam ter um pingo de bom senso quando vão indicar algo a uma pessoa que conhecem há séculos. Parece que são atacados por uma crise de amnésia que os impede de se lembrar das coisas que você e a pessoa gostam em comum.

Um breve exemplo: certa vez fui a uma daquelas lojas que vendem (de forma totalmente ilegal) temporadas de animes.
Comentei, com o intuito de provocar e desafiar mesmo, que gostaria que ele me mostrasse um anime que estivesse no mesmo nível de sagacidade que o ótimo Death Note. Um desafio bastante exigente e pretensioso, eu sei. Mas sonhar não custa nada.
E, do alto de seu vasto conhecimento em incontáveis séries japonesas, qual foi o desenho que o infeliz me recomendou, você se indaga? DARKER THAN BLACK, uma série chatíssima que nos força a assistir mais de VINTE episódios que saem de nowhere para chegar a lugar algum.
O engraçado é que o máximo de informações que obtive acerca da trama desse desenho foi obtido através da total ausência de antolhos com relação a spoilers por parte deste “grande conhecedor” de animações japonesas.

Esse queixume foge um pouco do âmago do texto mas, antes que o leitor abandone a página do blog, tentarei deixar claro aonde quero chegar: EU, SIMPLESMENTE. NÃO SUPORTO PESSOAS QUE NÃO TÊM A CAPACIDADE DE ENTENDER HUMOR REFINADO. É triste, e uma síndrome que esbarra em várias carências (que, infelizmente, não podem ser supridas por nenhuma espécie de vitamina conhecida pelo homem) de ordem social, intelectual e de falta de sensibilidade para enxergar o óbvio mesmo.

Sabe quando você chega com um filme, jogo ou série bem interessante ou engraçada, e aquela pessoa a quem você está querendo mostrar faz a maior cara de paisagem que alguém pode estampar? Foi exatamente o que aconteceu com Viva Piñata, um dos jogos mais alardeados pela Microsoft depois da aquisição de sua mais nova galinha dos ovos de ouro, a Rare.
A janela que exibiu a paisagem? Meu velho amigo, dono do 360 e do PC testador de Diablo 3 citados acima, que parece não ter a capacidade de reconhecer humor de qualidade nem que este exploda e solte milhares de pirulitos na sua cara.


TIRANDO A VENDA

Sim, É tão bonito em tempo real quanto em fotos
















Viva Piñata foi lançado em 2006, apenas um ano depois da estreia do Xbox 360.
No jogo, da mesma equipe criativa de Banjo-Kazooie, você encarna na pele de um jardineiro que tem a tarefa de cuidar de seu espaço para atrair diversas criaturas coloridas conhecidas como Piñatas.
Sabe aquele boneco feito de barro, das festas infantis, que é recheado de doces e pirulitos? Aquele mesmo, que você precisava destruir com uma cacetada depois de ter sido vendado e rodopiado até ter uma crise de labirintite (e ainda dizem que a infância é a melhor parte da vida...)? Aquilo é uma piñata, ou pichorra, como a maioria de nós deve conhecer por causa da série Chaves.

Eca! Prefiro as do jogo!





















E é aí que está a grande sacada da Rare: a ideia de cultivar um jardim recheado de pichorras baseadas em animais da fauna real é bastante criativa e empolgante. Isso se você não for uma daquelas pessoas iluminadas, como as citadas acima, que não têm a capacidade de perceber o grande potencial cômico de certas coisas.


COMO FUNCIONA A BAGAÇA?

Corvus Infernae! Nem todas as piñatas são boazinhas!
















Viva Piñata me faz lembrar a estrutura de um famoso jogo de simulação, Sim City: você comanda um cursor que pode realizar várias ações, como bater com uma pá para afofar terreno; plantar grama; aguar plantas ou simplesmente selecionar objetos ou criaturas.
Depois que certos requisitos forem cumpridos, como o de X metros quadrados de área verde, as primeiras piñatas começam a aparecer. Se a safada gostar do seu jardim, ficará de vez para morar e mudará de cor no processo. Aliás, as piñatas “forasteiras” são representadas pela cor... preto-e-branca. Quando decide fixar moradia, a piñata adquire o seu verdadeiro aspecto e fica totalmente colorida.

Quando tiver um casal, é hora de cumprir os requerimentos pessoais para que as duas piñatas possam realizar a “Dança do Romance” (a moradia adequada é fundamental para o sucesso), um hilário ritual de acasalamento que pode (e deve) ser acompanhado de camarote pelo padrinho de todo o relacionamento (no caso, você!). Mas não sem antes finalizar um minigame de dificuldade variável, de acordo com a espécie de piñata em questão.

Onde há fumaça, há fogo, e novas piñatas são atraídas pela presença de outras, em uma cena muito divertida que nos apresenta a nova espécie e seu nickname, geralmente um trocadilho bem engraçado.
A pirâmide alimentar vai se tornando cada vez mais complexa, com piñatas cada vez mais exigentes que demandam determinadas condições de alimentação, tempo e até de humor para se juntarem à festa.


A BELEZA DA NATUREZA

So colorful!
















Viva Piñata se sai muito bem em um aspecto que eu acho fundamental em jogos de videogame: a apresentação ao mundo ao qual vamos interagir.

A começar pelos gráficos, Viva Piñata é beleza pura. Extremamente colorido, o visual do jogo, seis anos depois de seu lançamento, ainda é surpreendente.
As pichorras possuem vários detalhes e cores que as tornam únicas. E todo o resto do jogo é apresentado com belos gráficos (dos cenários aos menus) que lembram muito a arte cartunesca de livros infantis. E tudo isso apresentado por um agradável tutorial que nunca chega a cansar o jogador. Tá achando que o jogo está tentando te ensinar algo que você já está careca de saber? Um toque no botão B e tudo se resolve. Quer dar uma revisada em uma dica ou saber mais detalhes sobre algum aspecto do jogo em particular? Um toque no botão Y é o suficiente.

No aspecto sonoro, Viva Piñata brilha, ou melhor, reverbera em alto e bom som.
A trilha do jogo, pelo que pude perceber pela demo, é muito divertida. Esse é um ponto crucial para um jogo em que ficaremos horas repetindo tarefas rotineiras, como arar a terra ou colocar casais de pássaros para dançar tango.
Até a musiquinha de menu de pausa é engraçada e empolgante, nos fazendo ter a certeza de que este jogo foi feito com base em muita criatividade e amor aos games (e à natureza, por que não?).


O GOLPE CERTEIRO QUE PÔS FIM À FESTA

Massacre em praça pública














O golpe certeiro, neste caso, vem por parte dos próprios jogadores.
Críticas ao excesso de continuações e à falta de criatividade nos games podemos ler (e ouvir e assistir) aos montes em vários veículos de comunicação especializados em games. De fato, se os consumidores de games fossem tão exigentes quanto parecem ser em suas críticas, com certeza fenômenos como Resident Evil 6 não seriam tolerados ou vistos com tanta frequência como tem acontecido nesta geração.
E é de cortar o coração ver que jogos cheios de vida, inspiração, bom humor e criatividade como o alvo deste post não alcançam o mínimo de vendas e aceitação por parte do público para que sequências sejam produzidas e seu universo seja expandido.

Viva Piñata teve uma continuação, Trouble in Paradise, que provavelmente fez tanto sucesso quando seu antecessor. Sucesso esse que, obviamente, não foi o suficiente para colocar os jardins apinhados de criaturinhas coloridas de volta aos holofotes do mundo dos jogos.

A postura das gananciosas desenvolvedoras de jogos é sempre alvo de ataques e críticas por parte de fãs raivosos, mas quando chega a hora de dar valor à criatividade e a iniciativas com a pretensão de inovar, os lançamentos altamente hypeados com vários algarismos no título falam mais alto, e colocam obras como Viva Piñata em seu devido lugar: o mais baixo nível da cadeia alimentar autocanibalista dos blockbusters  que se vendem, em grande parte, pelo nome e base de fãs.

A Rare, com seu belo Viva Piñata, é vítima da falta de bom humor de jogares engessados que parecem não ter a capacidade de compreender humor refinado.
Viva Piñata pode ser classificado como um “jogo das antigas”, vindo de uma época em que a criatividade apenas já era o suficiente para garantir boas vendas, e não um fator excludente nos lucros de uma grande empresa.
Mas a empreitada da Rare já valeu a pena por conseguir algo quem nem mesmo os Halos, Gears of War ou Alan Wakes da vida conseguiram: me fazer sentir uma pontinha de inveja dos proprietários do console das três luzes vermelhas.


Vegetais também têm seu lugar ao sol no belo jardim que é Viva  Piñata

















Au Revoir...

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